SEGUNDA PARTE
2 A salvação somente através da igreja católica
As verdades descritas no início não
fazem parte da fé católica romana. De fato, o Magistério ensina que é pela fé
no Filho de Deus que o pecador pode se salvar, mas não somente ela. Com efeito,
o Concílio Vaticano II, em seu cânon 231, assevera: “A Igreja, porém, acredita
que Cristo, morto e ressuscitado para todos, pode oferecer ao homem, por seu
Espírito , a luz e as forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação
suprema. Ela crê que não foi dado aos homens sob o céu outro nome no qual seja
preciso se salvarem”. Esta salvação, porém, segundo o mesmo Concílio, é
realizada em comunhão com os outros (cânones 24, 297, 866, 1397). As
iniciativas individuais de busca pela salvação, conforme afirma o cânon 867,
devem ser “iluminadas e sanadas”.
Esse cuidado tem uma explicação: a
salvação não pode ser encontrada somente em Jesus, mas ela deve ser buscada
através da sua igreja, a católica romana. Deste modo se expressa o cânon 38:
Em primeiro lugar o Santo Sínodo volta seu pensamento
aos fiéis católicos. Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que
esta Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único Mediador e o
caminho para a salvação é Cristo, que nos torna presente no seu corpo, que é a
Igreja. ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do
batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), ao mesmo tempo confirmou a necessidade da
Igreja, na qual os homens entram pelo batismo como por uma porta. Por isso não
podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus
através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disto não quiserem
nela entrar ou nela perseverar.
Entende-se, com isso, que serão
salvos apenas aqueles que se batizarem e se tornarem católicos romanos. Além
disso, quem sair da igreja católica perde a sua salvação, pois nela não
perseverou. Os “irmãos separados”, como o Concílio Ecumênico Vaticano II
refere-se aos cristãos reformados, estão impossibilitados se alcançar a
salvação por não estarem em comunhão com a igreja que, segundo os cânones 764 e
874, possui a plenitude dos meios de salvação. É necessário, portanto, que os
homens conheçam a Deus pela pregação da igreja e se convertam, sendo
incorporados em Cristo pelo batismo. Assim, o batismo como porta de entrada e o
catolicismo romano são os pilares da salvação da Igreja Católica Apostólica
Romana.
O Catecismo da Igreja Católica, em seu cãn. 2,
§ 95, ao falar a
respeito da Transmissão da Revelação Divina pela Tradição Apostólica, pelo
Magistério da Igreja e pela Sagrada Escritura conclui o seguinte:
“Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo
plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja
estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os
outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo,
contribuem eficazmente para a salvação das almas.”
O que se pode entender através desse
texto, é que as palavras dos pastores católicos, em o Colégio Apostólico e o
Magistério da Igreja (cf. § 85, 86 e 87), tem o mesmo peso da Bíblia, isto é:
aquilo que os papas falam é inspirado pelo Espírito Santo, vindo da parte de
Deus e contribui de maneira eficaz para a salvação das almas. Existe um grande
propósito em se pregar esta teoria, bem como insistir na infalibilidade do
papa. Vê-se claramente que os líderes da igreja romana não deixam escapatória
para os homens: ou eles se convertem ao catolicismo ou estão fadados a viver sem
salvação, condenados ao inferno. Não basta uma fé pessoal em Cristo (outro
pilar da igreja reformada), é preciso batizar-se e aderir a fé católica, sem a
qual não há salvação.
3 Salvação através dos sacramentos
Todavia, não é somente essa necessidade
“eficaz” que faz com que o pecador seja salvo. Existem muitas outras maneiras
de o fiel católico alcançar a sua salvação. O batismo é apenas um rito de
iniciação, devendo o fiel receber os outros sacramentos. Certamente isso não é
algo tão eficaz, mas é mesmo impossível. Tanto a ordem quando o matrimônio são
sacramentos, isto é, contribuem para a salvação do católico. Mas o indivíduo
que foi ordenado padre, como receberá o sacramento do matrimônio, uma vez que
não pode se casar? E como um indivíduo casado poderá receber o sacramento da
ordem, uma vez que possui uma esposa? A despeito disso, os sacramentos são tão
importantes que o Concílio de Trento (1545), publicou uma excomunhão para quem
afirmasse que o batismo não salva: “861. Cân. 5. Se alguém disser que o Batismo
é facultativo, isto é, não necessário para a salvação — seja excomungado”.
O sacramento, segundo Ribólla (1990,
p. 18) é um sinal através do qual o Cristo invisível se torna presente, ao
mesmo tempo em que comunica a graça da vida divina. Ele é então: “sinal
sensível eficaz da Graça, instituído por Jesus e entregue à Igreja”. Os autores
Nordari e Cescon (2009) vão um pouco mais além e, assim como ensina o Vaticano
II, afirmam que a igreja católica é “sacramento de salvação”. Eles escrevem (p.
32 e 33):
Em Cristo e na
Igreja, Deus é salvação. Deus, em
Cristo e na Igreja, se promete, se pronuncia, definitiva e vitoriosamente ao
mundo na sua totalidade, como salvação. A realidade histórica e visível da
Igreja, torna-se então um sinal e instrumento de salvação para o mundo (...)
Assim sendo, enquanto sacramento de
salvação, a Igreja é como que a matriz primordial da Graça que o Espírito
Santo comunica em cada sacramento... A Igreja é a matriz e a guardiã desse
tesouro que o Divino Mestre lhe confiou para o bem da humanidade.
Estas declarações desprovidas de
qualquer respaldo bíblico fecham o cerco e não deixam qualquer chance de
salvação fora dos muros do catolicismo romano: os sacramentos salvam, a igreja
católica é a detentora dos sacramentos, logo não existe salvação fora dela.
Todavia, o Pe. Flaviano Amatulli Valente (1998), mesmo reconhecendo a
necessidade da igreja católica para a salvação, oferece outra teoria, sem citar
qualquer documento oficial. Respondendo sua própria pergunta sobre quais são os
que, segundo a igreja católica, alcançam a salvação, ele responde (p. 20 e 21):
“Segundo a Igreja Católica, alcançam a salvação todos os que vivem conforme a
sua consciência, ainda que não conheçam a Cristo. A fé em Cristo só é necessária
para os que têm a oportunidade de conhecê-lo”. E à pergunta “Para os que
conhecem a Palavra de Deus, basta a fé em Cristo para se salvar?”, ele responde
(p. 21): “Para os que conhecem a palavra de Deus, não basta a fé em Cristo para
se salvar. É necessário que obedeçam também a Cristo, permanecendo em sua
Igreja e respeitando seus representantes.
Ele continua seus ensinamentos
repetindo o que aprendera no Vaticano II e no Catecismo: se alguém sair da
igreja católica, sabendo ser ela a única igreja que Cristo fundou não pode se
salvar, a não ser que saia dela se saber ser ela a única fundada por Cristo (p.
22). Além daquilo que já temos visto a cerca da necessidade de pertencer a
igreja católica romana para ser salvo, o Pe. Valente acrescenta dois novos elementos:
1) para aqueles que não creem na Palavra de Deus e por isso não conhecem a
Cristo, basta que vivam conforme a sua consciência para serem salvos, isto é:
existe possibilidade de salvação sem Jesus; 2) mesmo para aqueles que tiveram a
oportunidade de conhecer a Palavra de Deus, a fé em Cristo não é suficiente
para salvar. O que temos então é: uma salvação sem fé e uma fé sem salvação.
Existem aí muitas contradições. Em
primeiro lugar, se ser católico romano é essencial para a salvação, como pode
se salvar quem sequer conhece a Jesus Cristo? Onde fica a vocação missionária
tão aclamada? E se alguém pode se salvar sem Jesus, que razão há de se pregar o
Evangelho? Basta que as pessoas vivam conforme a sua própria consciência, ainda
que morram ignorantes e sem Jesus. As declarações do Pe. Valente a respeito de
uma salvação sem Cristo transformam a Bíblia num livro de lendas e contos de
fadas, inútil, mentiroso, desnecessário, falível, cheio de erros, não inspirado
por Deus. Salvação sem Jesus é o sonho dourado de Satanás. O homem sem Cristo
está condenado, fadado a amargar a eternidade no inferno, longe de Deus.
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