Algo que tem atrapalhado o mover de
Deus na sua igreja e paralisado o crescimento de muitos cristãos é aquilo que
chamamos de tradição e legalismo. Conforme vimos no estudo sobre a graça de
Deus, esses dois problemas surgem nas igrejas e tendem a enquadrar os crentes
dentro de um sistema de práticas exteriores de usos e costumes, que não
encontram respaldo bíblico nem acrescentam nada à nossa espiritualidade.
Para o tradicionalista e legalista, a
espiritualidade é algo meramente externo, como vestimentas, práticas religiosas
e tantos outros atos infrutíferos que veremos a seguir. Mas sabemos que a
espiritualidade é uma obra do Espírito Santo no coração do crente, e não algo
que possamos obter por nós mesmos, pois somos de natureza carnal, pecaminosa.
Somente a graça de Deus em nós pode nos tornar espirituais. É algo que vem de
dentro para fora, e não o contrário.
Usar um terno alinhado, orar de mãos
levantadas, dizer Aleluia o tempo todo, não torna ninguém mais ou
menos crente, a não ser que tudo isso seja fruto de um coração transformado,
que arda de amor por Jesus, um coração que entende que o motivo da sua
existência e a essência do seu chamado é a glorificação de Deus. Um crente
sincero e piedoso, um verdadeiro adorador, é alguém que vive o ideal de João
Batista: “Convém que ele [Cristo] cresça e que eu diminua.” (João 3:30). A
tradição e o legalismo, ao contrário, exaltam o homem por suas prática exteriores
e condicionam a vontade de Deus às suas doutrinas antibíblicas, inflando o ego
do crente e apagando do seu coração a imagem de Jesus.
Vejamos alguns pontos cruciais da
tradição e do legalismo disseminados em muitas congregações.
Roupas
·
Muitas
denominações criam um padrão de vestimenta para os crentes (paletó e gravata,
saia até o tornozelo, não usar bermuda, etc.), acusando os que se vestem de
forma diferente de não serem espirituais ou crentes verdadeiros.
·
Isso
faz parte da natureza do homem, que vê o exterior, mas Deus vê o coração (1
Samuel 16:7).
·
Deus
deseja que nos despojemos do velho homem e nos revistamos do novo (Romanos 6:6;
Efésios 4:20-24; Colossenses 3:9). Deus está preocupado com a transformação do
nosso caráter e não do nosso guarda-roupa. Basta apenas que tenhamos bom sendo
e observemos a decência no vestir.
·
A
vida é muito mais do que vestes (Mateus 6:25).
·
Os
fariseus foram criticados por Jesus por sua religiosidade hipócrita, que
envolvia também as vestes (Marcos 12:38-40).
Casa
de Deus
·
Para
afirmar que a igreja é a casa de Deus, as pessoas citam erradamente o Salmo
122:1 (cf. 2 Crônicas 29:16; Isaías 56:7; Mateus 21:13). A casa de Deus como um
prédio é algo do Antigo Testamento, pois Deus “habitava” no santo dos santos
(Êxodo 26:33; Levítico 16:12). Mas Jesus rasgou o véu que nos separava, como
sacerdote perfeito, e agora temos livre acesso à presença de Deus (Hebreus
9:3-25; 10:19; 13:11)
·
O
correto é que a casa do Senhor somos nós (Hebreus 3:1-6; 1 Pedro 2:5),
edificados para a habitação de Deus no Espírito (Efésios 2:22), do qual nós
somos santuário (1 Coríntios 3:16-17; 6:19).
·
A
igreja não é um prédio, mas os crentes, o verdadeiro corpo de Cristo (1
Coríntios 12:27; Efésios 4:12). Jesus está onde os crentes estiverem reunidos,
num prédio, nas catacumbas, nos lares, em qualquer lugar (Mateus 18:20).
Oração
·
Dependendo
da denominação, existe um jeito certo de orar, uma tonalidade de voz mais
perfeita, uma vestimenta mais decente, uma posição mais correta. Embora a
Bíblia não nos apresente uma doutrina formulada sobre o assunto, a tradição e o
legalismo sempre encontram um meio para dizer o que é certo e o que é errado.
·
Mas
na Bíblia não existe uma fórmula pré-fabricada para a oração. Não existe uma
posição correta de orar, mas várias: de pé (1 Reis 8:22; Marcos 11:25; Lucas
18:11); prostrado (Salmo 95:6); ajoelhado (2 Crônicas 6:13; Salmo 95:6; Lucas
22:41; Atos 20:36); de bruços (Números 16:22; Josué 5:14; 1 Crônicas 21:16;
Mateus 26:39); de mãos espalmadas (Isaías 1:15); de mãos levantadas (Salmo
28:2; Lamentações 2:19; 1 Timóteo 2:8); elevando os olhos na direção de Deus
(Salmo 123); inclinando-se (Gênesis 24:26; Êxodo 4:31; 12:27; 34:8);
ajoelhando-se (1 Reis 8:54; 2 Crônicas 6:13; Esdras 9:5; Isaías 45:23; Daniel
6:10; Lucas 22:41; Atos 7:60; 9:40; 21:5; Efésios 3:14); de rosto em terra
perante o Senhor (Números 20:6; Isaías 5:14; 1 Reis 18:42; 2 Crônicas 20:18;
Mateus 26:39).
Ordem
e decência
·
Cita-se
erradamente o texto de 1 Coríntios 14:40 para falar da reverência no culto,
envolvendo ler a Palavra de Deus de pé, não usar certas roupas, (como bermuda,
p. ex.), louvar em pé, não bater palmas ou dançar, etc. Mas aqui o texto faz
referência a manifestação dos dons espirituais. É certo que precisa haver
limites, mas jamais legalismos.
·
O
que Deus busca é adoradores que o adorem em espírito e em verdade (João 4:23).
Como já dissemos, os tradicionalistas e legalistas reduzem a espiritualidade
humana a práticas meramente exteriores e aparentes.
Batismo
e ceia
·
Não
é somente no catolicismo romano, onde se batizam crianças, que existe
controvérsia com relação ao batismo. Também não é somente no catolicismo que há
erros referentes à ceia do Senhor. Na igreja evangélica também existem alguns
pontos conflitantes.
·
Quem
deve batizar? Todos nós fomos chamados a batizar, e não somente os pastores
(Mateus 28:19).
·
Quem
pode ministrar a ceia? Não há nenhum mandamento afirmando que somente o pastor
da igreja pode celebrar a ceia (Atos 2:42).
·
Não
existe nenhuma referência que impeça as crianças de serem batizadas, caso
tenham aceitado sinceramente a Jesus como Senhor e Salvador, e de receberem a
ceia do Senhor.
·
Não
há nem mesmo na tradição apostólica a prática de dar a ceia somente a quem foi
batizado. Batismo não é condição para tomar a ceia, mas sim uma vida reta
diante de Deus (1 Coríntios 11:26-34).
·
Também
não há nada que impeça as crianças de cearem, a partir do momento em que
consigam compreender o significado da ceia do Senhor e a necessidade do autoexame.
Estilo
musical
·
Há
muita discussão entre as denominações sobre qual a verdadeira forma de adorar a
Deus e quais são as músicas verdadeiramente espirituais. Cantor cristão? Harpa
Cristã? Rock? Rap? Forró? Axé music?
·
Em
primeiro lugar, como avaliar se certo estilo de música (louvor) é ou não espiritual?
O que são os cânticos espirituais citados em Efésios 5:19 e Colossenses 3:16?
·
Cânticos
espirituais têm haver com a glorificação de Deus e com o Espírito Santo. Somos
seres carnais e somente pela manifestação da graça de Deus pelo seu Santo
Espírito nos tornamos espirituais. Logo, espiritualidade não é aquilo que
fazemos, mas aquilo que o Espírito Santo faz em nós. Desse modo, cânticos
espirituais dizem respeito a nossa resposta ao mover do Espírito Santo em nós,
através da transformação do nosso caráter (santidade) que nos leva a sermos
verdadeiros adoradores (João 4:23,24).
·
O
Salmo 150 ainda nos dá uma resposta àqueles que criticam o louvor com vários
tipos de instrumentos e com danças.
Dízimos
e ofertas
·
Está
claro que os crentes devem manter financeiramente o local onde a igreja se
reúne, pois ela não dispõe de outros meios para prover recursos para si, como
ONGs e instituições públicas. Desde os primórdios são os crentes que sustentam
seu local de culto e pagam o salário do pastor. Mas os dízimos e as ofertas não
podem ser vistos como uma doutrina legalista.
·
O
dízimo como pregado em algumas denominações não faz parte da doutrina dos
apóstolos. O texto muito utilizado de Malaquias 3:10 diz respeito a uma
realidade do povo judeu que estava debaixo da lei, e não da graça, e que
deveria manter a casa de Deus (cf. Neemias 10:38; Daniel 1:2). Mas se a casa de
Deus não é mais um templo, mas nós mesmos, deveríamos dar os dízimos a quem?
·
O
nosso mantimento, enquanto casa de Deus, é a Palavra de Deus, a oração e o
enchimento do Espírito.
·
A
palavra “dízimo” só aparece cinco vezes no Novo Testamento, em Mateus 23:23,
Lucas 11:42, Lucas 18:12, Hebreus 7:2 e Hebreus 7:4. Em nenhum desses textos
aparece uma doutrina formulada que obrigue os cristãos, herdeiros da Nova
Aliança, a pagarem o dízimo de 10% de tudo o que adquirir.
·
O
exemplo dos primeiros cristãos em Atos 2:42-45 pode ser imitado, mas não tomado
por doutrina, pois ali aparece um relato histórico de como eles viviam, e não
um mandamento formulado para dízimos e ofertas.
·
A
responsabilidade de contribuir pertence aos membros do corpo de Cristo (Mateus
25:34-46), e a igreja de Corinto entendeu bem isso (2 Coríntios 9:6-15). Mas
essa contribuição deve ser segundo o desejo do coração de cada um (v. 7).
Gíria evangélica
·
Não
é errado que, ao aceitarmos a Jesus e passarmos a frequentar uma congregação e
a ler a Bíblia, o nosso vocabulário sofra alguma mudança, pois acabamos nos
impregnado com a novidade de vida que o Evangelho nos dá. Nosso linguajar muda,
principalmente no que diz respeito às palavras torpes (Efésios 4:29) e a
linguagem obscena (Colossenses 3:8).
·
Mas
alguns crentes querem impor sobre os outros uma “gíria evangélica”, afirmando
que o crente deve falar assim para ser verdadeiramente crente. Logo, não se
contentam com um simples bom dia e se iram se o irmão não lhe disser A paz do Senhor, ou Graça e paz, ou A paz, ou
Deus te abençoe.
·
Nos
cultos públicos, a espiritualidade dos irmãos é medida pela quantidade de “Ô glória! Aleluia! Glória a Deus!”, que falam,
mesmo que mecanicamente, sem verdade e vida.
·
Diante
do inimigo, da doença e da tribulação o crente grita: Está amarrado, em nome de Jesus! Está repreendido! O sangue de Cristo
tem poder!
·
Ao
orar o crente declara: Eu profetizo! (mesmo
sem ter o dom de profecia), Eu declaro! (mesmo
sem ter obtido revelação se Deus já declarou aquilo no céu), Eu não aceito! (sem antes se questionar
dos propósitos de Deus para aquela situação).
·
Estas
gírias denunciam um cristianismo meramente exterior. As pessoas acabam vivendo
uma espiritualidade de aparência, achando que falar essas coisas e agir dessa
forma as torna mais espirituais que as outras.
Culto público
·
Muitos
crentes valorizam mais o culto e o local do culto do que o Deus que deve ser cultuado.
O culto de muitas congregações é algo meramente litúrgico, com palavras e ações
já determinadas, como uma missa: oração, leitura da Bíblia (todos ficam de pé),
louvor (todos “devem” louvar), ofertas, pregação, mais louvor, recados e avisos,
despedida.
·
O
modelo que temos de culto é importado dos Estados Unidos da América e veio com
os primeiros missionários que aqui chegaram, sendo adequado aos nossos próprios
costumes. Ao olharmos para as Escrituras, principalmente para o livro dos Atos
dos apóstolos, não encontraremos modelo algum de culto, senão algumas passagens
falando sobre a ordem e a decência no uso dos dons espirituais (1 Coríntios
14:26-40), a questão dos usos e costumes, como o dever da mulher orar com a
cabeça coberta e não perguntar nada (1 Coríntios 11:1-16), a ceia do Senhor (1
Coríntios 11:17-34).
·
O
culto não pode ser entendido de uma forma meramente litúrgica, apesar de que
uma forma litúrgica possa expressar culto. A forma do culto não é o principal,
mas a sua essência (cf. Isaías 1:1-17).
·
A
legitimidade do culto se dá pela vida das pessoas que cultuam a Deus, pois
culto tem haver com o coração, com a glória de Deus.
·
Se
o nosso caráter não estiver dentro da perspectiva de Deus, o pastor e os
ministros de louvor não passarão de “animadores de auditório”. No culto
precisamos exteriorizar o caráter de Deus. A alegria de servir a Deus e viver
para a sua glória deve se refletir no nosso culto litúrgico. Se o culto não
acontecer primeiramente dentro de nós, estamos apenas perdendo o nosso tempo
nas reuniões dominicais.
Dom de variedade de
línguas
·
Para
muitas denominações, o dom de línguas é superior a todos os outros dons, ao
contrário do que afirma a Palavra de Deus através do apóstolo Paulo (1
Coríntios 14:1-19).
·
Essas
denominações acreditam que somente quem fala em línguas está cheio do Espírito
Santo, que um crente que fala em línguas é mais espiritual que os outros, que
para o crente exercer um ministério na igreja precisa falar em línguas, que
falar em línguas significa “revestimento de poder”, que falar em línguas
significa que o crente foi batizado no Espírito.
·
A
igreja de Corinto se gabava por ter todos os dons, principalmente o dom de
línguas, e Paulo os chamou de carnais (1 Coríntios 3:1-3). E esses crentes de
Corinto, “revestidos de poder”, praticavam toda sorte de pecados na igreja (cf.
1 Coríntios, capítulos 5 e 6).
·
Não
somente o dom de línguas, mas nenhum dom nos torna mais espirituais, pois ele
não é dado por merecimento, mas conforme a vontade do Espírito (1 Coríntios
12:1-11). Dons espirituais são “coisas controladas ou caracterizadas pelo
Espírito” (do grego ton pneumatikon).
·
Os
dons não são dados em proporção à santidade ou qualquer outra coisa, por isso
não podemos afirmar que alguém que possui o dom de línguas ou outros dons é
mais espiritual que os outros. São dons da graça (carismáticos), não há mérito.
Esses
são apenas alguns pontos principais de muitas tradições e legalismos que
emperram a igreja do Senhor, que aprisionam os crentes a crenças inúteis que em
nada contribuem para o crescimento do Reino de Deus e a glorificação do seu
Santo Nome em toda a Terra. Poderíamos ainda falar de outras coisas. Muitas
denominações chegam ao absurdo de impedir que os seus membros pratiquem
esportes, principalmente o futebol, e frequentem praias. Outras apregoam que
não se deve doar sangue; outras não comem carne de porco, não violam o sábado
como se fossem judeus.
Há
dois mil anos atrás Jesus já combatia esse tipo de religião feita de práticas
exteriores, usadas para esconder um interior sujo e fétido, como sepulcros
caiados. Os fariseus talvez sejam a fonte de inspiração dos que criam tradições
e legalismos nas igrejas (cf. Mateus 23 e Lucas 6 e 11). Deus não está
preocupado com essas coisas, Ele está mais preocupado com o nosso interior, com
a nossa santidade. Ele quer ver os seus filhos se santificando, amando uns aos
outros fraternalmente, cumprindo os seus mandamentos, pregando a sua Palavra,
glorificando o seu Nome Santo.
Existe
um único culpado por detrás disso tudo, além do diabo: a falta de conhecimento
da Palavra de Deus. Os crentes não leem e Bíblia, não a estudam. É mais fácil
aceitar as coisas como são, crer que o que o seu líder fala é o correto e não
há mais o que ver. É tudo muito superficial e acaba-se engolindo qualquer
coisa, como os crentes da Galácia (Gálatas 1:16-9; 3:1-5). Ao contrário disso,
deveríamos ser todos crentes bereianos, recebendo a doutrina que nos é pregada
e examinando as Escrituras para ver se de fato as coisas são realmente assim ou
se estamos dando ouvidos a heresias (Atos 17:10,11).
Mizael de Souza Xavier
14 de junho de 2008
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