quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

O QUE É O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO?

O QUE É O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO?
Trecho do livro "Assédio moral no trabalho: análises e ações estratégicas de gestão de pessoas", de Mizael Xavier.

2.2 O que é o assédio moral?

De acordo com os dicionários, o termo assédio está ligado a cerco, a uma insistência impertinente, além de perseguir, importunar. Impertinente, por sua vez, significa algo enfadonho, aborrecido, importuno, rabugento, insolente. Assediar, então, é agir de forma importuna e aborrecedora com alguém. A moral está ligada às regras de condutas e valores de um grupo ou sociedade, podendo significar as atitudes éticas, o pudor, a vergonha e os bons costumes. Assediar moralmente alguém seria, portanto, ferir essa moral, agindo de maneira antiética. O fato de o assédio ser importuno mostra o seu caráter agressivo: é a ação de uma pessoa contra outra que não deseja nem espera essa ação, por considerá-la ofensiva e aborrecedora. É algo que vai contra os bons costumes de um indivíduo ou de uma sociedade. 

Quem decide o que é uma situação de assédio (agressão, opressão, discriminação, etc.) não é o agressor, mas a vítima. É ela quem vai decidir se o que está passando representa ou não uma agressão em muitos casos em que, para olhares menos treinados, tudo não passa de uma brincadeira. Somente o indivíduo assediado sabe o quanto esta brincadeira o machuca ou não. Uma brincadeira ou um apelido aparentemente inocentes podem atingir a fundo a moral de alguém, mexer com traumas e complexos que somente o indivíduo agredido conhece, mas que os seus agressores não percebem. Um caso ocorrido em 2014, envolvendo um fiscal de frente de loja e uma operadora de caixa em um supermercado na cidade de Parnamirim, Rio Grande do Norte ilustra esta situação. Por possuir uma baixa estatura – em torno de 1,50m – a operadora de caixa passou a ser assediada pelo fiscal, que constantemente fazia piadas com sua baixa estatura entre os colegas e na frente de todos, ao ponto de chamá-la de “pigmeu”. Embora a intenção do fiscal não fosse agredi-la, mas apenas “brincar”, as piadas e o apelido despertaram na operadora sentimentos de tristeza e desconforto que ela já carregava dentro de si, não apenas pelo seu tamanho, mas por todas as dificuldades enfrentadas em sua vida e os constantes assédio que já sofrera.

Quando se fala de assédio moral no ambiente de trabalho, está-se falando sobre mobbing, termo em inglês que no Brasil está ligado a esse tipo de fenômeno. Esse termo foi introduzido, segundo Souza (2011), pelo psicólogo alemão Heinz Leymann no início dos anos 1980. Nos países europeus, de acordo com Silva (2010), o termo mobbing é usado para descrever o abuso de poder entre adultos no ambiente profissional, que envolve coação e terror psicológico. Tendo sua origem na palavra mob, utilizada como referência à máfia, a palavra mobbing, ainda segundo Silva, remonta a ideia de grupos mafiosos “que exercem pressões ou ameaças sobre os outros em ambientes profissionais” (p. 146). 

Este é um fenômeno tão antigo quanto as relações profissionais, bastando evocar-se o trabalho escravo no Brasil, desde sua colonização até a abolição dos escravos, onde os “trabalhadores” eram tratados de forma desumana e brutal. A escravidão mostra uma face distorcida das relações de poder entre os homens. Como afirmou Max Weber (apud Patterson, 2008, p. 19): “é a oportunidade existente dentro de uma relação social, que permite a alguém impor a sua vontade mesmo diante de resistência, e não obstante o fundamento em que repousa tal oportunidade”. Ou conforme o próprio Patterson (idem) escreveu: “A escravidão é uma das formas de relação de dominação mais extremas, tocando os limites do poder total, do ponto de vista do senhor, e da impotência total, do ponto de vista do escravo”. 

Em muitos ambientes de trabalho, embora não se faça mais uso do chicote e dos grilhões, muitos profissionais são submetidos a agressões psicológicas e até mesmo físicas, tanto de maneira persuasiva como punitiva. Essas agressões são praticadas em primeira mão por aqueles que possuem sobre eles algum poder, de modo que eles se veem coagidos a obedecer-lhes, mesmo as ordens mais absurdas. Assim como na escravidão, as chefias opressoras tratam seus subordinados como sujeitos sem direitos, obrigados a trabalhos forçados e sob pressão e estresse constantes. A essas atitudes e outras que serão comentadas neste trabalho, dá-se o nome de assédio moral.

O assedio moral nada mais é que uma das faces de outro fenômeno social, que afeta crianças, adolescentes, jovens e adultos no mundo inteiro: o bullying. Ao invés de ser praticado na escola ou no playground, o assédio moral, ou mobbing, é praticado no ambiente profissional. Citando Fante e Pedra, Xavier (2012, p. 93) esclarece que o bullying é uma palavra de origem inglesa que não encontra equivalente na língua portuguesa. Xavier (idem) afirma:

Essa palavra designa comportamentos agressivos e antissociais praticados por indivíduos e/ou grupos contra outros indivíduos e/ou grupos. A expressão bullying – que pode ser traduzida como valentão, tirano, brigão – corresponde a “um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica, de caráter tensional e repetitivo, praticado por um bully (agressor) contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender” (SILVA, 2010, p. 21). Embora o seu estudo remonte o ano de 1970, na Suécia e na Dinamarca, foi somente no fim dos anos de 1990 e início do ano 2000 que o tema chegou ao Brasil.

Assim como o bullying define os comportamentos agressivos no mundo infanto-juvenil, o mobbing está diretamente ligado aos comportamentos agressivos apresentados por adultos1 no ambiente de trabalho. O assédio moral, segundo Souza (2011, p. 32), “é um conjunto de ações depreciativas, sistemáticas e prolongadas contra um subordinado, que tem por objetivo destruir seu equilíbrio psicológico, tornando-o refém do medo por conta de perseguições injustificadas”. Se o bullying, para Xavier (p.95), é algo premeditado, planejado e articulado, o mesmo pode-se dizer do mobbing, que obedece ao mesmo esquema, de modo que ele é algo consciente e planejado, e não fruto do acaso. Os agressores sabem o que estão fazendo, conhecem as consequências dos seus atos, entendem as implicações legais do assédio moral, mas mesmo assim prosseguem com suas sessões de tortura, o que torna a agressão ainda mais defectível.


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