quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS VÁRIOS MEIOS DE SALVAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA - nona parte


NONA PARTE


9.2 O perdão de Deus


            Quando conhecemos sobre o perdão de Deus e o seu significado para a humanidade, toda a doutrina romanista acerca do purgatório, das indulgências e do sacrifício da Missa caem por terra. Do perdão parcial, limitado e condicional pregado pela igreja de Roma, passamos para o perdão total ensinado pela Bíblia, o que nos leva a concluir que tudo o que Roma prega a respeito de suas doutrinas é falso, anátema. Mesmo que seus pontífices insistam em apelar para a Tradição e para a vida “piedosa” de seus santos e seus escritos, a falsidade destas doutrinas não se anula, pois a palavra de homens, que ano a ano mudam de acordo com suas conveniências, não pode anular ou refutar o que está escrito no Livro da Vida, escrito por Deus através de pessoas inspiradas pelo seu Santo Espírito. A Bíblia como um todo se mantêm intacta até os dias de hoje, desde quando foi formulado o seu cânon. Os concílios ecumênicos se contradizem e refutam-se uns aos outros. É o caso do Concílio do Vaticano II que devolveu à celebração da Missa a língua pátria, proibida pelo concílio de Trento, que dizia que a Missa não deveria ser rezada na língua vulgar de cada povo, mas somente em latim.
            O perdão conforme o conhecemos na Bíblia, manifesta o caráter de Deus e os seus atributos divinos: sua compaixão (Miquéias 7:18,19), sua graça (Romanos 5:15,16), sua misericórdia (Êxodo 34:7; Salmo 51:1), sua bondade (2 Crônicas 30:18; Salmo 86:5), sua paciência (Romanos 5:25), sua benignidade (Salmo 51:1), sua justiça (1 João 1:9) e sua fidelidade (1 João 1:9). Isto nos leva a crer que, caso aceitemos a doutrina romanista do purgatório, teremos de aceitar que Deus é sem compaixão, isento de graça, sem misericórdia, maldoso, impaciente, maligno, injusto e infiel. Isto é, Deus negaria a si próprio, pois “Fiel é a palavra: Se já morremos com ele, também viveremos com ele; se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará; se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (2 Timóteo 2:11-13).
            Errar é humano – como diz o adágio popular – mas perdoar é divino (Isaías 43:25; 44:22; Miquéias 7:18; 1 João 1:9). Este perdão foi prometido por Deus (Isaías 1:18; Jeremias 31:34; 50:20; Hebreus 8:12), porém ele não poderia existir sem derramamento de sangue (Levítico 17:11; Hebreus 9:22). Os sacrifícios instituídos por Deus na Lei entregue a Moisés, bem como as purificações externas, mostraram-se ineficazes, pois eram práticas exteriores que não ocasionavam mudança de caráter, como as indulgências no passado e as penitências hoje (Hebreus 10:4; Jó 9:30,31; Jeremias 2:22). Afirmar que nossas obras feitas em nosso próprio favor (missas, esmolas, etc.) ou em favor das almas do purgatório podem aliviar os nossos pecados e as nossas dores nesta prisão, é retornar a antiga prática judaica, prática externa sempre criticada por Jesus Cristo. Os sacrifícios de outrora foram aperfeiçoados por Cristo ao se entregar como cordeiro pascal para morrer propiciatoriamente na cruz para nos salvar. Só o sangue de Jesus é eficaz para o nosso perdão, independente de nossas obras ao nosso favor (Zacarias 13:1; 1 João 1:7; Efésios 2:8,9).
            Mas como este perdão é, então, outorgado? Aqui não estamos falando do perdão que devemos uns aos outros, mas do perdão de Deus que nos purifica e nos santifica. Quando pecamos contra alguém, este pode nos perdoar, mesmo que não manifestemos arrependimento. Mas Deus quer que nos arrependamos para que Ele nos perdoe, que manifestemos este arrependimento com palavras, choro e atitudes, não para reparar o mal, mas para mostrar que de fato queremos mudar. O perdão é, então, outorgado por Ele somente (Daniel 9:9; Marcos 2:7) e por Cristo das seguintes formas: por meio dele (Lucas 1:60,77; 7:48; Atos 5:31; 13:38; Marcos 2:5); por meio do seu sangue (Mateus 26:28; Romanos 3:25; Colossenses 1:14); em seu Nome (1 João 2:12); segundo a riqueza da sua graça (Efésios 1:7), sendo Ele exaltado (Atos 5:31).
            Como se pode ver através desses poucos textos tirados das Sagradas Escrituras, o perdão de Deus não é outorgado por merecimento do pecador penitente, por promessas, rezas do rosário, batismo, procissões, mortificações, sacramentos, indulgências ou rituais. Deus o dá livremente, sem passar pelo liga-desliga do papa (Isaías 43:25); prontamente, sem esperar a intercessão da Virgem Maria (Neemias 9:17; Salmo 86:5) e abundantemente, sem se utilizar dos pretensos “tesouros da igreja” católica romana (Isaías 55:7; Romanos 5:20). Mas Ele não o dá aos que o pretendem comprar à base de indulgências, ativas ou passivas (por pecados passados, presentes e futuros), mas aos que confessam os seus pecados (2 Samuel 12:13; Salmo 32:5; 1 João 1:9), creem em Jesus Cristo (Atos 10:43) e se arrependem (Atos 2:38).
            Todos os santos desfrutam do perdão de Deus (Colossenses 2:13; 1 João2:12), pois foi com esta finalidade que Cristo morreu na cruz para nos salvar. Este perdão, que em tudo difere do perdão emitido pelo sacerdote na confissão auricular, é expresso na Bíblia das seguintes maneiras:


9.2.1 Perdão da transgressão


A transgressão confessada é perdoada, incondicionalmente, sem necessidade de reparação ou castigo. A purificação se dará através do Espírito Santo de Deus e de uma prática contínua da justiça divina, pela oração, leitura, pregação e vivência da Palavra. Estes, porém, não são condições ao perdão, mas frutos deste mesmo perdão que promove um renovo no espírito humano. O cristão é purificado no perdão e não depois dele. O perdão de Deus promove uma lavagem regeneradora na vida do pecador e lhe dá a certeza da esperança da vida eterna. Paulo escreveu a Tito (3:3-7):

Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja e odiando-nos uns aos outros. Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Cristo nosso Salvador, a fim de que, justificados pela graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança eterna.

            Vê-se claramente nesse texto inspirado pelo Espírito Santo e escrito pelo apóstolo Paulo, que em Cristo Deus nos perdoa dos nossos pecados e nos regenera. Esse lavar não provém de um fogo purificador após a morte ou de obras praticadas por nós mesmos, mas pela ação direta e suficiente do Espírito Santo. O apóstolo não faz separação entre pecados veniais e mortais, mas declara que o lavar regenerador de Deus é eficaz e produz a certeza da esperança eterna. Nada há mais a ser purgado, pois o Espírito Santo é derramado sobre a vida do crente “ricamente”.


9.2.2 Remoção da transgressão


Conforme reza o catolicismo romano, apesar de perdoado, o fiel ainda deve praticar certas obras e rituais a fim de apagar a mancha que o pecado deixou em sua alma, a fim de satisfazer a justiça divina. Todavia, biblicamente, a transgressão do pecador é removida, isto é, já não encontra mais lugar na sua alma, no seu coração; Deus não continua a olhá-lo com olhares reprovadores, esperando que ele purgue suas penas nesta vida e na próxima. Assim se expressa Davi, profundo conhecedor do perdão e da misericórdia de Deus (Salmo 103:8-12):

O Senhor é misericordioso e compassivo; longânimo e assaz benigno. Não repreende perpetuamente, nem conserva para sempre a sua ira. Não nos trata segundo os nossos pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniquidades. Pois quanto o céu se alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem. Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões.

           
9.2.3 Desaparecimento da transgressão


Deus não somente remove a transgressão, mas também faz com que ela desapareça. A Bíblia nos fala sobre “névoa” e “nuvem” (Isaías 44:22). Quando o sol da Justiça brilha sobre o pecador e a sua luz ilumina seu coração, seus pecados se dissipam e desaparecem. A doutrina do purgatório limita essa Luz divina e obscurece o perdão de Deus, deixando o pecador desnorteado nas trevas do medo e da dúvida. A palavra “remissão” significa o ato de “remitir” uma dívida, isto é, perdoar. E ainda “resgatar”, libertar algo ou alguém mediante um preço. E foi isso que Cristo fez por nós, conforme lemos em Tito 2:11-14:

Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas e impiedade e as paixões mundanas, vivemos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.

            A vida de Cristo nos foi dada em resgate (1 Timóteo 2:6), para que por meio dele fôssemos feitos filhos de Deus. O escrito de dívida que era contra nós foi cancelado (Colossenses 2:14) e agora somos libertos da Lei e do pecado. Quando Deus olha para o remido, Ele não enxerga mais pecado algum, mas o sangue de seu precioso Filho derramado na cruz. Ele se lembra que aquele seu filho, por mais que possa vir a pecar, já está salvo e longe de qualquer condenação (Romanos 8:1).


9.2.4 Cobertura do pecado


O salmista considera por feliz aquele cuja iniquidade é perdoada e cujo pecado é coberto (Salmo 32:10; Romanos 4:7), o que nos remete à expiação de Cristo (Salmo 32:1; Romanos 4:7). Por que Deus cobre nossos pecados? Certamente porque já não quer mais olhar para eles. E que coberta é esta que se põe entre nossos pecados e os olhos de Deus? É o sangue de Cristo purificador e salvador, que lava a alma do pecador e o torna apto a participar da família divina. O purgatório insiste em deixar o pecador descoberto, necessitando “fechar os olhos de Deus” com obras de caridade, missas e sufrágios. Todavia, conforme vimos no Salmo 103, Deus não nos trata segundo nossos pecados. Se Deus fosse levar em conta os pecados que cometemos, estaríamos irremediavelmente perdidos. Mas é o sangue de Cristo derramado na cruz que Ele enxerga, é seu Filho morrendo por nós que ele vê e por isso nos oferece sua misericórdia e seu perdão.


9.2.5 Cancelamento dos pecados


Se disséssemos apenas que Deus remove ou cobre nossas transgressões, ainda assim poder-se-ia argumentar que elas permaneceriam ainda existentes; escondidas somente por breve tempo, esperando o momento de aflorarem para sermos cobrados. Isto é: Deus “passaria na cara” do pecador suas transgressões. Mas os pecados são realmente cancelados. Este cancelamento não se segue após sufrágios e penitências, antes ou depois da morte do pecador, mas ao arrependimento e a conversão do ímpio, conforme está escrito não na Tradição católica, mas na Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados” (Atos 3:19). Esta é a matemática de Deus: arrependimento + conversão = cancelamento dos pecados.


9.2.6 Lançamento dos pecados no mar


Um dos textos que mais profundamente expressa o perdão de Deus na Bíblia está em Miqueias 7:18,19:

Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do restante da tua herança? O Senhor não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na misericórdia. Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar.

Este texto vem  reforçar ainda mais a ideia de que Deus deseja que o pecador arrependido viva uma vida nova e santa, longe de seus pecados da antiga vida. O que se pode ver de algo que foi lançado “nas profundezas do mar”? Talvez esse versículo queira nos mostrar duas coisas: que nossos pecados estão bem distantes da lembrança e dos olhos de Deus, e que devemos, também, considerá-los assim. O comentário da Bíblia Shedd assim escreve a respeito do texto de Miqueias: “Os pecados perdoados por Deus nunca mais poderão nos acusar, por muito que Satanás assim o queira; seu castigo, suas consequências eternas, até suas marcas no caráter, o próprio Deus apaga pelo sacrifício de Cristo na cruz (Rm 8.31-49)”.
Ao contrário disto, a doutrina romanista do purgatório e da autoexpiação insiste que o cristão deve ter em mente sempre os seus pecados para que possa purgá-los. Isto faz com que ele jamais se sinta perdoado, mesmo que esteja sinceramente arrependido. Após morrer, ainda que sua fé em Jesus tenha sido sincera e seu arrependimento genuíno, não escapará do fogo do purgatório. Essa insistência em considerar os pecados mesmo após o crente tê-los confessado, não permite que ele seja uma nova criatura, pois o velho homem sempre o acompanhará de perto, sendo necessário ser constantemente purgado através de obras. A Bíblia considera que a carne continua acompanhando o crente em sua jornada terrena, mas ela deve ser mortificada pelo Espírito Santo e não pelas próprias mãos do convertido.


9.2.7 Não imputação de pecado


O texto de Romanos 4:8 – que nos remete ao Salmo 32:1,2 – diz que os pecados são perdoados, cobertos e jamais imputados ao crente. Isto é para o cristão motivo de alegria. Não admira, então, muitos católicos, inclusive ilustres e conhecidos santos, viverem uma vida triste e ansiosa, imaginado se todas as suas mortificações e sacrifícios serão o bastante para livrá-los do sofrimento eterno. Por não acreditarem no perdão definitivo e irrevogável de Deus, jamais poderão ter certeza da salvação, tão importante ao convertido, certeza que lhe dá a máxima segurança da morada eterna ao lado do Pai. Esta incerteza não permite ao católico viver uma vida cristã plena e em abundância. Ele jamais poderá ser um bem-aventurado como o descrito no texto citado.


9.2.8 Não menção da transgressão


O profeta fala a respeito da conversão do perverso, que encontra vida a partir do momento que se converte de todos os pecados por ele cometidos. Essa conversão, que o leva a fazer o que é certo, tem como consequência certa o perdão: “De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou, viverá” Ezequiel 18:22). A justiça está na conversão que produz novidade de vida. Se Deus se esquece das transgressões cometidas, está certo que Ele jamais fará menção delas. A mente de Deus trabalha diferentemente do que pretende o catolicismo romano. Deus pensa com a mente da graça que perdoa. O Deus idealizado pelos santos padres da igreja romana não consegue perdoar totalmente e por isso a necessidade de satisfação constante pelos pecados cometidos antes e depois da conversão.


9.2.9 Esquecimento do pecado


O autor do livro de Hebreus procura deixar bastante claro aos seus leitores que a expiação de Cristo foi suficiente, perfeita e eterna e que por isso não existe mais a necessidade das obras da Lei. Ele nos atesta claramente que, em Cristo, de nenhum modo Deus se lembrará dos pecados perdoados “para sempre” (Hebreus 10:16,17). Este perdão é definitivo e irrevogável. O escrito de dívida contra nós é cancelado. O v.18 acrescenta que “onde há remissão destes, já não há oferta pelo pecado”.
Portanto, Deus não pede que seja feita uma reparação pelo pecado que ele já esqueceu e jogou nas profundezas do mar do esquecimento. Ele não continua a nos culpar de algo que já nos perdoou, pois o seu perdão é eterno e perfeito. Nossos pecados quando confessados são esquecidos, desaparecem e não nos são mais imputados, pois Deus olha para nós e vê o sangue do Seu Filho derramado para nos perdoar e salvar. Porém, Deus tem uma finalidade ao nos perdoar, assim como tem ao nos salvar (cf. Efésios 2:8-10). O perdão de Deus deve nos conduzir de volta a Ele (Isaías 44:22), ao seu amor (Lucas 7:47), ao seu temor (Salmo 130:4), ao seu louvor (Salmo 103:2,3). Como poderá alguém fazer isso depois de morto? Como aceitar que tenhamos que descer ao purgatório para fazer o que em vida não fizemos? Como servir a Deus em um lugar onde Ele não se encontra? Como aceitar que Deus é incapaz de nos perdoar?

Um comentário:

Por favor, jamais comente anonimamente. Escrevi publicamente e sem medo. Faça o mesmo ao comentar. Grato.