No
capítulo anterior, Paulo falou a respeito da justificação pela fé por meio da
graça de Deus em Cristo Jesus. Aquilo que a queda destruiu – a minha comunhão
com Deus – Jesus Cristo restaurou por meio da sua morte vicária na cruz. A lei
do pecado foi substituída pela abundante graça de Deus na minha vida. Se no
pecado eu estava morto, agora estou vivo na graça pela justiça para a vida
eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor (5:20,21).
O
capítulo seis me leva a pensar: ora, já que estou debaixo da superabundante
graça de Deus e não estou mais sujeito à lei do pecado, e já que estou salvo,
longe de qualquer condenação (8:10), então posso continuar pecando. Quanto mais
eu pecar, mais serei alvo da misericórdia e da graça de Deus, pois Cristo já
perdoou todos os meus pecados na cruz. O apóstolo Paulo mostra que este
pensamento revela tão somente a minha insensatez. Como posso viver no pecado se
estou morto para ele? Assim como Cristo morreu e ressuscitou para a glória, eu
também morri para o mundo e ressuscitei para Cristo; agora vivo em novidade de
vida.
Quando
Paulo fala que com Cristo foi crucificado o meu velho homem (v. 6), entendo que
aquilo que eu era não existe mais. O sangue de Cristo me purificou e me deu
vida, justificando-me do pecado. Se meu pecado está morto na cruz, ele já não
faz mais parte da minha vida. Morto para o pecado, estou vivo para Deus em
Cristo Jesus. A minha existência no passado era uma existência sem vida, sem
rumo, perdida em meio aos meus pecados, à vontade da minha carne, que reinava
sobre mim e me dominava. De que forma eu poderia resistir? Nenhuma, até o
momento em que a vida de Cristo transformou o meu estado de morte em vida
abundante. Aquilo que eu jamais poderia fazer, o Senhor Jesus fez por mim.
A
minha nova vida dada por Cristo não me permite viver mais do modo em que eu
vivia. No meu corpo, que Paulo explicita que é mortal (ao contrário do meu
espírito que é imortal), não deve reinar o pecado. O fato de Paulo estar
dizendo isto significa que há a possibilidade de eu dar lugar à carne e
desprezar a voz do Espírito Santo, ao mover de Deus dentro de mim. Ao
contrário, devo oferecer o meu corpo a Deus e os meus membros como instrumento
de justiça (v. 13). Isto só é possível porque Cristo morreu na cruz pelos meus
pecados, no meu lugar, permitindo que o pecado não tenha mais domínio sobre
mim. Somente a graça de Deus faz com que eu escolha não pecar, porque em mim
não habita nada de bom e tudo o que sou e faço é porque Deus opera em mim.
A
minha nova vida em Cristo não objetiva apenas me livrar da prática do pecado.
Não é somente deixar de fazer o que é mal que se constitui a minha conversão,
mas passar a fazer o que é correto. Paulo diz; “Assim como oferecestes os
vossos membros para a escravidão da impureza e da maldade para a maldade, assim
oferecei, agora, os vossos membros para servirem à justiça para a santificação”
(v. 19). Como nova criatura em Cristo, devo oferecer-me a Deus como servo da
justiça para a santificação. Esta justiça não poderia ser alcançada senão por
Cristo, e a minha atitude de obediência a ela não poderia jamais partir de mim
mesmo. O que eu fazia no passado para nada servia, senão para me envergonhar
agora. Agora, porém, sendo justificado por Deus e liberto do pecado, sou capaz,
por meio de Cristo, a frutificar para a salvação, tendo no fim a vida eterna.
O
capítulo sete vem apenas reforçar a ideia do pecado da lei em contraste com a
justiça da graça. Assim como o marido e a esposa estão ligados enquanto
viverem, eu estava ligado à lei. Contudo, não estou mais vivo para a lei, para a
qual morri em Cristo, mas agora pertenço a Deus, para o qual eu devo
frutificar. Que frutos eu dava enquanto pecador errante no mundo? Como era a
vida de alguém vendido à escravidão do pecado? A graça de Deus transformou essa
realidade de morte na minha vida, de modo que agora eu posso servir a Deus em
novidade de espírito. Somente a graça me torna capaz de servir a Deus. Como eu
poderia servir a Deus estando longe da comunhão com Ele, alheio à sua
existência?
O
apóstolo Paulo me leva a meditar sobre a lei de Deus. É ela pecado? Pode a lei
de Deus gerar a morte? Como conceber que o Deus que criou o homem fizesse uma
lei capaz de matá-lo? Não é isso o que acontece. A lei é boa, é santa; eu,
porém, sou pecador. A lei apenas me lembra disso e mostra, através dos
sacrifícios que precisam ser cometidos pelos pecados constantemente, que sou
incapaz de cumprir a lei por causa do pecado que habita em mim. O que a lei faz
é despertar em mim o pecado para mostrar a minha necessidade de Deus. Mas como
me chegar a Deus se em mim não há justiça, se na minha carne não habita o bem,
não habita o desejo de buscar a Deus? Como já aprendi, Cristo cumpriu a lei e
restaurou todas as coisas e me reconciliou com Deus. Agora sou santo e não há
mais necessidade de sacrifícios.
A graça
de Deus coloca por terra toda chance de uma auto-justiça minha, porque em mim
não habita bem algum. Da minha própria vontade só existe o pecado, o desejo de
transgredir os mandamentos de Deus através do mal que reside no meu coração.
Paulo se autodenomina “carnal, vendido à escravidão do pecado” (v. 14). Assim
como Paulo, não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Existe uma guerra que
se trava dentro de mim entre fazer o mal que a minha carne deseja e o bem que a
minha mente quer. Se dentro de mim há prazer na lei de Deus, este prazer entra
em conflito com o pendor da carne, que é somente para a transgressão da lei.
Desse modo fica evidente a minha incapacidade de fazer o que quero. Somente por
meio de Cristo o pecado que habita em mim sede lugar ao prazer na lei de Deus.
Depois
de ler esses dois capítulos da epístola de Paulo aos romanos reconheço em mim
um ser pecador, incapaz de vencer a batalha contra o mal que me domina. Estou
naturalmente afastado de Deus por causa da Queda, mas sou aproximado dele pela
sua graça. Estar com Deus é viver uma vida nova, com um novo espírito, um novo
estilo de vida totalmente voltado para a justiça e a santidade. Não é pelas
minhas obras que consigo ter paz com Deus, não é por eu ser religioso, mas
somente pelo fato de eu ter sido feito justiça de Deus por meio do Senhor Jesus
Cristo. Nele os meus pecados são perdoados, minha vida é transformada, meu
relacionamento com Deus é restaurado.
Por
fim, o que posso concluir é que hoje vivo uma guerra que antes não existia em
mim. Antes de conhecer a Cristo não havia nada dentro de mim que contrastasse
com o meu pecado: era o pecado pelo pecado. Hoje essa guerra existe: a carne
contra o Espírito. Hoje posso fazer o bem que eu não desejava, porque o poder
de Deus opera eficazmente em mim por meio de Cristo. Hoje posso escolher
caminhar sob as pisaduras do Senhor e viver uma vida santa e irrepreensível na
sua presença, porque não sou mais pecador, mas justiça de Deus e templo do
Espírito Santo.
17 de maio de 2010.
Como conceber que o Deus que criou o homem fizesse uma lei capaz de matá-lo? Não foi Deus quem criou a lei que pudesse matá-lo e sim que ele se tornou um transgressor por natureza, no dia em que Adão desobedeceu e tomou da árvore da ciência do bem e do mal. A estrutura de Adão se mudou, a sua natureza moral (viram que estavam nus, esconderam-se, transferiram a culpa: Adão culpou Deus por ter feito a mulher que o fez cair; Eva culpou a serpente.) Mas é isso mesmo agora em Cristo estamos reconciliados pelo sangue da Sua cruz; agora morri e ressuscitei; já me despojei do velho homem e sou em Cristo nova criatura. Bendito seja Deus o Pai por nos ter dado esta bendita esperança de vida eterna.
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