Existe um fenômeno que atinge milhares de pessoas no mundo inteiro e que
pode ser facilmente confundido com opressão demoníaca ou visões. Chama-se
“paralisia do sono”. O que caracteriza a paralisia do sono é um estado
momentâneo de imobilidade corporal logo após o despertar, podendo ocorrer com
menos frequência imediatamente antes de adormecermos. Esse distúrbio acontece
geralmente numa fase do sono chamada REM (Rapid Eye Movement, ou movimento
rápido dos olhos), que é quando os sonhos se tornam mais vívidos, ocorrendo no
momento de transição entre o sono e o estado de vigília. Nesta fase, os olhos
se movimentam rapidamente, como ocorre quando estamos acordados. Durante essa
terrível experiência, a pessoa acorda, mas não consegue se mexer nem falar; ela
tenta se levantar ou gritar, mas os seus músculos não respondem ao seu comando.
Esse momento pode durar alguns segundos ou até cinco minutos, quando finalmente
a pessoa consegue despertar do seu “transe” e levantar-se. A paralisia do sono
acontece porque as funções da consciência voltam ao despertarmos, mas a
estrutura do sono REM permanece parcialmente funcionando. Ou seja: o cérebro
desperta antes do corpo.
Esse tipo de distúrbio
pode trazer inúmeros problemas para a nossa saúde psíquica e física, ou pode
ser fruto de noites mal dormidas. Ele também pode estar ligado à narcolepsia,
um distúrbio do sono caracterizado pelo excesso de sono durante o dia, mesmo que
tenhamos dormido bem à noite. Os episódios da paralisia do sono também estão
associados à depressão, hipertensão e distúrbios convulsivos. A ansiedade
também pode ser um fator de predisposição à sua ocorrência. Além da paralisia
em si, esse estado pode ser acompanhado de alucinações hipnagógicas, que
estudamos anteriormente, que podem ser visuais, auditivas, olfativas e táteis.
Assim, durante a paralisia, o indivíduo pode ver, ouvir e sentir coisas que não
estão ali, mas que foram transportadas dos seus sonhos ainda latentes para o
ambiente onde ele se encontra dormindo. Além de ouvir passos, ruídos ou vozes, é
possível sentir cheiros desagradáveis. A ignorância a respeito das questões
relacionadas à paralisia do sono pode levar a uma compreensão equivocada
daquilo que se vê, sente e ouve quando ela ocorre, o que está diretamente
ligado à batalha espiritual, uma vez que esses fenômenos sensoriais podem ser
interpretados como uma presença maligna, opressão ou visões proféticas.
As pessoas que sofrem
com a paralisia do sono afirmam que costumam ver coisas, como vultos, pessoas,
seres estranhos ou espíritos malignos. Essas visões, dependendo da crença do
indivíduo, podem remeter a seres extraterrestres, fantasmas ou demônios. Entretanto,
a paralisia do sono não está ligada a nenhuma questão espiritual voltada para o
mundo dos demônios. Ela acontece porque, durante o sono, o nosso cérebro relaxa
todo o nosso corpo, para evitar que façamos movimentos bruscos enquanto estamos
dormindo, reproduzindo o que sonhamos. Ou seja: sonhar que está lutando e
desferir golpes enquanto dorme, ou sonhar que está correndo e de fato sair
correndo. Ao acordar com a paralisia do sono, o indivíduo sabe que acordou, mas
continua vendo as coisas que estavam presentes no seu sonho, o que pode lhe causar
alguma confusão mental. Ou seja: a realidade inconsciente é transportada para a
realidade consciente. Parte daquilo que estávamos sonhando parece se
materializar diante de nós (sons, imagens, cheiros, toque, etc.), quando, na
verdade, estão apenas dentro da nossa cabeça. Essas alucinações são produzidas
pelo pavor que sentimos quando percebemos que estamos acordados e não
conseguimos nos mexer, quando vultos começam a aparecer do nosso lado ou
escondidos no ambiente.
Aqueles que sofrem com
esse tipo de condição, relatam a presença de seres malignos sentados do seu
lado, caminhando ao seu redor e, o que é mais assombroso, encima delas,
enforcando-os. O filme Mara, ou O demônio do sono (2018), dirigido por
Clive Tonge, retrata uma dupla realidade: a questão científica buscada pelos
especialistas para a paralisia do sono e as questões espirituais, dando-nos uma
versão demoníaca de como seria se este fenômeno estivesse realmente ligado às
questões sobrenaturais. No filme, os personagens são atormentados por um
demônio chamado Mara, que ataca as suas vítimas quando elas estão imóveis após
despertarem do seu sono. Além de aterrorizá-las com visões, ela se ajoelha
sobre elas e as esgana, até que morrem terrivelmente. Em um mundo
neopentecostal, onde o movimento de batalha espiritual toma emprestado das
religiões espiritualistas africanas as explicações para as suas teorias, a
presença desse demônio pode ser real, ou a única explicação para quem sofre com
a paralisia do sono, quem vive na ignorância e busca a ajuda de igrejas
neopentecostais para resolver o seu problema.
Este ponto nos chama a
atenção para o cuidado que devemos ter com supostas infestações demoníacas,
mesmo dentro de casa. O membro da família que sofre com a paralisia do sono
pode ser considerado um canal de ligação entre o mundo das trevas e o nosso
mundo, como “sensitivo” ou endemoninhado. Ao invés de tentar cuidar do seu distúrbio,
seus familiares podem tratar a questão como espiritual, levando-o a centros
espíritas, rituais de exorcismo católicos ou sessões de descarrego em igrejas
evangélicas. Para a Igreja, o risco de espiritualizar a paralisia do sono pode
significar, ainda, o aprisionamento em tudo o que temos visto aqui, incluindo
supostas revelações trazidas durante esse período. Como as alucinações
hipnagógicas envolvem estímulos auditivos, aquilo que o indivíduo estava
sonhando pode transportar-se para o seu despertamento, produzindo vozes que
repetirão o conteúdo dos seus sonhos. O grande risco é tomar isso como revelação
de Deus ou mensagens demoníacas, levando-as para a igreja ou transformando-as em
doutrinas. Não são poucos os relatos que ouvimos de irmãos que afirmam ter tido
visões, dando a certeza de que estavam acordados, que viram e ouviram Deus falar
ou mesmo o diabo. Eles podem ver pessoas e situações em suas alucinações, transmitindo
à igreja como algo da parte de Deus, como uma mensagem divina específica.
Mizael Xavier
Este
estudo faz parte do capítulo “Lutando a batalha errada: sonhos e visões”, do
meu livro:
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