sábado, 14 de dezembro de 2019

O PODER TRANSFORMADOR DA PALAVRA DE DEUS


O PODER TRANSFORMADOR DA PALAVRA DE DEUS

INTRODUÇÃO

Leia: Efésios 1:13

Pense e responda: Ler a Bíblia já é suficiente para transformar a vida de alguém? Se sim, por que muitos ateus, cientistas, filósofos e historiadores a leem e releem, mas mesmo assim morrem na incredulidade? E por que tantas pessoas que estão dentro das igrejas jamais se deixam transformar pela Palavra, ao ponto de serem chamadas de joio, falsos irmãos, falsos apóstolos, falsos profetas e falsos mestres? Terá a Palavra de Deus falhado? Será possível resistir a um Deus Todo-poderoso e Soberano?

Neste estudo, tentarei elucidar essas e outras questões referentes ao poder transformador da Palavra de Deus. Podemos começar questionando nesta introdução que tipo de transformação estamos falando. Não é preciso nem mesmo crer em Deus para utilizar os ensinamentos bíblicos para alcançar alguma retidão moral. De fato, estudiosos e fiéis de outras religiões consideram Jesus um mestre, um grande modelo de bondade e de caráter. Alguns até procuram seguir seus exemplos. Mas pergunte a qualquer um deles se creem em Cristo como Deus, Senhor e Salvador que a resposta será negativa. Então já percebemos que ser transformado pela Palavra de Deus é mais que crer na Bíblia como um manual de modelos e práticas éticas, morais e espirituais. Ela não é um livro qualquer.

Por outro lado, em muitas igrejas cristãs, a Bíblia parece não passar de um mero manual de autoajuda ou um simples manancial de bênçãos e vitórias. A superficialidade da fé de alguns irmãos não os permite ir mais além. A sua fé não ultrapassa as barreiras das suas ambições pessoais nem parece mudar o seu caráter. Eles não enxergam a pessoalidade de Deus, muito menos a eternidade. Não sabem sequer explicar as doutrinas mais básicas da fé cristã. Como ter práticas corretas sem o conhecimento necessário? Que transformação eles têm experimentado? Ela é bíblica? Se não, que transformação a Palavra de Deus nos traz e como ela acontece? É o que veremos nas próximas mensagens.

Dever de casa: Estude sobre este tema e aprofunde o seu conhecimento da Bíblia Sagrada.


A NATUREZA DA BÍBLIA

Leia: 2 Timóteo 3:16

O Evangelho é poder de Deus (Rm 1:16). Isso pode ser comprovado na história da Igreja e das Missões. Por exemplo: o que o grande doutor da Igreja, Agostinho, bispo de Hipona (354-430 d.C), e o reformador Martinho Lutero (1483-1546 d.C) têm em comum? Ambos experimentaram uma transformação radical em suas vidas ao lerem as Sagradas Escrituras. Não por coincidência, foram iluminados pelo mesmo livro: Romanos (13:13,14 e 1:17, respectivamente). Para o cristão reformado ou evangélico, a Bíblia é a única fonte da revelação escrita de Deus (2 Tm 3:16,17; 2 Pe 1:19-21). Os católicos acrescentam a Tradição e o Magistério da Igreja (Dei Verbum n. 8, 9 e 10; Lumen Gentium n. 60 e 61). A Bíblia contém expressamente a natureza de Deus, o seu caráter e a sua vontade para a humanidade (Hb 1:1-4; 1 Sm 3:4; 1 Rs 9:9,13). Nela estão seus mandamentos, promessas e profecias. Todo o plano de salvação, incluindo o julgamento final, a subida dos crentes ao céu, a descida dos ímpios para o inferno e o reinado eterno de Cristo estão nas suas páginas (Hb 9:27; Ap 21:1-8). A derrota de Satanás também está clara em suas revelações (Ap 12:10-12; 20:10). Ela é a nossa única regra de fé e prática. Ela nos revela Jesus como o Deus encarnado e o Salvador daqueles que nele creem (Jo 1:1-14; 3:16,36). A Bíblia é um misto de loucura para os que se perdem e de poder de Deus para a redenção dos que creem (1 Co 1:18).


A transformação que buscamos é aquela efetuada pela Palavra de Deus.  Nenhuma outra pode ser mais legítima e perene. A Bíblia é a Rocha que mantém segura e firme a vida de quem sobre ela está edificado (Mt 7:24-27). Mas essa transformação vai muito além do caráter e do comportamento humanos. Ela não diz respeito a práticas ritualísticas como frutos da fé. Também está muito acima da espiritualidade religiosa e tradicionalista (veja Isaías 1:10-17). Uma vida transformada com uma nova natureza não é o objetivo, mas consequência da transformação que a Palavra de Deus opera na alma do pecador. Essa Palavra poderosa e irresistível, divinamente inspirada e cheia da graça de Deus aponta para algo mais além: a eterna glória vindoura no céu. Infelizes são aqueles que buscam na Bíblia apenas soluções para seus problemas terrenos e temporais! É como beber apenas um gole de uma fonte inesgotável de vida e felicidade eternas. Jesus tem vida em abundância para nos dar (Jo 10:10).

Mas eis a grande questão. A maioria das pessoas que bebem da Bíblia não experimenta a sua verdadeira essência. Que essência é essa? Podemos ver na resposta de Pedro quando o Senhor Jesus questionou seus apóstolos se eles o abandonariam como fizeram os demais: "Senhor, para quem iremos? Só tu tens as palavras de vida eterna"(Jo 6:60-71). Esta é a essência da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse: a eternidade em Cristo (Jo 5:24; 17:2,3; 1 Jo 5:13). Todo o conteúdo da Bíblia, palavras e atos de Deus Pai, Filho e Espírito Santo pode ser resumido na seguinte declaração do apóstolo João a respeito do ministério de Jesus: "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20:31). Então persiste a pergunta inicial: basta ler a Bíblia para ter a vida transformada? Lendo os evangelhos teremos vida eterna? Prossigamos com nosso estudo. Ainda temos muito que aprender.

Dever de casa: Pesquise e leia sobre a vida de Santo Agostinho e Martinho Lutero.


A NATUREZA HUMANA CAÍDA

Leia: Romanos 3:23-26

Já vimos que a Bíblia é a Palavra poderosa de Deus que deseja efetuar uma transformação radical na nossa vida, e que essa transformação diz respeito à vida eterna. Mas por que precisamos desta Palavra e da vida eterna que ela nos revela? Eis o motivo que leva muitos leitores da Bíblia ao engano e ao inferno: eles a veem como um livro religioso, histórico e filosófico, mas não como Palavra de Deus que revela o pecado do homem e a necessidade de salvação (1 Co 6:9,10; Gl 3:22; Rm 5:8; 1 Tm 1:15). Como escreveu Paulo aos romanos, todos somos pecadores. Carregamos o pecado original por causa da Queda do primeiro casal, Adão e Eva. Fomos separados de Deus, recebemos uma natureza totalmente depravada e condenada à morte e ao inferno. Nascemos mortos em nossos delitos e pecados, filhos da ira e da desobediência (Ef 2:1-5). Somos por natureza inimigos de Deus, amigos do mundo, servos das trevas. Não há bem algum em nós que não provenha da graça de Deus.

Então, a primeira e maior transformação que precisamos obter é de posição diante de Deus: de condenados a salvos (Jo 5:24; Rm 8:1,2), de pecadores a santos, de filhos do diabo a filhos de Deus (Jo 1:12,13), de amigos do mundo a amigos de Deus (Jo 15:15). Mas como isso é possível se nossos pecados fazem separação entre nós e Deus? Pela nossa própria natureza e vontade, somos incapazes de ir até Deus. Na verdade, não queremos. Foi o que Jesus disse aos judeus: "Não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5:40). Foi preciso Deus vir nos buscar, e Ele fez isso por meio de Cristo, que morreu e ressuscitou para nos dar a vida eterna. O que jamais poderíamos fazer por nós mesmos, Jesus fez na cruz, dando-nos livre acesso à presença de Deus e entrada gratuita no céu. Em Cristo, os nossos pecados são perdoados e apagados. Ficamos livres de condenação (Rm 8:1,2).

Mas aqui voltamos àquela questão: basta ler a Bíblia e saber dessas coisas para que sejamos salvos? O simples conhecimento da nossa condição depravada e da necessidade de vida eterna garante para nós um lugar no céu? Essa pergunta já foi parcialmente respondida no parágrafo anterior: não queremos ir! Leia Romanos 3:9-20. E mesmo se quiséssemos, não teríamos tal capacidade. Não basta conhecer o Sagrado: é preciso penetrar nele. Mas como? Algumas correntes teológicas, como o "Arminianismo", defendem que o perdido é capaz de, por si só, buscar e contribuir para a sua própria salvação (sinergismo). Mas a Bíblia é enfática ao ensinar que a salvação do pecador é um ato exclusivo de Deus (monergismo; Rm 3:20-24; Ef 2:8,9). O que compete a nós fazermos? Este será o tema do próximo capítulo.

Dever de casa: Pesquise e estude na Internet ou em um dicionário de teologia os seguintes temas: justificação, expiação, sacrifício vicário e propiciação.


A OBRA DO ESPÍRITO SANTO

Leia: João 16:7-11

Precisamos ser transformados por Deus para termos a vida eterna, mas sozinhos não podemos. Não podemos ir a Ele se Ele não nos chamar e atrair (Jr 31:3). Não podemos ir até Cristo se pelo Pai não formos levados (Jo 6:37). É aí que o Espírito Santo opera na vida do pecador, regenerando-o e dando-lhe a fé necessária para crer (Ef 2:8,9). Poucas palavras são necessárias para descrever todo o processo de salvação. Basta lermos o primeiro capítulo da carta de Paulo aos Efésios. Fomos eleitos, predestinados, feitos herança de Deus e selados com o Espírito Santo. Não pela nossa vontade ou obras, mas pelo beneplácito da soberana vontade de Deus. Não é todo leitor da Bíblia que alcança essas bênçãos espirituais, mas aqueles que são chamados de acordo com os propósitos eternos de Deus. Quem "se converte" continua perdido. Mas aquele que "é convertido" pelo Espírito Santo tem a vida eterna.

Assim, a Palavra de Deus opera em conjunto com o Espírito Santo: lemos ou ouvimos as palavras de vida eterna e o Espírito nos convence do pecado por meio delas (Jo 16:7-11). Ele retira as escamas que encobrem os nossos olhos espirituais e nos faz entender que somos pecadores miseráveis, carentes de salvação. Além disso, produz o arrependimento e nos faz crer no sacrifício vicário de Cristo para que sejamos salvos. Esses são os elementos essenciais da conversão genuína (At 3:19; 17:30,31; 26:20; Lc 3:3; 2 Pe 3:9). Nesse exato momento, somos santificados, separados do pecado e do mundo e consagrados a Deus (Dt 14:2; 2 Ts 2:13,14). É uma santificação posicional e instantânea. Somos de Deus, selados pelo Espírito Santo, feitos seus filhos (Jo 1:12,13; Rm 8:14-16; Gl 3:26,27; 4:7; 1 Jo 3:1), tornados novas criaturas (2 Co 5:17). Não somos mais de nós mesmos. Podemos afirmar como o apóstolo Paulo: "Já não sou eu que vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl 2:20). O perdão de Deus é transformador!

Então, esta é a maior e a principal transformação efetuada pela Palavra de Deus: a justificação. Paulo escreveu aos crentes de Roma que a fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus pregada (Rm 10:17). E o Senhor Jesus disse: "Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida" (Jo 5:24). Ouvir e crer não é para todos. A prova é que muitos que ouvem, não creem. Mas aqueles que o Senhor chama, ouvirão a sua voz e irão até Ele, porque são suas ovelhas e ouvem a sua voz (Jo 10:27). E quando seguem o seu Pastor, essas ovelhas já não são mais as mesmas. Elas são novas criaturas que experimentam uma transformação diária trazida pela Palavra de Deus. É sobre essa transformação que falaremos na próxima mensagem.

Dever de casa: Pesquise e estude sobre a graça e a soberania de Deus.


TRANSFORMAÇÃO PROGRESSIVA

Leia: Oseias 4:6 e 6:3

Falamos no capítulo anterior sobre santificação, que nada mais é que uma mudança instantânea de posicionamento diante de Deus: de perdidos para salvos (1 Co 6:11; Hb 13:12). Não pelas nossas obras desprezíveis de justiça, mas somos justificados pela graça apenas, por meio da fé em Cristo (Is 64:6; Rm 5:1-12; Ef 2:1,2,8,9; Tt 3:3). Podemos chamar isso de "novo nascimento" (Jo 3:1-21), quando nos tornamos novas criaturas (2 Co 5:17) e templos do Espírito Santo (1 Co 6:19,20). Como pecadores regenerados, somos estimulados pela Palavra e pelo Espírito Santo a viver diariamente num processo de crescimento espiritual (santificação progressiva), desenvolvendo a nossa salvação com temor e tremor (Fp 2:12-16). Perceba bem: não é nos desenvolver "para sermos salvos", mas "porque já somos salvos". Quanto mais conhecemos a Deus por meio da sua Palavra e nos relacionamos com Ele, mais vamos sendo por Ele transformados, servindo-o mais e melhor. E isso envolve amar e servir as pessoas (1 Jo 3:14-18,23; Rm 12:10; Ef 5:2; Gl 6:2,10,13).

Até aqui já respondemos a questão levantada na introdução deste estudo. O Senhor Jesus orou a respeito dos seus discípulos: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é verdade" (Jo 17:17; leia o capítulo inteiro). A Palavra de Deus transforma o perdido em salvo e continua a transformá-lo por toda a sua vida, até a vinda de Cristo. Esta é uma obra que Deus inicia em nós, conduz a sua continuidade e é fiel para completá-la (Fp 1:6). Ela se baseia na verdade revelada. Esse processo de transformação estimulado pelo Espírito Santo é efetuado por Deus, que opera em nós o querer e o realizar, segundo a sua vontade (Fp 2:13). Se queremos nos entregar a esse processo, devemos nos transformar pela renovação da nossa mente, o que envolve a inconformidade com este mundo (Rm 12:2). Tudo isso está ligado à Palavra de Deus, a qual precisamos obedecer piamente. O Senhor Jesus declarou: "Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, este é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele" (Jo 14:21).

Percebe como o conhecimento que transforma não é meramente intelectual? A Palavra de Deus precisa ser verdade na vida daquele que se aproxima dela, produzindo o conhecimento de Deus baseado num relacionamento íntimo com Ele, o que só é possível por meio da obra da regeneração. Espírito, Palavra, conhecimento e transformação estão intimamente ligados e não podem ser desassociados uns dos outros. Eles formam as engrenagens de uma única estrutura sólida e santa. Nosso papel é beber todos os dias dessa fonte de água viva, guardando no coração as Sagradas Escrituras para não pecar contra Deus (Sl 119:11). A falta de conhecimento nos faz errar o alvo e nos tira do centro da vontade do nosso Pai celestial. Como conhecer o que nosso Senhor espera dos seus servos sem ler e estudar a sua Palavra? Como nos tornaremos crentes maduros e obreiros aprovados que manejam bem a Palavra da verdade (2 Tm 2:15) se não nos dedicarmos a meditar nela de dia e de noite (Sl 1:1,2)? Onde está o seu prazer?

Dever de casa: Pesquise na sua Bíblia e leia os seguintes textos: 1 Ts 4:4-7; 5:23; Hb 2:11; 10:10-14; 12:14; 13:12; 2 Co 7:1; 1 Pe 1:15,16; 2 Tm 1:9; Sl 139:23,24; Fp 2:14-16; Ef 1:4; 5:3; Rm 12:1; 6:22; Mt 5:48.


O CERNE DA TRANSFORMAÇÃO

Leia: Romanos 12:1,2

Com tudo o que já aprendemos aqui, resta-nos uma última questão: O que precisa ser transformado? Creio que cada pessoa que busca a Deus em oração ou no culto tem uma visão pessoal do tipo de transformação que deseja para a sua vida. Pode ser a vitória sobre o sofrimento causado por uma vida atribulada, um relacionamento em crise, uma grave crise financeira, problemas de ordem familiar, doenças diversas, traumas e complexos, ansiedade e medo, depressão ou algum outro igualmente trágico. O mundo também precisa de transformação: aquecimento global, violência, corrupção, misérias, doenças e guerras. A igreja também urge mudanças urgentes: apatia, materialismo, depravação, individualismo, teologia da prosperidade, teologia egocêntrica, suicídio de pastores, alienação teológica. São muitas questões. Todavia, todas têm um ponto em comum: não são a doença, mas apenas os sintomas de um único mal chamado "pecado". O profeta Jeremias bem disse: "De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados" (Lm 3:39). E se o problema da humanidade é o pecado, a única solução é a salvação. Para o crente, que já está salvo, santificação e confiança em Deus.

O que buscamos em oração ou no culto talvez não seja o tratamento para a doença, mas apenas um paliativo para o nosso sofrimento. E as igrejas modernas estão peritas em oferecer tais paliativos, formas de aliviar a dor sem tratar profundamente aquilo que a está causando. As pregações triunfalistas não somente culpam o diabo por todas as mazelas humanas, como também oferecem bênçãos e vitórias que pretendem resolver a questão. Mas não cuidam do principal: o coração, o caráter. A grande questão é que "atenuando os sintomas, podemos ocultar a verdadeira enfermidade" (LLOYD-JONES, 2008, p. 33). Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis (Ef 1:3; cf. Cl  1:21-23 e Rm 8:29). Não adianta uma transformação aparente, tratando dos sintomas. O problema persistirá e se agravará ainda mais. A quem estaremos enganando? Não adianta oásis de felicidade se a nossa vida continuar um deserto. Não adianta nada que nos traga uma sensação falsa de vitória, quando tal vitória é meramente terrena e não envolve as coisas celestiais nem a eternidade. São paliativos. São máscaras que ocultam o pecado que traz todas as crises que enfrentamos ou a maneira equivocada com a qual lidamos com elas.

A Palavra de Deus é poderosa para nos transformar de dentro para fora. Ela deseja atingir o nosso ego para submetê-lo a Cristo (Gl 2:20), retirando a máscara da religiosidade através de uma transformação estrutural, e muitas vezes dolorosa, do nosso caráter. Ela requer um alto grau de humildade em reconhecer  onde e como estamos errando, pois fomos resgatados para uma vida nova (Rm 6:3-7). É claro que não me preocupo aqui com a transformação da conta bancária, mas da vida espiritual, da nossa relação com Deus e com as pessoas. Essa é uma transformação moral. É preciso ir ao cerne da questão, avaliar nossas motivações, rever nossas atitudes ou a ausência delas. Daí surgirão respostas para nossas crises interiores, conjugais, familiares, ministeriais, profissionais, etc. No texto supracitado de Romanos (12:1,2), Paulo fala de transformação do centro das nossas escolhas e decisões: a mente. São nossos pensamentos que geram sentimentos, produzindo ações que trarão consequências. O que é como temos pensado? Como isso tem afetado nosso modo de viver, de lidar com as tentações e os problemas? Até que ponto nossos pensamentos glorificam ou não a Deus? É essa a transformação que devemos buscar todos os dias. Renove-se!

Dever de casa: Faça um autoexame sincero e meticuloso. Desnude-se diante de Deus e assuma o que precisa ser transformado dentro de você. Deixe-se moldar por Ele.


CONHECIMENTO ESPIRITUAL

Leia: 1 Coríntios 2:9-16

Quem nos transforma é Deus. Precisamos conhecê-lo. Mas não há como conhecermos a Deus se Ele não se revelar a nós (Êx 3:1-14; Is 46:9,10; Dt 6:4; Jo 14:6; Ap 22:12). Ele fez isso por meio de três revelações: GERAL, que é a natureza ou tudo que foi criado (Sl 19:1; Rm 1:20); ESPECÍFICA, que é a sua Palavra, a Bíblia (Hb 4:12; 2 Tm 3:16,17); e ESPECIAL, a sua encarnação como Filho, Jesus Cristo (Jo 1:1-14; Fp 2:6-8; Hb 1:1-4). Mesmo Deus se revelando dessa maneira, nem todos são capazes de enxergá-lo. Alguns olham para a natureza e a veem como um deus ou os seus elementos como deuses (os astros, os animais, etc.). Outros não veem a Bíblia como revelação divina inspirada, mas como um livro humano que serve aos propósitos de um seguimento religioso judaico-cristão. Quem olha para Jesus, nem sempre o vê como Deus, mas como um demiurgo, mestre, filósofo ou psicólogo (veja no discurso de Pedro, em Atos 2:14-36, a incredulidade dos judeus). Os incrédulos jamais veem Jesus como Criador e Senhor de tudo e de todos. Então, não basta apenas Deus se revelar, é necessário uma visão espiritual e correta do Deus que se revela. E isso não é algo que todos possuem. Muitos jamais irão possuir (2 Co 4:4). A Palavra de Deus só atua com eficácia na vida daqueles que creem em Cristo para a salvação (1 Ts 1:9,10; 2:13; 1 Pe 1:23-25).

O nosso conhecimento de Deus é parcial (1 Co 13:9-12) e envolve somente o que Ele quis relevar, e já é suficiente para nós (Rm 11:33-36). Além disso, ideias distorcidas moldam e maculam nossa visão. Para conhecermos Deus e entendermos a sua vontade, precisamos da mente de Cristo, como lemos em 1 Coríntios 2:9-16. Para entender a Bíblia e experimentar a transformação que ela opera, é necessário que o Espírito Santo abra os nossos olhos espirituais (At 26:28). Leia em sua Bíblia estes dois exemplos: Lucas 24:44-46 e Atos 16:14. Até os dias de hoje, os judeus possuem seu entendimento cego e são incapazes de reconhecer em Jesus Cristo o Messias prometido em todo o Antigo Testamento (2 Co 3:14-18; 4:4-6). Aqueles que estão em Cristo possuem o conhecimento dado por Ele para o reconhecimento da verdade revelada (1 Jo 5:20). Embora uma das características da Bíblia seja a perspicuidade, é a sabedoria do Alto que fará a diferença para conhecermos o que Deus nos revela (Tg 3:17; Ef 1:17; Cl 2:2).

Tudo isso já nos ajuda a entender algumas questões. Por que muitos leem a Bíblia e não a entendem nem apreendem seu conteúdo espiritual? Por que tantos acham difícil ou mesmo impossível cumprir o que ela ordena? Por que inúmeros cristãos têm sua Bíblia aberta em casa no Salmo 91, bem ao lado de um bar ou de imagens de escultura? Por que, mesmo dizendo acreditar na Bíblia, tantos crentes se deixam levar pelo ensino mentiroso dos falsos profetas? Por que muitos que leem a Bíblia vivem no pecado? Se o Espírito Santo não nos guiar, a Palavra não nos transformará. Sem uma visão espiritual, o sobrenatural de Deus não se revela (veja 2 Reis 6:15-17). Sem a regeneração efetuada pela graça de Deus, nossos esforços serão inúteis. Quem não é morada do Espírito, está ainda perdido. Mas aquele que é templo do Espírito Santo, deve viver sob sua dependência, pedindo sabedoria e iluminação espiritual para entender a vontade de Deus e praticá-la. É Isto que demonstra que verdadeiramente somos transformados por Cristo: se guardamos os seus mandamentos (1 Jo 2:3-6). Afinal, este é o objetivo de ler e entender a Bíblia: encarnar suas verdades e vivê-las. A fé sem obras é morta (Tg 2:18-26).

Dever de casa: Pesquise na Internet ou em um livro de teologia sobre a revelação de Deus. O que é a Bíblia? Como ela chegou até nós? Quem a escreveu? Como? Qual a sua importância?


CONHECIMENTO E PRÁTICA

Leia: Jó 42:1-6

Embora este estudo seja apenas a ponta do iceberg de tudo que há para aprender sobre o tema proposto, podemos concluí-lo afirmando que sem a intervenção poderosa do Espírito Santo é impossível haver conhecimento de Deus e da sua Palavra, muito menos salvação e transformação integral de vida. Tudo é um processo que se iniciou ainda no Paraíso, e teve seu ápice na cruz e na subida aos céus do Cristo ressurreto. Como participantes dessa gloriosa benção, crescemos na medida em que avançamos, prosseguindo rumo à perfeição, como o apóstolo Paulo (Fp 3:12). Deus trata nossos pecados e limitações. Ele nos aperfeiçoa diariamente, provando-nos e provando-nos (Tg 1:2-4,12; 1 Pe 1:6,7; 4:12-14). Eis a diferença que a Palavra opera na vida do crente: ela o santifica. E o fato se sermos santos revela a nossa natureza regenerada. Conforme escreveu J. C. Ryle, em seu livro "Santidade" (ed. Fiel, 2002): "Devemos ser santos, porque essa é a única evidência segura que possuímos fé salvadora em nosso Senhor Jesus Cristo" (p. 67).

Lembre-se: embora a fé deva ser exercida com o uso da razão, o conhecimento de Deus e a fé em Cristo não partem de um assentimento meramente intelectual, mas são uma obra produzida pelo Espírito Santo. Podemos chamar Jesus de Senhor sem jamais tê-lo conhecido (Mt 7:21). A verdadeira transformação operada pela Palavra de Deus só é possível e conduz à vida eterna quando é o Espírito que atua na vida do perdido. Não somos nós que deliberadamente o escolhemos, mas é Deus quem nos escolhe (Jo 15:16). Sendo escolhidos e regenerados pela Palavra da verdade (Ef 1:13; Cl 1:5; Tg 1:18), podemos experimentar sensíveis transformações diárias do nosso caráter, temperamento, ideologias, relacionamentos e vocações. Além disso, somos transformados com propósitos bem específicos: praticar as boas obras (Ef 2:8-10), salgar e iluminar o mundo (Mt 5:13-16), dar frutos (Jo 15:15,16), testemunhar de Cristo (At 1:8), amar com o amor com que fomos amados (Gl 6:2; Tg 2:8; Jo 15:12), ensinar e discipular outros (Mt 28:19,20).

Deus se revela para que o obedeçamos (Dt 29:29). O conhecimento de Deus através da sua Palavra nos torna pessoas melhores: pais, filhos, patrões, empregados, crentes, etc. Esse conhecimento deve ser correto: a sã doutrina (1 Tm 4:6,7; 2 Tm 4:2-4; 6:3; Tt 1:9). Mas não deve ficar só no conhecer. É preciso praticar. E a prática da Palavra se resume em um único verbo: amar. Não existe espiritualidade cristã e vida íntegra sem coerência entre aquilo que cremos (ortodoxia) e aquilo que praticamos como fruto dessa crença (ortopraxia).  O Senhor Jesus nos ensinou: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35). Ser discípulo de Cristo envolve crer nele; ser conhecido como seu discípulo envolve a prática do amor. A mensagem do Evangelho é uma mensagem de amor, de fé, de perdão, de restauração, de reconciliação, de esperança, de abandono do pecado, de obediência, de adoração e de serviço a Deus. A transformação se dá por meio do amor e gera amor. Se amamos com o amor de Deus, a transformação já aconteceu e continuará a acontecer.

Dever de casa: Ore. Frequente os cultos de ensino da sua igreja e a escola bíblica dominical. Leia a Bíblia diariamente. Leia livros de teologia. Participe de seminário teológico ou grupos de estudo da Palavra de Deus.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim do nosso estudo. Espero que você tenha aprendido bastante sobre o poder transformador da Palavra de Deus. Esta Palavra não é somente inspirada, mas também é útil (2 Tm 3:16,17). Ela existe para cumprir seu propósito no mundo, na Igreja e na vida de cada crente individualmente. Mas não basta saber, é preciso aplicar a verdade bíblica de maneira contextualizada à nossa realidade atual. Não basta ter fé, é preciso ter a fé salvífica despertada pelo Espírito Santo. Desejo finalizar com alguns pontos que mostram a importância da Bíblia para nós e o poder que ela exerce sobre a vida daquele que, pela graça de Deus, tem fé em Jesus Cristo.

Ela é divinamente inspirada, não contém erros nem mentiras. Podemos confiar plenamente no seu conteúdo (2 Tm 3:16,17; 2 Pe 1:19-21).

Ela é a Revelação específica de Deus para nós. Ela mostra quem Deus é (sua natureza e seu caráter) e qual a sua vontade para a humanidade e para a Igreja (Hb 1:1-4; 1 Sm 3:4; 1 Rs 9:9,13).

Ela nos mostra Cristo e nos torna sábios para a salvação (Jo 14:6; 20:30,31; At 4:12; 2 Tm 3:15).

Ela nos mostra o nosso pecado e se mostra como poder de Deus para a salvação daquele que crê em Jesus. Fora das Escrituras Sagradas não existe possibilidade de salvação (Gl 3:22; Rm 1:16).

Ela é a única fonte divina de fundamento da nossa fé e nos protege das heresias. Tudo o que precisamos saber a respeito daquilo que cremos está na Bíblia (Gl 1:6-10). Ela é a nossa fonte da verdade (Jo 17:17).

A Bíblia nos fornece todos os elementos essenciais para uma vida espiritual sadia e prática, transformando o nosso caráter e nos capacitando para a obra do Senhor, mostrando-nos os princípios de Deus (Gl 5:22,23; Hb 4:12; 2 Tm 3:16).

Através da Bíblia somos ensinados, corrigidos, repreendidos e educados por Deus (2 Tm 3:16). Somos também advertidos por Ele (1 Co 10:10-12; Sl 19:11).

Conhecer a Palavra de Deus nos traz alegria, esperança, gozo, sabedoria e entendimento (Jr 15:16; Sl 19:7-10; 2 Pe 3:18; Rm 15:4). Ela é uma fonte de ricas bênçãos para quem a obedece (Lc 11:28). Não basta ler a Bíblia e as bênçãos nos perseguirão: é preciso nos comprometer com seu conteúdo.

Ele nos dá direção. Por ela somos preservados do erro (Sl 119:11,105).

Temos a nossa vida purificada e somos levados à maturidade e equipados para a vida (Jo 15:3; 2 Tm 3:17). Ela é fonte de crescimento (Jo 15:3; 1 Pe 2:2).

A Palavra de Deus nos sustenta nas dificuldades (Sl 119:92).

A Palavra de Deus é a nossa fonte segura de poder (Rm 1:16).

Dever de casa: Pesquise e estude HERMENÊUTICA. Ela o ajudará a compreender melhor o texto bíblico, sob a direção do Espírito Santo.

AUTOR: Mizael de Souza Xavier

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