Após
esse breve estudo, passo a relatar alguns sonhos “reveladores” que eu tive e
alguns perturbadores.
Um sonho revelador.
O
primeiro momento que me recordo de haver penetrado neste mundo misterioso de
sonhos e premonições foi na minha infância, por volta dos dez anos de idade. Eu
morava no alto de um morro numa cidade serrana do Rio de Janeiro, Petrópolis,
onde havia uma imensa floresta por detrás da minha casa. Lá, eu vivi a minha
infância com meu irmão e minhas duas irmãs. Brincávamos muito nos balançando em
cipós e construindo cabanas. Fazíamos também cemitérios de insetos que
enterrávamos vivos em caixinhas de fósforo e remédios. Mas não chegava a
ser um cemitério maldito. Nesta época, a minha mãe criava passarinhos e
possuía algumas gaiolas. Uma estava vazia e foi justamente esta que levei para
o mato para tentar pegar passarinhos, uma gaiola grande e velha. Aconteceu que
eu perdi a gaiola. Não sabia mais onde a havia deixado no meio daquele matagal
todo, árvores, bambus, samambaias. Fiquei desesperado, morrendo de medo que
minha mãe perguntasse pela gaiola, pois sabia que levaria uma surra. Procurei,
procurei, mas não encontrei. Como eu não sabia mentir, assim que ela
perguntasse pela gaiola eu contaria que havia perdido e apanharia com certeza. Neste
clima de medo adormeci em minha cama. Durante a noite tive um sonho. Neste
sonho, uma mulher (que na época eu achei ser Maria, a mãe de Jesus) me levava
até o local onde a gaiola estava. Ao acordar pela manhã, fui correndo ao local
indicado no sonho e lá estava a gaiola! Que alegria! Levei-a para casa e nem
precisei contar que havia perdido.
O que contar disso? Terá sido Maria
que me apareceu em sonho? Católicos diriam que sim. Mas eu creio que Maria
descansa na santa paz de Deus lá no céu e, como dizem as Escrituras, não pode
resolver problemas terrenos, ainda que quisesse. Sigmund Freud diria que tudo
não passou de uma manifestação do meu inconsciente que trouxe ao meu
subconsciente uma memória esquecida. Durante o sonho esta memória veio à tona e
finalmente me lembrei onde havia colocado a gaiola. Também isso acontece quando
sonhamos com pessoas que não conhecemos. Na verdade encontramos todas elas
durante o dia ou as vemos na TV, e agora seus rostos, que antes nos passaram
desapercebidos, enfeitam nossos sonhos. Ainda nossos desejos mais secretos se
manifestam nos sonhos e fazemos aí o que não temos coragem de realizar durante
o dia. Nossa mente é um labirinto ainda insondável para os cientistas. Diz-se
que o ser humano utiliza apenas dez-por-cento de sua capacidade mental. Será
que a mente inconsciente encarrega-se de utilizar os outros 90%? Creio que esta foi a minha única experiência
com sonhos. A partir daí nunca mais sonhei algo que soasse como uma revelação
ou aviso. Já me perguntaram se eu sonhei alguma vez com meus avós ante que eles
morressem.
Espiritualmente falando, podemos
enxergar o cuidado de Deus conosco, nos auxiliando em momentos difíceis por
meio dos sonhos. Muitas mães sonham com seus filhos e acordam com a missão de
alertá-los com relação a fatos que podem prejudicá-los. E os sonhos se
realizam! O que dizer disso? Eu creio que a graça comum de Deus se demonstra,
também, no seu cuidado com o ser humano dentro da sua soberana vontade. Alguns
sonhos podem ser avisos divinos sobre acontecimentos. Porém, é preciso
prudência ao interpretá-los, ao viver em função deles. Deus não deixa nada às
escondidas, não traz revelações para causar confusão. Se algo é de Deus, ficará
patente. Mais uma vez é preciso utilizar a Bíblia como parâmetro seguro de
definitivo. Deus não revela um novo marido para a mulher que já é casada.
O brinquedo em cima do armário
Durante
alguns anos de minha infância, tive um sonho que sempre se repetia sem que eu
pudesse desvendar o seu significado. Havia lá em casa um guarda-roupas velho
que era palco de muitas de nossas brincadeiras. Para mim ele tinha algo de
sinistro, principalmente em uns respiradouros pequenos, tipo peneirinhas, que
ficavam nas portas. Lá dentro até uma gata nossa já dera cria a vários
filhotes. Meu sonho envolvia este armário de roupas. Todas as noites eu sonhava
com ele. Na parte de cima havia um brinquedo plástico de montar escondido entre
algumas tranqueiras. Eu sempre queria pegar aquele brinquedo, mas limitava-me
apenas a contemplá-lo de longe sem jamais alcançá-lo. Lembro que tinha várias
cores, azul verde. Não sei o que aquele sonho repetitivo queria me dizer ou
mostrar, mas com o passar dos anos ele me abandonou. Até hoje posso ver o
brinquedo lá em cima, seu formato, suas cores.
Pesadelos.
Já
tive muitos pesadelos. Os piores foram em Petrópolis. Em um deles, eu acordei
assombrado na cama e fiz força para não mais dormir enquanto sentia que uma
criatura me atormentava e puxava minhas pálpebras para baixo para me forçar a
voltar para aquele mundo de pesadelos. Mesmo acordado, tentando fugir, eu
sentia a presença daquele ser maligno, envolvendo-me com suas garras,
forçando-me a dormir novamente. Era muito clara a sua presença, pessoal;
parecia estar realmente ali no meu quarto, na minha cama. Sonho semelhante tive
quando entrei para o exército. Certa vez fui designado para montar guarda em um
certo local. Durante o sono, fui tomado por um pesadelo que me fazia rolar na
cama e gemer. Mesmo dormindo, eu ouvia a voz dos meus companheiros dizendo para
me acordar, pois eu poderia estar passando mal. No meu quarto de hora, de fuzil
na mão na madrugada, tive medo de cochilar e voltar a dormir e ser atormentado
novamente por aquele terrível pesadelo, onde monstros me transtornavam.
Novamente era real demais para ser apenas um sonho.
Depois de outro sonho, acordei me
contorcendo na cama: estava sendo partido ao meio! Sim, sentia meu corpo se
dividindo em dois e minha espinha dobrou para trás formando um arco. Quando dei
por mim, estava de costas para um móvel que ficava ao lado da cama, encostado.
A minha coluna pensada no móvel suscitara esse sonho. Outros sonhos que vez ou
outra me perseguem estão relacionados a alguns medos que tenho. Entre eles está
o de ficar banguela. Não tenho os dentes muito bons e a maioria possui
obturações, principalmente os da frente. De vez em quando tenho pesadelos onde
meus dentes estão caindo; na verdade caem mais dentes do que minha boca possa
comportar. Em um sonho me vi com os dentes cheios de cabelos e eu, agoniado,
tentava tirar o grande novelo de cabelo que já se formava, temendo que meus
dentes viessem junto.
Não quero interpretar aqui meus
pesadelos nem me ater demais sobre este assunto. Isto serve apenas para
compreender que tipos de sonhos povoam nossa mente quando dormirmos. O que eles
querem nos dizer dependerá de muitos fatores que não cabem nos livros que
conhecemos. Cada pessoa é uma pessoa diferente da outra. Podemos ter sonhos
iguais, mas para cada um o significado pode ser bem diferente, se houver algum
significado. O fato é que pesadelos fazem parte da realidade daqueles que
sonham. Algumas pessoas afirmam jamais ter sonhado. Em parte isso é bom, pois
estão livres de todos esses questionamentos. Em parte nem tanto, porque existem
sonhos bons que nos dão bem-estar, que nos fazem dormir e acordar
tranquilamente.
O fuzil roubado.
Este
sonho e o próximo ilustram a capacidade que temos de modificar os nossos
sonhos. Isto pode acontecer de duas maneiras: acordados e conscientes,
lembramos do sonho que tivemos ou de algum sonho que se repete por várias vezes
e pensamos em como poderemos modificá-lo. Normalmente, não estamos gostando do
rumo que ele está tomando e queremos dar-lhe um desfecho diferente. Outra forma
de modificar o sonho é durante o próprio sonho. Enquanto uma parte da nossa
mente está envolvida em sonhar e participar do que está sendo sonhado, outra
parece projetar-se para fora, observando o desenrolar da história. É como se o
sonho estivesse num nível inconsciente e o subconsciente trabalhasse. Às vezes,
em minhas experiências, foi como se no sonho eu tivesse um momento de lucidez
ou coisa parecida e me desse conta de que poderia mudar a situação e foi o que
fiz. Não consigo compreender direito como isso ocorre: dormindo, sonhando e ao
mesmo tempo consciente de que estou sonhando e do que preciso fazer para
modificar o sonho. Vou lá e modifico.
A primeira experiência de
modificação do sonho surgiu pouco depois que deixei o exército. Em vários
aspectos o exército não foi uma experiência boa para mim. Meu avô dizia que a
qualquer momento eles poderiam me reconvocar para participar da guerra do Golfo
e isso me metia medo. Passei a sonhar que entrara de novo para as forças
armadas e isso me fazia acordar em grande agonia, dando graças a Deus por tudo
não ter passado de sonho. Era sempre a mesma história: eu voltando a servir à
pátria. Mas outro sonho passou a me acompanhar durante noites a fio. Era, na
verdade, um pesadelo que não me abandonava e me deixava inquieto durante minhas
horas de sono. Neste sonho, eu havia roubado um fuzil do quartel e levado para
casa. Então, toda as noites eu sonhava que estavam atrás deste fuzil e a
qualquer momento poderiam me pegar. O maior medo era esse: ser pego! Eu não
sabia o que fazer com o fuzil; tentava escondê-lo, mas não adiantava, ele
estava sempre na minha frente e eu me via constantemente encurralado, prestes a
ser descoberto.
Isto ocorreu por diversas vezes, até
que eu tive, numa noite, o seguinte pensamento: preciso me livrar deste fuzil.
Eu sempre tentara isso, mas sem sucesso. Naquela vez eu conseguiria. Organizei
meus pensamentos e manipulei meu sonho (dormindo!) de maneira a devolver o
fuzil ao quartel. Assim pensei e assim realizei no sonho. Fui escondido ao
quartel e devolvi o fuzil ao seu lugar. A partir daquele dia, ou daquela noite,
nunca mais tive tal sonho. Se os sonhos são um reflexo de nossa realidade
cotidiana, o que este poderia querer me dizer? O que tem haver o fuzil roubado
com a minha vida? E se eu modifiquei o sonho, poderei eu modificar também a
minha vida a partir disso? O que estarei escondendo? O que tenho medo que seja
descoberto? O que preciso fazer então? Creio que o sonho com o fuzil nada mais
era que a manifestação inconsciente do meu medo de voltar ao exército, dos
traumas que lá vivi. Existia algo a ser resolvido: o fuzil. Eu precisava
deixá-lo lá. O fuzil simbolizava o meu medo: deixei-o para trás e não temo mais
o exército.
As crianças enterradas no
quintal.
Outro
sonho que me atormentou durante um certo tempo foi este: sonhava que havia
enterrado vivas algumas crianças num buraco fundo, tipo um poço, feito no
quintal de uma casa. Não sei que crianças eram aquelas e nem por que as
coloquei lá. Não sonhei a cena em que elas haviam sido enterradas, mas somente
sabia que elas estavam lá e que fora eu que as tinha enterrado. Seguiu-se uma
perseguição à procura das crianças. Onde elas estariam? Eu sabia: eu as
enterrei. Novamente, como no caso com o fuzil, havia o medo de ser descoberto.
As pessoas estavam se aproximando demais do local, rondando a minha casa,
chegando perto. A polícia já tinha algumas pistas e me fazia perguntas. Por
várias vezes estas cenas me atormentaram durante meu repouso e eu já não
encontrava saída. Certa noite, tomei uma decisão: Já não suporto mais sonhar
com estas crianças! Preciso fazer algo! E fiz: transformei a história. Dormindo,
forcei o seguinte acontecimento: na verdade, as crianças não tinham sido
enterradas vivas, mas apenas colocadas em uma enorme caixa d’água enterrada no
chão. Bastaria erguer a tampa para elas saírem sãs e salvas. E foi o que
obriguei-me a fazer em sonho. A partir do momento em que levantei a tampa da
caixa d'água e tirei as crianças de lá de dentro, nunca mais tive este sonho.
Quem
eram aquelas crianças? O que poderia elas simbolizarem na minha vida? Por que
sempre havia o perigo de ser descoberto? Por que o medo de ser pego? O que pode
estar-se passando na minha vida que tenha alguma relação com estes fatos? Serão
analogias? O que eu sei é que podemos penetrar nos nossos sonhos para
modificá-los. Embora não seja possível precisar como isso acontece, uma vez
que, teoricamente, estamos inconscientes, já experimentei isso algumas vezes e
dá certo. Se podemos modificar nossos sonhos inconscientes, muito mais podemos
fazer pelos sonhos conscientes, transformá-los, moldá-los de acordo com os
propósitos de Deus para a nossa vida.
O fantasma da máquina de
escrever.
Tenho
duas experiências que mostram como os acontecimentos cotidianos afetam a nossa
mente, ao ponto de nos causar alucinações visuais e auditivas, como aquelas
descritas anteriormente no estudo sobre Freud. Talvez estes dois casos possam
explicar o quê são aquelas vozes do além que tanto perturbam algumas
pessoas sensitivas. É possível ouvirmos coisas que não estão sendo
ditas, ruídos estranhos, sons de instrumentos, todos produzidos pela nossa
mente, nossa lembrança subconsciente que reproduz aquilo que gravou.
A primeira experiência ocorreu
quando eu morava num bairro da cidade de Natal, poucos meses depois de ter me
mudado para cá, chamado Potilândia. Morávamos eu, minha esposa e meu filho de
pouco mais de um ano de idade em um quarto com banheiro nos fundos do depósito
da livraria onde eu trabalhava como vendedor externo. Depois do expediente,
quando não tinha mais nada para fazer e os outros funcionários já tinham ido
para suas casas, eu aproveitava para datilografar meus livros de poesia que
escrevi e encadernei. Ainda não sabia o que era computador e utilizava uma
máquina Olivetti elétrica. A máquina tinha um barulho peculiar, com seus tec-tec,
clinc e outros ruídos mais. Este barulho me acompanhava durante horas
enquanto eu me entretinha absorvido pelo trabalho de escrever meus livros que
sonhava em ver publicados.
Certa noite, após uma longa sessão
de datilografia, deitei-me para dormir. As luzes estavam apagadas, meu filho e
minha esposa dormiam tranquilamente, havia apenas silêncio e escuridão. Eu,
recém deitado na cama, tentava dormir, ao mesmo tempo que relembrava alguns
fatos ocorridos naquele dia. Foi quando meus ouvidos captaram o som de uma
máquina de datilografar a todo vapor. O som intensificava-se a cada minuto e
atrapalhava os meus pensamentos. Era insistente, alto. De repente dei por mim
que não podia haver ninguém datilografando. Então, quem seria? Quem som era
aquele? De onde vinha? Seria um fantasma? Deixei de lado o que estava pensando
e parei por um instante para prestar atenção no som da máquina de datilografar.
Aprumei os ouvidos e... o som sumiu! Até hoje não voltou. Eu estava, na
verdade, tendo alucinações auditivas devido ao cansaço e o estresse. Isso
mostra que a nossa mente é capaz de reproduzir, até mesmo através de sons,
situações que ocorreram durante um dia inteiro. Reproduzir imagens, vozes, luzes,
impressões, sensações. Talvez pudesse ser um espírito sentado na cadeira,
exercitando sua datilografia.
As vozes do além.
O
terceiro caso de que me recordo aconteceu dentro deste nível de experiência
auditiva ocasionado pelo meu subconsciente após uma experiência diária
estressante. O primeiro relatado anteriormente com certeza fora fruto do
cansaço, mas este segundo foi certamente decorrido de um trauma. Há uns dois
anos eu arrumei um emprego como professor de teatro em uma instituição não
governamental que trabalha com meninas em risco pessoal e social. Em sua
maioria adolescentes e algumas crianças. Havia uma menina de uns quatorze anos
que era considerada problemática; seus problemas derivavam de relacionamentos
frustrados em uma família desajustada. Esta menina sempre me deu muito
trabalho. Era impossível dar aula estando ela presente, devido às suas
constantes intromissões e um falatório ininterrupto que impediam toda e
qualquer manifestação de minha parte. Além disso, ela pegava muito no meu pé,
reclamando, exigindo, perturbando, me levando ao ponto de querer pedir demissão
simplesmente porque já não suportava mais sequer ouvir a sua voz.
Certa feita, após um dia cansativo
de tentativa de aula naquela instituição, tendo que suportar os tormentos
causados por esta minha aluna abençoada, voltei para casa cansado, abatido e
frustrado. Como da outra vez, deitei-me para dormir e tentava reunir alguns
pensamentos em minha mente. Pensava na vida, fazia planos para o futuro, criava
histórias sobre mim. Mas uma coisa me incomodava. Enquanto eu pensava e tentava
dormir, ouvia um falatório intenso de alguém que falava. Era insistente,
incomodativo. Uma pessoa não parava um minuto de falar, falar, falar. Aquela
voz doía em minha mente, transtornava-me como se eu estivesse numa sala cheia
de pessoas, todas falando comigo ao mesmo tempo, falando, falando. Eu já não
suportava mais! Até que consegui identificar de quem era a voz, ou as vozes,
porque já parecia uma multidão! Era ela, a minha aluna impertinente! Falando,
falando, reclamando, reclamando. Parei para prestar mais atenção no que as
vozes diziam e elas... sumiram!
Mais uma vez as vozes do além haviam
me pregado uma peça! Minha mente estava saturada, traumatizada pela falação
daquela aluna de teatro que não me deixava em paz nem mesmo na hora do sono.
Talvez aquilo pudesse ser algum tipo de aviso sobre algo que estaria
acontecendo com ela! Talvez a alma dela estivesse ali para me dizer que estaria
partindo daquela para uma melhor! Não, ela continuava viva e está viva até hoje.
Simplesmente o meu cérebro reproduzia uma experiência cotidiana em minha mente,
estressado. Com relação a sonhos e visões, precisamos lembrar que vemos aquilo
que queremos ver; ouvimos aquilo que queremos ouvir. Acabamos encontrando
imagens e mensagens onde não existem, interpretando uma mancha no vidro da
janela como a imagem de uma santa. Deus não trabalha assim. É preciso separar o
que é natural, fruto do nosso subconsciente, daquilo que é sobrenatural, fruto
da ação direta de Deus.
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