quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS VÁRIOS MEIOS DE SALVAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA - sexta parte


SEXTA PARTE


7 Salvação por meio das indulgências


            A doutrina das indulgências é uma consequência da existência do purgatório. Conforme vimos acima, as almas são libertas por meio de um pagamento que compra a sua liberdade. Liberdade, no contexto do purgatório, seria ser liberto deste lugar de fogo purificador para “merecer” o céu, isto é, ser salvo. Não foi o sangue de Cristo, mas as indulgências dadas pelos vivos que possibilitaram a compra da redenção para as almas que penam no purgatório. Este sistema antibíblico de indulgências é uma das mais fortes doutrinas católicas romanas e envolve outras três: sacrifício da Missa, oração pelos mortos e o purgatório. Todos os três estão diretamente envolvidos nas vendas de indulgências pelos sacerdotes e pelo papa (indulgências plenárias). Mas o que são as indulgências? O que elas representam para o pecador? Qual o seu real significado? A igreja romana tem discutido muito o assunto, sempre firmada na convicção de que elas foram ordenadas por Deus e constam na Bíblia.
O Pe. Flaviano Amatulli Valente (1997, p. 70) defende que, mesmo depois de a pessoa se arrepender, ainda fica algo que deve e que precisa ser pago e este pagamento se dará mediante o sofrimento e as boas obras, fazendo uso do tesouro da Igreja representado pelos méritos de Cristo, de Maria, dos santos, ficando completamente livre de toda mancha do pecado. Isto é, embora Deus perdoe, ainda resta uma purificação, uma restauração do que foi perdido. Não mediante o Espírito Santo, mas através obras feitas por mãos humanas e orações em favor de mortos. Em concordância com estas doutrinas, Pe. Artur Betti (2003, p. 173) afirma que a própria Escritura apresenta casos em que, mesmo Deus tendo perdoado a culpa, exigiu a sua reparação, muitas vezes custosa (Números 20:12s; 27:12-14; 2 Samuel 12:13s; Joel 2:12; Tobias [apócrifo] 4:11s; Daniel 4:24; Jonas 3:5; Lucas 19:8). Ele conclui dizendo que a indulgência não é compra e venda de perdão dos pecados. Os pecados, segundo ele, são perdoados por Deus através do sacramento da penitência. As indulgências preenchem as lacunas deixadas pelo pecado e reparam o seu mal.
O Concílio de Trento tratou sobre as indulgências nos seguintes termos:

896. Ensina, ademais, o santo Concílio que a forma do sacramento da Penitência em que principalmente consiste a sua força, está nas palavras do ministro: Eu te absolvo etc. A estas palavras se ajuntam, segundo louvável costume da Santa Igreja, certas preces que de modo algum pertencem à essência da forma, nem são necessárias para a administração do mesmo sacramento. São, porém, como que a matéria (quasi materia) deste sacramento os atos do mesmo penitente, a saber: a contrição, a confissão e a satisfação [cân. 4]. Estes mesmos atos são requeridos por instituição divina no penitente para a integridade do sacramento e para a remissão plena e perfeita dos pecados, e por este motivo se chamam partes da Penitência. Na verdade, o fruto e o efeito deste sacramento, no que pertence à sua força e eficácia, é a reconciliação com Deus, que algumas vezes costuma ser acompanhada nas pessoas piedosas, que recebem este sacramento com devoção, de paz e serenidade da consciência, com veemente consolação do espírito. O santo Concílio, ao ensinar esta doutrina sobre as partes e os efeitos deste sacramento, ao mesmo tempo condena as sentenças daqueles que sustentam que a fé e os terrores da consciência são partes da Penitência [cân. 4].

914. Cân. 4. Se alguém negar que para a inteira e perfeita remissão dos pecados se requerem do penitente três atos, como sendo a matéria (quasi matéria) do sacramento da Penitência, a saber: contrição, confissão e satisfação, que se chamam três partes da Penitência; ou disser que são somente duas as partes da Penitência, isto é: os terrores que padece a consciência depois de reconhecer os seus pecados e a fé no Evangelho ou na absolvição, com que crê lhe são perdoados por Cristo os pecados — seja excomungado [cfr. n° 896].

Isto é, para o catolicismo romano não bastam o arrependimento e a fé para haver a absolvição do pecado, é necessária alguma reparação, que será prescrita pelo sacerdote no momento da confissão auricular. Esta reparação, ou penitência, tem por finalidade alcançar indulgências. E estas podem ser revertidas em favor das almas do purgatório. Como agravante a tal heresia, os romanos pontífices lançam maldição de excomunhão sobre que defender a forma genuína de arrependimento e perdão: consciência do pecado e fé no perdão de Deus, através de Cristo, o qual para isso morreu.
         Mas é interessante notar como o vocábulo “indulgência” não consta no índice analítico do Compêndio do Vaticano II. Talvez anos de história e de vergonha por tamanha cobrança descabida tenha feito com que os doutores católicos passassem a evitar o termo. Todavia, ela ainda se mostra através da penitência, que é uma indulgência rebatizada. Através da penitência obtém-se o perdão dos pecados e alivia-se a dor das almas do purgatório. Porém, o Catecismo da Igreja Católica (cân. 1471), citando Paulo VI, ainda explica o termo:

“A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos.”

            As indulgências só podem ser obtidas por mediação da Igreja Católica, pois somente ela tem o poder de ligar e desligar concedido por Cristo (cân. 1478). O perdão oferecido por Deus ao restaurar a sua comunhão com o pecador, conforme o cân. 1473, implica apenas na remissão das penas eternas do pecado, permanecendo as temporais. Ele, porém, não está só, mas pode contar com a comunhão dos santos – os que já estão no céu, os que se encontram no purgatório expiando as suas penas e os que ainda vivem. 
As indulgências sempre foram uma grande fonte de lucro para a Madre Igreja. Os fatos históricos apontam para um uso abusivo do poder sacerdotal de perdoar pecados mediante a confissão auricular e o uso de penitências e indulgências como forma de reparar o mal feito e aliviar as dores no purgatório. No final do século XIII, as indulgências eram concedidas a príncipes seculares por motivos políticos. Depois, mesmo nos seus leitos de morte, as pessoas podiam ingressar no céu mediante o pagamento de indulgências. Nos primeiros seis meses de 1344, o papa Clemente VI outorgou o privilégio das indulgências a duzentas pessoas, só na Inglaterra, ao preço de menos de dez xelins cada, conforme os relatos históricos de Johnson (2001, p. 270 e 280):

A essa altura, o dique se rompeu e as indulgências passaram a ser vendidas em quase todos os eventos eclesiásticos, por somas bastante acessíveis; ou, de fato, distribuídas por papas indulgentes e emotivos... É significativo que os ricos continuassem doando capelas dispendiosas, assegurando, assim, que orações e missas seriam rezadas perpetuamente por suas almas, muito embora a fácil disponibilidade das indulgências plenárias tivesse tornado desnecessária tamanha liberdade. Aqui, evidentemente, entrava mais uma vez o fator da riqueza de classe. As indulgências perderam o valor ao ser colocadas ao alcance dos pobres de maneira geral; a estrada de um homem para a salvação era mais certa se ele pagasse por centenas ou milhares de missas – ou melhor ainda, se investisse sua riqueza de modo a possibilitar que monges fervorosos orassem por ele enquanto o mundo durasse.

Desta forma, então, percebemos mais uma forma de ganhar a salvação para o católico romano. Não é necessário nem mesmo crer em Jesus Cristo para ser salvo pela graça de Deus, mas basta uma quantia em dinheiro capaz de encomendar missas ou contribuir para as obras da igreja. quanto mais nos aprofundamos nas doutrinas católicas a respeito da salvação, mais percebemos o quanto essa depende cada vez menos do agir de Cristo, do mover do Espírito Santo, da graça maravilhosa do Pai. Em seu leito de morte, cônscio dos seus pecados, o pecador encomenda a sua alma a Maria, cumpre uma penitência e assegura que seus entes queridos e seus amigos farão sufrágios por ele após a sua partida.

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