Em muitas igrejas evangélicas,
tornou-se moda o termo “unção”. A unção é utilizada para designar, em geral,
pessoas que receberam poder a autoridade de Deus, geralmente acompanhados do
dom de línguas. O crente ungido é aquele que demonstra poder, que fala
eloquentemente, que parece ser mais poderoso e cheio do Espírito Santo que os
outros. Esses super-poderes não se demonstram na vitória sobre o pecado, na
prática do amor, no cuidado especial com os pobres, no evangelismo, no
sacrifício diário em prol da fé, mas em ações meramente espirituais “espetaculares”.
Embora o crente “ungido” possa ser visto como fiel e obediente, as suas
credenciais parecem estar nas manifestações sobrenaturais. Mas existe essa
unção? Quando alguém prega a Palavra com autoridade está “ungido”? O que é a
unção na Bíblia?
Ungir - aleipho
A
palavra ungir vem do vocábulo grego aleipho, que indica o processo através
do qual uma gordura mole ou azeite é derramado sobre uma pessoa ou objeto.
Antigo Testamento. No AT aleipho era utilizado literalmente para ungir
ou untar: o corpo, no cuidado com a beleza (Rt 3:3; 2 Cr 28:15; Dn 10:3; Jz
16:8); o hospede para honrá-lo (Sl 23:5). Somente muito ocasionalmente aleipho é usado no sentido simbólico (Gn
31:13; Ex 40:15; Nm 3:3). Em algumas passagens da Bíblia, ungir também é usado
para expressar alegria (Is 61:3; honrar os mortos (Gn 50:2; 2 Cr 16:14) e com
fins medicinais (Is 1:6; Jr 51:8).
Novo Testamento. No NT aleipho ocorre apenas 8 vezes (em todos
os quatro Evangelhos e em Tiago), referindo-se à ação física de ungir,
praticada exclusivamente sobre pessoas: cuidado do corpo (Mt 6:17); sinal de
honra a um hóspede (Lc 7:38,46; Jo 11:2; 12:3); honrar os mortos (Mc 16:1) e
curar os enfermos (Mc 6:13; Tg 5:14). Todavia, conforme podemos ver em Tg 5:14,
a unção nada tem de mágico, mas é uma simbologia; o que realmente opera a cura
é a oração de fé.
Ungir – chrio, Unção – chrisma
Mais
uma vez ungir aparece com um sentido bem específico e literal de untar, pintar,
significando originalmente tinta, cal, óleo ou unguento empregado na unção.
Antigo Testamento. No AT chrio ocorre 60 vezes na LXX. Diferente
de aleipho, chrio é empregada
basicamente no sentido simbólico ritual (p. ex. Ex 30:25; 40:9; etc.). Israel
ungia os seus reis (Jz 9:8,15; 1 Sm 9:16; 10:1; 15:1,17; 16:3,1,13), dando-lhe
o direito de reger a nação (1 Rs 1:39; 1 Sm 10:1; 16:1,13). Esta unção era
feita pelos profetas (1 Sm 9:16, etc.) e significava a transmissão da dádiva da
autoridade, força e honra (Sl 45:7). A unção de Deus às vezes era acompanhada
com o dom do Espírito e da proteção especial de Jeová (1 Sm 16:13; 24:6-11;
26:9-23; 2 Sm 1:14; Is 11:2). Os sacerdotes também eram ungidos (Ex 29:7;
40:15).
Novo Testamento. No NT chrio ocorre cinco vezes e chrisma só três vezes (todas em 1 João).
É empregada de forma metafórica como no AT para a outorga do Espírito Santo, de
poder especial, de uma comissão divina. Em quatro ocasiões lemos sobre a unção
de Jesus da parte de Deus (Lc 4:18; At 4:27; 10:38 e Hb 1:9). No seu batismo,
Jesus recebeu a unção real e sacerdotal que fez dele o Christos, o Messias.
A unção dos cristãos
A
unção dos cristãos está ligada ao derramamento do Espírito Santo no momento da
conversão, onde o crente recebe a adoção de filho de Deus. Embora muitas
igrejas falem sobre um segundo batismo com o Espírito Santo como uma unção
especial para realizar a obra de Deus, normalmente seguida do dom de linguas
(Jesus nunca falou em linguas!), o que a Palavra de Deus deixa claro é que, ao
aceitar a Cristo como Senhor e Salvador, o crente recebe o Espírito da Verdade,
que abre o seu entendimento para as verdades espirituais (1 Jo 2:27), trazendo
à sua mente tudo aquilo que Jesus disse (cf. Jo 14:26; 15:26; 16:13,14). A
unção do Espírito é o poder que opera no crente através da Palavra divina
autoritativa. Essa unção o torna capaz de discernir os espíritos (1 Jo 4:1ss;
2:18), ministra na vida da igreja os dons espirituais, traz frutos.
A segunda unção
Podemos
usar num sentido meramente simbólico a SEGUNDA UNÇÃO para nos referir à
necessidade que muitas cristãos têm de, mesmo após aceitar a Cristo, ter a sua
mente renovada. Muitos que aceitam a Jesus continuam com suas mentes embotadas
pelo pecado. Não enxergam a necessidade de orar, de ler a Bíblia, de
evangelizar, de amar o próximo, de fazer o bem, de serem profissionais
honestos, de ofertar na igreja. Essa segunda unção é fruto de um arrependimento
profundo, de uma total mudança de mentalidade e atitudes, uma nova forma de
enxergar a Deus, a nós mesmos e às pessoas ao nosso redor. Se vivemos no
Espírito, devemos andar no Espírito.
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