TERCEIRA PARTE
4 Salvação através do uso de amuletos
Além da própria igreja e dos
sacramentos, o catolicismo romano possui outros métodos de salvação. Até mesmo
escapulários e medalhas garantem ao fiel uma passagem segura para o céu para
aqueles que os usam e neles confiam. São objetos considerados sagrados, alguns
dados pelas próprias mãos de santos mortos ou de Maria.
Os povos da antiguidade possuíam
seus deuses e para eles confeccionavam majestosas estátuas e monumentos, diante
dos quais se prostravam, adoravam e faziam sacrifícios, muitas vezes humanos.
Ainda hoje esta prática é observada em diversas religiões, onde se cultua a Terra,
o Sol, os Astros, os Anjos, o demônio e os líderes espirituais. O candomblé,
além das imagens do “preto velho”, de Satanás e sua “esposa”, de Iemanjá, de
São Jorge e o Dragão, também cultua alguns santos católicos com nomes
diferentes, baseados na língua dos negros africanos que vieram para o Brasil no
período da descoberta e colonial. Estes, e muitos outros que poderíamos
mencionar, consideram estas coisas de duas formas: como seus deuses ou como
representantes de Deus (ou de seus deuses) na Terra.
O catolicismo romano não fica muito
atrás em suas doutrinas sobre imagens e culto aos santos, aos anjos e aos
mortos. Através da intercessão destes, buscam adquirir de Deus alguma coisa,
como bênçãos, perdão e livramentos. Que diferença há entre as imagens cultuadas
pelo catolicismo e as cultuadas pelos antigos egípcios? Todas não são
representações de pessoas? Todas não são esculpidas? Se é superstição clamar ao
“preto velho” e dedicar-lhe oferendas, não seria também fazê-lo diante de uma
imagem de Maria? Ora, segundo S. Afonso de Ligório (1987), visitar as imagens
da mãe de Jesus redunda em grandes bênçãos para os fiéis, inclusive com
operação de milagres, como ele mesmo escreve (p. 452):
Diz o Padre Ségneri que o demônio não achou meio
melhor para consolar-se das perdas que sofreu com a extinção da idolatria, que
fazendo perseguir as imagens pelos hereges. Porém a Santíssima Igreja
defende-se até com o sangue dos mártires. A própria Mãe de Deus tem
demonstrado, mesmo com milagres, quanto lhe agradam as visitas e o culto às
imagens (...) Todos os servos de Maria costumam visitar frequentemente e com
grande afeto as imagens e as igrejas erguidas em sua honra.
Vejamos alguns amuletos que conferem
não somente bênçãos e livramentos àqueles que fazem uso deles, como também são
capazes de providenciar a salvação da alma e uma entrada direta no céu. A
maioria dos supersticiosos acredita em amuletos que lhes protegem do mal e lhes
trazem boa sorte (pé de coelho, comigo-ninguém-pode, espada de São Jorge,
galhos de arruda, imagens de santos, etc.), ou evitam certas circunstâncias que
possam lhes trazer azar (quebrar espelhos, passar por debaixo de escadas, gato
preto, etc.) Também, os curandeiros, xamãs, místicos e bruxos utilizam-se de
objetos que lhes transmitem poder ou têm o poder de curar e fazer milagres e
sinais (cristais, elementais, etc.) Normalmente as forças das trevas, os
espíritos dos mortos ou os santos católicos são invocados nas sessões de
bruxaria e curandeirismo, o que não quer dizer que as pessoas que fazem estas
coisas sejam todas católicas.
Todavia, embora reprove tais
práticas, a igreja católica romana possui certos dogmas e práticas semelhantes
as que acabamos de mostrar. Podemos citar os seguintes exemplos:
4.1 Terço
ou rosário
O terço é um cordão
que contém contas que representam certo número de orações. Ele não é apenas um
meio de devoção, mas um eficaz talismã para os que o rezam, podendo livrar-lhes
de diversos males, inclusive do inferno e dando-lhes bênçãos e indulgências
para aliviar suas dores e sofrimentos do purgatório. Embora o terço se
diferencie das “correntes de orações”, ele é composto, também, de repetições de
rezas, acompanhadas da leitura de textos bíblicos e comentários. O tradutor do
livro Glórias de Maria (p. 449, nota de rodapé) apresenta a seguinte
explicação:
A – Quem recita o
terço ganha: 1) cada vez cinco anos de indulgência (Sixto IV); 2) se se rezar
em comum, indulgência de 10 anos; 3) indulgência plenária, no último domingo do
mês, se se rezar ao menos 3 vezes por semana. Condições: Confissão e comunhão e
oração segundo a intenção do Papa (Bento XII).
B – Se o terço
tiver indulgência dos Crucíferos, ganham-se 500 dias em cada Pai-Nosso e
Ave-Maria, ainda que se o não reze todo, mas alguns Pai-Nossos e Ave- Marias, à
vontade.
C – Os associados
da confraria do Rosário lucram mais indulgências em certas ocasiões como vem
especialmente nos manuscritos da confraria.
4.2 Ofício
O Oficio, além de
conceder aos fiéis várias indulgências, também os protege de muitas
tribulações. Ele agrada muito a virgem Maria, conforme explica S. Afonso de
Ligório (1987). Novamente o tradutor de Glórias de Maria explica (p. 450, nota
de rodapé):
O Ofício Mariano é
antiquíssimo e foi recomendado pelo Doutor e Cardeal da Santa Igreja, S. Pedro
Damião (1072). Já existia 300 anos antes dele, mas o Santo tornou-o mais usado
e recomendou-o como proteção em várias tribulações, como por experiência lhe
sentira a eficácia. A atual forma do Ofício vem das mãos de S. Carlos Barromeu,
santo Cardeal de Milão (1584).
4.3 Escapulário
O escapulário é, para
o fiel católico, um sinal de dedicação no serviço de Maria e de que ele faz
parte da sua família, podendo, através dele, lucrar muitas bulas e indulgências
(LIGÓRIO, p. 453). Ele compõe-se de duas pequenas peças de pano marrom, unidas
entre si por dois fios ou correntinhas, próprio para ser colocado sobre o peito
e outro sobre as costas. Uma vez colocado nunca mais se deve ficar sem ele,
usando-o dia e noite, até a morte. Assim atesta Ligório (1987, p. 454):
Os Padres Crasset e Lezena, falando do escapulário do
Carmo, referem que, aos 16 de julho de 1251, apareceu a Santíssima Virgem a S.
Simão Stock, na Inglaterra, e entregou-lhe um escapulário, garantindo-lhe que
aqueles que o trouxessem seriam livres da condenação eterna. “Recebe, meu
filho, disse a Virgem, esse escapulário de tua Ordem, distintivo da minha
confraria e um privilégio para ti e para todos os carmelitas. Quem morrer
revestido dele, não experimentará o fogo eterno.
4.4 A medalha Milagrosa
A medalha milagrosa é
também um amuleto e, provavelmente, a maior prova de superstição do catolicismo
romano. Foi no dia 27 de novembro de 1830 que Santa Catarina Labouré viu a
aparição da Virgem Maria. Nesta ocasião, Maria apresentou-se com diversos raios
luminosos que desprendiam de anéis e pedras preciosas que cobriam seus dedos.
Seus braços abaixaram com o peso das graças que ela dizia derramar sobre as
pessoas que as pedem. Em torno dela formou-se um quadro onde se lia em letras
de ouro as seguintes palavras: Ó Maria
concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós. Desta forma,
confiou a Santa Catarina de Labouré a missão de cunhar uma medalha segundo o
modelo daquela aparição, dizendo: “As pessoas que a usarem receberão grandes
graças; hão de ser abundantes as graças para os que a trouxerem com confiança”.
Maria, segundo relata a santa católica, a fez compreender o quanto lhe eram
agradáveis as orações dos que a invocam, e quanto é generosa em lhes atender aos
pedidos, concluindo que “milagres, graças e prodígios extraordinários se operam
por meio da Medalha Milagrosa”.
A Medalha Milagrosa
é, então, uma dádiva celeste para quem a utiliza e se coloca sobre a proteção
de Maria, na vida, na hora da morte e depois da morte. Em comparando com os pés
de coelho, figas, espadas de São Jorge, arruda, etc., tal medalha se mostra um amuleto
bem mais poderoso. A sua prática consiste no seguinte:
PRÁTICA:
Usar
a Medalha com confiança e devoção.
Beijá-la respeitosamente de
manhã e à noite, dizendo: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que
recorremos a Vós.
Propagar
a
Medalha. É tão fácil dá-la a uma criança, aos doentes, aos amigos, aos que
estão em dificuldade, etc.
Segue-se a estas
práticas uma “Novena da Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa”, onde a aparição
de Maria é relembrada com orações (três Ave-Marias, “Ó Maria concebida...” e a
oração final) e meditações. A oração final, presente nos folhetos distribuídos
juntamente com a medalha, nos mostra claramente que no centro de toda esta
crença está Maria, a criatura, mãe carnal de Jesus, o Filho de Deus, o Criador:
Santíssima Virgem,
eu creio e confesso vossa santa e Imaculada Conceição, pura e sem mancha. Ó
puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição Imaculada e gloriosa prerrogativa
de mãe de Deus, alcançai-me de vosso amado filho a humildade, a caridade, a
obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de corpo e espírito a
perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa morte, e a graça...
que peço com toda confiança. Amém.
Nota-se que depois de
“e a graça” segue-se reticências. É neste momento que o fiel dirá o que está
querendo que Maria lhe dê, de posse da Medalha Milagrosa. Tudo isto é feito não
sob a direção do Espírito Santo, mas da devoção incondicional a Maria. O foco
principal desta novena não é a glorificação do nome de Deus, mas alcançar uma
graça através de um amuleto idealizado pela própria Mãe de Jesus. Porque a
Maria dos católicos não é como seu primo João Batista, que disse a respeito de
Cristo: “Convém que ele cresça e eu diminua”? (João 3:30).
4.5 Medalha
de São Bento
Outra
medalha e amuleto com podres milagrosos é a Medalha de São Bento. Este santo
católico servia-se do sinal da Cruz para fazer milagre e vencer as tentações,
por isso existe o costume de apresentar as suas imagens com uma cruz na mão.
Durante séculos, cunharam-se diversas medalhas de São Bento, mas a partir do
século XVII as medalhas começaram a seguir um padrão: de um lado a imagem do
santo com um cálice do qual sai uma serpente e um corvo com um pedaço de pão no
bico, lembrando as tentativas de envenenamento das quais o santo escapou
milagrosamente. O outro lado da medalha apresenta uma cruz com gravuras dizendo
o seguinte:
CSPD: em latim significa
Crux Sancti Patris Benedicti (Cruz do Santo Pai Bento)
CSSML: Crux Sacra Sit Mihi
Lux (A Cruz Santa Seja Minha Luz)
NDSMD: Non Draco Sit Mihi
Dux (Não Seja o Dragão o Meu Guia)
VRSNSMV:
Vade
Retro Sátana Num quam Suade Mihi Vana (Retira-te, Satanás, Nunca me Aconselhes
Coisas Vãs!)
SMQLIVB:
Sunt
Mala Quae Libas Ipse Venana Bibas (É Mau o Que Oferece, Bebe tu Mesmo os Teus
Venenos!)
Embora
o autor do folheto explicativo da Medalha de São Bento (A
Medalha de São Bento, Distribuidora Loyola de livros, cód. 0011) se aprece em dizer
que ela não deve ser vista como um talismã, porque não age automaticamente contra
as diversidades, o simples fato de sua existência denuncia isso. Não é
necessário qualquer objeto para materializar a nossa fé em Deus e a nossa
confiança nele, principalmente se este objeto tem como fim a invocação de
alguém que já morreu, como fazem os espíritas. Pela intercessão de São Bento,
pede-se que Deus abençoe a Medalha para que aqueles que a usarem gozem de saúde
física e espiritual, além de obterem indulgências e proteção contra os
demônios. O dito folheto aponta para a cruz de Cristo, mas afirma que:
“São numerosos os
fatos maravilhosos atribuídos à esta medalha. Ela nos assegura poderoso socorro
contra as ciladas do demônio e também para alcançar graças espirituais, como
conversão, vitória contra as tentações, inimizades, etc. Igualmente nos protege
contra os acidentes de toda espécie; cura as doenças, etc. (...) Para se ficar
livres das ciladas do demônio é preciso, acima de tudo, estar na graça e
amizade com Deus. Portanto, é preciso amá-lo e servi-lo, cumprindo, todos os
deveres religiosos: Oração, Missa dominical, recepção dos sacramentos,
cumprimento dos deveres de justiça; em uma palavra, cumprimento de todos os
mandamentos da lei de Deus e da Igreja.
Agora
podemos nos perguntar? Onde fica o trabalho do Espírito Santo? Em que momento
devemos recorrer a Ele quando estamos em tentação ou atribulados? Será a
Medalha de São Bento a materialização do Espírito de Deus? E o Nome Santo de
Jesus? Só Ele não bastaria para expulsar os demônios (Marcos 16:17)? Deus não
nos atenderá somente clamando pelo Nome de Seu Filho amado (João 14:13)? Por
que necessitaríamos de um objeto cunhado por mãos humanas pretensamente capazes
de realizar milagres e trazer até nós a paz da vida eterna? Em que trecho
bíblico poderemos encontrar alguma base para tal crença?
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