quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS VÁRIOS MEIOS DE SALVAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA - segunda parte


SEGUNDA PARTE


2 A salvação somente através da igreja católica


            As verdades descritas no início não fazem parte da fé católica romana. De fato, o Magistério ensina que é pela fé no Filho de Deus que o pecador pode se salvar, mas não somente ela. Com efeito, o Concílio Vaticano II, em seu cânon 231, assevera: “A Igreja, porém, acredita que Cristo, morto e ressuscitado para todos, pode oferecer ao homem, por seu Espírito , a luz e as forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema. Ela crê que não foi dado aos homens sob o céu outro nome no qual seja preciso se salvarem”. Esta salvação, porém, segundo o mesmo Concílio, é realizada em comunhão com os outros (cânones 24, 297, 866, 1397). As iniciativas individuais de busca pela salvação, conforme afirma o cânon 867, devem ser “iluminadas e sanadas”.
            Esse cuidado tem uma explicação: a salvação não pode ser encontrada somente em Jesus, mas ela deve ser buscada através da sua igreja, a católica romana. Deste modo se expressa o cânon 38:

Em primeiro lugar o Santo Sínodo volta seu pensamento aos fiéis católicos. Apoiado na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que esta Igreja peregrina é necessária para a salvação. O único Mediador e o caminho para a salvação é Cristo, que nos torna presente no seu corpo, que é a Igreja. ele, porém, inculcando com palavras expressas a necessidade da fé e do batismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), ao mesmo tempo confirmou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo batismo como por uma porta. Por isso não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disto não quiserem nela entrar ou nela perseverar.

            Entende-se, com isso, que serão salvos apenas aqueles que se batizarem e se tornarem católicos romanos. Além disso, quem sair da igreja católica perde a sua salvação, pois nela não perseverou. Os “irmãos separados”, como o Concílio Ecumênico Vaticano II refere-se aos cristãos reformados, estão impossibilitados se alcançar a salvação por não estarem em comunhão com a igreja que, segundo os cânones 764 e 874, possui a plenitude dos meios de salvação. É necessário, portanto, que os homens conheçam a Deus pela pregação da igreja e se convertam, sendo incorporados em Cristo pelo batismo. Assim, o batismo como porta de entrada e o catolicismo romano são os pilares da salvação da Igreja Católica Apostólica Romana.
             O Catecismo da Igreja Católica, em seu cãn. 2, § 95,  ao falar a respeito da Transmissão da Revelação Divina pela Tradição Apostólica, pelo Magistério da Igreja e pela Sagrada Escritura conclui o seguinte:

“Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos que um não tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas.”

            O que se pode entender através desse texto, é que as palavras dos pastores católicos, em o Colégio Apostólico e o Magistério da Igreja (cf. § 85, 86 e 87), tem o mesmo peso da Bíblia, isto é: aquilo que os papas falam é inspirado pelo Espírito Santo, vindo da parte de Deus e contribui de maneira eficaz para a salvação das almas. Existe um grande propósito em se pregar esta teoria, bem como insistir na infalibilidade do papa. Vê-se claramente que os líderes da igreja romana não deixam escapatória para os homens: ou eles se convertem ao catolicismo ou estão fadados a viver sem salvação, condenados ao inferno. Não basta uma fé pessoal em Cristo (outro pilar da igreja reformada), é preciso batizar-se e aderir a fé católica, sem a qual não há salvação.


3 Salvação através dos sacramentos


            Todavia, não é somente essa necessidade “eficaz” que faz com que o pecador seja salvo. Existem muitas outras maneiras de o fiel católico alcançar a sua salvação. O batismo é apenas um rito de iniciação, devendo o fiel receber os outros sacramentos. Certamente isso não é algo tão eficaz, mas é mesmo impossível. Tanto a ordem quando o matrimônio são sacramentos, isto é, contribuem para a salvação do católico. Mas o indivíduo que foi ordenado padre, como receberá o sacramento do matrimônio, uma vez que não pode se casar? E como um indivíduo casado poderá receber o sacramento da ordem, uma vez que possui uma esposa? A despeito disso, os sacramentos são tão importantes que o Concílio de Trento (1545), publicou uma excomunhão para quem afirmasse que o batismo não salva: “861. Cân. 5. Se alguém disser que o Batismo é facultativo, isto é, não necessário para a salvação — seja excomungado”.
            O sacramento, segundo Ribólla (1990, p. 18) é um sinal através do qual o Cristo invisível se torna presente, ao mesmo tempo em que comunica a graça da vida divina. Ele é então: “sinal sensível eficaz da Graça, instituído por Jesus e entregue à Igreja”. Os autores Nordari e Cescon (2009) vão um pouco mais além e, assim como ensina o Vaticano II, afirmam que a igreja católica é “sacramento de salvação”. Eles escrevem (p. 32 e 33):

Em Cristo e na Igreja, Deus é salvação. Deus, em Cristo e na Igreja, se promete, se pronuncia, definitiva e vitoriosamente ao mundo na sua totalidade, como salvação. A realidade histórica e visível da Igreja, torna-se então um sinal e instrumento de salvação para o mundo (...) Assim sendo, enquanto sacramento de salvação, a Igreja é como que a matriz primordial da Graça que o Espírito Santo comunica em cada sacramento... A Igreja é a matriz e a guardiã desse tesouro que o Divino Mestre lhe confiou para o bem da humanidade.

            Estas declarações desprovidas de qualquer respaldo bíblico fecham o cerco e não deixam qualquer chance de salvação fora dos muros do catolicismo romano: os sacramentos salvam, a igreja católica é a detentora dos sacramentos, logo não existe salvação fora dela. Todavia, o Pe. Flaviano Amatulli Valente (1998), mesmo reconhecendo a necessidade da igreja católica para a salvação, oferece outra teoria, sem citar qualquer documento oficial. Respondendo sua própria pergunta sobre quais são os que, segundo a igreja católica, alcançam a salvação, ele responde (p. 20 e 21): “Segundo a Igreja Católica, alcançam a salvação todos os que vivem conforme a sua consciência, ainda que não conheçam a Cristo. A fé em Cristo só é necessária para os que têm a oportunidade de conhecê-lo”. E à pergunta “Para os que conhecem a Palavra de Deus, basta a fé em Cristo para se salvar?”, ele responde (p. 21): “Para os que conhecem a palavra de Deus, não basta a fé em Cristo para se salvar. É necessário que obedeçam também a Cristo, permanecendo em sua Igreja e respeitando seus representantes.
            Ele continua seus ensinamentos repetindo o que aprendera no Vaticano II e no Catecismo: se alguém sair da igreja católica, sabendo ser ela a única igreja que Cristo fundou não pode se salvar, a não ser que saia dela se saber ser ela a única fundada por Cristo (p. 22). Além daquilo que já temos visto a cerca da necessidade de pertencer a igreja católica romana para ser salvo, o Pe. Valente acrescenta dois novos elementos: 1) para aqueles que não creem na Palavra de Deus e por isso não conhecem a Cristo, basta que vivam conforme a sua consciência para serem salvos, isto é: existe possibilidade de salvação sem Jesus; 2) mesmo para aqueles que tiveram a oportunidade de conhecer a Palavra de Deus, a fé em Cristo não é suficiente para salvar. O que temos então é: uma salvação sem fé e uma fé sem salvação.
            Existem aí muitas contradições. Em primeiro lugar, se ser católico romano é essencial para a salvação, como pode se salvar quem sequer conhece a Jesus Cristo? Onde fica a vocação missionária tão aclamada? E se alguém pode se salvar sem Jesus, que razão há de se pregar o Evangelho? Basta que as pessoas vivam conforme a sua própria consciência, ainda que morram ignorantes e sem Jesus. As declarações do Pe. Valente a respeito de uma salvação sem Cristo transformam a Bíblia num livro de lendas e contos de fadas, inútil, mentiroso, desnecessário, falível, cheio de erros, não inspirado por Deus. Salvação sem Jesus é o sonho dourado de Satanás. O homem sem Cristo está condenado, fadado a amargar a eternidade no inferno, longe de Deus.

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