quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS VÁRIOS MEIOS DE SALVAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA - sétima parte


SÉTIMA PARTE


8 Salvação pela penitência


            A conclusão a que podemos chegar é que não é necessária apenas a fé para que o pecador seja salvo, segundo a doutrina romanista, mas outros elementos são acrescentados com vistas ao alcance da salvação. Esta, porém, é para poucos privilegiados e cumulados de muitas graças, fiéis devotos e extremamente piedosos que morrem em “odor de santidade” ou simplesmente são martirizados. Em suma,a salvação depende muito mais das obras feitas em favor próprio – ou dos sufrágios praticados pelos vivos em favor dos mortos – do que da fé na obra expiatória de Cristo na cruz.
A necessidade de obras penitenciais para a reparação dos efeitos causados pelo pecado temporal é matéria abundante nos escritos católicos romanos. O cân. 1473 do Catecismo da Igreja Católica afirma o seguinte:

O perdão do pecado e a restauração da comunhão com Deus implicam a remissão das penas eternas do pecado. Mas permanecem as penas temporais do pecado. Suportando pacientemente os sofrimentos e as provas de todo tipo e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte, o cristão deve esforçar-se para aceitar, como uma graça, essas penas temporais do pecado; deve aplicar-se, por meio de obras de misericórdia e de caridade, como também pela oração e por diversas práticas de penitência, a despojar-se completamente do “velho homem” para revestir-se do “homem novo”.

            A palavra-chave para entendermos esse texto é “penitência”. Este sacramento é um convite à conversão e à reconciliação com Deus e a igreja por parte do pecador. Ela é, segundo o Catecismo (cân. 123), “um esforço pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação do cristão pecador”. Para que este sacramente seja possível, é indispensável a confissão diante auricular diante do sacerdote, através do qual o sacerdote concede ao confessante o perdão e a paz, permitindo que ele se reconcilie com Deus.
            Segundo o mesmo catecismo (cân. 1426), a penitência é necessária mesmo após a conversão pelo batismo, porque a nova vida em Cristo não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem a sua inclinação para o pecado. Então a penitência serve como “o combate da conversão para chegar à santidade e á vida eterna, para a qual somos incessantemente chamados pelo Senhor”. Todavia, a penitência não é apenas algo externo. O cân. 1430 a 1433 apresenta-a como “penitência interior”, uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão a Deus, o desejo de mudar de vida. Porém, mais que um mover do Espírito Santo na vida do cristão, essa penitencia interior também pede práticas exteriores, que os padres insistem que sejam de pelo menos três formas: o jejum, a oração e a esmola. Além disso, o Catecismo (cân. 1434) ajunta:

Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pecados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, “que cobre uma multidão de pecados” (1Pd 4,8).

            Não há, portanto, possibilidade de contar apenas com o lavar regenerador do Espírito Santo e a santificação que ele produz na vida do crente. Não existe confiança de que nossos pecados são perdoados assim que nos arrependemos e os confessamos. Sempre há a necessidade do pecador, impossibilitado de qualquer transformação em si mesmo, obter o favor de Deus e a santidade por suas próprias mãos. O que falta ao catolicismo romano é aceitar a corrupção humana que nos impede de sermos aceitáveis diante de Deus por nossas próprias obras. Para Deus nossas justiças são como trapo de imundícia (Isaías 64:6). Não são sacrifícios que o Senhor quer de nós, pois Cristo já se sacrificou na cruz para o perdão dos nossos pecados, nossa remissão, nossa justificação, nossa redenção e nossa salvação eterna.
            O Senhor Deus diz por intermédio do profeta Oséias: “Pois misericórdia quero, e não sacrifícios, e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (6:6). Esse texto foi repetido pelo Senhor Jesus, que também afirmou: “não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mateus 9:13). Pecado e pecadores sempre existirão, o que vai diferir será a posição de cada um diante de Deus: os convertidos não permanecem mortos em seus delitos e pecados, mas vivem para Cristo; os não convertidos permanecem no pecado, separados de Deus e destituídos da sua graça. Os primeiros estão salvos, seus pecados foram perdoados e são conduzidos pelo Espírito Santo a uma novidade de vida; os segundos, jazem em seus pecados.
            O arrependimento dos pecados, o ser nova criatura, o novo home que renasce em Cristo não depende do pecador fazer algo por si, mas pelo que Deus já fez por ele na sua conversão e continuará fazendo. Um exemplo claro disto está no livro de Gálatas, onde Paulo confronta os gálatas com a verdade de Cristo, provando não ser necessário praticar as obras da Lei, como a circuncisão, para ser salvo. Ele diz: “Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (5:6). É esta fé que nos torna novas criaturas, capazes de limitar os feitos da carne através da atuação do Espírito Santo, não de obras e penitências. Assim ele escreve a respeito da carnalidade daqueles irmãos: “Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (v. 16). Após apresentar duas listas: uma com os frutos da carne (vs. 19-21) e outra com os frutos do Espírito (vs. 22,23), ele diz: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (vs. 24,25).
            Em Efésios, Paulo apresenta um novo homem reconciliado com Deus por intermédio da cruz (2:15,16). Esse novo homem, no capítulo 4, é chamado a viver de modo digno da sua vocação (v. 1), crescendo em Cristo, que é a cabeça (vs.15,16), não andando na vaidade dos seus próprios pensamentos como as pessoas que não têm Deus (v. 17), mas despojando-se do velho homem corrompido (v. 22) para se revestir do novo (v. 24). Todas estas coisas só são possíveis mediante a conversão pela fé e o estar em Cristo. Iluminado pelo Espirito Santo, o crente produz os seus frutos e vive em constante aperfeiçoamento do seu caráter e da sua santidade.
Conforme afirma o apóstolo Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6). Esta não é uma obra inacabada, mas concretizada desde a eternidade. Ela começou no passado, isto é, fomos eleitos pela graça de Deus (Efésios 1:14), que nos remiu e nos salvou mediante o sangue do seu Filho amado (Efésios 1:7; Hebreus 2:3) nos chamando e nos separando para Ele (Gálatas 1:15,16), fazendo de nós novas criaturas (2 Coríntios 5:17). Tudo se fez novo, isto é, não há nada mais a ser feito por meio de penitências e sacrifícios. E essa obra maravilhosa de salvação que Deus já começou, há de completá-la, quando os remidos subirão aos céus para abraçar a herança eterna reservada para eles antes da fundação do mundo, conforme o próprio Senhor nos prometeu (João 14:3). Nós conhecemos o poder de Deus (Mateus 28:18; João 17:2) e sabemos o seu santo propósito (João 17:24).

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