NONA PARTE
9.2 O
perdão de Deus
Quando conhecemos sobre o perdão de
Deus e o seu significado para a humanidade, toda a doutrina romanista acerca do
purgatório, das indulgências e do sacrifício da Missa caem por terra. Do perdão
parcial, limitado e condicional pregado pela igreja de Roma, passamos para o
perdão total ensinado pela Bíblia, o que nos leva a concluir que tudo o que
Roma prega a respeito de suas doutrinas é falso, anátema. Mesmo que seus pontífices
insistam em apelar para a Tradição e para a vida “piedosa” de seus santos e
seus escritos, a falsidade destas doutrinas não se anula, pois a palavra de
homens, que ano a ano mudam de acordo com suas conveniências, não pode anular
ou refutar o que está escrito no Livro da Vida, escrito por Deus através de
pessoas inspiradas pelo seu Santo Espírito. A Bíblia como um todo se mantêm
intacta até os dias de hoje, desde quando foi formulado o seu cânon. Os
concílios ecumênicos se contradizem e refutam-se uns aos outros. É o caso do
Concílio do Vaticano II que devolveu à celebração da Missa a língua pátria,
proibida pelo concílio de Trento, que dizia que a Missa não deveria ser rezada
na língua vulgar de cada povo, mas somente em latim.
O
perdão conforme o conhecemos na Bíblia, manifesta o caráter de Deus e os seus
atributos divinos: sua compaixão (Miquéias 7:18,19), sua graça (Romanos
5:15,16), sua misericórdia (Êxodo 34:7; Salmo 51:1), sua bondade (2 Crônicas
30:18; Salmo 86:5), sua paciência (Romanos 5:25), sua benignidade (Salmo 51:1),
sua justiça (1 João 1:9) e sua fidelidade (1 João 1:9). Isto nos leva a crer
que, caso aceitemos a doutrina romanista do purgatório, teremos de aceitar que
Deus é sem compaixão, isento de graça, sem misericórdia, maldoso, impaciente,
maligno, injusto e infiel. Isto é, Deus negaria a si próprio, pois “Fiel é a
palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos,
também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos
infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”
(2 Timóteo 2:11-13).
Errar
é humano – como diz o adágio popular – mas perdoar é divino (Isaías 43:25;
44:22; Miquéias 7:18; 1 João 1:9). Este perdão foi prometido por Deus (Isaías
1:18; Jeremias 31:34; 50:20; Hebreus 8:12), porém ele não poderia existir sem
derramamento de sangue (Levítico 17:11; Hebreus 9:22). Os sacrifícios
instituídos por Deus na Lei entregue a Moisés, bem como as purificações
externas, mostraram-se ineficazes, pois eram práticas exteriores que não
ocasionavam mudança de caráter, como as indulgências no passado e as
penitências hoje (Hebreus 10:4; Jó 9:30,31; Jeremias 2:22). Afirmar que nossas
obras feitas em nosso próprio favor (missas, esmolas, etc.) ou em favor das
almas do purgatório podem aliviar os nossos pecados e as nossas dores nesta
prisão, é retornar a antiga prática judaica, prática externa sempre criticada
por Jesus Cristo. Os sacrifícios de outrora foram aperfeiçoados por Cristo ao
se entregar como cordeiro pascal para morrer propiciatoriamente na cruz para
nos salvar. Só o sangue de Jesus é eficaz para o nosso perdão, independente de
nossas obras ao nosso favor (Zacarias 13:1; 1 João 1:7; Efésios 2:8,9).
Mas
como este perdão é, então, outorgado? Aqui não estamos falando do perdão que
devemos uns aos outros, mas do perdão de Deus que nos purifica e nos santifica.
Quando pecamos contra alguém, este pode nos perdoar, mesmo que não manifestemos
arrependimento. Mas Deus quer que nos arrependamos para que Ele nos perdoe, que
manifestemos este arrependimento com palavras, choro e atitudes, não para
reparar o mal, mas para mostrar que de fato queremos mudar. O perdão é, então,
outorgado por Ele somente (Daniel 9:9; Marcos 2:7) e por Cristo das seguintes
formas: por meio dele (Lucas 1:60,77; 7:48; Atos 5:31; 13:38; Marcos 2:5); por
meio do seu sangue (Mateus 26:28; Romanos 3:25; Colossenses 1:14); em seu Nome
(1 João 2:12); segundo a riqueza da sua graça (Efésios 1:7), sendo Ele exaltado
(Atos 5:31).
Como
se pode ver através desses poucos textos tirados das Sagradas Escrituras, o
perdão de Deus não é outorgado por merecimento do pecador penitente, por
promessas, rezas do rosário, batismo, procissões, mortificações, sacramentos,
indulgências ou rituais. Deus o dá livremente, sem passar pelo liga-desliga do
papa (Isaías 43:25); prontamente, sem esperar a intercessão da Virgem Maria
(Neemias 9:17; Salmo 86:5) e abundantemente, sem se utilizar dos pretensos
“tesouros da igreja” católica romana (Isaías 55:7; Romanos 5:20). Mas Ele não o
dá aos que o pretendem comprar à base de indulgências, ativas ou passivas (por
pecados passados, presentes e futuros), mas aos que confessam os seus pecados
(2 Samuel 12:13; Salmo 32:5; 1 João 1:9), creem em Jesus Cristo (Atos 10:43) e
se arrependem (Atos 2:38).
Todos
os santos desfrutam do perdão de Deus (Colossenses 2:13; 1 João2:12), pois foi
com esta finalidade que Cristo morreu na cruz para nos salvar. Este perdão, que
em tudo difere do perdão emitido pelo sacerdote na confissão auricular, é
expresso na Bíblia das seguintes maneiras:
9.2.1 Perdão
da transgressão
A transgressão
confessada é perdoada, incondicionalmente, sem necessidade de reparação ou
castigo. A purificação se dará através do Espírito Santo de Deus e de uma
prática contínua da justiça divina, pela oração, leitura, pregação e vivência
da Palavra. Estes, porém, não são condições ao perdão, mas frutos deste mesmo
perdão que promove um renovo no espírito humano. O cristão é purificado no perdão
e não depois dele. O perdão de Deus promove uma lavagem regeneradora na vida do
pecador e lhe dá a certeza da esperança da vida eterna. Paulo escreveu a Tito
(3:3-7):
Pois nós também,
outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de
paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja e odiando-nos uns aos outros.
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu
amor para com os homens, não por obras de justiça praticadas por nós, mas
segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de
Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados pela graça, nos tornemos seus
herdeiros, segundo a esperança eterna.
Vê-se
claramente nesse texto inspirado pelo Espírito Santo e escrito pelo apóstolo
Paulo, que em Cristo Deus nos perdoa dos nossos pecados e nos regenera. Esse
lavar não provém de um fogo purificador após a morte ou de obras praticadas por
nós mesmos, mas pela ação direta e suficiente do Espírito Santo. O apóstolo não
faz separação entre pecados veniais e mortais, mas declara que o lavar
regenerador de Deus é eficaz e produz a certeza da esperança eterna. Nada há
mais a ser purgado, pois o Espírito Santo é derramado sobre a vida do crente
“ricamente”.
9.2.2 Remoção
da transgressão
Conforme reza o
catolicismo romano, apesar de perdoado, o fiel ainda deve praticar certas obras
e rituais a fim de apagar a mancha que o pecado deixou em sua alma, a fim de satisfazer
a justiça divina. Todavia, biblicamente, a transgressão do pecador é removida,
isto é, já não encontra mais lugar na sua alma, no seu coração; Deus não
continua a olhá-lo com olhares reprovadores, esperando que ele purgue suas
penas nesta vida e na próxima. Assim se expressa Davi, profundo conhecedor do
perdão e da misericórdia de Deus (Salmo 103:8-12):
O Senhor é
misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende
perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os
nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades. Pois quanto o
céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que
o temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas
transgressões.
9.2.3 Desaparecimento
da transgressão
Deus não somente
remove a transgressão, mas também faz com que ela desapareça. A Bíblia nos fala
sobre “névoa” e “nuvem” (Isaías 44:22). Quando o sol da Justiça brilha sobre o
pecador e a sua luz ilumina seu coração, seus pecados se dissipam e
desaparecem. A doutrina do purgatório limita essa Luz divina e obscurece o
perdão de Deus, deixando o pecador desnorteado nas trevas do medo e da dúvida.
A palavra “remissão” significa o ato de “remitir” uma dívida, isto é, perdoar. E
ainda “resgatar”, libertar algo ou alguém mediante um preço. E foi isso que
Cristo fez por nós, conforme lemos em Tito 2:11-14:
Porquanto a graça
de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que,
renegadas e impiedade e as paixões mundanas, vivemos, no presente século,
sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação
da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se
deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar para si mesmo um
povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
A
vida de Cristo nos foi dada em resgate (1 Timóteo 2:6), para que por meio dele
fôssemos feitos filhos de Deus. O escrito de dívida que era contra nós foi
cancelado (Colossenses 2:14) e agora somos libertos da Lei e do pecado. Quando
Deus olha para o remido, Ele não enxerga mais pecado algum, mas o sangue de seu
precioso Filho derramado na cruz. Ele se lembra que aquele seu filho, por mais
que possa vir a pecar, já está salvo e longe de qualquer condenação (Romanos
8:1).
9.2.4 Cobertura
do pecado
O salmista considera
por feliz aquele cuja iniquidade é perdoada e cujo pecado é coberto (Salmo
32:10; Romanos 4:7), o que nos remete à expiação de Cristo (Salmo 32:1; Romanos
4:7). Por que Deus cobre nossos pecados? Certamente porque já não quer mais
olhar para eles. E que coberta é esta que se põe entre nossos pecados e os
olhos de Deus? É o sangue de Cristo purificador e salvador, que lava a alma do
pecador e o torna apto a participar da família divina. O purgatório insiste em
deixar o pecador descoberto, necessitando “fechar os olhos de Deus” com obras
de caridade, missas e sufrágios. Todavia, conforme vimos no Salmo 103, Deus não
nos trata segundo nossos pecados. Se Deus fosse levar em conta os pecados que
cometemos, estaríamos irremediavelmente perdidos. Mas é o sangue de Cristo
derramado na cruz que Ele enxerga, é seu Filho morrendo por nós que ele vê e
por isso nos oferece sua misericórdia e seu perdão.
9.2.5 Cancelamento
dos pecados
Se disséssemos apenas
que Deus remove ou cobre nossas transgressões, ainda assim poder-se-ia
argumentar que elas permaneceriam ainda existentes; escondidas somente por
breve tempo, esperando o momento de aflorarem para sermos cobrados. Isto é:
Deus “passaria na cara” do pecador suas transgressões. Mas os pecados são
realmente cancelados. Este cancelamento não se segue após sufrágios e
penitências, antes ou depois da morte do pecador, mas ao arrependimento e a
conversão do ímpio, conforme está escrito não na Tradição católica, mas na
Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo: “Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19). Esta é a
matemática de Deus: arrependimento + conversão = cancelamento dos pecados.
9.2.6 Lançamento
dos pecados no mar
Um dos textos que mais
profundamente expressa o perdão de Deus na Bíblia está em Miqueias 7:18,19:
Quem, ó Deus, é
semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do
restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem
prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as
nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.
Este texto vem reforçar ainda mais a ideia de que Deus
deseja que o pecador arrependido viva uma vida nova e santa, longe de seus
pecados da antiga vida. O que se pode ver de algo que foi lançado “nas
profundezas do mar”? Talvez esse versículo queira nos mostrar duas coisas: que
nossos pecados estão bem distantes da lembrança e dos olhos de Deus, e que
devemos, também, considerá-los assim. O comentário da Bíblia Shedd assim
escreve a respeito do texto de Miqueias: “Os pecados perdoados por Deus nunca
mais poderão nos acusar, por muito que Satanás assim o queira; seu castigo,
suas consequências eternas, até suas marcas no caráter, o próprio Deus apaga
pelo sacrifício de Cristo na cruz (Rm 8.31-49)”.
Ao contrário disto, a
doutrina romanista do purgatório e da autoexpiação insiste que o cristão deve
ter em mente sempre os seus pecados para que possa purgá-los. Isto faz com que
ele jamais se sinta perdoado, mesmo que esteja sinceramente arrependido. Após
morrer, ainda que sua fé em Jesus tenha sido sincera e seu arrependimento
genuíno, não escapará do fogo do purgatório. Essa insistência em considerar os
pecados mesmo após o crente tê-los confessado, não permite que ele seja uma
nova criatura, pois o velho homem sempre o acompanhará de perto, sendo
necessário ser constantemente purgado através de obras. A Bíblia considera que
a carne continua acompanhando o crente em sua jornada terrena, mas ela deve ser
mortificada pelo Espírito Santo e não pelas próprias mãos do convertido.
9.2.7 Não
imputação de pecado
O texto de Romanos
4:8 – que nos remete ao Salmo 32:1,2 – diz que os pecados são perdoados,
cobertos e jamais imputados ao crente. Isto é para o cristão motivo de alegria.
Não admira, então, muitos católicos, inclusive ilustres e conhecidos santos,
viverem uma vida triste e ansiosa, imaginado se todas as suas mortificações e
sacrifícios serão o bastante para livrá-los do sofrimento eterno. Por não
acreditarem no perdão definitivo e irrevogável de Deus, jamais poderão ter
certeza da salvação, tão importante ao convertido, certeza que lhe dá a máxima
segurança da morada eterna ao lado do Pai. Esta incerteza não permite ao
católico viver uma vida cristã plena e em abundância. Ele jamais poderá ser um
bem-aventurado como o descrito no texto citado.
9.2.8 Não
menção da transgressão
O profeta fala a
respeito da conversão do perverso, que encontra vida a partir do momento que se
converte de todos os pecados por ele cometidos. Essa conversão, que o leva a
fazer o que é certo, tem como consequência certa o perdão: “De todas as
transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que
praticou, viverá” Ezequiel 18:22). A justiça está na conversão que produz
novidade de vida. Se Deus se esquece das transgressões cometidas, está certo
que Ele jamais fará menção delas. A mente de Deus trabalha diferentemente do
que pretende o catolicismo romano. Deus pensa com a mente da graça que perdoa.
O Deus idealizado pelos santos padres da igreja romana não consegue perdoar
totalmente e por isso a necessidade de satisfação constante pelos pecados
cometidos antes e depois da conversão.
9.2.9 Esquecimento
do pecado
O autor do livro de
Hebreus procura deixar bastante claro aos seus leitores que a expiação de
Cristo foi suficiente, perfeita e eterna e que por isso não existe mais a necessidade
das obras da Lei. Ele nos atesta claramente que, em Cristo, de nenhum modo Deus
se lembrará dos pecados perdoados “para sempre” (Hebreus 10:16,17). Este perdão
é definitivo e irrevogável. O escrito de dívida contra nós é cancelado. O v.18
acrescenta que “onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado”.
Portanto, Deus não
pede que seja feita uma reparação pelo pecado que ele já esqueceu e jogou nas
profundezas do mar do esquecimento. Ele não continua a nos culpar de algo que
já nos perdoou, pois o seu perdão é eterno e perfeito. Nossos pecados quando
confessados são esquecidos, desaparecem e não nos são mais imputados, pois Deus
olha para nós e vê o sangue do Seu Filho derramado para nos perdoar e salvar. Porém,
Deus tem uma finalidade ao nos perdoar, assim como tem ao nos salvar (cf.
Efésios 2:8-10). O perdão de Deus deve nos conduzir de volta a Ele (Isaías
44:22), ao seu amor (Lucas 7:47), ao seu temor (Salmo 130:4), ao seu louvor
(Salmo 103:2,3). Como poderá alguém fazer isso depois de morto? Como aceitar
que tenhamos que descer ao purgatório para fazer o que em vida não fizemos?
Como servir a Deus em um lugar onde Ele não se encontra? Como aceitar que Deus
é incapaz de nos perdoar?
Bom estudo, parabéns!
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