quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A PARALISIA DO SONO NA BATALHA ESPIRITUAL




Existe um fenômeno que atinge milhares de pessoas no mundo inteiro e que pode ser facilmente confundido com opressão demoníaca ou visões. Chama-se “paralisia do sono”. O que caracteriza a paralisia do sono é um estado momentâneo de imobilidade corporal logo após o despertar, podendo ocorrer com menos frequência imediatamente antes de adormecermos. Esse distúrbio acontece geralmente numa fase do sono chamada REM (Rapid Eye Movement, ou movimento rápido dos olhos), que é quando os sonhos se tornam mais vívidos, ocorrendo no momento de transição entre o sono e o estado de vigília. Nesta fase, os olhos se movimentam rapidamente, como ocorre quando estamos acordados. Durante essa terrível experiência, a pessoa acorda, mas não consegue se mexer nem falar; ela tenta se levantar ou gritar, mas os seus músculos não respondem ao seu comando. Esse momento pode durar alguns segundos ou até cinco minutos, quando finalmente a pessoa consegue despertar do seu “transe” e levantar-se. A paralisia do sono acontece porque as funções da consciência voltam ao despertarmos, mas a estrutura do sono REM permanece parcialmente funcionando. Ou seja: o cérebro desperta antes do corpo.
            Esse tipo de distúrbio pode trazer inúmeros problemas para a nossa saúde psíquica e física, ou pode ser fruto de noites mal dormidas. Ele também pode estar ligado à narcolepsia, um distúrbio do sono caracterizado pelo excesso de sono durante o dia, mesmo que tenhamos dormido bem à noite. Os episódios da paralisia do sono também estão associados à depressão, hipertensão e distúrbios convulsivos. A ansiedade também pode ser um fator de predisposição à sua ocorrência. Além da paralisia em si, esse estado pode ser acompanhado de alucinações hipnagógicas, que estudamos anteriormente, que podem ser visuais, auditivas, olfativas e táteis. Assim, durante a paralisia, o indivíduo pode ver, ouvir e sentir coisas que não estão ali, mas que foram transportadas dos seus sonhos ainda latentes para o ambiente onde ele se encontra dormindo. Além de ouvir passos, ruídos ou vozes, é possível sentir cheiros desagradáveis. A ignorância a respeito das questões relacionadas à paralisia do sono pode levar a uma compreensão equivocada daquilo que se vê, sente e ouve quando ela ocorre, o que está diretamente ligado à batalha espiritual, uma vez que esses fenômenos sensoriais podem ser interpretados como uma presença maligna, opressão ou visões proféticas.
            As pessoas que sofrem com a paralisia do sono afirmam que costumam ver coisas, como vultos, pessoas, seres estranhos ou espíritos malignos. Essas visões, dependendo da crença do indivíduo, podem remeter a seres extraterrestres, fantasmas ou demônios. Entretanto, a paralisia do sono não está ligada a nenhuma questão espiritual voltada para o mundo dos demônios. Ela acontece porque, durante o sono, o nosso cérebro relaxa todo o nosso corpo, para evitar que façamos movimentos bruscos enquanto estamos dormindo, reproduzindo o que sonhamos. Ou seja: sonhar que está lutando e desferir golpes enquanto dorme, ou sonhar que está correndo e de fato sair correndo. Ao acordar com a paralisia do sono, o indivíduo sabe que acordou, mas continua vendo as coisas que estavam presentes no seu sonho, o que pode lhe causar alguma confusão mental. Ou seja: a realidade inconsciente é transportada para a realidade consciente. Parte daquilo que estávamos sonhando parece se materializar diante de nós (sons, imagens, cheiros, toque, etc.), quando, na verdade, estão apenas dentro da nossa cabeça. Essas alucinações são produzidas pelo pavor que sentimos quando percebemos que estamos acordados e não conseguimos nos mexer, quando vultos começam a aparecer do nosso lado ou escondidos no ambiente.
            Aqueles que sofrem com esse tipo de condição, relatam a presença de seres malignos sentados do seu lado, caminhando ao seu redor e, o que é mais assombroso, encima delas, enforcando-os. O filme Mara, ou O demônio do sono (2018), dirigido por Clive Tonge, retrata uma dupla realidade: a questão científica buscada pelos especialistas para a paralisia do sono e as questões espirituais, dando-nos uma versão demoníaca de como seria se este fenômeno estivesse realmente ligado às questões sobrenaturais. No filme, os personagens são atormentados por um demônio chamado Mara, que ataca as suas vítimas quando elas estão imóveis após despertarem do seu sono. Além de aterrorizá-las com visões, ela se ajoelha sobre elas e as esgana, até que morrem terrivelmente. Em um mundo neopentecostal, onde o movimento de batalha espiritual toma emprestado das religiões espiritualistas africanas as explicações para as suas teorias, a presença desse demônio pode ser real, ou a única explicação para quem sofre com a paralisia do sono, quem vive na ignorância e busca a ajuda de igrejas neopentecostais para resolver o seu problema.
            Este ponto nos chama a atenção para o cuidado que devemos ter com supostas infestações demoníacas, mesmo dentro de casa. O membro da família que sofre com a paralisia do sono pode ser considerado um canal de ligação entre o mundo das trevas e o nosso mundo, como “sensitivo” ou endemoninhado. Ao invés de tentar cuidar do seu distúrbio, seus familiares podem tratar a questão como espiritual, levando-o a centros espíritas, rituais de exorcismo católicos ou sessões de descarrego em igrejas evangélicas. Para a Igreja, o risco de espiritualizar a paralisia do sono pode significar, ainda, o aprisionamento em tudo o que temos visto aqui, incluindo supostas revelações trazidas durante esse período. Como as alucinações hipnagógicas envolvem estímulos auditivos, aquilo que o indivíduo estava sonhando pode transportar-se para o seu despertamento, produzindo vozes que repetirão o conteúdo dos seus sonhos. O grande risco é tomar isso como revelação de Deus ou mensagens demoníacas, levando-as para a igreja ou transformando-as em doutrinas. Não são poucos os relatos que ouvimos de irmãos que afirmam ter tido visões, dando a certeza de que estavam acordados, que viram e ouviram Deus falar ou mesmo o diabo. Eles podem ver pessoas e situações em suas alucinações, transmitindo à igreja como algo da parte de Deus, como uma mensagem divina específica.

Mizael Xavier

Este estudo faz parte do capítulo “Lutando a batalha errada: sonhos e visões”, do meu livro:

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