terça-feira, 25 de novembro de 2014

SONHOS E PREMONIÇÕES - PARTE 2 - O QUE SÃO SONHOS E VISÕES?




Sonhos[1]

Para tudo há uma explicação e para os sonhos não seria diferente. Antes de iniciar os meus relatos sobre meus sonhos e premonições, gostaria de oferecer um breve estudo sobre o significado dos sonhos na Bíblia e na teoria freudiana. Não me alongarei nestes dois estudos, mas darei apenas uma breve explanação sobre duas idéias diferentes que em alguns pontos se coincidem.
            De início, vamos resumir o significado do sonho:

Fenômeno psíquico que se produz durante o sono, o sonho é predominantemente constituído por imagens e representações cujo aparecimento e ordenação escapam ao controle consciente do sonhador (...) Por extensão, em especial a partir do século XVIII, o termo designa também uma atividade consciente em imaginar situações cujo desenrolar desconhece as limitações da realidade material e social. Nesse sentido, a palavra sonho é sinônimo de visão, devaneio, idealização ou fantasia, em suas acepções mais corriqueiras (...) Sigmund Freud foi o primeiro a conceber um método de interpretação dos sonhos baseado  não em referências estranhas ao sonhador, mas nas livres associações que este pode fazer, uma vez desperto, a partir do relato de seu sonho.[2]

            De acordo com os estudiosos, os sonhos são manifestações psíquicas que ocorrem durante o sono. Eles não estão sob o nosso controle, isto é, não obedecem a nossa vontade. Mesmo que queiramos sonhar com algo, não sonharemos. Se caso sonharmos, não foi o nosso desejo consciente que ensejou o sonho, mas o subconsciente. Os sonhos estão ligados àquilo que acontece na vida do sonhador, seu dia-a-dia.


Uma visão bíblica

            Em toda a Bíblia os sonhos estão intimamente ligados às visões dadas por Deus ao homem com um fim específico. Lemos em Jó 33:15 que os sonhos servem como instrumentos para que o homem se desvie dos seus maus caminhos. Em Daniel 2:28 vemos que o sonho do rei Nabucodonosor era a previsão de algo que aconteceria à nação da Babilônia no futuro. Foi uma revelação dada por Deus e somente um mensageiro de Deus poderia elucidá-la. A explicação não caberia a sábios, magos, feiticeiros ou astrólogos, mas a Daniel, o profeta designado por Deus para tal obra (vs. 29 e 30); não por sua sabedoria, mas pela intervenção divina. No livro de Eclesiastes (5:3) temos uma concordância com alguns estudos psicanalíticos de que os sonhos são reações somáticas. Isto ocorre quando passamos por períodos de excesso de atividade física, emocional e intelectual, que são transportadas para nosso sono, causando sonhos e pesadelos. Dizem que a má digestão, o dormir com o estômago cheio pode causar estas sensações.
            Era nos sonhos que parte da vontade de Deus era revelada (Números 12:6; Jó 33:15), como ocorreu com os Reis que vieram do oriente para presentear Jesus. Em sonho foi-lhes revelado que não deveriam voltar ao rei Herodes para contar onde Jesus estava, mas deveriam seguir por outro caminho, pois o rei planejava matar o menino. O mesmo aconteceu com José, noivo de Maria, quando um anjo apareceu-lhe em sonho para dizer-lhe que Maria estava grávida por obra do Espírito Santo e daria à luz ao Salvador (Mateus 1:18-25). É certo que os antigos tinham grande fé nos sonhos (Juizes 7:15) e frequentemente ficavam perplexos com eles (Gênesis 40:6; 41:8; Jó 7:14; Daniel 2:1; 4:5). Eles ansiavam receber explicações sobre seus sonhos (Gênesis 40:8; Daniel 2:3). Para isso eles consultavam os magos a respeito, o que era desaprovado por Deus (Gênesis 41:8; Daniel 2:2-4). Porém, Deus é o único intérprete dos sonhos (Gênesis 40:8; 41:16; Daniel 2:27-30; 7:16). Costumamos interpretar os sonhos com base nas nossas necessidades pessoais, nos nossos desejos íntimos, e esquecemos que se um sonho parte de Deus, ele deve ser interpretado de acordo com o ponto de vista de Deus, cujo parâmetro é a Bíblia. Há alguns anos ouvi falar de uma crente da Assembléia de Deus que teve uma revelação durante o sonho: ela foi levada ao inferno e viu inúmeras crentes da Batista vestidas de calça cumprida. Revelação de Deus. Com certeza não, mas da carne, da disputa irracional entre denominações por conta de tradicionalismos, doutrinas meramente humanas.
            A Palavra de Deus nos alerta contra os falsos profetas que fingem ter tido sonhos reveladores (Jeremias 23:25-28; 29:8). Eles não devem ser levados em consideração (Deuteronômio 13:1-3; Jeremias 27:9) e serão condenados por seu fingimento (Jeremias 23:32). Ensina-nos, também, as Escrituras que é vaidade confiar nos sonhos naturais, isto é, aqueles que não provém de revelação divina, mas apenas de imagens projetadas em nossa mente pelo nosso subconsciente. Não foi Freud ou a ciência psicanalítica que inventou o nosso subconsciente e tudo o que ocorre nele, mas Deus. Há quem acredite, defenda e deixe-se aprisionar por livros que interpretam sonhos. Tais interpretações não levam em conta o momento histórico vivido pelo indivíduo, sua história pregressa, suas crises, seus problemas, suas inclinações, seus traumas, suas vontades, seus desejos, suas crenças, seus valores... Englobam todos os sonhos de todas as pessoas na face da terra em uma única explicação, sem levar em conta que não existe um ser humano idêntico ao outro, seja física, emocional, espiritual ou socialmente. Um livro de sonhos traz a seguinte explicação para aquelas pessoas que sonham com janelas: “A janela simboliza uma passagem alternativa, um acontecimento inesperado. Seu significado no sonho depende de seu aspecto. Se estiver aberta, anuncia mudança na situação financeira, para melhor; se estiver fechada, dificuldades e perda de emprego”.[3]
            Como pudemos ver, o autor utiliza-se de uma metáfora parta explicar um sonho com janelas. Outros dicionários de sonhos darão outras explicações cada vez mais diferentes e variadas sobre o mesmo tema. O mais interessante em tais dicionários é que uma explicação para quem sonhou com janelas, por exemplo, é a mesma para quem sonhou com porta, com parafuso, com uma pedra caindo na água numa sexta-feira de sol, um caramujo caminhando sobre uma folha de bananeira, um tiro dado por uma espingarda no meio do mato, etc. O mesmo ocorre com as previsões astrológicas. Se você tiver acesso a um livro sobre signos, repare como as previsões para capricórnio em determinado tempo são as mesmas para escorpião, sagitário. Ilusões da mente humana desprovida de Deus..
            Vamos conhecer agora alguns sonhos notáveis na Palavra de Deus. Aconselho ao leitor pegar a sua Bíblia e ler todos os sonhos, por que eles têm muito a nos ensinar sobre o tema.

·         Deus aparece em sonho a Abimaleque para alertá-lo com relação à Sara, mulher de Abraão, que este havia dito ser a sua irmã. O sonho é uma mensagem de Deus com um propósito específico para aquela ocasião (Gênesis 20:3-7).
·         Jacó teve a visão de uma escada que atingia o céu,da qual subiam e desciam anjos. O propósito claro de Deus nesta visão era mostrar o interesse de Deus por Jacó. (Gênesis 28:12; cf. tb. 31:10-21).
·         No mesmo contexto de Gênesis 31, Labão recebe uma mensagem de Deus em sonhos. (Gênesis 31:24).
·         O sonho de José foi profético. Esta era a forma de Deus revelar algumas das suas obras na vida do seu povo. Deveria, neste caso, haver uma interpretação. No caso de Abimelque, a mensagem do sonho era bastante específica. Já em José, o desenrolar do relato bíblico fornece a interpretação do seu sonho (Gênesis 37:5-9).
·         José reconhecia-se apenas um veículo para a interpretação divina de Deus. os seus sonhos tinham um propósito divino. O intérprete de sonhos da Bíblia não dá a “sua” visão dos fatos, mas a visão de Deus. Deus é a fonte dos sonhos e somente Ele pode interpretá-los. O padeiro e o copeiro do faraó tiveram sonhos interpretados por José (Gênesis 40). Os dois sonhos se realizaram. Embora nos pareçam estranhos serem relatados no livro sem conexão com a vontade de Deus, vemos que o fato de José tê-los interpretado fazia parte dos planos de Deus, pois o faraó haveria de sonhar (Gênesis 41:1-7), o copeiro haveria de lembrar a promessa que fizera a José, o faraó haveria de colocar José como governador do Egito e, através disto, salvar a sua família e, a partir daí, constituir a grande nação de Israel. Isto significa que havia um propósito eterno nos sonhos do copeiro e do padeiro.
·         Gideão liderou a vitória sobre os midianitas após ouvir a interpretação de um sonho, onde Deus revelara que entregaria os midianitas em suas mãos. Mais uma vez a mão do Senhor estava sobre o intérprete, revelando algo que haveria de acontecer de acordo com a sua vontade. (Juizes 7:13-15).
·         Em Gibeão o Senhor apareceu ao rei Salomão, onde lhe propôs escolher o que quisesse que lhe seria dado, ao que Salomão pediu um coração compreensivo para julgar o povo. Após acordar e constatar que havia sido um sonho, o rei viveu de acordo com o que dissera o Senhor (1 Reis 3:5-15).
·         O caso do sonho do rei Nabucodonosor é bastante dramático. Se Daniel não interpretasse o sonho do rei, morreria com os outros sábios da Babilônia. Ele e seus companheiros oraram a Deus, que lhes revelou o conteúdo do sonho de Nabucodonosor (Daniel 2:1,31; cf. tb. 4:5,8 e o sonho de Daniel no capítulo 7).
·         No Novo Testamento, Deus também utilizou os sonhos para revelar a sua vontade aos homens: José (Mateus 11:20,21; 2:13,19,20), os sábios (Mateus 2:11,12).
·         Esposa de Pilatos teve um sonho perturbador com Jesus e o relatou ao seu marido. (Mateus 27:19).

Algo que precisamos saber a respeito das visões e sonhos relatados na Bíblia é que eles se cumpriram e estão nela relatados. Não podemos pegar um sonho ou visão de Jacó, por exemplo, e interpretar de acordo com a nossa realidade. A visão de Jacó da escada dizia respeito a ele, não a nós. Caso sonhemos sonhos similares àqueles relatados na Bíblia, não devemos crer que a interpretação seja a mesma. Isto não é bíblico. Quando os sonhos são de Deus, eles não envolvem um “mistério” que não possa ser interpretado, não trazem uma visão que contradiga qualquer parte da Escritura Sagrada. Eles conduzem o homem á vontade de Deus por modos de Deus, jamais se utilizando de artifícios errados. Muitos dos nossos sonhos e das interpretações que lhe damos revela apenas o conteúdo da nossa carne. Nossos desejos pecaminosos se manifestam nos sonhos e devemos tomar cuidado para não interpretá-los como uma revelação da vontade de Deus para nossa vida.


Uma visão psicanalítica: experiências sensoriais.

No seu livro A interpretação dos sonhos, Sigmund Freud cita quatro tipos de fontes para classificar os sonhos: (1) excitações sensoriais externas (objetivas); (2) excitações sensoriais internas (subjetivas); (3) estímulos somáticos internos (orgânicos); (4) e fontes de estimulação puramente psíquicas”.[4] Cada sonho pode vir carregado de uma dessas fontes, ou várias ao mesmo tempo. Como saber que fontes interferiram em tal sonho? Daí seria necessário um estudo de cada caso. Freud explica que não podemos manter nossos estímulos totalmente afastados de nossos órgãos sensoriais enquanto estamos dormindo:  “O fato de um estímulo razoavelmente poderoso nos despertar a qualquer momento é prova de que, “mesmo no sono, a alma está em constante contato com o mundo extracorporal. Os estímulos sensoriais que chegam até nós durante o sono podem muito bem tornar-se fontes de sonhos.”[5] Isto significa que enquanto dormimos permanecemos vivos, nosso corpo sente todos os estímulos recebidos durante o sono. Como estamos inconscientes, não percebemos.
            Enquanto dormimos, podemos sentir o vento lançado em nós por um ventilador, a picada de algum inseto, as cobertas enroscadas em nossas pernas, um som distante, insistente como o de uma goteira ou o cantar de um grilo. Podemos ser sufocados pelo travesseiro sobre nossa cabeça ou sentir as patas de alguma aranha em nossas costas. Podemos ainda ouvir a voz de alguém que nos chama para acordar ou sentir enorme vontade de urinar. Todos esses estímulos são transportados para nosso subconsciente e transformam-se em sonhos análogos. A vontade de urinar produz imagens de cachoeiras e rios. Meu avô, já falecido, relatou que sonhara que estava em uma grande fornalha que queimava seus pés. Ao acordar, viu que o sol estava entrando pela janela e batia em seus pés.
            De vez em quando sonho que estou correndo em busca de um banheiro que jamais encontro. Quando chego a encontrá-lo, despejo um rio de urina que parece não ter fim e só acaba quando acordo com enorme vontade de ir ao banheiro. São estímulos internos que também influem diretamente no ato de sonhar. Não sentimos vontade de ir ao banheiro porque sonhamos que estamos urinando, mas pelo fato de a bexiga estar cheia, sonhamos. Muitas vezes tive sonhos com programas de TV ou músicas e, quando acordei, percebi a TV ou rádio ligados transmitindo aquilo que eu estava sonhando. Isto é, mesmo inconsciente os meus ouvidos e cérebro estavam atentos, transportando para os meus sonhos os sons do ambiente.
            Freud fala sobre as “alucinações hipnagógicas” ou “fenômenos visuais imaginativos”, que fazem parte das excitações sensoriais subjetivas que se formam em nossa mente a partir do nosso contato visual com o mundo exterior. Após fecharmos os olhos, nossos sonhos reproduziriam estas imagens conhecidas e estimuladas durante o nosso período de vigília. Estas imagens, às vezes distorcidas, ocorrem durante o período de adormecimento e podem estender-se por algum tempo depois de os olhos abrirem-se. Por exemplo, se você adormecer com os olhos fitos numa cadeira, muito provavelmente esta cadeira será transportada para dentro do seu sonho e você viverá alguma situação que a envolva, na forma de uma cadeira ou de qualquer outro objeto similar.
            Essas alucinações hipnagógicas podem ser visuais como também auditivas. Segundo Freud: “As alucinações auditivas de palavras, nomes e assim por diante também podem ocorrer hipnagogicamente, da mesma forma que as imagens visuais, e ser então repetidas num sonho – tal como uma ouverture anuncia os temas principais que se irão ouvir numa ópera”.[6] Os estímulos somáticos orgânicos internos estão diretamente ligados aos nossos sonhos, podendo prefigurar como sonhos proféticos de alguma doença que em breve nos acometerá. Embora aparentemente nosso organismo demonstre sinais de saúde perfeita, é bem provável que nosso cérebro consiga captar sinais de doenças que ainda não chegaram ao nosso consciente, que ainda não se manifestaram completamente e envie estes sinais através dos sonhos. Pode ser que você esteja sonhando constantemente com um tumor e esse tumor existir de fato. Embora ele não apareça, a sua mente já o reconhece e transforma isso em sonho. É um aviso da mente que algo no corpo não está bem.
Freud cita o caso de uma mulher de quarenta e três anos de idade que durante anos foi perturbada com sonhos de angústia, embora aparentemente em perfeita saúde, até descobrir que estava em estágio inicial de uma doença cardíaca, da qual veio a falecer posteriormente. Em estado de sono profundo, a mente pode dispensar mais atenção aos estímulos interiores do corpo que normalmente em nosso estado de vigília não é possível. Daí esses estímulos transformarem-se em sonhos. É quase impossível, segundo Freud, pensar que qualquer parte do organismo não possa ser um ponto de partida de um sonho ou um delírio[7]. Ainda, segundo ele, as sensações organicamente determinadas “podem ser divididas em duas classes: (1) as que constituem a disposição de ânimo geral (cenestesia) e (2) as sensações específicas imanentes nos principais sistemas do organismo vegetativo. Dentre estas últimas devem-se distinguir cinco grupos: (a) sensações musculares, (b) respiratórias, (c) gástricas, (d) sexuais e (e) periféricas”.[8]
            Muitas sensações que produzem sonhos poderiam nos explicar o sentido de muitos casos que acontecem quando sonhamos. Alguns teóricos da linha espírita atribuem estas manifestações a vidas passadas ou aos espíritos bons (ou maus) que vêm em nossos sonhos nos deixar algum recado. Como vimos anteriormente, os dicionários de sonhos estão repletos de seus significados. Mas alguns significados confundem-se com outros e às vezes são os mesmos para casos completamente diferentes. Em que tais explicações são baseadas? Existem fundamentos científicos? Como cristão, aceito a explicação bíblica para os sonhos, ao mesmo tempo que assimilo a teoria freudiana. Ambas parecem coerentes e estão corretas do ponto de vista da fé e da lógica. O que temos visto até agora segundo esta abordagem psicanalítica, é que o homem sonha com aquilo que lhe é peculiar durante seu período de vigília. As sensações, os fatos cotidianos, as impressões, as vivências, todo este material serve para a construção de uma realidade inconsciente quando sonhamos, o que Freud costuma chamar de imagens oníricas.      
            Existem outras fontes que ainda influenciam no nosso sonho, as fontes psiquícas. Sobre estas fontes, e isto digo por experiência própria, existe muita coisa a ser apreendida. De certa forma, resta-nos saber que muitos dos nossos sonhos são estimulados por desejos e vontades que durante o dia nos são reprimidos. Estes são, em sua maioria, algo proibido pela lei ou pela moral, ou simplesmente pela cultura do meio em que vivemos. Muitos dos meus sonhos estão impregnados de alguns ou todos estes estímulos e este estudo servirá de base para que possamos entender um pouco do que se passa na nossa mente. Aquilo que desejamos, sonhamos; aquilo que tememos, sonhamos também. Pode ser que você anseie por um casamento e tem orado a Deus por isso. De repente, você conhece alguém de quem se simpatiza logo. Durante a noite, você sonha casando-se com esse alguém. É perigoso afirmar: Deus me revelou que vou me casar com pessoa tal. Pode ser que não, o que é bem provável, e você comprometerá a sua vida e a da outra pessoa baseado numa ilusão.


Visões

Os sonhos relatados  na Bíblia são geralmente acompanhados de visões. Jamais tive visão alguma reveladora, como a aparição de um anjo, de alguma pessoa ou espírito. Todas as premonições que tive vieram de manifestações em meu pensamento, jamais corporificadas, com exceção dos fantasmas de Cruzeta que relatarei adiante. Mas para que possamos explicar mais solidamente e tentar compreender aquilo que outras pessoas venham a tentar explicar sobre o fenômeno das visões, é interessante compreendê-las. Para isso, vou dar uma idéia geral bíblica do que elas são e de como funcionam.
            De acordo com o dicionário bíblico, na Bíblia as visões têm dois significados: 1) Alguma coisa vista em sonho ou em transe e usada por Deus para comunicar uma mensagem a alguém (Is 1.1; Am 1.1). 2) Forma de MAGIA pela qual se procura conhecer o futuro e obter conhecimentos ocultos (Lm 2.14; Ez 13.6)”[9]. Portanto, as visões podem ser verdadeiras, quando dadas por Deus, ou falsas, quando inventadas pelos homens. Todavia, é provável que possa existir visões oriundas de manifestações de espíritos malignos para confundir o homem e levá-lo a executar serviços para o inimigo, pois o próprio Satanás pode se disfarçar em um anjo de luz (2 Coríntios 11:14). Além dos espíritos malignos, pelas igrejas existem muitos falsos profetas que erguem o dedo em riste e vociferam: “Deus me revelou!” E dizem ao crente incauto: “Irmão, Deus tem um mistério contigo. Deus me disse...”. quando alguém lhe disser “Deus me disse, me revelou”, procure correr para longe.
Também as aparições fantasmagóricas ou incorporação em médiuns por pessoas que já morreram significam uma manifestação demoníaca visível. Isto explica o porquê de o médium que incorpora um defunto ser conhecedor da vida deste e de seus entes, bem como falar com sua voz e agir do seu modo idêntico. Os soldados de Satanás estão ao nosso derredor, nos observando constantemente. Eles conhecem nossas palavras, nossos atos, sabem de nossa vida do começo ao fim. Quando alguém fala pretensamente em nome de um morto, na verdade são esses espíritos malignos agindo para enganar, para confundir e aprisionar àqueles que nisto acreditam. Devido à total falta de conhecimento, à incredulidade na Palavra de Deus e à emoção latente de estar em “contato” com alguém amado que já partiu, estas pessoas são facilmente enganadas e pagam grandes somas de dinheiro para que estas sessões sejam realizadas e se repitam sempre.
Entretanto, o que a Bíblia nos fala sobre visões[10] nada tem a ver com manifestações fantasmagóricas ou previsões astrológicas. Era através das visões que Deus frequentemente tornava-se conhecido e podia fazer conhecer ao mundo a sua vontade, especialmente através de seus profetas (Salmo 89:19; Números 12:6). Elas eram frequentemente acompanhadas por uma representação da pessoa e glória divina, como aconteceu com Moisés quando Deus se manifestou a ele em uma sarça ardente (Isaías 6:1). Também através de uma voz audível no céu (Gênesis 15:1; 1 Samuel 3:4,5), uma aparição de anjos (Lucas 1:22 com 11; 24:23; Atos 10:3) ou por uma aparição de seres humanos (Atos 9:12; 16:9). Estas visões eram normalmente complexas e difíceis para os que as recebiam (Daniel 7:15; 8:15; Atos 10:7). Elas eram freqUentemente comunicadas à noite (Gênesis 46:2; Daniel 2:19) com o indivíduo em transe (Números 24:16; Atos 11:5). Eram registradas e multiplicadas para benefício do povo (Habacuc 2:2; Oséias 12:10). Algumas vezes, porém, eram sustadas por longo tempo (1 Samuel 3:1), o que significava grande calamidade (Provérbios 29:18; Lamentações 2:9). Havia, como hoje há em número exorbitante, falsos profetas que fingiam tê-las visto (Jeremias 14:14; 23:16). Mas os profetas de Deus eram hábeis em sua interpretação (2 Crônicas 26:5; Daniel 1:17).
Nota-se que as visões não eram frutos de uma capacidade interior inerente ao homem, mas atuações divinas. Deus falava aos homens através destas visões e para isso utilizava-se de pessoas específicas, os profetas, que eram capacitados a fazer a leitura correta daquilo que viam e ouviam. A partir do Novo Testamento, com a Nova Aliança, Deus passou a conceder aos homens o dom de profecia, ministrado pelo seu Santo Espírito. O nosso papel é somente o de um canal através do qual Deus manifesta sua vontade e sua mensagem. Ninguém desenvolve este ou qualquer outro dom por merecimento próprio ou por ser mais capaz que alguns outros. Porém, assim como os profetas do Antigo Testamento declaravam a vontade de Deus, os profetas da Nova Aliança declaram, também, a vontade de Deus revelada na Bíblia. Não existe uma nova vontade, uma nova revelação.
Nas visões em que seres humanos aparecem a outros seres humanos, não há relato de que estes primeiros estivessem mortos. Na verdade, é bem provável que apenas a figura de um ser humano fosse utilizada simbolicamente por Deus. Como já explicitado anteriormente, o diabo pode manifestar-se de várias formas ao homem com o intuito perverso de desviar-lhe da verdade bíblica, por mais que estas manifestações tenham a aparência de coisas boas. Esta é a isca! O apóstolo Paulo foi um homem de visões que o acompanharam desde o seu primeiro encontro com Jesus no caminho para Damasco, até o fim de sua carreira missionária. Temos aqui alguns relatos que vale a pena serem pesquisados na sua Bíblia:

·         Visão de Cristo (Atos 9:3-6,12)
·         Visão missionária (Atos 16:9)
·         Visão de testemunho (Atos 18:9)
·         Visão de advertência (Atos 22:18)
·         Visão de ânimo (Atos 27:22,23)
·         Visão do trabalho na capital do mundo (Atos 23:11)
·         Visão do Paraíso (2 Coríntios 12:1-4)

Além disso, toda a Bíblia está repleta de visões notáveis. Temos aqui alguns exemplos:

·         Abraão (Gênesis 15:1)
·         Jacó (Gênesis 46:2)
·         Moisés (Êxodo 3:2,3; Atos 7:30-22)
·         Samuel (1 Samuel 3:2-15)
·         Natã (2 Samuel 7:4,17)
·         Elifaz (Jó 4:13-16)
·         Isaías (Isaías 6:1-8)
·         Ezequiel (Ezequiel 1:4-14; 8:2-14; 10; 11:24,25; 37:1-10; 40 e 48)
·         Nabucodonosor (Daniel 2:28; 4:5)
·         Daniel (Daniel 2:19; 7 e 8; 10)
·         Amós (Amós 7:1-9; 8:1-6; 9:1)
·         Zacarias (Zacarias 1:8; 3:1; 4:2; 5:2; 6:1)
·         Ananias (Atos 9:10,11)
·         Cornélio (Atos 10:3)
·         Pedro (Atos 10:9-17)
·         João (Apocalipse 1:12; etc.; caps. 4 a 22)




[1] Fonte do estudo sobre sonhos na bíblia: Bíblia Vida Nova.
[2] ROUDINESCO, Elisabeth & Michel Plon, Dicionário de Psicanálise, Jorge Zahar Editor, 2003, p. 722.
[3] Amenofis, Dicionário dos sonhos, ed. Pallas, p. 162, 2002.
[4] FREUD, Sigmund, A interpretação dos sonhos, 2001, editora Imago, p.41.
[5] op. Cit. P. 42.
[6] Ibdem, p. 51.
[7] FREUD, op. Cit. P. 55.
[8] Idem, citando Krauss, p. 55.
[9] Dicionário de Bíblia de Almeida Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
[10] Estas considerações foram formuladas a partir da enciclopédia da Bíblia Vida Nova.

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