Curiosidade: o bullying na
Bíblia
O bullying é um fenômeno mais antigo do que se imagina. Desde que o
homem existe e existem as relações interpessoais, a agressão está presente,
manifestando-se de diversas formas. A agressividade dirigida a uma pessoa ou um
grupo específico motivada pela inveja, pelo desrespeito, pelo autoritarismo, é
algo que podemos encontrar, inclusive, nas páginas da Bíblia. Com certeza, nos
tempos bíblicos não existia a mídia que temos hoje, mas ainda assim a situação
era caótica. Gostaria de destacar alguns casos interessantes da Palavra de
Deus, vividos por alguns de seus personagens e que exemplificam como a
intolerância e o desrespeito ao próximo podem transformar as ações do homem em
atitudes violentas e destrutivas. Um sentimento comum que podemos destacar nos
relatos a seguir é o egoísmo, e sobre
ele falaremos no final deste capítulo.
Caim e Abel
Tudo começou bem cedo e o primeiro
caso de agressão já pode ser visto no livro de Gênesis, logo após a Queda do
homem e a formação da primeira família humana. O fato ocorreu entre dois
irmãos: Caim e Abel. Filhos de Adão e Eva, eles exerciam atividades diferentes
na terra onde habitavam: Abel era pastor de ovelhas e Caim, lavrador (Gênesis
4:2)....
Ao que tudo indica, aqueles dois
irmãos eram o oposto um do outro. Caim era um homem sem fé, Abel era um homem
justo diante de Deus (Hebreus 11:4); Abel pertencia a Deus, mas Caim era do
Maligno (1 João 3:12). Dois irmãos que tinham tudo para viver em conflito, para
ter uma relação nada amigável, ao menos da parte de Caim. Segundo o relato
Bíblico, no dia em que os dois irmãos foram ofertar a Deus daquilo que o seu
trabalho havia produzido, Deus se agradou da oferta de Abel, mas da oferta de
Caim não se agradou (Gênesis 4:3-5). Isso acendeu a ira no coração de Caim
contra o seu irmão e ele, certamente, planejou eliminar a fonte da sua
desavença com Deus. ...
Por conta de uma atitude errada
diante de Deus, Caim permitiu que sentimentos destrutivos brotassem em seu
coração até direcionarem sua frustração contra o seu irmão. O seu sentimento de
inferioridade diante de Abel, a sua incapacidade de buscar por si só aquilo que
podia colocá-lo em posição favorável diante de Deus – a fé – transformou-o num
agressor em potencial. Caim é o típico bully:
inquieto e inseguro, tentando se impor por se julgar inferior, fazendo isso com
agressividade, diminuindo os outros, aniquilando as pessoas para que eles
sobressaiam. ...
O fim dessa relação tempestuosa foi
trágico: Caim eliminou a fonte do seu desafeto, o seu adversário na disputa
pela atenção de Deus, aquele que, bem sabia, era melhor que ele e mais
capacitado para fazer o melhor. Livrar-se de Abel significava ser o único, o
mais querido; não haveria adversários na sua relação com Deus e ele seria o
preferido. E assim ele fez: ...
Davi
Outro personagem bíblico que sofreu
na pele o “pecado de ser diferente” foi o rei Davi. Antes de ser rei sobre a
nação de Israel, Davi não passava de um pastor desconsiderado pela própria
família, um poeta que declamava seus versos e entoava cânticos no meio das
ovelhas. A história de Davi começa quando Deus envia o profeta Samuel até a
casa de Jessé para ungir aquele que Ele escolhera para reinar sobre seu povo (1
Samuel 16:1-13). O profeta deveria ungir com óleo o varão que o Senhor
designasse. E assim ele o fez.
Estando na casa de Jessé, o profeta
provavelmente ficou se perguntando qual dos filhos daquele homem ele deveria
ungir como rei. O primeiro em que ele bateu os olhos foi Eliabe, e disse:
“Certamente, está perante o Senhor o seu ungido.” A resposta de Deus a Samuel
mostra de que forma este estava avaliando o escolhido de Deus: ...
Na avaliação do pai, aqueles seriam
os filhos que possivelmente o Senhor Deus escolheria para ser o seu rei. Mas
ele se esquecera de um, esquecera de Davi, que estava apascentando as ovelhas:
“Perguntou Samuel a Jessé: Acabaram-se os teus filhos? Ele respondeu: Ainda
falta o mais moço, que está apascentando as ovelhas. Disse, pois Samuel a
Jessé: Manda chamá-lo, pois não nos assentaremos à mesa sem que ele venha” (v.
11). Davi foi chamado.
O que nos chama a atenção na
história de Davi é o fato de que nada mudou na nossa sociedade em comparação ao
relato bíblico. Estamos sempre julgando as pessoas pela sua aparência, pela
função que elas exercem, pelo poder que elas possuem. Aqueles que não se
encaixam nos nossos padrões são tratados com diferença, são relegados a segundo
plano, esquecidos, maltratados, desprezados. Se Davi dependesse da avaliação
dos seus próprios familiares sobre as condições de se tornar um rei, ...
Como adolescentes na escola escolhem
aqueles que serão os líderes, os mais influentes, aqueles que serão venerados e
imitados? Dentre os de aparência frágil? Dentre aqueles que não estão entre os
mais fortes e mais capazes? A começar pela aparência física (roso, físico,
roupas) e por aquilo que possuem (status
social, carro), o que esperam de um líder é que ele exerça poder e esse poder
vem sempre traduzido como autoritarismo e repressão aos mais fracos. E esses
líderes, ...
José
A história de José é uma das mais
dramáticas relatadas pela Bíblia e é a que mais nos ensina a cerca de como
corações agressivos podem mudar o rumo da história das pessoas. Ela está
relatada no livro de Gênesis e mostra as agruras que este homem sofreu até se
tornar governador do Egito. Curiosamente, José exercia a mesma atividade que
Davi exerceria no futuro: pastor de ovelhas, algo muito comum àquele povo. Mas
no caso de José, os seus irmãos estavam com ele (Gênesis 37: 2). Ao contrário
de Davi, ...
Seja em qualquer lugar, a pessoa que
adquirir alguma proeminência ou preferência maior que as demais sempre será
alvo de inveja, de críticas e de desprezo. Esse foi o caso de José. Ser o filho
predileto atraiu sobre ele a atenção dos seus irmãos, infelizmente uma atenção
negativa e destrutiva. O ódio que os irmãos de José passaram a sentir,
impediu-os de manter qualquer tipo de relacionamento amigável com ele e até
mesmo o diálogo se tornou impossível: “Vendo, pois, seus irmãos que o pai o
amava mais do que todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar
pacificamente” (v. 4). A situação piorou ainda mais quando ...
José, de todas as formas, parecia
despertar o ciúme dos seus irmãos (v. 11), não somente pela preferência do seu
pai, mas também pelos sonhos que tinha. Como normalmente acontece, mesmo sendo
o filho preferido, José não teve crédito do próprio pai, muito pelo contrário,
foi desacreditado e censurado por ele ao falar a respeito dos seus sonhos (v.
10). Esse é um típico caso de bullying familiar.
Os irmãos de José demonstravam por suas palavras e atitudes o desprezo que
tinham por ele. Suas palavras provavelmente eram duras e as retaliações deviam
ser constantes. Não há como ...
A agressividade daqueles irmãos contra José
alcançou o seu ponto máximo quando eles decidiram se livrar do seu incômodo.
Como eles tinham ido apascentar o rebanho em Siquém, Jacó enviou José para que
trouxesse notícias deles (vs. 12-14). José só os foi achar em Dotã (vs. 15-17).
Ao avistá-lo de longe, os seus irmãos já começaram a tramar a sua morte,
dizendo: “Vem lá o tal sonhador! Vinde, pois, agora, matemo-lo e lancemo-lo
numa destas cisternas; e diremos: Um animal selvagem o comeu; e vejamos em que
lhe darão os sonhos” (vs. 18-20). Somente Rúben, o filho mais velho,
provavelmente ...
A partir dessa tentativa de
homicídio, a vida de José mudou drasticamente. As sementes malignas plantadas
no coração dos seus irmãos tiraram-no da segurança do seu lar e do amor dos
seus pais para uma vida tribulada. Ele foi vendido como escravo por seus irmãos
(v. 28); já escravizado no Egito, foi difamado e acusado pela esposa de Potifar
(39:14-18); ele foi condenado e aprisionado por Potifar (39:19-20); após ter
ajudado o copeiro, foi desapontado e esquecido por ele (40:23). Todas essas
coisas sucederam a José como consequência do desprezo dos seus irmãos e do
ciúme que sentiam dele. E assim é a vida de toda vítima de bullying, elas tem a sua realidade transformada, sentem na carne o
ódio dos seus algozes, são vítimas de desrespeito, de violência, ...
Felizmente, Deus tinha outros planos
para José e toda a sua vida girava em torno de propósitos eternos. Ele acabou
se tornando governador do Egito após interpretar os sonhos do Faraó (cap. 41),
o que foi decisivo para a vida de toda a sua família, que, durante um grande
período de seca, teve o sustento que precisava para sobreviver (caps. 42 a 44).
O que nos chama a atenção na vida desse grande homem de Deus são as respostas
que ele deu a cada um desses estímulos negativos provocados pelo bullying. A sua vida é uma lição para
aqueles que diariamente são vítimas de opressão e de violência, para toda
vítima do fenômeno bullying.
·
José sempre
demonstrou confiança no amor e na soberania de Deus diante de tudo aquilo que
estava se passando com ele. Ele não enxergou esses estímulos de maneira
negativa, mas entendia que por detrás de tudo aquilo existia o mover de Deus
(50:20).
·
Mesmo tendo
sido tratado de forma tão desprezível pelos seus próprios irmãos, ele não
permitiu que a mágoa e o ressentimento dominassem a sua vida. José fez uso do
seu livre arbítrio para não deixar que os fatores externos determinassem o seu
caráter (41:51,52).
·
José não agiu
com seus irmãos, movido por vingança, mas pelas misericórdias (50:19; cf.
Romanos 12:19). Ao contrário de muitas vítimas do bullying que planejam se vingar de seus agressores e acabam levando
isso a termo, José praticou o perdão.
·
Como prova do
seu caráter moldado por Deus, José abençoou os que o magoaram (42:7-25;
43:23-25; 44:1).
Se José tivesse permitido que todos os estímulos externos afetassem a
sua vida, ele certamente teria se transformado numa pessoa amarga e vingativa.
O que teria sido da História de Israel caso isso acontecesse? As decisões que
tomamos não somente decidem a nossa vida hoje, mas afetam também o nosso futuro
e o futuro das pessoas que estão conosco, caso elas se deixem influenciar por
nós, é claro. Mas José estava se guiando, tomando suas decisões, fazendo as suas
escolhas baseado em valores eternos. Ele confiava na soberania de Deus,
enxergava o agir de Deus em todas aquelas circunstâncias, pois sabia do grande
plano que Ele tinha para a sua vida.
Na próxima parte deste livro veremos como é possível, assim como José,
passar pela agressão do bullying sem
se deixar contaminar por ele, sem permitir que ele dirija a nossa vida e dite
as regras sobre que atitudes devemos tomar diante das circunstâncias. Nem
sempre poderemos evitar o sofrimento – na maioria das vezes não, – mas podemos
aprender a como lidar com ele e que respostas dar a cada estímulo seu. Para
aqueles que acreditam em Deus – felizmente a grande parte das pessoas – é bom
saber que Ele ...
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tenho tirado minhas duvidas, Recetemente tomei as dores de uma jovem que sofreu bullyng dentro da igreja e fiquei de ruim na historia. entao resolvi pesquisar sobre esse assunto e fico feliz por nao esta errada quanto a minha atitude.
ResponderExcluirQue artigo maravilhoso, enriquecedor, incrivelmente bem abordado, bem amparado biblicamente, ajudou muito no meu estudo, sobre depressão e bullying. Quero comprar o livro.
ResponderExcluir35988127484 - Cunha
Acabei de dar aula pra adolescente onde esse tema foi muito abordado e esse estudo foi de suma importância e proveito para nos ajudar a transmitir a importância de ter cuidado ao fazer bullying...
ResponderExcluirDeus te abençoe
GloriG a Deus excelente
ResponderExcluirMuito boa a explanação e reflexão sobre esse tema dentro da perspectiva bíblica. Obrigada!
ResponderExcluirDeus lhe abençoe
Excluirgostei muito, podemos acrescentar Isaac que também sofreu bullyng por parte de seu irmão Ismael, gen.16, e o profeta Eliseu,2 reis 2. vou levar este tema na minha próxima aula.
ResponderExcluirMuito obrigado pela dica. Vou estudar e possivelmente acrescentar na segunda edição do meu livro, que está esgotado
ExcluirEstava procurando um blog com estudos e ensinamentos interessantes para mim e minha família, que bom que eu encontrei continue sempre assim que Deus abençoe.
ResponderExcluirFico muito feliz por isso
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