quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

SABEDORIA NA EPÍSTOLA DE TIAGO




                Para entendermos melhor a sabedoria de quê Tiago trata na sua epístola, precisamos nos fazer algumas perguntas: O que é sabedoria? Qual a sua relação com Deus e com o ser humano? Toda a sabedoria humana é essencialmente má? Que relação há entre a sabedoria humana e aquela que vem do alto?


O que é sabedoria?

                A palavra sabedoria provém do termo grego sophia, com 71 ocorrências no NT, 44 só nas epístolas paulinas. Ela possui muitos equivalentes, tanto no hebraico, como no grego, que podem ser compreendidos como: entendimento, discernimento, inteligência, capacidade de entender e pensar, conteúdo do que é conhecido, percepção, instrução para formar hábitos adequados de comportamento, disciplina, prudência, conselhos, entre tantos outros (Dicionário de Paulo e suas cartas, Gerald F. Hawthorne, Ed. Vida Nova, Pulus e Loyola, SP, 2008, pg. 1117 e 1118).
Segundo o autor supracitado, “O significado real de sabedoria no contexto do AT e do judaísmo primitivo divide-se em três aspectos: pensamento, discurso e ação.” (idem. Pg. 1118). Como pensamento, a sabedoria está ligada a aquisição do conhecimento geral intrapessoal, interpessoal e social. Como discurso, a sabedoria relaciona-se ao ensino, à exortação e avaliação da conduta. Deus é o principal meio de ensino, acima de tudo da Verdade que salva (Pv 13:20; 19:20; 23:19; Jó 33:33). E como ação, a sabedoria atua vividamente na nossa vida e nas nossas relações. Isto é, a sabedoria é muito mais que informativa, mas formativa.
Além do conhecimento bíblico de sabedoria, existem dois outros que vale a pena aprendermos: o conceito filosófico e o conceito psicológico. Dentro de um conceito filosófico há a distinção entre sabedoria e sapiência. A sabedoria relaciona-se a todos os domínios da virtude de determinar o que é bom e o que é mal para o homem, relacionando-se, também, ao conhecimento das atividades humanas e a capacidade de saber dirigi-las da melhor maneira. A sapiência, por outro lado, tem um grau mais elevado de conhecimento, mais certo e completo, cujos objetivos são as coisas mais elevadas e sublimes que, segundo Aristóteles, são tidas como divinas. Essa sabedoria, segundo os próprios filósofos, já se encontrava expressa na Bíblia (Pv 7:25-27. Dicionário de filosofia , Nicola Abbagnano, ed. Martins Fontes, SP, 2007).
Dentro de um conceito psicológico, segundo Robert Sternberg, a sabedoria pode ser classificada como uma capacidade cognitiva que pode ser estudada e testada. Segundo esse autor, a sabedoria é uma forma especial de inteligência prática, baseando-se na experiência e na observação de modelos, envolvendo julgamentos de valor sobre aquilo que é bom e a melhor maneira de alcançá-lo. A autora Diane E. Papalia, citando Baltes, nos diz que as condições favoráveis para a sabedoria incluem: “capacidade mental geral, educação ou treinamento, prática no uso de habilidades necessárias, orientação de mentores, experiência de liderança e especialização profissional.” (Desenvolvimento humano, Diane E. Papalia, ed. Artmed, SP, 2008, pg. 697).

O ponto em comum

            Tanto a sabedoria como vemos na Bíblia, principalmente no livro de Provérbios, como aquela estudada pela filosofia e pela psicologia, possuem dois pontos comuns: a aquisição do conhecimento da realidade humana e suas vivências e a aplicação desse conhecimento para lidar com essa realidade. Portanto, sabedoria não é algo que deve ficar apenas no campo das idéias, inchando a mente de quem a busca, mas deve servir para o fim proveitoso de transformar em atitudes todo o conhecimento adquirido, como forma de melhorar a vida humana e fornecer meios para que o homem possa crescer e tornar melhor o seu ambiente.
                O rei Salomão, como exemplo clássico ao tratarmos deste assunto, é uma prova de que a sabedoria existe para algo e não como um fim em si mesmo. Antes de pedir a Deus sabedoria, ele apresentou a sua justificativa: “Agora, pois, ó Senhor, meu Deus, tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai; não passo de uma criança, não sei como conduzir-me. Teu servo está no meio do teu povo que elegeste, povo grande, tão numeroso, que se não pode contar. Dá, pois, ao teu servo coração compreensivo para julgar o teu povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; pois quem poderia julgar a este grande povo?” (1 Reis 3:7-9).
                Salomão entendia que para conduzir o seu reinado necessitaria de um conhecimento maior do que aquele que ele possuía. Esse conhecimento estaria a serviço de algo prático. Discernir entre o bem e o mal, conforme o pedido de Salomão, concorda com a concepção filosófica e a psicológica, isto é, a sabedoria está sempre presente para ajudar o homem nas suas escolhas, conduzindo-o à prática daquilo que é o correto, deixando para trás as coisas vãs.
                Todavia, isso nem sempre é possível, pois a natureza caída do ser humano é governada pelo seu ego, pelo pecado que habita nele, e nem sempre as decisões são tomadas por base na escolha do que é realmente bom, mas para suprir as suas necessidades mesquinhas e más. Dessa forma, toda a capacidade, todo o conhecimento, toda a informação, toda a instrução do ser humano estariam corrompidos? Se tomarmos o ser humano do ponto de vista do pecado original, sim, pois do coração do homem não procede bem algum (Mc 7:17-23) e todas as suas inclinações são carnais e para o mal (Rm 8:13; Gl 5:19).


A lei moral natural

                Mas nem toda sabedoria do mundo é essencialmente má, levando em conta que a inteligência humana foi criada por Deus. O ser humano apenas deturpa o conhecimento e faz uso dele para praticar o que é mal. É o conhecimento que cria a tecnologia que tanto tem nos abençoado, mas que também pode matar. Ele cria as drogas para salvar vidas e outras para destruí-las. O conhecimento em si é benéfico, uma vez que esteja a serviço da coletividade e o bem comum.
                Dentro desse conhecimento comum a todos os seres humanos, crentes ou descrentes, existe a lei moral natural, fruto da bondade e da sabedoria divinas. É essa lei que nos diz, instintivamente, que matar é errado. Essa lei foi dada a Adão e Eva no Éden, mas foi desobedecida. Mas todos nós carregamos os princípios essenciais que regem a vida e as relações humanas; mesmo nas tribos mais primitivas existem códigos de moral e conduta. De onde vêm esses princípios senão de Deus? É Ele quem nos dispõe para fazer uso da razão para aplicar a sua lei perfeita no mundo.
                Embora essa lei moral natural seja imutável, ela pode ser corrompida. O que há muitos anos era crime, hoje já não o é. Um exemplo clássico é o adultério. Há poucos anos a nossa constituição considerava o adultério como crime, de acordo com a Lei de Deus que afirma que não devemos adulterar (Êx 20:14). Hoje, porém, já o deixou de ser. Embora o ser humano se esforce por pautar a sua vida numa sabedoria que possa lhe garantir viver a justiça, essa justiça muitas vezes trás à luz o seu egoísmo e a sua ganância. A justiça do homem nem sempre é justa, logo, a sua sabedoria, apesar de possuir uma semente divina, é falha.


A sabedoria do mundo condenada

                Entretanto, por mais que o homem ainda possua alguma lei moral natural para ajudar nas suas ações e escolhas, a sabedoria do mundo, desprovida da glória de Deus, é condenada pela Bíblia. Porquanto, quando falamos em sabedoria, nos remetemos automaticamente ao conhecimento de Deus e as suas implicações espirituais, morais e práticas na vida do ser humano. Esse conhecimento no homem é limitado e embotado por satanás (2 Co 4:4) e pelo pecado (1 Co 2:14). O conhecimento de Deus do ponto de vista humano torna esse conhecimento nulo (Rm 1:21), por isso aprouve Deus se revelar à humanidade por meio da loucura da pregação (1 Co 1:21), que é mais sábia que a sabedoria dos homens (v. 25), pois os homens, desprezando a sabedoria de Deus, crucificaram o Senhor da glória (1 Co 2:8,9).
                Neste ponto chegamos até a sabedoria de quê Tiago fala em sua epístola, a sabedoria, antes de tudo, humana, que é terrena, animal e demoníaca (Tg 3:15). Essa sabedoria não produz a justiça de Deus, antes está cheia de inveja amargurada e sentimento faccioso (v. 14). “Por isso, quando se anuncia aos homens o Evangelho da salvação, pode-se deixar de lado tudo que depende da sabedoria humana, a cultura e a beleza de linguagem (1 Co 1,17; 2,1-5): não se deve trapacear com a loucura da Cruz” (Vocabulário de teologia bíblica, Xavier Léon-dufour s.j., ed. Vozes, RJ, 1987).
                A Bíblia está repleta de exemplos de más consequências causadas pela sabedoria condenada do homem. Para citar apenas um exemplo, basta-nos lembrar do rei Roboão. Após a morte do rei Salomão, Roboão foi inquirido pelo povo que desejava ser ver aliviado do grande jugo que Salomão antes lhes impusera. Roboão não consultou o profeta de Deus, muito menos deu ouvidos aos conselhos dos anciãos, mas tomou o conselho dos jovens que haviam crescido com ele, o que fez com que ele endurecesse ainda mais com o povo, causando a divisão do reino (1 Rs 12:1-20).
                               

A sabedoria perfeita de Deus

                A sabedoria de Deus, de modo geral, pode ser definida como “um entendimento adquirido sobre Deus e as suas verdades reveladas, que como consequência nos traz uma aplicação prática na nossa vida em todas as suas esferas (Jó 10:4; 26:6; Pv 5:21; 15:3), revelando a sabedoria de Deus ao mundo através do nosso testemunho, cuja base é, antes de tudo, o temor a Deus, que envolve obediência à Sua Palavra.” Essa sabedoria em tudo contrasta com a sabedoria do mundo. A sua essência e a sua fonte estão somente em Deus (Jó 12:13ss; Is 13:2; Dn 2:20-23). Em Jesus temos o seu modelo perfeito. Essa sabedoria está ao nosso alcance e deve ser buscada.
                 A sabedoria de Deus não é subjetiva, mas objetiva e presente na criação do universo (Pv 3:19ss; 8:22-31; Jr 10:12), no homem (Jó 10:8ss; Sl 104:24; Pv 14:31; 22:2). Ele governa através da Sua sabedoria os processos naturais (Is 28:23-29) e históricos (Is 31:2). Tal sabedoria não pode ser apreendida pelo homem de forma natural (Jó 28:12-21), mas Deus a revela para ele (Jó 28:23,28). Isto é, toda sabedoria desprovida da revelação de Deus torna-se empobrecida, mesmo nos seus melhores aspectos (cf. 1 Co 1:17; 2:4; 2 Co 1:12 – O Novo dicionário da Bíblia, Edições Vida Nova, SP, 1999).
                O homem só é realmente sábio quando Deus graciosamente lhes outorga a sua sabedoria, daí a exortação de Tiago para que busquemos essa sabedoria caso precisemos dela (Tg 1:5-8). Ela esteve presente na vida de Salomão (1 Rs cap. 3ss; Mt 12:42; Lc 11:31), Estevão (At 6:10), Paulo (2 Pe 3:15), José (At 7:10). Essa sabedoria divina é necessária ao ser humano, para que ele possa dizer a coisa certa quando de alguma perseguição (Lc 21:14), compreender os oráculos de Deus (Ap 13:18; 17:9), liderar a igreja do Senhor (At 6:3), perceber os propósitos de Deus na redenção (Ef 1:8,9), andar de maneira digna diante de Deus (Cl 1:9; Tg 1:5; 3:13-17).
Muitas pessoas buscam a sabedoria de Deus, esquecendo-se do seu princípio áureo: o temor do Senhor (Sl 111:10; Pv 9:10). É interessante notar, porém, que não tememos a Deus para ter sabedoria, mas o temor do Senhor transforma e guia os nossos pensamentos e ações, tornando-nos justos e retos, e dessa forma se revela a sabedoria de Deus em nós. Nossas ações, quando praticadas no temor do Senhor, são ações dignas e sábias.


A sabedoria de Deus em Cristo

                Se Deus quer se revelar ao ser humano e esta revelação está ligada a sabedoria, logo Cristo, como revelação final e perfeita de Deus, pode ser chamado de Sabedoria de Deus. Se o universo foi criado pela sabedoria de Deus, Cristo estava lá (Jo 1:1-3; Cl 1:15ss). Em 1 Co 1:18-25 é que vemos claramente Cristo intrinsecamente ligado à sabedoria de Deus, sabedoria esta que inclui a justiça, a santificação e a redenção (cf. vs. 24 e 30). Jesus Cristo, morto pelos pecados da humanidade para salvá-la, escândalo para os homens, loucura para os que se perdem, mas ressurreto e exaltado na igreja, é louvado por causa da sua sabedoria (Ap 5:12).
A sabedoria do mundo se torna louca não porque é confrontada com a sabedoria cristã através de palavras ou argumentos, pelo contrário “foi através de uma ação, a saber: mediante a morte de Cristo na cruz, que Deus transformou em loucura a sabedoria do mundo” (Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento, vol. IV, Edições Vida Nova, SP, 1989). E esta sabedoria é Jesus Cristo, crucificado. Os judeus esperavam por sinais, ansiavam por um libertador político para livrá-los do jugo Romano. Os gregos amavam a sabedoria (philosophia, “amor à sabedoria”). Mas Jesus contradisse ambos os lados, tornando-se servo, humilde, sofredor e morrendo como um criminoso diante de sábios e entendidos para levar toda mente cativa ao conhecimento superior de Deus.
A sabedoria de Deus em Cristo elimina toda capacidade de conhecimento humano, tornando-os nulos (1 Co 1:29-31). Os padrões adotados por Deus para a sua sabedoria ao eleger as coisas loucas do mundo em tudo contrasta com o padrão mundano de sabedoria, por isso muitos não compreendem a pregação da cruz. Diariamente podemos encontrar pessoas que condenam os crentes porque se acham salvos, quando viviam uma vida pervertida, fazendo coisas vergonhosas. A sabedoria do mundo não compreende a sabedoria de Deus: Jesus Cristo, que não veio chamar justos ao arrependimento, mas os pecadores (Mt 9:13). A sabedoria do mundo é a do holocausto, onde as obras justificam o homem; a sabedoria de Deus é a da misericórdia, onde o homem não pode justificar-se a si mesmo (Ef 2:8,9).


A sabedoria do alto

                A sabedoria de Deus no livro de Tiago faz um contraste com a sabedoria natural do ser humano, como já temos visto. Para Tiago, é através do bom comportamento e da prática das boas obras que esta sabedoria é demonstrada (Tg 3:13), em contraste com a sabedoria daquelas pessoas que reivindicam para si a sabedoria do alto, mas vivem em contendas e disputas (3:15,16). A sabedoria do alto, além de produzir bons frutos, só pode ser conseguida através da graça de Deus por meio da oração, isto é, ela não é inerente ao ser humano nem fruto dos seus esforços pessoais.
                Tiago nos apresenta uma lista de setes consequências dessa sabedoria do alto (cf. Gl 5:22ss; 2 Pe 1:5-9). Podemos notar que essa sabedoria produz frutos no mais íntimo do ser humano. Logo, a sabedoria não existe para enaltecer ninguém, para ser usada como simples conhecimento informativo, mas para moldar o caráter do homem. Desse modo, a  sabedoria é prática, dinâmica, assim como o Espírito Santo que a outorga ao crente. Sabedoria que não transforma o homem e as suas relações, não é sabedoria do alto, mas de baixo, mundana e demoníaca (Tg 3:15). Logo, na visão de Tiago, a sabedoria do alto é:

·         Pura. Ela é livre de toda mancha de impureza. A sabedoria de Deus produz santidade no íntimo do ser humano. Logo, se não estamos vivendo em santidade, dificilmente a sabedoria de Deus tem tido algum efeito em nós. Em Mt 5:8 lemos: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.” A sabedoria dos judeus considerava a todas as coisas impuras (Tt 1:15), mas Jesus apontou para a necessidade de cuidar do coração (Mc 7:18-23). Paulo, exorta aos filipenses a pensar naquilo que é puro (Fp 4:8). Somente um coração puro pode produzir o amor (1 Tm 1:5). A sabedoria de Deus não somente é pura como produz pureza de caráter.
·         Pacífica. Mais uma vez o sermão do monte nos ensina: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9). Este texto faz eco ao v. 14 do capítulo 12 de Hebreus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” O homem sábio busca ter paz com todos, reconciliar-se (Mt 5:23,24); não vive em contendas (Tg 3:16). Entretanto, não pode haver essa paz sem haver pureza e retidão. A sabedoria que nos torna puros também nos leva a ter paz com todos.
·         Indulgente. A sabedoria indulgente está sempre pronta a perdoar; é condescendente, complacente. Em 1 Tm 3:3 ela aparece traduzida por “cordato”, como em 1 Pe 2:18. É nesse ponto que entendemos como a sabedoria de Deus é loucura para o mundo perdido, pois este não entende o perdão de Deus para o mais vil pecador.
·         Tratável. Isto é, a sabedoria é “fácil de persuadir” (Shedd). Ao mesmo tempo em que ela se deixa persuadir, numa atitude de humildade e mansidão, ela nos leva a um submissão a ideais mais elevado, à possibilidade de crescimento, estando sempre pronta a ser dirigida e a obedecer.. A sabedoria de Deus que se revelou em Cristo é o nosso maior exemplo, pelo seu caráter humilde (Mt 11:29; 21:5). A falta de humildade torna o homem sábio aos seus próprios olhos (Rm 12:16). No sermão do monte o Senhor nos diz: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus... Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra.” (Mt 5:3,5).
·         Plena de misericórdia e de bons frutos. Essa sabedoria pode ser encontrada também no sermão do monte: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mt 5:7). Assim como a sabedoria indulgente, a sabedoria plena de misericórdia está sempre tomando a iniciativa de oferecer o perdão, de mostrar compaixão. Em contraste com a sabedoria mundana, onde a língua comanda o corpo para o mal (3:1-12; 4:11,12), a sabedoria pela de misericórdia leva o crente a produzir frutos, como prova da sua fé (2:14-26). Está claro que esta sabedoria que Tiago prega é fruto de uma vida cheia do Espírito Santo (Gl 5:22,23).
·         Imparcial. O homem que possui esta sabedoria não vive em disputas e contendas; ele trata a todos de igual modo, o que contrasta com a atitude de alguns crentes que faziam acepção de pessoas (2:1-13). Através da observância correta das Escrituras, a sabedoria imparcial pratica a justiça de Deus, de modo que são “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” (Mt 5:6). Não há como falar de sabedoria sem levar em conta a justiça de Deus, que abomina o pecado, mas ama o pecador. Isto é, se a sabedoria não desperta amor no nosso coração, é sabedoria mundana e demoníaca.
·         Sem fingimento. Esta sabedoria provavelmente habitava na fé de Timóteo e da sua avó, Lóide (2 Tm 1:5). Esta é uma sabedoria sincera, que parte de alguém em que certamente podemos confiar. O crente que é sábio dessa forma possui a alma purificada pela obediência à verdade, almejando o amor fraternal não fingido (1 Pe 1:22). A hipocrisia era abertamente condenada por Jesus, em especial na pessoa dos fariseus, cuja prática de vida estava sempre associada à sua soberba e ao seu orgulho (Mt 6:2,5,16; 23:13-29). A sabedoria contrária à sabedoria transparente de Deus está associada à mente cauterizada que profere mentiras (1 Tm 4:2). Um exemplo de alguém que andava na verdade, praticando uma fé sem fingimento, é o presbítero Gaio, ao qual o apóstolo João escreveu: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade.” (3 Jo 1-4). Gaio era um crente equilibrado “seguindo a verdade em amor”. (Shedd, Ef 4:15). Ora, “o saber ensoberbece, mas o amor edifica” (1 Co 8:1).


Conclusão

                “Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz” (Tg 3:18). Embora o homem possua uma lei natural arraigada na sua humanidade que, presume-se, seja capaz de dirigir os seus atos e levá-lo a fazer escolhas entre aquilo que é ruim e aquilo que é bom, somente a sabedoria do alto, a verdadeira sabedoria vinda de Deus é capaz de colocá-lo realmente no caminho certo. Essa sabedoria oferecida por Deus e que em tudo difere do conceito humano de sabedoria, produz justiça e retidão (Novo comentário da Bíblia, Edições Vida Nova, SP, 1990). A sabedoria terrena, animal e demoníaca produz inveja amargurada, sentimento faccioso, mentira, confusão e toda espécie de coisas ruins (Tg 3:13-16). Se colhemos os frutos da paz que semeamos através da sabedoria de Deus, que frutos colheremos ao semearmos a sabedoria do mundo?
                Logo, como pudemos entender, a sabedoria do alto é muito mais que um conhecimento profundo de Deus. Ela se desdobra em ações praticadas pela justiça, mediante um santo proceder, fruto de uma mente renovada pela graça de Deus. É uma sabedoria que não permanece estática diante da revelação de Cristo, mas que reage a essa revelação de maneira positiva, com o intuito de aprender dele para servi-lo. Ela às vezes pode confundir os que se deparam com ela (Mc 6:2), mas a ela ninguém pode resistir (Lc 21:15; At 6:10). Ela deve estar presente nos servos de Deus (At 6:3), como sabedoria dada por Ele (1 Co 1:17), porque somente o poder de Deus pode produzir em nós a verdadeira fé (1 Co 2:1-13). A sabedoria de Deus nos impede de cometer erros terríveis (1 Co 2:8) e nos traz pleno conhecimento dele (Ef 1:17).



Mizael de Souza Xavier



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