domingo, 3 de março de 2013

SALVAÇÃO PESSOAL, JUSTIFICAÇÃO E SANTIFICAÇÃO: UMA VERDADE BÍBLICA

ESTE ESTUDO É PARTE DO LIVRO "CATOLICISMO ROMANO: DOUTRINAS E REFUTAÇÕES", DE MINHA AUTORIA, AINDA A PUBLICAR.

Conhecendo toda a doutrina bíblica a cerca da salvação, desde o pecado de Adão e Eva até a propiciação imaculada e perfeita de Cristo, chegamos à conclusão de que um dos maiores disparates da doutrina romanista é aquilo que tange à salvação do homem. É de impressionar como os doutores da igreja católica insistem em negar a verdade bíblica em troca de uma inverdade da sua Tradição. O que encontramos na Palavra de Deus não são trechos isolados sobre salvação pessoal e certeza da salvação que poderiam ser mal interpretados e manipulados por “seitas” protestantes, mas um doutrina única e perfeita que se inicia em Gênesis e culmina no Apocalipse, com a volta de Cristo para resgatar os remidos.


Salvação sem fé

         A acusação de Pe. Flaviano Amatulli Valente é de que “Segundo os protestantes em geral, alcançam a salvação somente as que crêem em Cristo. As crêem em Cristo se condenam” (op. cit., p. 20), citando uma parte do versículo do Evangelho segundo Marcos que diz que “quem crer e for batizado será salvo” (16:15,16), sem citar para seus leitores o restante: “quem não crer será condenado”. Esta acusação só tende a fortalecer mais ainda a fé na salvação pessoal. Mas ele não para por aí. Realmente afirma:

Segundo a Igreja Católica, alcançam a salvação todos os que vivem conforme a sua consciência, ainda que não conheçam a Cristo. A fé em Cristo só é necessária para os que têm a oportunidade de conhecê-lo. (p. 21, grifo nosso)

            Como justificativa, este autor romanista usa os seguintes textos bíblicos: 1 Timóteo 2:3,4; Atos 14:16,17; Atos 17:27 e Romanos 2:15. Nenhum destes textos, todavia, traz em si uma doutrina sobre a salvação sem a fé ou por meio da consciência. Podemos raciocinar da seguinte forma: a) todos somos pecadores e carentes da glória de Deus (Romanos 3:23); b) Não há um justo sequer no mundo (Romanos 3:10); c) nosso coração é repleto de imundícia (Mateus 15:19); d) nossos pensamentos estão muito longe de Deus (Salmo 94:11); e) somente Cristo é capaz de restaurar nossa comunhão com Deus e nos purificar de nossos pecados (1 João 1:7). Como, então, poderemos ser salvos dependendo somente da nossa consciência? Como alcançaremos a perfeição que Deus nos pede sem conhecer a verdade que nos liberta das trevas para a luz? Como poderemos nos tornar filhos de Deus e seguir os seus mandamentos se nem sequer sabemos que mandamentos são estes?

Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo. (Romanos 10:13-17, grifos nossos)


         Deus se manifesta na criação, mas a sua salvação se manifesta através da sua Palavra e somente por ela o homem pode ser salvo. Ainda assim os católicos romanos insistem em dizer que existem pessoas que morrem sem ouvir falar em Cristo e se salvam. Mas eles mesmos citam como condição e sinal para o fim do mundo a pregação do Evangelho em toda a terra, como bem comprova no citado autor, página 65. Se o Evangelho precisa ser pregado é porque todos precisam conhecer a Cristo para se salvar, caso contrário ele não se chamaria “Evangelho da Salvação” (Efésios 1:13).
         Mas ainda não basta o simples conhecer do Evangelho para tornar a pessoa salva, é preciso crer e obedecer aos seus ensinamentos. Com isto concordam os católicos, mas acrescentam: “É necessário que obedeçam também a Cristo, permanecendo em sua igreja e respeitando os seus representantes” (idem, p. 21, citando Mateus 7:21. Grifo nosso). Além destas duas novas condições – que não encontram-se em lugar algum na Bíblia – o crente católico romano pode perder a sua salvação, caso abandone a sua igreja sabendo que ela é a única e verdadeira igreja de Cristo na terra. Para salvar-se é necessário regressar a ela. Não bastando tais doutrinas, o catolicismo romano ensina, também, que os crentes estão errados em dizer que estão salvos e que a salvação é muito difícil de ser alcançada aqui na terra. 


Salvação pessoal

         Para o catolicismo romano não existe salvação pessoal, aquela em que o indivíduo, por meio da fé e do arrependimento, pode alcançar a vida eterna. A salvação é coletiva, pois Cristo morreu por todas as pessoas (João 3:16). Se não há salvação pessoal, também não há certeza da salvação e o crente necessita purgar os seus pecados através do purgatório, sendo suas dores aliviadas pelas indulgências encomendadas em favor da sua alma. Mas a Palavra de Deus oferece provas incontestáveis de que a salvação é pessoal, uma decisão individual, de cada um (redundante, mas enfático).

         Certamente uma das maiores provas bíblicas disto seja o “novo nascimento”:
Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo. (João 3:5-7)

            O novo nascimento marca uma mudança ocorrida na vida daquele que crê em Cristo e se entrega a Deus: novo ser, novo pensar, novo sentir, novo agir. As coisas antigas já não fazem mais sentido (2 Coríntios 5:17) e a pessoa passa a ser uma nova criatura. Este nascimento não é coletivo, não é adquirido através da crença de nossos pais ou do batismo, mas provém de um coração arrependido, quebrantado, rendido aos pés de Jesus numa fé total em sua morte e ressurreição. Primeiro a fé, depois o batismo. É um novo nascimento que só pode experimentar aquele que recebe o Espírito Santo, pois não é obra de mãos humanas. Mas para receber o Espírito Santo da promessa é preciso, antes de mais nada, crer:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. (1 Pedro 1:3-5. Grifo nosso)
           
     O Apóstolo Pedro não escreveu esta epístola endereçando-a “a quem pudesse interessar”, mas tinha um público específico: crentes fiéis, convertidos, cheios do Espírito Santo e lavados no sangue de Cristo. Não a todas as pessoas do mundo, mesmo pagãs e descrentes do Evangelho da salvação, mas um grupo que estava disperso pelo mundo devido a grande perseguição:

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicados. (1 Pedro 1:1,2)

         O desejo e o plano de Deus para os homens é que todos cheguem ao pleno conhecimento da verdade, que todos creiam e sejam libertos do pecado para serem conduzidos à vida eterna na ressurreição final rumo à Israel celestial. Mas nem todos querem isso! A grande maioria das pessoas escarnece de quem fala sobre estas coisas, ridiculariza o Evangelho de Jesus Cristo e faz pouco caso de sua morte sacrificiosa na cruz. São pessoas que declaram-se crentes porque “crêem” em Deus, mas não acham importante freqüentar uma igreja, que é onde está o cabeça, que é Cristo. Dizem que acreditam em Deus, mas desprezam a sua Palavra, principalmente quando esta fala de pecado e condenação eterna. Eu creio em Deus da minha forma, dizem; Não preciso estar dentro de uma igreja para buscar a Deus, afirmam. Como estas pessoas podem ser salvas? Como poderão alcançar o Reino de Deus reservado para os eleitos de Cristo? Para eles deve haver algum outro lugar para onde ir após a sua morte.
         Surge, então, outra prova irrefutável da salvação individual: existem dois destinos pós-morte: céu ou inferno. Em vida, somente em vida, podemos escolher para onde queremos ir. Os que crêem em Cristo e na sua obra expiatória, escolheram o céu; os que rejeitam a Cristo e preferem uma vida de pecado, escolheram o inferno, por mais dura que esta palavra possa parecer. Este não é um julgamento protestante, mas uma decisão divina. Senão, porque a Bíblia falaria sobre inferno, lago de fogo, condenação eterna, lugar de choro e ranger de dentes...?
Mas o que acontece com aquela pessoa que vive piedosamente, mortificando-se, dando esmolas, mas não crê no Deus da Bíblia, ou crê mas “do jeito dela”, sem aceitar jamais a Cristo como seu Senhor e Salvador? Terá ela salvação? Suas obras em favor de si mesma poderá garantir-lhe uma lugar no seio de Abraão? É o que veremos a seguir num breve estudo sobre a doutrina da salvação.

   
A doutrina bíblica da Salvação[1]

         Chamamos “doutrina bíblica” porque existem várias doutrinas sobre a salvação em diversas religiões, cristãs ou não, e todas elas pregam aquilo que acham correto, mas em sua maioria destoam completamente daquilo que é a verdade de Deus. O catolicismo romano, por não conseguir base bíblica para sustentar suas doutrinas, senão alguns versículos totalmente fora de seu contexto, teve de apelar para a Tradição e é ela que anula, mais do que tudo, a obra redentora de Cristo na cruz do Calvário, por considerar a salvação pessoal inexistente e criar o purgatório, lugar de expiação daquilo que Cristo já expiou.
         Apesar de todas as doutrinas errôneas que tem sido formuladas a cerca do assunto, a salvação existe e é um fato marcante na vida daquele que abraça a fé cristã. Se assim não fosse, Cristo teria morrido em vão. A salvação, segundo a Bíblia, envolve três aspectos que estudaremos a seguir[2]. O estudo que veremos não usa versículos isolados para firmar uma verdade, mas utiliza-se de toda a doutrina expressa na Palavra de Deus sobre o assunto (vide p. 40 do livro: textos paralelos). 

Justificação

1.    Sua natureza: A palavra “justificação” é um termo forense que nos lembra o tribunal de Deus: o homem é condenado por seu pecado, julgado e absolvido, declarado justo, isto é, justificado. Esta justificação independe de nossa atuação neste tribunal em defesa de nossos interesses, mas é um Dom gratuito de Deus o qual nos é outorgado pela fé em Cristo (Romanos 1:17; 3:21,22). Este veredicto divino ninguém pode contradizer, embora tenhamos um passado pecaminoso e ainda estejamos sujeitos ao erro (Romanos 8:34). Na justificação, Deus perdoa todos os nossos pecados e nos imputa justiça (Romanos 8:1). Somos justificados pela fé e temos paz com Deus (Colossenses 1:20; Romanos 5:1). Esta justificação nos dá nova posição diante de Deus e nos considera justos, o que independe de nossa maldade ou bondade. A maravilha do Evangelho está justamente no fato de Deus, mesmo Perfeito, importar-se com os pecadores, os ímpios tornando possível que se tornem bons e cumpridores de seus mandamentos através da fé em Cristo Jesus.
2.    Sua necessidade: O homem encontra-se em estado de rebeldia contra Deus e necessita de uma reparação para reatar  os laços de comunhão perfeita que outrora gozava no paraíso. Mas como pode isso acontecer? Existe algo que ele possa fazer para entrar de novo no favor divino? A epístola aos Romanos apresenta de forma detalhada o plano de salvação de Deus (Romanos 1:16,17). Paulo fala sobre a “justiça de Deus” que torna o homem aceito através da fé em Cristo. Esta justiça é uma necessidade de todo o gênero humano e não apenas de alguns. Todos são indesculpáveis (Romanos 1:19,20; 2:14,15) e estão sob condenação (Romanos 3:19,20). Esta justiça divina tem como finalidade fazer o homem reto, justo, o que é obra exclusiva de Deus, não podendo o homem concorrer para que isso ocorra. É obra do Espírito Santo. Esta verdade bíblica derruba toda e qualquer doutrina do purgatório e das indulgências. A justiça gratuita de Deus demonstra a incapacidade do homem de se autojustificar de seus pecados (Romanos 3:21; Gênesis 3:15; 12:3; Gálatas 3:6-8; Jeremias 23:6; 31:31-34). Infelizmente, os judeus exaltaram demais a lei, imaginando que ela fosse um agente justificador, deixando de olhar para Deus e buscando uma justiça própria (Romanos 10:3), como ocorre hoje no catolicismo romano.
3.    Sua fonte: A única fonte possível para que o pecador possa justificar-se diante de Deus e ter livre a cesso à Sua presença é a Graça (Efésios 2:8,9). Graça significa, antes de tudo, um favor imerecido que nos é dado através da bondade de Deus e não incorre em nenhuma dívida para com Ele. Ela é um benefício legítimo de Deus, independente de merecermos ou não, porque de fato não o merecemos (Romanos 6:23). Esta Graça revela-se na expiação de Cristo, onde toda a nossa dívida foi paga pelo seu sangue (Romanos 3:24; Efésios 1:6). Deus é Fiel e Justo (1 João 1:9) e não poderia virar o rosto e fingir que não pecamos e simplesmente nos perdoar. Precisávamos pagar esta dívida e ele já foi paga por Cristo, independente de nossas obras ou atividades. O catolicismo romano, todavia, e muitas religiões não-cristãs, insistem que o homem deva fazer algo para merecer a salvação. Parecem não se conformar com o Presente de Deus, a sua Graça. Tentam conseguir isto através de autoflagelação, observância de ritos, peregrinações e esmolas. Mas o fato de haver uma Graça tão amorosa demonstra que o cristianismo distancia-se em muito das religiões pagãs.

Salvação é a justiça de Deus imputada ao pecador; não é a justiça imperfeita do homem. Salvação é divina reconciliação; não é regulamento humano. Salvação é o cancelamento de todos os pecados; não é eliminar alguns pecados. Salvação é ser libertado da lei e estar morto para a lei; não é ter prazer na lei ou obedecer à lei. Salvação é regeneração divina; não é reforma humana. Salvação é ser aceitável a Deus; não é tornar-se excepcionalmente bom. Salvação é perfeição em Cristo; não é competência de caráter. A salvação, sempre e somente, procede de Deus, nunca procede do homem.[3]

4.    Seu fundamento: Somente provendo justiça ao homem Deus pode tratá-lo como pessoa justa. Mas de que forma? Mediante a redenção que há em Cristo, que nos favorece com o título de “justos” (Romanos 3:24; Efésios 1:7). Cristo morreu na cruz para nos salvar e tornou-se a propiciação externa para a nossa justificação, através da fé. Para apresentar-se diante de Deus, necessitamos de um caráter renovado, recriado pela pureza do sangue de Cristo (Apocalipse 19:8; 3:4; 7:13,14) e só poderemos conseguir isto através da “justiça de Deus”, comprada pela morte expiatória de seu Filho Unigênito na cruz do Calvário (Isaías 53:5,11; 2 Coríntios 5:21; Romanos 4:6; 5:18,19), independente de nossas obras (Romanos 3:28; Gálatas 2:16). Esta justificação pela fé é um ato inicial da vida cristã, que deve se estender através da nossa santificação, onde somos feitos novas criaturas (2 Coríntios 5:17). Se nos revestimos da justiça de Cristo, devemos, também, purificarmo-nos, do mesmo modo como Ele é puro (1 João 3:3).
5.    Seus meios: Se pela lei o homem não pode justificar-se, como o fará? Se nada do que ele faça em favor de si mesmo conta para lhe assegurar a salvação pessoal, como poderá ele obtê-la? Através da fé, que lhe dá uma mudança de posição e condição diante de Deus (Romanos 3:22; 4:11; 9:30; Hebreus 11:7; Filipenses 3:9; Efésios 2:8,9). Através da fé os méritos de Cristo são comunicados aos pecadores, que sofrem uma transformação diante de Deus, chamada de justificação, e uma transformação espiritual, chamada de regeneração. Esta justificação pela graça independente das obras do homem (Romanos 3:20, 24) remove o perigo do orgulho de autojustiça e auto-esforço e o medo de ninguém ser suficientemente capaz de conseguir a salvação. Talvez seja isto que acontece com o catolicismo romano: após uma vida de abnegação, sacrifícios e esmolas, ainda resta a passagem pelo purgatório, pois nada do que fez durante a vida lhe assegurou a salvação. Muitos santos, em seus escritos, demonstram sua frustração e o medo da outra vida. Esta fé não somente salva o pecador como transforma o seu coração, seus pensamentos e suas atitudes (Efésios 3:17; 1 Tessalonicenses 1:3; Romanos 14:23; 2 Tessalonicenses 2:12), implicando em sujeição à justiça de Deus (Romanos 10:3). É uma fé que, quando viva, produz obras (Tiago 2:18,26).

Regeneração

         Quanto mais nos aprofundamos neste tema, mais podemos perceber que a salvação é agora (2 Coríntios 6:2). Não após a nossa morte através dos sufrágios que nos são oferecidos durante as Missas para aplacar nossa agonia no suposto purgatório, mas enquanto temos chance de escolher entre uma vida nova ou uma vida velha, entre o céu ou o inferno. Uma das mais contundentes provas é a regeneração que a salvação efetua em nosso ser. Através de uma união “pessoal” com Cristo, aquele que se arrepende e crê passa a viver uma nova vida, dada por Deus. 
Esta regeneração é descrita no Novo Testamento das seguintes formas: 

1.    Nascimento: Somos gerados não pela vontade da carne, mas pela vontade de Deus, nosso Pai carnal e agora, também, Pai espiritual (1 João 5:1); nascemos de novo através do Espírito Santo da promessa (João 3:8); nossa natureza agora é celestial, pois “nascemos do alto” (João 3:3,7). 
2.    Purificação: Nosso pecado é lavado pela purificação operada pelo Espírito Santo e simbolizada no batismo. O homem velho é despido e nos revestimos do homem novo. Toda a imundícia que outrora maculava nossa alma é limpa através desta lavagem regeneradora (Tito 3:5; Atos 22:16). 
3.    Vivificação: Através da operação do Espírito Santo dentro de nós, somos lavados, purificados e regenerados para uma vida nova. Esta renovação é concedida por Deus mediante seu Filho Jesus Cristo, que a si mesmo entregou por nós e se fez pecado para que tivéssemos a vida eterna (Tito 3:5; Colossenses 3:10; Romanos 12:2; Efésios 4:23; Salmo 51:10.
 4.    Criação: Somos criação de Deus, feitos à sua imagem e semelhança (Gênesis          2:7), mas destituídos de sua Glória e da sua Santa presença pelo pecado. A           regeneração nos recria e nos torna novamente filhos de Deus, transformando toda          a  Nossa natureza, caráter, desejos e propósitos (2 Coríntios 5:17; Efésios 2:10;       4:24;   Gálatas 6:15).
5.    Ressurreição: Esta ressurreição é simbolizada no batismo das águas, quando o crente convertido morre para o mundo e ressuscita para Deus. Ele dá testemunho público daquilo que Deus já vem operando na sua vida desde a sua conversão (Romanos 6:4,5; Colossenses 2:13; 3:1; Efésios 2:5,6).

Embora a igreja católica romana possua todos estes ensinamentos em sua Bíblia, ela tende a assemelhar-se mais com algumas religiões pagãs, que pregam a moralidade, mas são incapazes de considerar o homem regenerado. Falam sobre uma vida sadia e desprendida do materialismo, mas não oferecem santidade ou vida eterna após a morte. Criam penitências e ritos para a expiação do pecado, mas não oferecem nenhuma esperança de que isto de fato aconteça. Para isso, no catolicismo romano, existe o purgatório. Mas o cristianismo oferece algo mais, pois lida diretamente com Deus. Os dogmas romanistas são ineficazes e geram repúdio na maior parte das pessoas, que desejam uma religião onde nada possa afetar sua vontade própria, seus desejos e pecados; onde possam servir a Deus “do seu jeito”, sem abrir mão da vida dissoluta. Estes acreditam em Deus e desejam servi-lo somente enquanto isto estiver resolvendo os seus problemas pessoais e nada mais. Somente a genuína salvação oferece uma transformação total do caráter humano e o religa com Deus.

1.    Sua necessidade: Nicodemos, profundo conhecedor da lei, aborda Jesus com a seguinte preocupação: o que ele deveria fazer para entrar no Reino de Deus. A declaração de Jesus é uma resposta ao anseio mais profundo de sua alma, cansada de ver que os rituais judaicos não lhe proporcionavam a segurança do favor divino que deveriam, nem podiam devolver a glória divina que havia se afastado de Israel. Cristo fez com que ele compreendesse que havia uma necessidade urgente de purificação e transformação (João 4:16-18), “uma mudança radical e completa da natureza e caráter do homem em sua totalidade”[4]. O homem é originalmente pecador e necessita de um novo e radical nascimento, porque todas as suas condutas e relações são imperfeitas. Por não poder transformar-se a si mesmo, o homem necessita de um agente divino: o Espírito Santo, que o purifica e santifica, tornando-o reto diante de Deus e devolvendo-o ao seu estado original quando, no Paraíso, gozava de perfeita harmonia com o Criador.
2.    Seus meios: O meio bíblico para a regeneração nada tem a ver com mortificação da carne nem trancar-se num mosteiro para tentar esquecer seu coração promíscuo e os pensamentos impuros. O Espírito Santo é o agente transformador que opera no coração do homem, transformando-o (João 3:6; Tito 3:5). O que Deus criou e foi maculado pelo pecado original, Cristo recria em sua morte vicária pela manifestação do Espírito Santo (João 3:3,13; Gálatas 3:13,14). Ele é fonte inesgotável de vida e energia espiritual (João 6:62; Atos 2:33). O Pai tem vida em si (João 5:26) e nos concede seu Espírito vivificante (1 Coríntios 14:15) que , não somente ressuscita os mortos, mas vivifica as almas mortas dos homens (João 5:25,26; Gênesis 2:7; João 20:22; 1 Coríntios 15:45). E qual o papel do homem nesta regeneração? Por si próprio é impossível que ele consiga se regenerar, em todos os sentidos. Seu papel é simplesmente arrependimento e .
3.    Seus efeitos: A regeneração surte três efeitos na nossa vida: a) Posicionais: saímos da condição de filhos bastardos para filhos adotivos e gozamos de todos os privilégios que esta adoção pode nos proporcionar (João 1:12,13; 1 João 3:1; Romanos 8:15,16); b) Espirituais: a regeneração envolve uma união espiritual com Deus e com Cristo mediante o Espírito Santo, onde passamos a ser habitação divina (2 Coríntios 6:16; Gálatas 2:20; 4:5,6; 1 João 3:24; 4:13), o que resulta em mudança de caráter (Romanos 6:4; Ezequiel 3:26; 11:19; Efésios 4:24; 2 Pedro 1:4); c)Práticos: a regeneração opera atitudes práticas na vida do homem e não apenas uma religiosidade meramente contemplativa: ódio pelo pecado (1 João 3:9; 5:18), obras de justiça (1 João 2:29), amor fraternal (1 João 4:7) e vitória sobre o mundo (1 João 5:4).

Santidade

         Para o protestantismo, vale aquilo que a Bíblia apresenta em seu conteúdo inefável sobre o tema, independente do que reza a Tradição católica romana (sobre este assunto estudaremos mais adiante). A princípio é preciso saber que somente é possível alcançar a santidade enquanto vivos, pois após a morte segue-se o juízo (Hebreus 9:27). Esta santidade não exclui o pecado da vida do cristão, pois ele continuará habitando em um corpo sujeito ao erro, com um coração sujeito às mais diversas tentações. Mas a sua santidade, o seu compromisso com Deus é que dirá que tipo de caráter ele possui: carnal ou espiritual. Se carnal, certamente necessitará ainda de crescimento espiritual, o que lhe é dado através do Santo Espírito, o mesmo que santifica.


1) Natureza da Santificação

         “Santificação”, “santidade” e “consagração” são sinônimos, bem como “santificar” e “santos”. Mas o que significa “santo”? Significa que a pessoa tem uma vida espiritual acima da média geral? Significa que a pessoa não mais comete pecados? Conforme podemos ver através de toda a Escritura, a palavra “santo” tem cinco sentidos:

1.    Separação: “Ser santo” significa “ser separado”. Quando nos tornamos filhos de Deus através da fé em Cristo Jesus, somos separados do mundo por Deus para servir a Ele. Esta santidade reflete a Santidade de Deus, que está separado de tudo aquilo que diz respeito ao mundo. É isto que simboliza o batismo: separação do mundo, um novo nascimento. A santidade de Deus demonstra ainda a sua perfeição moral, e o santo, ainda que pecador, busca viver esta perfeição através da prática dos mandamentos de Cristo.
2.    Dedicação: Aquele que é separado é separado para alguma coisa, algum fim. O santo é separado do mundo para dedicar-se a Deus, à prática da sua Palavra. Lemos em Efésios 2:8-10 que somos salvos com um propósito: dedicar-nos à obra de Deus, por meio de Cristo. Como dedicar-nos ao serviço de Deus estando mortos? Para o catolicismo romano os santos continuam sua “caridade” no céu intercedendo pelos que ainda peregrinam na Terra, olhando por eles e auxiliando-os em suas fraquezas e problemas.
3.    Purificação: Aquele que se dedica a Deus deve estar limpo, da mesma forma que era limpo tudo aquilo que, na Antiga Aliança, seria usado para o serviço divino. Somos santificados na medida em que o caráter de Deus age sobre o nosso, tornando-nos participantes da sua natureza. Limpeza não significa santidade, mas é uma condição para ela. Não podemos nos aproximar de Deus sem estarmos purificados. E quem nos purificará? No Antigo Testamento os objetos para uso no altar eram purificados através de azeite (Êxodo 40:9-11). A nação de Israel necessitava de sacrifícios para ser purificada de seus pecados (Êxodo 24:8; Hebreus 10:29). Mas estes sacrifícios da Antiga Aliança foram aperfeiçoados em Jesus Cristo, através do seu sangue derramado para nos santificar (Hebreus 13:12). Deus Pai nos santifica em tudo (1 Tessalonicenses 5:23) para um sacerdócio espiritual (1 Pedro 2:5) pela mediação de seu Filho, Jesus (1 Coríntios 1:2,30; Efésios 5:26; Hebreus 2:11), por meio da Palavra (João 17:17; 15:3), do sangue (Hebreus 10:29; 13:12) e do Espírito Santo (Romanos 15:16; 1 Coríntios 6:11; 1 Pedro 1:2). Esta purificação é interna e não se dá através de rituais com água benta, incenso ou mortificações. É operada pelo Espírito Santo e não pelas mãos do sacerdote. Isto significa que o Espírito da Nova Aliança substitui de maneira perfeita e definitiva o ofício do sacerdócio da Antiga Aliança.
4.    Consagração: Aquele que se santifica é consagrado a Deus, isto é, vive uma vida santa e justa. Enquanto a justiça representa uma vida regenerada em conformidade com a lei divina, a santidade aponta para uma regeneração em conformidade com a natureza divina (1 Pedro 1:15). Aqueles que são declarados santos  (Hebreus 10:10) são exortados a seguir a santidade (Hebreus 12:24); aqueles que foram purificados  (1 Coríntios 6:11) são exortados a purificar-se a si mesmos (2 Coríntios 7:11). Isto quer dizer que consagração é uma busca constante pela perfeição; é um viver sempre em acordo com a Palavra de Deus. Quer dizer também que um indivíduo não pode pretender esta purificação após a sua morte, através do purgatório, como se este lugar substituísse o mover do Espírito Santo no coração do homem.
5.    Serviço: Através da santificação da Nova Aliança, nos tornamos sacerdócio real, nação santa e por isso devemos oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus (1 Pedro 2:9,5); sacrifício de louvor (Hebreus 13:15) e sacrifícios vivos sobre o altar de Deus (Romanos 12:1). Se somos servos de Deus não devemos permanecer apenas como crentes nominais, como milhões de católicos e evangélicos, mas nos colocar a disposição do seu serviço (Atos 27:23). Este sacrifício não é o “sacrifício eucarístico”. Neste último oferece-se a Deus o sacrifício de seu Filho.


2) O tempo da santificação

         Uma das maiores críticas aos protestantes é que, assim que se convertem, “acham que já são santos”. Antes viviam uma vida dissoluta, em bebedeiras e orgias sexuais, agora “só querem ser santos”. As pessoas que assim acusam os crentes protestantes, dizem que todos são pecadores e que não existe nenhum santo. Realmente, nenhum crente com o mínimo de conhecimento bíblico negará o fato de que todos somos pecadores (Romanos 3:23). Mas nenhum também se negará em dizer Sou santo em Cristo Jesus. E esta santificação não ocorre num tempo que se chama pós-morte, mas num tempo que se chama agora! É o que podemos ver a seguir.

1.    Santificação posicional e instantânea: O apóstolo Paulo descreve a todos os crentes como a “santos” e como já santificados (1 Coríntios 1:2; 6:11), embora muitos deles insistissem em viver ainda uma vida carnal (1 Coríntios 3:1; 5:1,2,7,8), distante do ideal de Deus e da vocação santa à qual foram chamados. Esta santificação é outorgada ao cristão no momento da sua conversão, assim como a salvação. Não é algo a ser conquistado através de caridade e operações de milagres, mas provém do sacrifício de Cristo na cruz. Caridade qualquer pessoa pode fazer, mesmo sem crer em Deus e por motivos mesquinhos; milagres também.
2.    Santificação prática e progressiva: A separação inicial é apenas o primeiro passo de uma vida de santidade dedicada a Deus e a sua obra. Desta separação para Deus em Cristo Jesus surge a responsabilidade de um viver condizente com a fé que é professada. Mas não progredimos até alcançar a santificação; progredimos na santificação da qual nos tornamos participantes em nossa conversão. Esta santificação é posicional, pois envolve mudança de posição (de pecador a adorador) e prática porque ela exige uma maneira santa de viver. O crente carnal (1 Coríntios 3:3) é convocado à purificação até alcançar a perfeição. Aqueles que foram tratados como santificados e santos (1 Pedro 1:2; 2:5) são exortados a serem santos (1 Pedro 1:15). Quando nos convertemos, morremos para o pecado (Colossenses 3:3) e portanto devemos mortificar nossos membros pecaminosos (Colossenses 3:5). Se nos despimos de velho homem (Colossenses 3:9) devemos nos revestir do novo (Efésios 4:22; Colossenses 3:8).


3) Meios divinos da santificação

         Como vimos no início, a igreja católica romana impõe algumas condições para que a pessoa possa ser chamada de santa. Normalmente são considerados santos, por esta doutrina infundada, somente aqueles que já morreram e foram canonizados. Em vida certamente foram pessoas piedosas, viveram uma vida casta, dedicada ao próximo e desapegada das coisas mundanas. Mas até mesmo os muçulmanos, que não professam a mesma fé que nós, podem viver assim. Mas a santidade não é algo que façamos por merecer, não é uma condição que depende de nossos esforços e obras de caridade. Também não é santo aquele que é piedoso. Muitos piedosos são ateus. Santidade é algo que parte de Deus e tem a ver com o mover do Espírito Santo em nosso ser, nos moldando conforme a vontade de Deus.
         Portanto, os meios de santificação não fazem parte de um conjunto de condições humanas, mas divinas. O papel do homem é se entregar à vontade de Deus e permitir que Ele trabalhe em sua vida e seu caráter. Os meios divinamente estabelecidos para a santificação são três:

1.    O sangue de Cristo: Este é um meio eterno, absoluto e posicional que proporciona uma santificação absoluta diante de Deus (Hebreus 13:12; 10:10,14; 1 João 1:7). A santificação é resultado da obra de Cristo, isto é, a redenção efetivada na cruz do Calvário, através do seu sacrifício vicário. Através da redenção, somos santificados e purificados, livres da condenação eterna e chamados à presença de Deus, unidos a Ele pelo seu Filho e o Espírito Santo da promessa (Hebreus 2:11). Embora santificado e em comunhão com Deus, podemos cair em tentação, mas a santificação é contínua e o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado (1 João 1:7). A confissão de fé e o eterno sacrifício de Cristo removem a barreira da impureza que nos impede de chegar até Deus (1 João 1:9). A renovação do sacrifício de Cristo através da Eucaristia demonstra um sacrifício imperfeito de Jesus e, por conseguinte, uma santificação imperfeita da parte de Deus, pois há uma necessidade de constante e diária renovação.
2.    O Espírito Santo: O Espírito Santo produz uma mudança interna na natureza do homem (1 Coríntios 6:11; 2 Tessalonicenses 2:12; 1 Pedro 1:1,2; Romanos 15:16). É o Espírito Santo que nos identifica como separados para Deus. Ele é o selo que nos autentica. Não nossos esforços, nossas rezas, Maria, os santos, o rosário, mas o habitar da terceira Pessoa da Trindade em nosso coração. Os povos gentios eram desprezados por não andarem de conformidade com a lei mosaica, mas o Espírito de Deus desceu sobre eles na casa de Cornélio, não restando mais dúvidas que eles eram santificados pelo Espírito Santo, independente da lei (Romanos 15:16). Se fôssemos santificados por nós mesmos, de que adiantaria o Espírito Santo? De que nos valeria o sacrifício de Cristo?
3.    A Palavra de Deus: A santificação através da Palavra de Deus é um meio externo e prático, que diz respeito a vida prática do cristão (João 15:3; 17:17; Efésios 5:26; Tiago 1:23-25; Salmo 119:9). A Palavra de Deus confronta-nos com nossos pecados, nos mostra o quanto somos impuros e nos dá um caminho certo a ser seguido. É nela que encontramos as doutrinas sobre Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo e sobre a salvação. Ela aponta para uma vida renovada e um proceder reto diante de Deus; nos ensina sobre amor e perdão e sobre todas as coisas que devemos saber para viver nesta vida. Ela, também, aponta para outra vida, a vida eterna. A Palavra de Deus serve como espelho para nossa alma, uma vez que fomos regenerados e lavados (Tito 3:5; Tiago 1:22-25). É impossível haver santidade sem a Palavra Santa do Deus vivo.


4) O verdadeiro método de santificação

         Além daquelas idéias totalmente errôneas do catolicismo romano sobre santificação, ainda encontramos mais três: a) erradicação do pecado, o que é impossível do ponto de vista humano e improvável do ponto de vista divino. Só estaremos livres do pecado quando estivermos na glória com Deus; b) legalismo, isto é, observância de regras e regulamentos, como monges. Paulo nos ensina que nada disso serve para a nossa santidade (Romanos cap. 6), assim como também não pode nos justificar (Romanos cap. 3); c) ascetismo, que é tentar subjugar a carne e alcançar a santidade através de privações e sofrimentos, método que a maioria dos católicos romanos aprecia, também os hindus ascéticos. Mas é a alma e não o corpo que peca. Este é um trabalho do Espírito Santo.
         O método verdadeiro e bíblico baseia-se na obra redentora de Cristo e na atuação do Espírito Santo na vida do crente salvo. A libertação que ele tanto necessita das obras da carne só pode ser alcançada através de uma negação de si mesmo e uma total entrega às mãos do oleiro, que é Deus. Para negar estas verdades e impor seu sistema de indulgências, cuja finalidade sempre foi arrecadar fundos para as dioceses, o catolicismo romano jamais poderia fazer uso somente da Bíblia somente, por isso inventou a Tradição.

1.    Fé na expiação: A obra de santificação acontece da mesma maneira que ocorre a salvação: pela fé. Os judeus, para justificarem-se diante de Deus dos seus pecados e para expiá-los, faziam constantes sacrifícios. Mas eram sacrifícios externos que não podiam mudá-los internamente. Com a Nova Aliança, a graça de Deus tomou o lugar da lei, de modo que pela lei ninguém pode ser justificado, mas pela graça que atua através da fé (Efésios 2:8,9). Esta fé, sem obras, poderia, segundo acusavam alguns, levar a pessoa a continuar na prática do pecado (Romanos 3:8; 6:1), mas Paulo afirma que os que morreram para o pecado devem viver segundo a graça, procurando não pecar mais (Romanos 6:2). A nova vida em Cristo Jesus (Mateus 6:24) exclui a possibilidade de uma vida de pecado, mas cobra uma vida nova, um novo proceder (Romanos 6:4). Ora, aquele que está morto[5] está justificado do pecado (Romanos 6:7). Aquele que está morto para o pecado, deve viver para Cristo (Romanos 6:9-11). Esta é uma obra que não parte de nós, mas da expiação de Cristo na cruz. Pelas suas feridas fomos sarados (1 Pedro 2:24), de modo que não há nada que façamos que nos justifique a nós mesmos, já que já fomos justificados. Ele morreu por nós sendo nós ainda pecadores (Romanos 5:8).
2.    Cooperação com o Espírito: Como já temos visto, é impossível que pela lei mosaica o homem seja justificado. Os católicos não seguem esta lei, mas criaram um conjunto de outras regras e dogmas para a justificação e a santificação, começando pelo batismo e pela caridade e culminando com a criação do Purgatório. O livro de Romanos trata sobre este assunto e assegura que pela lei nenhum homem será justificado. Não que a lei de Deus seja má, mas ela pode causar a inclinação pecaminosa da natureza humana. Paulo indica, na epístola aos Romanos, capítulo 7, que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v. 8), o poder (v. 9), a falsidade (v. 11), o efeito (v. 10,11) e a vileza do pecado (vs. 12,13). O próprio Paulo, antigo observador cativo da lei, reconhece-se como miserável (v. 24, vide 6:6) e agradece por agora estar debaixo da lei de Cristo, que é a lei da graça (v. 25). Nós estamos mortos no pecado, isto é, condenados (Efésios 2:1; Colossenses 2:13), separados de Deus, e necessitamos morrer para o pecado, isto é, a santificação (Romanos 6:11), através de Cristo que morreu pelos nossos pecados (2 Coríntios 5:14; Gálatas 2:20). Morrer para o pecado não é uma obra que possamos realizar através de rezas, sacrifícios e mortificação ou indulgências, mas é uma obra realizada pelo Espírito Santo de Deus (Romanos 8:13). Esta obra conta com a nossa cooperação: viver e andar no Espírito, permitir que Ele atue, sem apagá-lo ou relegá-lo ao segundo plano em nossas vidas, dando mais ênfase ao ego e ao mundo. Cooperar com o Espírito Santo significa permitir que Deus opere sua vontade sobre a nossa vontade, suas decisões sobre as nossas decisões.


5) Santificação completa

         Será que é possível para o homem alcançar a perfeição aqui na Terra? A resposta dependerá do que entendemos por perfeição. Os protestantes são acusados de quererem ser perfeitos, “santinhos”, julgando a todos os que não procedem da mesma forma. Para o catolicismo, ser santo pode significar uma perfeição tal como Maria alcançou, mesmo antes de nascer, por ser predestinada a ser mãe do Salvador. Mas se formos estudar profundamente o sentido de perfeição que a Bíblia ensina, veremos que em muito se distancia dos nossos padrões. Existe, segundo a Palavra de Deus, a possibilidade de sermos perfeitos, ainda que vivamos em um mundo de pecado.

1.    O significado de perfeição: A perfeição pode ser absoluta e relativa. Deus é absolutamente perfeito, pois não necessita ser melhorado em nada. Seus pensamentos e suas ações são sem erro. Ele é completo em todos os sentidos, por isso pode chamar-se de o Eu Sou. Deus é, não está sendo, se transformando para chegar a algum ponto de perfeição. Ao homem pertence a perfeição relativa. No Antigo Testamento, a palavra “perfeição” significa ser “sincero e reto” (Gênesis 6:9; Jó 1:1) e estava ligada ao desejo e determinação em fazer a vontade de Deus, apesar  do pecado. Davi, mesmo com todos os seus erros, era um homem “segundo o coração de Deus”. No Novo Testamento, várias palavras são usadas para dar o sentido de perfeição: ser apto ou capaz  para uma certa tarefa ou fim (2 Timóteo 3:17); algum fim alcançado por meio de crescimento mental ou moral (Mateus 5:48; 19:21; Colossenses 1:28; 4:12; Hebreus 11:40); um equipamento cabal (2 Coríntios 13:9; Efésios 4:12; Hebreus 13:21); terminar ou trazer a uma terminação (2 Coríntios 7:1); fazer repleto, cumprir, encher, nivelar (Apocalipse 3:2). Cada uma destas palavras deve ser usada dentro do seu contexto, mas todas elas indicam que há possibilidade de perfeição para o gênero humano. Esta perfeição – conforme o significado da palavra  no Novo Testamento – é resultado da obra de Cristo por nós (Hebreus 10:14) e diz respeito a uma madureza espiritual em oposição às inclinações carnais (nossa infância espiritual: 1 Coríntios 2:6; 14:20; 2 Coríntios 13:11; Filipenses 3:15; 2 Timóteo 3:17). Ela é progressiva (Gálatas 3:3) e está presente na vontade de Deus, no amor ao homem e no serviço (Colossenses 4:12; Mateus 5:48; Hebreus 13:21). Mas a perfeição final do crente não é terrena, mas será alcançada somente no céu, onde não terá mais necessidade de buscá-la, pois tudo será perfeito (Colossenses 1:28,22; Filipenses 3:12; 1 Pedro 5:10).
2.    Possibilidades de perfeição: A perfeição é efetivada em nós através do perfeito sacrifício de Cristo e da sua perfeita graça e justiça. Os sacrifícios da lei mosaica eram imperfeitos, incapazes de purificar o homem de seus pecados. Mas Deus, que é perfeito, morreu para nos salvar e nos conduzir a uma vida em santidade, conforme a sua imagem e semelhança. Mas não são todos os teólogos e pregadores que sustentam esta verdade. Alguns acham ser impossível alcançar tal perfeição. Por outro lado, alguns ficam num lado extremo, achando que o crente não peca mais. A posição mais correta seria a de que a salvação é perfeita e definitiva, bem como a santidade, mas que o cristão deve desenvolvê-las no decorrer da sua vida, o que podemos chamar de “crescimento espiritual”. O Novo Testamento sustenta um nível moral elevado, sendo dever do crente buscar esta perfeição (Filipenses 3:12; Hebreus 6:1). Esta santidade entra em confronto com a nossa natureza pecaminosa, uma vez que agora temos, também, uma natureza espiritual (Gálatas 5:17). Em contradição a isto temos a doutrina romanista da canonização pós-morte. Depois que a alma deixa o corpo, como poderá pecar? Como poderá buscar equilíbrio entre a natureza humana e a divina? Como o defunto buscará um nível moral elevado num contexto onde já não existem níveis de relacionamentos humanos capazes de proporcionar crescimento moral e espiritual?


6) Santos pecadores

Mesmo justificados e santificados, ainda existe a possibilidade do pecado, por isso a necessidade de vigilância (Gálatas 6:1; 1 Coríntios 10:12). Quando nos convertemos não nos tornamos super-humanos, com superpoderes, mas humanos com poderes sobrenaturais que fazem guerra dentro de nós para que não façamos apenas o que for da nossa vontade. É isto que nos difere dos demais: o ser humano comum, descrente, tem em si somente a natureza pecaminosa, carnal, terrena. Quando convertidos, passamos a possuir, também, uma natureza espiritual, celestial, divina. É este fator que nos torna santos, independente de nossa potencialidade humana. Não nós, “os protestantes”, mas todo aquele que crê (João 3:16).
Por termos nascido em pecado (Salmo 51:5) não temos como nos livrar de nossa carne, que está sendo constantemente provada (Gálatas 5:17; Romanos 7:18; Filipenses 3:8). Nosso conhecimento não é completo, mas repleto de lacunas que bem podem ser preenchidas por pecado, mesmo fruto de ignorância. Ainda assim, podemos manter-nos firmes no propósito de não pecar, resistindo à vontade da carne e às investidas do inimigo (Tiago 4:7; 1 Coríntios 10:13; Romanos 6:14; Efésios 6:13,14), permitindo que frutifiquem
em nós os frutos da justiça (1 Coríntios 10:31; Colossenses 1:10) para que possuamos a graça, o poder do Espírito Santo e a perfeita comunhão com Deus (Gálatas 5:22,23; Efésios 5:18; Colossenses 1:10,11; 1 João 1:7).
Deus sabe da nossa natureza, sabe que somos seres falhos, nascidos em pecado e, por isso, estamos constantemente errando, mesmo que nossas inclinações sejam santas (Salmo 103). Por isso Ele nos proveu de algo que superasse nossos erros, que estivesse acima da nossa capacidade de autojustificação, que não partisse de nós, mas dEle: o sangue de Cristo, que nos purifica de todo pecado e nos leva limpos para entrarmos na Sua presença (1 João 1:7; Filipenses 2:15; 1 Tessalonicenses 5:23).
Se santidade significa ser separado para o serviço de Deus e cumprir os seus mandamentos, como poderíamos fazer estas coisas estando já mortos? Como servir a Deus dentro de nossas covas? Estando no céu, já não temos mais o que fazer, a não ser adorá-lo pelos séculos. Lá Ele não necessita da nossa ajuda para nada. Ele tem os anjos, que são seus mensageiros ocasionais, tem a sua Palavra entregue aos homens, tem o Espírito Santo e tem seu Filho, o Verbo que se fez carne, além de nós, vivos, seus ministros.


[1] Este estudo servirá também para refutar as doutrinas das indulgências, do purgatório e da satisfação (reparação) pelos pecados, o que veremos mais adiante.
[2] MYER Pearlman, op. Cit., p. 144 a 175.
[3] MYER Pearlman, op. Cit., p. 152, citando Lewis Sperry Chafer (grifos do autor).
[4] MYER Pearlman, op. Cit. P. 158.
[5] Morto aqui não é no sentido de “falecido”, mas morto espiritualmente para o pecado: nascer de novo.

Um comentário:

  1. Muito bom,que Deus seja convosco e continue lhe inspirando a falar do amor imensurável que Deus tem por seus filhos.

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