quinta-feira, 13 de novembro de 2014

UNÇÃO: O QUE É E QUAL A SUA FUNÇÃO?




           


            Em muitas igrejas evangélicas, tornou-se moda o termo “unção”. A unção é utilizada para designar, em geral, pessoas que receberam poder a autoridade de Deus, geralmente acompanhados do dom de línguas. O crente ungido é aquele que demonstra poder, que fala eloquentemente, que parece ser mais poderoso e cheio do Espírito Santo que os outros. Esses super-poderes não se demonstram na vitória sobre o pecado, na prática do amor, no cuidado especial com os pobres, no evangelismo, no sacrifício diário em prol da fé, mas em ações meramente espirituais “espetaculares”. Embora o crente “ungido” possa ser visto como fiel e obediente, as suas credenciais parecem estar nas manifestações sobrenaturais. Mas existe essa unção? Quando alguém prega a Palavra com autoridade está “ungido”? O que é a unção na Bíblia?


Ungir - aleipho

A palavra ungir vem do vocábulo grego aleipho, que indica o processo através do qual uma gordura mole ou azeite é derramado sobre uma pessoa ou objeto.

Antigo Testamento. No AT aleipho era utilizado literalmente para ungir ou untar: o corpo, no cuidado com a beleza (Rt 3:3; 2 Cr 28:15; Dn 10:3; Jz 16:8); o hospede para honrá-lo (Sl 23:5). Somente muito ocasionalmente aleipho é usado no sentido simbólico (Gn 31:13; Ex 40:15; Nm 3:3). Em algumas passagens da Bíblia, ungir também é usado para expressar alegria (Is 61:3; honrar os mortos (Gn 50:2; 2 Cr 16:14) e com fins medicinais (Is 1:6; Jr 51:8).

Novo Testamento. No NT aleipho ocorre apenas 8 vezes (em todos os quatro Evangelhos e em Tiago), referindo-se à ação física de ungir, praticada exclusivamente sobre pessoas: cuidado do corpo (Mt 6:17); sinal de honra a um hóspede (Lc 7:38,46; Jo 11:2; 12:3); honrar os mortos (Mc 16:1) e curar os enfermos (Mc 6:13; Tg 5:14). Todavia, conforme podemos ver em Tg 5:14, a unção nada tem de mágico, mas é uma simbologia; o que realmente opera a cura é a oração de fé.

Ungir – chrio, Unção – chrisma

Mais uma vez ungir aparece com um sentido bem específico e literal de untar, pintar, significando originalmente tinta, cal, óleo ou unguento empregado na unção.

Antigo Testamento. No AT chrio ocorre 60 vezes na LXX. Diferente de aleipho, chrio é empregada basicamente no sentido simbólico ritual (p. ex. Ex 30:25; 40:9; etc.). Israel ungia os seus reis (Jz 9:8,15; 1 Sm 9:16; 10:1; 15:1,17; 16:3,1,13), dando-lhe o direito de reger a nação (1 Rs 1:39; 1 Sm 10:1; 16:1,13). Esta unção era feita pelos profetas (1 Sm 9:16, etc.) e significava a transmissão da dádiva da autoridade, força e honra (Sl 45:7). A unção de Deus às vezes era acompanhada com o dom do Espírito e da proteção especial de Jeová (1 Sm 16:13; 24:6-11; 26:9-23; 2 Sm 1:14; Is 11:2). Os sacerdotes também eram ungidos (Ex 29:7; 40:15).

Novo Testamento. No NT chrio ocorre cinco vezes e chrisma só três vezes (todas em 1 João). É empregada de forma metafórica como no AT para a outorga do Espírito Santo, de poder especial, de uma comissão divina. Em quatro ocasiões lemos sobre a unção de Jesus da parte de Deus (Lc 4:18; At 4:27; 10:38 e Hb 1:9). No seu batismo, Jesus recebeu a unção real e sacerdotal que fez dele o Christos, o Messias.

A unção dos cristãos

A unção dos cristãos está ligada ao derramamento do Espírito Santo no momento da conversão, onde o crente recebe a adoção de filho de Deus. Embora muitas igrejas falem sobre um segundo batismo com o Espírito Santo como uma unção especial para realizar a obra de Deus, normalmente seguida do dom de linguas (Jesus nunca falou em linguas!), o que a Palavra de Deus deixa claro é que, ao aceitar a Cristo como Senhor e Salvador, o crente recebe o Espírito da Verdade, que abre o seu entendimento para as verdades espirituais (1 Jo 2:27), trazendo à sua mente tudo aquilo que Jesus disse (cf. Jo 14:26; 15:26; 16:13,14). A unção do Espírito é o poder que opera no crente através da Palavra divina autoritativa. Essa unção o torna capaz de discernir os espíritos (1 Jo 4:1ss; 2:18), ministra na vida da igreja os dons espirituais, traz frutos.

A segunda unção

Podemos usar num sentido meramente simbólico a SEGUNDA UNÇÃO para nos referir à necessidade que muitas cristãos têm de, mesmo após aceitar a Cristo, ter a sua mente renovada. Muitos que aceitam a Jesus continuam com suas mentes embotadas pelo pecado. Não enxergam a necessidade de orar, de ler a Bíblia, de evangelizar, de amar o próximo, de fazer o bem, de serem profissionais honestos, de ofertar na igreja. Essa segunda unção é fruto de um arrependimento profundo, de uma total mudança de mentalidade e atitudes, uma nova forma de enxergar a Deus, a nós mesmos e às pessoas ao nosso redor. Se vivemos no Espírito, devemos andar no Espírito.

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