Dentro da perspectiva da Queda, da visão paulina e de Agostinho, nós podemos fazer as seguintes leituras:
1) Do mundo
O mundo, tanto
geográfico quanto o estado de coisas pós-Queda, é um lugar destituído da
presença direta de Deus tal qual ele a possuía no Paraíso. No mundo, destituído
da glória de Deus, o homem vive sob a maldição do pecado. Embora a graça comum
de Deus ainda esteja agindo através da sua lei e da sua providência, o mundo é
o palco das ações malignas praticadas pelo homem pecador. Somente a graça de
Deus faz com que esse mal não ultrapasse certos limites, permitindo ao homem
ainda cultivar sentimentos de justiça e equilíbrio mental que o impedem de
extrapolar o seu próprio mal.
2) Você mesmo
A leitura do homem pós-Queda não é das mais animadoras. Ele foi criado
por Deus e posto no paraíso para viver eternamente e em plena comunhão com
Deus. Embora tivesse sido criado com a posse
pecare, isto é, com uma capacidade nata para cair, antes da Queda ele
escolhia somente aquilo que era agradável a Deus, vivendo em estado constante
de submissão a Ele. Na Queda, esta situação foi transformada porque o homem
desobedeceu a Deus, atraindo maldição para si e para toda a criação. Se antes
da Queda o homem tinha uma inclinação positiva para Deus, após a Queda ele se
tornou escravo do mal. A sua perfeição tornou-se imperfeição, a sua vontade
tornou-se maligna e a sua liberdade foi suprimida pela escravidão do pecado.
Segundo o texto
estudado, além da própria Queda em si, o pecado do homem no Éden trouxe-lhe
outras sérias consequências:
·
Perda da liberdade. Se na queda o homem possuía
liberdade para amar a Deus e fazer o bem, após a Queda esta liberdade foi
perdida, tornando-o propenso apenas para o mal. Paulo escreve: “Não há justo,
nem um sequer; não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se
extraviaram, a uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há um
sequer” (3:10,11).
·
Obstrução do conhecimento: A capacidade
intelectual do homem foi afetada na Queda. Não somente a capacidade de
compreender Deus, mas em todas as áreas da vida (1 Co 1:18-29). Isto está
bastante claro em Romanos 1:18-27. No v. 28 Paulo diz: “E, por haverem
desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição
mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes”. Por esta causa, o
homem não pode entender a verdade de Deus, necessitando da iluminação do
Espírito Santo para entendê-la corretamente e sem distorções. Ele não somente
olha para a natureza e enxerga o poder de Deus, como tem os seus olhos abertos
para a maior manifestação da presença de Deus no mundo: Jesus Cristo.
·
Perda da graça de Deus. Na Queda o
homem foi destituído da glória de Deus (Rm 3:23). A assistência graciosa que o
homem possuía para a prática do bem lhe foi tirada e ele passou a viver sem
essa graça, sendo propenso apenas para o mal. Somente por meio da justificação
em Cristo é que o homem recobra essa graça e passa a viver de novo sob o favor
de Deus por meio da paz que essa justificação promove entre ambos (Rm 8:1).
·
Perda do paraíso. Perder o paraíso nada mais
é que estar longe da comunhão com Deus. Em Cristo, o homem tem a esperança
desse paraíso, que se manifesta de duas formas: aqui e agora pelas consequências
da salvação (a comunhão reatada, a presença de Deus em Cristo, o Espírito
Santo); no porvir, onde haverá novamente uma comunhão perfeita entre o homem e
Deus (Rm 8:23-24).
·
Presença da concupiscência. A concupiscência
é a propensão humana para o pecado, a busca pelo paraíso por meio da
sensualidade. O homem está espiritualmente morto e impossibilitado de encarar
Deus. Deus ama o pecador, mas não o seu pecado.
A carta de Paulo aos romanos desde o início coloca todos os homens sob a
condição de pecadores e mostra claramente que a concupiscência faz parte da
vida de todos. A única vontade que havia no início agora é obstruída pela
Queda. Paulo fala a cerca de si mesmo ao referir-se a todos nós: “Porque eu sei
que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum, pois o querer o bem
está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o
mal que não quero, esse faço” (7:18,19). Em Romanos 8:11 ele mostra que somente
por meio de Cristo é que o homem pode vencer as obras da carne para fazer a
vontade de Deus.
·
Morte física. Na criação o homem possuía capacidade tanto para
morrer quanto para não morrer. Deus o havia instruído para não comer o fruto da
árvore do meio do jardim, pois isso lhe traria morte (Gn 2:17). Adão e Eva
comerão do fruto e permaneceram vivos. A morte deles é evidenciada da seguinte
maneira: morte espiritual (separação de Deus) e morte física (capacidade para
morrer fisicamente). Além da morte, o próprio corpo humano está sujeito à
degeneração, isto é, à deteriorar-se com o passar dos anos até morrer, algo que
provavelmente não deveria ser possível no paraíso.
·
Culpa hereditária. O pecado original é muito
mais que uma ação praticada pelo primeiro casal, mas essa ação trouxe consequências
para toda a raça humana, de modo que o pecado tornou-se uma condição a toda a
humanidade. Paulo escreve aos romanos: “Portanto, assim como por um só homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, porque todos pecaram” (5:12). Esta condenação é justa, bem
abaixo da medida da desobediência humana. A culpa que carregamos só é expiada
por meio de Cristo na sua morte vicária substitutiva na cruz.
Como homem caído, a minha percepção de Deus e das coisas é limitada;
somente pela iluminação do Espírito Santo posso entender as coisas de Deus e
somente pela sua graça posso ser aproximado dele, por meio da obra substitutiva
de Cristo na cruz. Quanto mais aumenta a minha consciência dessa carência de
Deus e do meu pecado, mas me aproximo de Deus e sou por Ele purificado e
santificado.
3) Da natureza
O mundo tal qual Deus o criou era para ser um mundo perfeito também do
ponto de vista da natureza criada, onde a presença do Senhor era constante e
direta. Deus criou todas as coisas e viu que tudo era bom (Gn 1:31). Na Queda,
todas as coisas ficaram sujeitas à corrupção. Se não paraíso não havia
dificuldade em arar o solo, planta e colher, após ser expulso do paraíso o
homem passaria a fazer todas essas coisas com extrema dificuldade, porque a
partir dali a terra tornou-se maldita (Gn 3:17). Deus diz que ela produziria
também cardos e abrolhos e o homem comeria da erva do campo, comendo o pão do
suor do seu rosto (vs. 18,19).
Na visão Paulina da natureza pós-Queda encontramos dois elementos:
·
O primeiro é aquele em que a natureza criada, mesmo
sujeita à corrupção pelo pecado do homem, manifesta a glória de Deus. Através
da natureza, “os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu poder, como
também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do
mundo” (Rm 1:20). Embora caída, a natureza continua dando aos homens testemunho
da glória e do poder de Deus, embora eles, pela visão obscurecida pela Queda
não o percebam (vs. 21-27).
·
O segundo é aquele em que a natureza caída espera
gemendo pelo dia em que será redimida da sua corrupção pela volta de Jesus
Cristo: “A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de
Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do
cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque
sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”
(Rm 8:19-22). É interessante notar neste texto que a expectativa da criação
está ligada àquilo que acontecerá com a humanidade na vinda de Cristo. Da mesma
forma que a criação ficou sujeita à corrupção por causa da Queda do homem, ela
será redimida através da redenção do homem por meio de Cristo (v. 23). No
fim, Deus fará novas todas as coisas (Ap 21:5).
4) Quais as consequências dessa leitura na prática
cotidiana?
As consequências
negativas da Queda colocam o homem na condição de destituído da glória de Deus
e ao mesmo tempo objeto do seu amor. As consequências da Queda podem ser vistas
pelo mal que existe no mundo e pela ausência total de comunhão com Deus. O
homem distante de Deus está à mercê do seu próprio pecado, vivendo somente pela
vontade de sua carne. Somente a conversão a Cristo por meio da Graça de Deus
pode mudar essa situação, transformando o homem em nova criatura (2 Co 5:17).
Como tal, ele torna-se justo diante de Deus e participa de uma perfeição derivada.
Lavado e remido no sangue de Cristo, o homem é restaurado e tornado santo.
Uma reflexão de todas
essas leituras a cerca do mundo, da natureza e de mim mesmo no contexto da
Queda, me faz repensar não somente a minha natureza humana, mas a minha
responsabilidade, enquanto ser humano, para com o mundo, a natureza e o homem.
a) Eu e o mundo
Para fazer uma leitura
correta da minha condição diante do mundo, é preciso me ver de três formas: eu
no mundo, eu fora do mundo, eu para o mundo. Vendo “eu no mundo”, eu me enxergo
como um ser caído, oprimido pelo pecado e pela incapacidade de escolher
ativamente não fazer aquilo que é da minha natureza. As minhas inclinações são
sempre para o mal e não há no meu coração desejo algum de buscar a Deus (Rm
3:11). No mundo, distante de Deus, a minha alma tem sede de pecar, de
entregar-se completamente aos prazeres que habitam a minha carne (Rm 7:18;
8:5-9). Sou um ser errante, que erra a cada instante. Todas as tentativas de me
justificar dos meus pecados são frustrantes e todas as formas que encontro para
mostrar algo de bom em mim são inúteis, pois sei que em mim não habita bem
algum. Naquilo que depender do meu próprio esforço e mérito, estou fadado aos
tormentos do fogo eterno. Este sou eu no mundo, sem Deus, sem paz, sem razão de
existir. O mundo para mim é tão somente um grande Shopping Center, onde tudo
aquilo que mais amo está ao alcance das minhas mãos, onde o inimigo me oferece
aquilo que mais desejo e me ajuda a consegui-lo. Esse mundo em que vivo, é tudo
para mim, mas ao mesmo tempo não significa nada, porque não tenho nenhum
compromisso com ele no sentido de transformá-lo. Ele é quem me transforma.
“Eu fora do mundo”
significa que todas essas coisas ficaram para trás uma vez que aceitei a Jesus
como meu Senhor e Salvador. Eu, que outrora andava desgarrado (1 Pe 2:25),
inútil (Rm 3:12), incapaz de praticar o bem e buscar a Deus (Rm 3:9-18), ao ser
alcançado pela Graça de Deus pude crer pela fé e ser salvo da Ira (Ef 2:8,9; Rm
5:9). Se outrora eu caminhava para o abismo, tateando feito cego em trevas
profundas, a luz do Evangelho me iluminou (Jo 1:5; Ef 1:18; 5:14), me mostrou
quem eu era a produziu arrependimento no meu coração (Rm 2:4). Mesmo sendo eu
tão pecador, o Senhor provou o seu amor por mim (Rm 5:8), morrendo uma morte
terrível na cruz para me libertar das cadeias do mundo e me levar em segurança
ao paraíso da sua glória nos céus. Ainda estou no mundo, mas agora apenas
geograficamente, pois não faço mais parte dele (Jo 17:14; 1 Jo 3:1). Sou nova
criatura (2 Co 5:17), sou salvo para sempre (Jo 11:25; Rm 8:1) e vivo sob a
santidade que Cristo me deu na cruz, isto é, uma separação total do mundo –
naquilo que diz respeito ao pecado – para me consagrar a Deus. O que a Queda
destruiu, o Senhor Jesus restaurou, reconciliou (Rm 5:10; 2 Co 5:18,19; Cl
1:20), santificou (Jo 17:17; 1 Co 6:11; 1 Ts 5:23; Hb 13:12), selou como seu
Santo Espírito (2 Co 1:22; Ef 1:13; 4:30), que testifica com o meu espírito que
sou filho de Deus (Rm 8:16). A minha mente renovada me transforma (Rm 12:2) e
me faz capaz de, pelo Espírito Santo, compreender melhor as coisas de Deus.
“Eu para o mundo”
significa que não estou no mundo, mas tenho uma grande responsabilidade amorosa
e missionária para com ele. Se antes o mundo era apenas um imenso Shopping
Center onde eu “comprava” aquilo que alimentaria o meu vício – o pecado – agora
ele se transformou em alvo das minhas orações, da minha pregação, do meu amor.
O Senhor Jesus não pediu a Deus que tirasse os seus apóstolos do mundo, mas
apenas que os guardasse do mal (Jo 16:15). Da mesma forma, o apóstolo Paulo não
exortou os crentes de Corinto a sair do mundo, mas a guardar-se dos falsos
irmãos (1 Co 5:10). Embora o mundo seja passageiro (1 Jo 2:17) e deva estar
crucificado para mim (Gl 6:14); embora ele jaza no maligno (1 Jo 5:19) e eu
deva guardar-me incontaminado dele (Tg 1:27); e muito embora eu não possa ser
amigo do mundo (Tg 4:4) nem amar tudo que há nele (1 Jo 2:15), a minha relação
com ele deve ser uma relação de amor, como Deus o amou (1 Jo 3:16), uma relação
sadia de sal e luz (Mt 5:13,14). O meu compromisso com o mundo é o de pregar o
Evangelho, promover o Reino de Deus por meio da prática da Palavra, da ação
social e do testemunho daquilo que Deus fez na minha vida. Nesta perspectiva,
se não amo o mundo, o amor do Pai não está em mim. Fui salvo para as boas
obras, para dar fruto.
O mundo para mim,
dentro da perspectiva da Queda e da reparação efetuada por Cristo, deve ser o
meu paraíso. Não porque existe uma utopia de voltar às condições perfeitas do
Éden, mas porque onde quer que eu esteja Deus estará presente, e a presença de
Deus é o meu paraíso, a comunhão com Ele é a minha árvore da vida. O mundo sem
Deus é caos, o paraíso sem Deus é destruição, o mundo com Deus é o paraíso.
Essa presença de Deus na minha vida é santificadora, purificadora,
transformadora; ela me torna um missionário, um crente comprometido com as
causas do Reino, inclusive as sociais, levando-me a dedicar parte do meu tempo
aos desassistidos da minha comunidade.
b) Eu e a natureza
A natureza foi
drasticamente afetada pela Queda, como já vimos. Por causa do pecado do homem,
o mundo ficou sujeito à corrupção. Certamente não haveria desmatamentos,
exploração indiscriminada dos bens naturais, poluição do solo, dos rios, dos
oceanos e do ar se Adão não tivesse desobedecido a Deus; não haveria
aquecimento global, buraco na camada de ozônio e o derretimento das calotas
polares, e também não haveria animais extintos ou em risco de extinção[1]. A
Queda afetou o homem na sua percepção de natureza e certamente fez com que se
esquecesse do mandamento de Deus após a criação para que ele cuidasse do mundo
criado (Gn 1:28-31; 2:15). A partir da Queda, o homem passou a destruir o
planeta ao invés de cuidar dele. A graça comum de Deus tem levantado pessoas,
como as ONGs, para frear a maldade humana que tende a exterminar qualquer vida
sobre a terra em nome do progresso capitalista.
A minha nova visão de vida aguçada pela Graça
de Deus me traz um novo entendimento a respeito dessas coisas e me faz enxergar
a necessidade de cuidar da natureza. Eu vivo na natureza e dependo dela. Saber
que a natureza está sujeita à vaidade e suporta angústia até agora aguardando a
revelação dos filhos de Deus deve me estimular a olhar para ela com os olhos
que Adão devia olhar antes de cair, cuidar dela, cessar de destruí-la.
Comprometer-me com a natureza para salvá-la da destruição não é somente uma
forma de glorificar a Deus, como também um ato de amor para com o próximo que,
como eu, precisa dela para viver. Aceitar a Cristo e continuar a depredar o
meio-ambiente é incoerente. Quem ama a Deus ama e cuida de tudo o que Ele
criou.
c) Eu e os outros
A minha relação com os
outros foi também bastante afetada pela Queda. O diálogo entre Deus, Adão, Eva
e a Serpente após o pecado da desobediência já mostra como os seres humanos
começaram a se relacionar entre si após a Queda. Adão, que outrora havia dito
de Eva “Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2:23),
quando indagado por Deus sobre ter comido o fruto proibido, jogou sobre a sua
mulher toda a culpa: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e
eu a comi” (3:12). Já não havia mais companheirismo entre eles, mas um queria
se esquivar sobre o outro. Mais adiante, Caim matou Abel (4:8-15), o primeiro
dentre incontáveis homicídios praticados pelo homem.
A relação entre os
seres humanos não é uma relação de amor genuíno, nem pode ser, uma vez que o
Deus que é amor está ausente dos seus corações. Como pecador carente da glória
de Deus, os meus relacionamentos interpessoais sempre foram baseados em
egoísmo, interesse, necessidade, medo, culpa, indiferença, hipocrisia, ódio,
autojustiça, prazer, paixões frívolas. Como nova criatura em Cristo Jesus, devo
e procuro me relacionar com as pessoas de maneira afetiva e correta, embora
muito que há em mim ainda faz com que eu evite me envolver com os outros. Mas
compreendo o que Deus espera de mim: amar os outros, suportar suas debilidades,
falar do Evangelho, exortá-los com cuidado de mim mesmo para que também não
caia, ajudá-los nas suas necessidades, comprometer-me com os seus sonhos, ser
sal e luz, ser fermento, ser ministro do Evangelho e despenseiro do Reino de
Deus.
Não devo enxergar as
pessoas com ódio, mesmo o mais vil pecador, sabendo que sou tão mal quanto ele.
O que Deus espera de mim, como crente lavado e remido no sangue de Cristo, é
que, por meio do testemunho do meu amor fraternal, eu influencie a muitos para
Jesus. Não há para Deus distinção entre os seres humanos (Rm 3:22; 10:12) nem
acepção de pessoas (Rm 2:11; Cl 3:25); Ele é rico em misericórdia para com
todos (Rm 10:12; Ef 2:4), independente de eles reconhecerem ou retribuírem o
seu amor. Da mesma fora, Deus espera que eu seja também. Se Deus provou o seu
amor para comigo quando enviou o seu Filho para me salvar, porque eu deveria
agir diferente? Como alvo do amor de Deus e objeto do seu perdão, devo também
amar e perdoar os outros.
5) Conclusão
A Palavra de Deus me chama a viver de maneira prática aquilo que creio
(Tg 1:22). A Igreja de hoje está vivendo uma teologia repleta de misticismo e
abstracionismos que buscam colocar o homem em sintonia com Deus através de
práticas vazias, que se dizem espirituais (emocionalismo, sonhos, visões, dons
extraordinários, unções de leão, águia, etc.). Como homem, tenho tendência de
me achar espiritual se oro mais e melhor, se sei muitos versículos decorados,
se não bebo ou fumo, se dou meu dízimo, se visto certo tipo de roupa, se falo a
língua dos anjos, se sou “ungido” do Senhor. Esta espiritualidade, porém, geralmente
não reflete na minha vida diária com Deus e com as pessoas e rapidamente
denuncia o meu farisaísmo.
A minha vida cristã, a minha espiritualidade, deve ser coerente com
aquilo que professo a respeito de Deus, não a imagem que tenho de Deus e que
muitas vezes forja uma espiritualidade carente de apoio bíblico, mas a imagem
que Deus me passa de Si mesmo através da revelação da sua Palavra e do seu
Filho Jesus Cristo (1 Co 11:7; Cl 1:15). Essa espiritualidade coerente
transforma a minha vida em uma vida prática, não apenas abstrata, teórica. No
contrário disto, estou banalizando o Senhor Jesus, transformando o cristianismo
em apenas mais uma religião, um ajuntamento de pessoas que dizem seguir a
Cristo, mas que em sua prática de vida não demonstram esta verdade.
Deus me chama a ser
coerente com aquilo que professo. Aquilo que sinto, penso, falo, prego e
escrevo a cerca de Deus deve estar bem firmado na sua Palavra e ao mesmo tempo
ser prático:
·
Amor prático
·
Solidariedade prática
·
Fé prática
·
Esperança prática
·
Caridade prática
·
Santidade prática
·
Dons práticos
·
Responsabilidade prática
Que espiritualidade estarei demonstrando ao pregar o amor e a justiça de
Deus ao mesmo tempo em que afirmo não ser responsável pelo mundo, pela natureza
e pelos oprimidos da sociedade? Que teologia é essa que me dá o entendimento de
que posso demonstrar amor a Deus sem amar as pessoas e cuidar delas? Que
Evangelho é esse que me leva a fazer separação entre quem devo amar e cuidar e
quem não é digno ou não carece do meu amor?
Olhar para a Queda, para quem eu era antes de ser alcançado pela
misericórdia de Deus e de ser convencido do pecado, da justiça e do juízo pelo
Espírito Santo, deve produzir em mim humildade, obediência e submissão a Deus e
à sua Palavra. Saber que fui alcançado pelo amor de Deus de maneira imerecida
transforma a minha mente, não apenas racionalmente, mas todas as minhas
disposições mentais que antes estavam propensas apenas para o que era mal,
agora são redimensionadas e focadas na vontade de Deus para a minha vida. Esse
redimensionamento produz em mim amor, compaixão, solidariedade, sentimento de
servo, humildade e todos os frutos do Espírito Santo, sabendo que é Deus quem
produz todas essas coisas em mim e as realiza na minha vida, porque tudo o que
é perfeito e bom vem dele e é para Ele.
Não fui salvo por obras, mas fui salvo para praticá-las. Ser salvo para
sempre e ter a segurança de jamais perder a minha salvação por causa da
esperança que tenho em Cristo não me dá o direito de cruzar os braços e
descansar enquanto aguardo o momento de subir com toda a Igreja aos céus. Se
realmente sou salvo, se de fato entendi a Queda e as suas consequências na
História humana e natural do Universo, sei que devo demonstrar isto de maneira
prática. Esta é a ortopraxia na qual
Deus me chama a viver[2].
Fora disto, há somente engano e pretensa religiosidade. Deus conhece o coração
de cada um. Deus conhece o meu coração.
Mizael de Souza Xavier
04 e 05 de maio de 2010
[1]
Então ainda haveria dinossauros?!
[2] Se ainda
não existe, poderíamos cunhar o termo teopraxia,
isto é a “prática de Deus”, o que significa viver de maneira coerente com o
Deus que professamos e com o Deus que habita em nós pelo seu Santo Espírito.
Também “praticar Deus” através da obediência à sua Palavra, do amor ao próximo
e da caridade, nos permitindo dar o fruto do Espírito e praticar as obras que
Deus preparou para nós. Não somos deuses, mas Deus se revela em nós e através
de nós para o mundo. Através de nós Deus leva a sua Palavra e manifesta o seu
amor ao mundo de maneira prática e coerente. O crente teoprático é imitador de Deus, transformando-se na imagem de
Cristo, de glória em glória. As pessoas olham para ele – suas atitudes – e
enxergam Deus.
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