OITAVA PARTE
9 O verdadeiro perdão
e a verdadeira salvação
São diversas as formas encontradas
pelo catolicismo romano para obter a salvação para o seu fiel. Todas elas têm
um ponto comum: estão todas diretamente ligadas à necessidade de pertencer a
igreja católica romana e todas dependem de seus dogmas e do poder dos seus
líderes, acima de tudo do papa. Mas será mesmo que o batismo salva? Será
verdadeiramente necessário morrer agarrado a um escapulário ou a uma medalha
forjados pelas mãos humanas para obter a salvação da alma? Foi realmente o
“sim” de Maria o ato mais importante da obra da salvação, sem o qual estaríamos
eternamente desgraçados? E as indulgências e o purgatório? Se Deus já nos perdoou
em Cristo e cancelou o escrito de dívida que havia contra nós, se o sangue de
Cristo nos purifica de todo pecado, o que mais há a ser purgado?
Vamos dividir esta última etapa do
nosso estudo em duas partes. A primeira falará a respeito do sim de Maria e
mostrará a verdadeira consistência da salvação. A segunda abordará o perdão de
Deus e refutará de uma só vez a doutrina das indulgências e do purgatório.
9.1 O sim de Maria e
a perfeita salvação de Cristo
É nos Evangelhos que encontramos as
provas irrefutáveis de uma Maria humilde e carente de salvação. Os
evangelistas, principalmente Lucas, nos apresentam uma serva do Senhor que,
apesar dos seus temores, soube compreender e aceitar os desígnios de Deus para
a sua vida e, mais profundamente, para o destino de toda a humanidade. Ele, o
Deus todo-poderoso, criador dos céus e da terra, autossuficiente; ela, a mulher
finita, limitada, pecadora, agraciada para ser o receptáculo da semente divina.
Como os planos de Deus não podem ser
frustrados jamais (cf. Jó 42:1), as profecias a cerca do nascimento de Jesus
haveriam de se cumprir no tempo por Ele determinado, sem a interferência de
homem algum. Dentre as muitas virgens do povo de Israel, da descendência de
Davi, Maria, que vivia em Nazaré da Galileia, noiva de um carpinteiro chamado
José, foi a escolhida para dar à luz ao Salvador do mundo. Talvez não
importasse para Deus o nome e o endereço da virgem, mas simplesmente a sua
linhagem e o seu estado virginal para que os homens vissem o poder de Deus e
tivessem ainda mais certeza e confiança na veracidade da profecia que haveria
de se cumprir. À Maria cabia apenas aceitar os desígnios inquestionáveis da
vontade soberana de Deus.
Nos ensinamentos católicos romanos
que temos acompanhado, entretanto, a vinda do Filho de Deus ao mundo dependeria
estritamente do consentimento da sua criatura. Porém, Maria jamais poderia ter
dito não a Deus e mesmo que tivesse dito, Deus ainda assim cumpriria nela a sua
vontade, como sempre fez durante toda a história da humanidade, independente da
vontade humana. Deus queria salvar a cidade de Nínive e para lá mandou seu
profeta Jonas (Jonas 1:2). E que Jonas fez? Fugiu para Társis (v. 3). O relato
bíblico nos mostra que, mesmo com a rebeldia de Jonas em não querer obedecer à
ordem divina, Deus cumpriu o seu propósito e a cidade de Nínive alcançou a
salvação (3:5-10). Ainda que Jonas se entristecera com esta situação (4:1-5),
os planos do Senhor foram executados, independente da vontade do profeta.
O “sim” de Maria é apenas uma prova
de que Deus está no controle de todas as coisas, pois Ele mesmo providenciou
este sim. A resposta positiva partiu primeiramente de Deus à humanidade, quando
Ele disse na eternidade SIM ao homem e para reconciliar-se com ele enviou seu
Filho ao mundo para lhe salvar. Maria compreendeu a vontade de Deus e, repleta
do Espírito Santo, alegrou-se no Senhor e assumiu a sua vontade, mesmo diante
das consequências que poderiam lhe sobrevir. Mas se Deus dissera que o Messias
iria vir ao mundo por meio dela, Ele cumpriria o prometido independente dos
obstáculos impostos pelo homem.
Contra os argumentos oferecidos pela Tradição
romanista, devemos simplesmente atentar para aquilo que a Palavra de Deus nos
diz a cerca da redenção verdadeira oferecida por Cristo no Calvário, a cerca do
seu perdão e da sua imensa graça. Basta-nos este pequeno estudo para sabermos
com certeza que a salvação é para todos os homens que pela fé se entregam a
Cristo Jesus e que a vontade de Maria em nada influencia nesta salvação.
Primeiro, a salvação está em aceitar a Cristo
pela fé. Uma vez que obtemos a salvação não podemos perdê-la. Esta salvação é
apresentada na Bíblia como sendo:
·
ÚNICA: a salvação efetuada
por Cristo no Calvário foi única, isto é, não haveria mais necessidade de
sacrifícios pelos pecados; o seu sacrifico foi único e providencial. O
“sacrifício” de Maria durante a vida pública de Jesus e sua Paixão em nada lhe
confere o título de salvadora ou corredentora com insistem em afirmar os
doutores e santos da igreja romana (cf. 1 Pedro 3:18; Atos 4:12; Hebreus
10:12-14).
·
SUFICIENTE:
Por ser única, a salvação oferecida por Deus aos homens é também suficiente
para nos livrar da morte e do pecado, sendo necessária tão somente a fé neste
sacrifico e obediência à Palavra de Deus, como consequência da conversão.
Nenhum outro elemento é necessário e nada mais há que reste a ser feito para
que adentremos pelas portas do Paraíso vindouro, muito menos a mediação e a
vontade de Maria (cf. Gálatas 5:1-12).
·
PERFEITA: A salvação única e
suficiente de Deus é também perfeita. O Cordeiro santo, puro e perfeito fez o
que os rituais judaicos jamais conseguiram: oferecer um sacrifício perfeito a
Deus pelos nossos pecados. Se ainda devêssemos alguma coisa a ser paga por
Maria após a nossa morte, este sacrifício não teria sido perfeito (cf. 1 Pedro
1:19-21).
·
TOTAL:
Por ser perfeita, esta salvação é total. A nossa conta com Deus é paga no
momento em que nele cremos. Não há mais o que ser conquistado, pois tudo Cristo
já conquistou na cruz. O desenvolvimento desta salvação virá através do temor a
Deus e da santificação diária; após a sua morte, o crente gozará da glória de
Deus nos céus (cf. Hebreus 7:25-27).
·
DEFINITIVA: Tão grande salvação
(Hebreus 2:3), única, suficiente, perfeita e total, é também definitiva. O
crente é salvo para sempre, sem necessidade de sacrifícios diários ou medo de
perder aquilo que Deus lhe deu: a vida eterna. Uma vez salvo, sempre salvo.
Para o crente perder a salvação, tudo o que foi dito anteriormente teria de ser
mentira (cf. Hebreus 5:9; João 6:39,40; 18:9; 10:28; Romanos 8:1).
·
PESSOAL: Esta salvação que nos
é oferecida é pessoal, uma escolha de cada um. Não há possibilidade para alguém
nos conseguir a salvação sem que a tenhamos buscado e aceitado, principalmente
depois da nossa morte: ou se morre com Cristo para a vida eterna, ou se morre
sem Ele para a condenação eterna. A mediação de Maria em favor de suas almas
benditas em nada contribui para mudar esta situação (cf. João 3:36).
Segundo, a ideia de graça que a Bíblia nos
traz é totalmente diferente daquela que vimos estudando através dos textos
marianos e não encontra lugar no seio de Maria e na sua vontade, no seu “sim”
ou “não”. Sabemos que Deus é o Deus de toda graça (1 Pedro 5:10) e Ele a doa
aos homens (Tiago 1:17). Esta graça não foi derramada abundantemente apenas em
Maria, mas Deus a derrama naqueles que pela fé aceitam a Jesus Cristo como
Senhor e Salvador (cf. João 1:16,17; Romanos 5:15; 1 Coríntios 1:4). Deus não a
dá insuficientemente, mas na medida certa. A obra de Deus é completa em nós por
meio dela (2 Tessalonicenses 1:11,12). Nela devemos nos firmar (Hebreus 13:9),
fortalecer (2 Timóteo 2:1), crescer (2 Pedro 3:18) e falar (Efésios 4:29;
Colossenses 4:6). A graça de Deus é grande (Atos 4:33), soberana (Romanos
5:21), rica (Efésios 1:7; 2:7), superabundante (2 Coríntios 9:14), multiforme
(1 Pedro 4:10), toda suficiente (2 Coríntios 12:9), toda abundante (Romanos
5:15; 17:20), gloriosa (Efésios 1:6) e é outorgada aos homens pecaminosos (1
Timóteo 1:12,13). É ela que salva (Atos 15:11; Efésios 2:8,9) e justifica
(Romanos 3:24).
Tudo isso descarta completamente a
necessidade de qualquer obra que Maria ou outra pessoa pudesse fazer por nós.
Deus não depende do seu consentimento para doar-se em amor pela salvação da
humanidade, depende somente de Si e do seu sacrifício altruísta pela humanidade
(cf. ainda: Romanos 5:2; 4:16; 11:6; Atos 15:11; 18:27; 2 Coríntios 4:15; 6:1;
8:9; 9:8; 12:9; 13:13; Efésios 1:7; 4:7; Filipenses 1:7; Tito 2:11; 3:7;
Hebreus 4:16; 10:29; 5:12). A maravilhosa graça de Deus é somente o que
precisamos para ter o perdão total dos nossos pecados e a salvação definitiva
para a nossa alma.
Terceiro, Deus nos perdoa em Cristo quando
sinceramente nos arrependemos e o buscamos em espírito de humildade e oração. O
sim de Maria, a sua humildade, as suas dores e a sua intercessão em nada
influenciam o perdão de Deus. Deus olha para seu Filho morrendo na cruz e não para
Maria que chora aos seus pés, pela qual Ele também morreu (cf. Salmo 130:4;
Daniel 9:9; Números 14:18; Mateus 6:12-14; Romanos 4:7; Efésios 4:32;
Colossenses 2:13; 3:13; 1 João 1:9). É Cristo pregado na cruz, não Maria; é
Cristo ressuscitando ao terceiro dia, não Maria; é Cristo subindo glorioso aos
céus para sentar-se à destra de Deus, não Maria; é Cristo quem voltará para
levar os que são seus e julgar os vivos e os mortos, não Maria.
Concluímos ser digno de fé que Maria
não tem nenhuma participação na redenção efetuada por Cristo na cruz. Quem
necessita de graça senão aquele que é pecador e carente de salvação? Se Maria
era abundante de graça como atestam os católicos romanos, é porque ela abundava
em pecado (cf. Romanos 5). Se a graça veio para justificar o homem diante de
Deus dos seus pecados e conduzi-lo com segurança à morada celeste, o que dizer
de Maria que, segundo nos atestam seus fiéis, era mais abundante em graça que
todas as criaturas da terra? Assim afirma Ligório (1987, p. 259): “A graça que
adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a
de todos os santos reunidos”. Passemos,
então, a imaginar quão grande pecadora devia ser Maria! Pessoalmente não creio
assim. Na verdade acredito que ele era pecadora, mas uma santa serva do Senhor.
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