quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

SONHOS E PREMONIÇÕES - PARTE 3 - MEUS SONHOS




            Após esse breve estudo, passo a relatar alguns sonhos “reveladores” que eu tive e alguns perturbadores.


Um sonho revelador.

O primeiro momento que me recordo de haver penetrado neste mundo misterioso de sonhos e premonições foi na minha infância, por volta dos dez anos de idade. Eu morava no alto de um morro numa cidade serrana do Rio de Janeiro, Petrópolis, onde havia uma imensa floresta por detrás da minha casa. Lá, eu vivi a minha infância com meu irmão e minhas duas irmãs. Brincávamos muito nos balançando em cipós e construindo cabanas. Fazíamos também cemitérios de insetos que enterrávamos vivos em caixinhas de fósforo e remédios. Mas não chegava a ser um cemitério maldito. Nesta época, a minha mãe criava passarinhos e possuía algumas gaiolas. Uma estava vazia e foi justamente esta que levei para o mato para tentar pegar passarinhos, uma gaiola grande e velha. Aconteceu que eu perdi a gaiola. Não sabia mais onde a havia deixado no meio daquele matagal todo, árvores, bambus, samambaias. Fiquei desesperado, morrendo de medo que minha mãe perguntasse pela gaiola, pois sabia que levaria uma surra. Procurei, procurei, mas não encontrei. Como eu não sabia mentir, assim que ela perguntasse pela gaiola eu contaria que havia perdido e apanharia com certeza. Neste clima de medo adormeci em minha cama. Durante a noite tive um sonho. Neste sonho, uma mulher (que na época eu achei ser Maria, a mãe de Jesus) me levava até o local onde a gaiola estava. Ao acordar pela manhã, fui correndo ao local indicado no sonho e lá estava a gaiola! Que alegria! Levei-a para casa e nem precisei contar que havia perdido.
            O que contar disso? Terá sido Maria que me apareceu em sonho? Católicos diriam que sim. Mas eu creio que Maria descansa na santa paz de Deus lá no céu e, como dizem as Escrituras, não pode resolver problemas terrenos, ainda que quisesse. Sigmund Freud diria que tudo não passou de uma manifestação do meu inconsciente que trouxe ao meu subconsciente uma memória esquecida. Durante o sonho esta memória veio à tona e finalmente me lembrei onde havia colocado a gaiola. Também isso acontece quando sonhamos com pessoas que não conhecemos. Na verdade encontramos todas elas durante o dia ou as vemos na TV, e agora seus rostos, que antes nos passaram desapercebidos, enfeitam nossos sonhos. Ainda nossos desejos mais secretos se manifestam nos sonhos e fazemos aí o que não temos coragem de realizar durante o dia. Nossa mente é um labirinto ainda insondável para os cientistas. Diz-se que o ser humano utiliza apenas dez-por-cento de sua capacidade mental. Será que a mente inconsciente encarrega-se de utilizar os outros 90%?  Creio que esta foi a minha única experiência com sonhos. A partir daí nunca mais sonhei algo que soasse como uma revelação ou aviso. Já me perguntaram se eu sonhei alguma vez com meus avós ante que eles morressem.
            Espiritualmente falando, podemos enxergar o cuidado de Deus conosco, nos auxiliando em momentos difíceis por meio dos sonhos. Muitas mães sonham com seus filhos e acordam com a missão de alertá-los com relação a fatos que podem prejudicá-los. E os sonhos se realizam! O que dizer disso? Eu creio que a graça comum de Deus se demonstra, também, no seu cuidado com o ser humano dentro da sua soberana vontade. Alguns sonhos podem ser avisos divinos sobre acontecimentos. Porém, é preciso prudência ao interpretá-los, ao viver em função deles. Deus não deixa nada às escondidas, não traz revelações para causar confusão. Se algo é de Deus, ficará patente. Mais uma vez é preciso utilizar a Bíblia como parâmetro seguro de definitivo. Deus não revela um novo marido para a mulher que já é casada.


O brinquedo em cima do armário

Durante alguns anos de minha infância, tive um sonho que sempre se repetia sem que eu pudesse desvendar o seu significado. Havia lá em casa um guarda-roupas velho que era palco de muitas de nossas brincadeiras. Para mim ele tinha algo de sinistro, principalmente em uns respiradouros pequenos, tipo peneirinhas, que ficavam nas portas. Lá dentro até uma gata nossa já dera cria a vários filhotes. Meu sonho envolvia este armário de roupas. Todas as noites eu sonhava com ele. Na parte de cima havia um brinquedo plástico de montar escondido entre algumas tranqueiras. Eu sempre queria pegar aquele brinquedo, mas limitava-me apenas a contemplá-lo de longe sem jamais alcançá-lo. Lembro que tinha várias cores, azul verde. Não sei o que aquele sonho repetitivo queria me dizer ou mostrar, mas com o passar dos anos ele me abandonou. Até hoje posso ver o brinquedo lá em cima, seu formato, suas cores.


Pesadelos.

Já tive muitos pesadelos. Os piores foram em Petrópolis. Em um deles, eu acordei assombrado na cama e fiz força para não mais dormir enquanto sentia que uma criatura me atormentava e puxava minhas pálpebras para baixo para me forçar a voltar para aquele mundo de pesadelos. Mesmo acordado, tentando fugir, eu sentia a presença daquele ser maligno, envolvendo-me com suas garras, forçando-me a dormir novamente. Era muito clara a sua presença, pessoal; parecia estar realmente ali no meu quarto, na minha cama. Sonho semelhante tive quando entrei para o exército. Certa vez fui designado para montar guarda em um certo local. Durante o sono, fui tomado por um pesadelo que me fazia rolar na cama e gemer. Mesmo dormindo, eu ouvia a voz dos meus companheiros dizendo para me acordar, pois eu poderia estar passando mal. No meu quarto de hora, de fuzil na mão na madrugada, tive medo de cochilar e voltar a dormir e ser atormentado novamente por aquele terrível pesadelo, onde monstros me transtornavam. Novamente era real demais para ser apenas um sonho.
            Depois de outro sonho, acordei me contorcendo na cama: estava sendo partido ao meio! Sim, sentia meu corpo se dividindo em dois e minha espinha dobrou para trás formando um arco. Quando dei por mim, estava de costas para um móvel que ficava ao lado da cama, encostado. A minha coluna pensada no móvel suscitara esse sonho. Outros sonhos que vez ou outra me perseguem estão relacionados a alguns medos que tenho. Entre eles está o de ficar banguela. Não tenho os dentes muito bons e a maioria possui obturações, principalmente os da frente. De vez em quando tenho pesadelos onde meus dentes estão caindo; na verdade caem mais dentes do que minha boca possa comportar. Em um sonho me vi com os dentes cheios de cabelos e eu, agoniado, tentava tirar o grande novelo de cabelo que já se formava, temendo que meus dentes viessem junto.
            Não quero interpretar aqui meus pesadelos nem me ater demais sobre este assunto. Isto serve apenas para compreender que tipos de sonhos povoam nossa mente quando dormirmos. O que eles querem nos dizer dependerá de muitos fatores que não cabem nos livros que conhecemos. Cada pessoa é uma pessoa diferente da outra. Podemos ter sonhos iguais, mas para cada um o significado pode ser bem diferente, se houver algum significado. O fato é que pesadelos fazem parte da realidade daqueles que sonham. Algumas pessoas afirmam jamais ter sonhado. Em parte isso é bom, pois estão livres de todos esses questionamentos. Em parte nem tanto, porque existem sonhos bons que nos dão bem-estar, que nos fazem dormir e acordar tranquilamente.


O fuzil roubado.

Este sonho e o próximo ilustram a capacidade que temos de modificar os nossos sonhos. Isto pode acontecer de duas maneiras: acordados e conscientes, lembramos do sonho que tivemos ou de algum sonho que se repete por várias vezes e pensamos em como poderemos modificá-lo. Normalmente, não estamos gostando do rumo que ele está tomando e queremos dar-lhe um desfecho diferente. Outra forma de modificar o sonho é durante o próprio sonho. Enquanto uma parte da nossa mente está envolvida em sonhar e participar do que está sendo sonhado, outra parece projetar-se para fora, observando o desenrolar da história. É como se o sonho estivesse num nível inconsciente e o subconsciente trabalhasse. Às vezes, em minhas experiências, foi como se no sonho eu tivesse um momento de lucidez ou coisa parecida e me desse conta de que poderia mudar a situação e foi o que fiz. Não consigo compreender direito como isso ocorre: dormindo, sonhando e ao mesmo tempo consciente de que estou sonhando e do que preciso fazer para modificar o sonho. Vou lá e modifico.
            A primeira experiência de modificação do sonho surgiu pouco depois que deixei o exército. Em vários aspectos o exército não foi uma experiência boa para mim. Meu avô dizia que a qualquer momento eles poderiam me reconvocar para participar da guerra do Golfo e isso me metia medo. Passei a sonhar que entrara de novo para as forças armadas e isso me fazia acordar em grande agonia, dando graças a Deus por tudo não ter passado de sonho. Era sempre a mesma história: eu voltando a servir à pátria. Mas outro sonho passou a me acompanhar durante noites a fio. Era, na verdade, um pesadelo que não me abandonava e me deixava inquieto durante minhas horas de sono. Neste sonho, eu havia roubado um fuzil do quartel e levado para casa. Então, toda as noites eu sonhava que estavam atrás deste fuzil e a qualquer momento poderiam me pegar. O maior medo era esse: ser pego! Eu não sabia o que fazer com o fuzil; tentava escondê-lo, mas não adiantava, ele estava sempre na minha frente e eu me via constantemente encurralado, prestes a ser descoberto.
            Isto ocorreu por diversas vezes, até que eu tive, numa noite, o seguinte pensamento: preciso me livrar deste fuzil. Eu sempre tentara isso, mas sem sucesso. Naquela vez eu conseguiria. Organizei meus pensamentos e manipulei meu sonho (dormindo!) de maneira a devolver o fuzil ao quartel. Assim pensei e assim realizei no sonho. Fui escondido ao quartel e devolvi o fuzil ao seu lugar. A partir daquele dia, ou daquela noite, nunca mais tive tal sonho. Se os sonhos são um reflexo de nossa realidade cotidiana, o que este poderia querer me dizer? O que tem haver o fuzil roubado com a minha vida? E se eu modifiquei o sonho, poderei eu modificar também a minha vida a partir disso? O que estarei escondendo? O que tenho medo que seja descoberto? O que preciso fazer então? Creio que o sonho com o fuzil nada mais era que a manifestação inconsciente do meu medo de voltar ao exército, dos traumas que lá vivi. Existia algo a ser resolvido: o fuzil. Eu precisava deixá-lo lá. O fuzil simbolizava o meu medo: deixei-o para trás e não temo mais o exército.


As crianças enterradas no quintal.

Outro sonho que me atormentou durante um certo tempo foi este: sonhava que havia enterrado vivas algumas crianças num buraco fundo, tipo um poço, feito no quintal de uma casa. Não sei que crianças eram aquelas e nem por que as coloquei lá. Não sonhei a cena em que elas haviam sido enterradas, mas somente sabia que elas estavam lá e que fora eu que as tinha enterrado. Seguiu-se uma perseguição à procura das crianças. Onde elas estariam? Eu sabia: eu as enterrei. Novamente, como no caso com o fuzil, havia o medo de ser descoberto. As pessoas estavam se aproximando demais do local, rondando a minha casa, chegando perto. A polícia já tinha algumas pistas e me fazia perguntas. Por várias vezes estas cenas me atormentaram durante meu repouso e eu já não encontrava saída. Certa noite, tomei uma decisão: Já não suporto mais sonhar com estas crianças! Preciso fazer algo! E fiz: transformei a história. Dormindo, forcei o seguinte acontecimento: na verdade, as crianças não tinham sido enterradas vivas, mas apenas colocadas em uma enorme caixa d’água enterrada no chão. Bastaria erguer a tampa para elas saírem sãs e salvas. E foi o que obriguei-me a fazer em sonho. A partir do momento em que levantei a tampa da caixa d'água e tirei as crianças de lá de dentro, nunca mais tive este sonho.
Quem eram aquelas crianças? O que poderia elas simbolizarem na minha vida? Por que sempre havia o perigo de ser descoberto? Por que o medo de ser pego? O que pode estar-se passando na minha vida que tenha alguma relação com estes fatos? Serão analogias? O que eu sei é que podemos penetrar nos nossos sonhos para modificá-los. Embora não seja possível precisar como isso acontece, uma vez que, teoricamente, estamos inconscientes, já experimentei isso algumas vezes e dá certo. Se podemos modificar nossos sonhos inconscientes, muito mais podemos fazer pelos sonhos conscientes, transformá-los, moldá-los de acordo com os propósitos de Deus para a nossa vida.


O fantasma da máquina de escrever.

Tenho duas experiências que mostram como os acontecimentos cotidianos afetam a nossa mente, ao ponto de nos causar alucinações visuais e auditivas, como aquelas descritas anteriormente no estudo sobre Freud. Talvez estes dois casos possam explicar o quê são aquelas vozes do além que tanto perturbam algumas pessoas sensitivas. É possível ouvirmos coisas que não estão sendo ditas, ruídos estranhos, sons de instrumentos, todos produzidos pela nossa mente, nossa lembrança subconsciente que reproduz aquilo que gravou.
            A primeira experiência ocorreu quando eu morava num bairro da cidade de Natal, poucos meses depois de ter me mudado para cá, chamado Potilândia. Morávamos eu, minha esposa e meu filho de pouco mais de um ano de idade em um quarto com banheiro nos fundos do depósito da livraria onde eu trabalhava como vendedor externo. Depois do expediente, quando não tinha mais nada para fazer e os outros funcionários já tinham ido para suas casas, eu aproveitava para datilografar meus livros de poesia que escrevi e encadernei. Ainda não sabia o que era computador e utilizava uma máquina Olivetti elétrica. A máquina tinha um barulho peculiar, com seus tec-tec, clinc e outros ruídos mais. Este barulho me acompanhava durante horas enquanto eu me entretinha absorvido pelo trabalho de escrever meus livros que sonhava em ver publicados.
            Certa noite, após uma longa sessão de datilografia, deitei-me para dormir. As luzes estavam apagadas, meu filho e minha esposa dormiam tranquilamente, havia apenas silêncio e escuridão. Eu, recém deitado na cama, tentava dormir, ao mesmo tempo que relembrava alguns fatos ocorridos naquele dia. Foi quando meus ouvidos captaram o som de uma máquina de datilografar a todo vapor. O som intensificava-se a cada minuto e atrapalhava os meus pensamentos. Era insistente, alto. De repente dei por mim que não podia haver ninguém datilografando. Então, quem seria? Quem som era aquele? De onde vinha? Seria um fantasma? Deixei de lado o que estava pensando e parei por um instante para prestar atenção no som da máquina de datilografar. Aprumei os ouvidos e... o som sumiu! Até hoje não voltou. Eu estava, na verdade, tendo alucinações auditivas devido ao cansaço e o estresse. Isso mostra que a nossa mente é capaz de reproduzir, até mesmo através de sons, situações que ocorreram durante um dia inteiro. Reproduzir imagens, vozes, luzes, impressões, sensações. Talvez pudesse ser um espírito sentado na cadeira, exercitando sua datilografia.


As vozes do além.

O terceiro caso de que me recordo aconteceu dentro deste nível de experiência auditiva ocasionado pelo meu subconsciente após uma experiência diária estressante. O primeiro relatado anteriormente com certeza fora fruto do cansaço, mas este segundo foi certamente decorrido de um trauma. Há uns dois anos eu arrumei um emprego como professor de teatro em uma instituição não governamental que trabalha com meninas em risco pessoal e social. Em sua maioria adolescentes e algumas crianças. Havia uma menina de uns quatorze anos que era considerada problemática; seus problemas derivavam de relacionamentos frustrados em uma família desajustada. Esta menina sempre me deu muito trabalho. Era impossível dar aula estando ela presente, devido às suas constantes intromissões e um falatório ininterrupto que impediam toda e qualquer manifestação de minha parte. Além disso, ela pegava muito no meu pé, reclamando, exigindo, perturbando, me levando ao ponto de querer pedir demissão simplesmente porque já não suportava mais sequer ouvir a sua voz.
            Certa feita, após um dia cansativo de tentativa de aula naquela instituição, tendo que suportar os tormentos causados por esta minha aluna abençoada, voltei para casa cansado, abatido e frustrado. Como da outra vez, deitei-me para dormir e tentava reunir alguns pensamentos em minha mente. Pensava na vida, fazia planos para o futuro, criava histórias sobre mim. Mas uma coisa me incomodava. Enquanto eu pensava e tentava dormir, ouvia um falatório intenso de alguém que falava. Era insistente, incomodativo. Uma pessoa não parava um minuto de falar, falar, falar. Aquela voz doía em minha mente, transtornava-me como se eu estivesse numa sala cheia de pessoas, todas falando comigo ao mesmo tempo, falando, falando. Eu já não suportava mais! Até que consegui identificar de quem era a voz, ou as vozes, porque já parecia uma multidão! Era ela, a minha aluna impertinente! Falando, falando, reclamando, reclamando. Parei para prestar mais atenção no que as vozes diziam e elas... sumiram!

            Mais uma vez as vozes do além haviam me pregado uma peça! Minha mente estava saturada, traumatizada pela falação daquela aluna de teatro que não me deixava em paz nem mesmo na hora do sono. Talvez aquilo pudesse ser algum tipo de aviso sobre algo que estaria acontecendo com ela! Talvez a alma dela estivesse ali para me dizer que estaria partindo daquela para uma melhor! Não, ela continuava viva e está viva até hoje. Simplesmente o meu cérebro reproduzia uma experiência cotidiana em minha mente, estressado. Com relação a sonhos e visões, precisamos lembrar que vemos aquilo que queremos ver; ouvimos aquilo que queremos ouvir. Acabamos encontrando imagens e mensagens onde não existem, interpretando uma mancha no vidro da janela como a imagem de uma santa. Deus não trabalha assim. É preciso separar o que é natural, fruto do nosso subconsciente, daquilo que é sobrenatural, fruto da ação direta de Deus.