Montfort apresenta agora, de maneira detalhada, o que significa a sua
devoção, onde o fiel deve agir com, em,
por e para Maria. Em seu Tratado
ele fornece elementos mais fortes para abordar o tema, por isso nos
utilizaremos dos dois materiais para formularmos uma doutrina mais completa e
mais consistente com o que realmente o santo católico pretende dizer com sua
teoria da perfeita devoção a Maria.
1ª. Agir com
Maria
A
prática essencial da devoção a Maria consiste, primeiramente, em tê-la como
modelo perfeito de tudo aquilo que se deve fazer, fazendo todas as coisas por
meio dela (p. 36). Essa teoria Montfort já havia desenvolvido em capítulo
anterior, e agora ele aprofunda o tema ensinando a necessidade de uma total
aniquilação diante de Deus, algo que jamais pode ser conseguido por meio dos
próprios esforços humanos, dependendo, assim, o fiel do patrocínio de Maria,
sendo necessário “recorrer à Santíssima Virgem, e unir-se a Ela e às suas
intenções, embora desconhecidas” (p. 37). Quando assim o fiel procede, Maria
opera nele, dele e para ele como bem lhe parecer, para a maior glória do seu
Filho, “de maneira que não haja vida interior e operação espiritual senão sob a
dependência dela” (idem).
No
Tratado à Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, as declarações de Montfort
são ainda mais sérias e comprometedoras, no que diz respeito à verdade bíblica.
Ele afirma (p. 245):
Lembrai-vos, repito-o uma segunda
vez, de que Maria é o grande e único molde de Deus próprio para fazer imagens
vivas de Deus, com pouca despensa e em pouco tempo; e que uma alma que
encontrou este molde, e que nele se perde, fica em breve mudada em Cristo, aí
representado ao natural.
É
claro que não existem versículos bíblicos que confirmem o que acabou de ser
lido, pois o que se sabe a respeito da imagem de Deus é que ela é o próprio Cristo:
“Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois,
nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as
invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades.
Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele,
tudo subsiste” (Colossenses 1:15-17, cf. Colossenses 3:10). Em outras palavras:
o Pai e o Filho são a mesma pessoa. E é nesta imagem que fomos escolhidos e
predestinados, para sermos conforme a imagem do Filho de Deus (Romanos 8:29).
Antes, éramos portadores da imagem terrena e carnal propiciada pela Queda em
Adão; agora, porém, devemos “trazer a imagem do celestial” (1 Coríntios 15:49).
A nossa transformação na imagem de Deus se dá
verdadeiramente por Cristo, jamais por Maria ou por qualquer outra criatura.
Devemos estar certos que esta não é uma obra meritória, mas fruto do mover
gracioso de Deus em nós. Eis o que Paulo escreve aos crentes de Corinto em sua
segunda epístola ao retratar a cegueira espiritual do povo judeu que os impedia
de enxergar em Cristo o Messias prometido por Deus (3:12-18):
Tendo, pois, tal esperança [cf. 3:1-11],
servimo-nos de muita ousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha véu
sobre a face, para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que
desvanecia. Mas os sentidos dele se embotaram. Pois até ao dia de hoje, quando
fazem a leitura da antiga aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo
revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu
está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao
Senhor, o véu lhes é tirado. Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o
Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de
glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.
Aquilo
que os israelitas estavam impossibilitados de ver, devido à sua falta de fé, a
sua cegueira espiritual, nós vemos nitidamente como que num espelho e somos
transformados à imagem do Filho de Deus, não por Maria, mas de glória em
glória, a glória do Espírito Santo de Deus, que é o próprio Senhor Jesus. A
isto pode-se dar o nome de santificação, que envolve transformação à imagem de
Cristo (Colossenses 3:10), ocorrendo agora neste presente tempo de nossa
conversão ao Senhor (Romanos 12:2) ao contemplarmos a sua glória (João 17:24),
tendo como agente o Espírito Santo.
Sendo
assim, o leitor, ou leitora, deverá aceitar a verdade bíblica incontestável e
divinamente inspirada que é Cristo quem opera em nós a santidade e é através dele,
tendo como agente o Espírito Santo, que nos transformamos em sua própria
imagem, como uma recuperação daquela imagem perdida no Éden, quando Adão pecou
e destituiu a todos nós da glória de Deus. Não existe, na Bíblia, qualquer
alusão à necessidade da veneração à Maria ou algum texto que a coloque como
“único” molde de Deus. O molde é Jesus Cristo. Podemos olhar para a figura de
Maria na Bíblia e procurar imitar a sua fé e sua obediência constante à vontade
de Deus, mas é em Cristo que somos formados e obtemos o crescimento e o
amadurecimento espiritual que Deus promove em nós.
2ª. Agir em
Maria
A
segunda prática desta devoção diz respeito a fazer tudo em Maria (p. 37, 38),
isto é:
habituar-se pouco a pouco a
recolher-se dentro de si mesmo, para aí formar uma pequena idéia (sic!) ou imagem espiritual da Santíssima
Virgem... Se rezar, será em Maria; se receber Jesus pela sagrada comunhão, colocá-lo-á
em Maria para nela ter as suas complacências; se agir, será em Maria; e em toda
parte e em tudo produzirá atos de renúncia a di mesma.
Assim,
o fiel católico está cercado de Maria por todos os lados e nada poderá fazer
que não seja nela e para ela. Toda a sua fé, todas as suas obras, toda a sua devoção,
o seu culto a Deus – se é que realmente existe o desejo de cultuar a Deus –
tudo deverá ser feito alicerçado em Maria. Sem ela, nada do que for feito tem
sentido algum ou qualquer validade diante de Deus.
Todavia, é em seu
Tratado que Montfort apresenta de maneira ainda mais clara a verdadeira
natureza de Maria e desta devoção que ele ensina no Segredo de Maria. Ele
afirma que a mãe de Jesus é o verdadeiro “paraíso terrestre do novo Adão, de
que o antigo paraíso é apenas figura” (p. 245). Compreendendo o que o santo
católico está querendo nos ensinar, aquele paraíso descrito por Deus no livro
de Gênesis, criado do nada juntamente com todas as outras coisas da terra;
aquele lugar de perfeição em que nossos primeiros pais habitavam e onde havia a
Árvore da Vida era apenas uma figura do verdadeiro paraíso de Deus, que é
Maria, no qual Jesus, por nove meses, habitou.
Tal teoria apresentada por Montfort
desemboca consequentemente num dos maiores dogmas do catolicismo romano: o da
Imaculada Conceição de Maria. Este dogma de fé foi definido por Pio IX em 8 de
dezembro de 1854, pela Bula Ineffabilis
Deus. Segundo Montfort, ao retratar o novo paraíso, que é Maria, “Este
lugar santíssimo é formado duma terra virgem e imaculada, da qual se formou e
nutriu o novo Adão, sem a menor mancha de nódoa, por operação do Espírito Santo
que aí habita” (p. 246). Este lugar sagrado e puro é banhado por um rio de
humildade que se divide em quatro braços, que são as quatro virtudes cardeais
(p. 247). Esta é uma “verdade” pregada pelo próprio Espírito Santo (idem):
O Espírito Santo, pela boca dos
Santos Padres, chama também a Santíssima Virgem: 1º a porta oriental, por onde
o sumo sacerdote Jesus Cristo entra e vem ao mundo (cf. Ez 44, 2-3); por ela
entrou a primeira vez, e por ela virá da segunda; 2º o santuário da Divindade,
o reclinatório da Santíssima Trindade, o trono de Deus, a cidade de Deus, o
altar de Deus, o templo de Deus, o mundo de Deus.
O que
se pode entender do texto acima é que, sem Maria, nada do que foi feito se fez.
Jesus entrou no mundo por meio dela e é por meio dela que virá da segunda vez,
isto é, a parousia, quando Cristo
voltará e estará para sempre com seus eleitos. É ela o santuário onde Deus
habita, não da forma como habita em cada pecador que se converte e recebe o
Espírito Santo, mas de uma forma sublime, como se ela de fato contivesse Deus.
Em fim, Maria é a própria divindade em si, na qual Deus habita em toda a sua
plenitude e glória. Não a terra, não o universo, não a eternidade, mas é Maria
o trono, o templo e o mundo de Deus. Onde estaria Deus sem ela?
Mas
como agir em Maria, nós que somos meros pecadores e incapazes de nos aproximar
de Cristo por causa dos nossos pecados? É preciso merecer essa graça e poder
chegar a este outro paraíso. A forma apresentada por Montfort (p. 248, 249) para
que o fiel possa alcançar esse feito é morar no interior de Maria e
aí seguramente esconder-nos e
perder-nos sem reserva, a fim de que neste seio virginal: 1 º a alma se
alimente do leite de sua graça e de sua misericórdia maternal; 2º aí fique
livre de suas perturbações, de seus temores e escrúpulos; 3º aí esteja em segurança,
ao abrigo de todos os seus inimigos, o demônio, o mundo e o pecado, que aí não
tem jamais entrada; e por isso diz que os que operam nela não pecarão; “Qui
operantur in me, non peccabunt” (Ecli 24, 30), isto é, os que, em espírito,
habitam a Santíssima Virgem, não cometerão pecado grave; 4º para que a alma
fique formada em Jesus Cristo e Jesus Cristo nela; porque o seu seio, como
dizem os Santos Padres, é a sala dos sacramentos divinos, onde Jesus Cristo e
todos os eleitos se formaram: “Homo et homo natus est in ea” (sl 86, 5).
Devemos
lembrar que, na teologia católica, os sacramentos, assim como o pertencer à
igreja católica romana, são sinais visíveis de salvação. Eles conferem graça à
pessoa, a começar pelo batismo, e a tornam filhas de Deus e pertencentes à
igreja, corpo de Cristo. Neste sentido, então, já que Maria é a “sala dos
sacramentos divinos”, nele se encontra a nossa salvação. Isto nada mais é do
que Ligório repete do começo ao fim do seu livro, “Glórias de Maria”. Por
exemplo, na página 141:
De três modos, explica o Padre
Suárez, cooperou a divina Mãe para a nossa salvação. Primeiro, merecendo com
merecimento de côngruo a Encarnação
do Verbo. Segundo, rogando muito a Deus por nós, enquanto esteve no mundo.
terceiro, sacrificando com boa vontade a Deus a vida do seu Filho para nossa
salvação. Tendo, pois, Maria cooperado para a redenção com tanto amor pelos
homens e tanto zelo pela glória divina, com razão determinou o Senhor que todos
nos salvemos por intermédio de sua intercessão.
Faz-se
necessário um breve estudo, seguido da refutação do dogma da Imaculada
Conceição de Maria para que possamos entender melhor a incoerência da teologia
de Montfort. A doutrina da Imaculada Conceição de Maria é por demais fabulosa e
difícil de ser estudada, tendo em vista a complexidade de explicações e
“provas” apresentadas pelos seus promulgadores. Assim como a Assunção e
Coroação, esta doutrina só veio se desenvolver no decorrer dos séculos, através
da Tradição. As primeiras ideias acerca da Imaculada Conceição de Maria
aparecem entre os cônegos de Lião no ano de 1125, século XII, sendo definida
como dogma somente no século XIX. Um dos trechos bíblicos utilizados como base
para a doutrina da Imaculada Conceição é o de Cantares 4:7: “Tu és toda
formosa, querida minha, em ti não há defeito”.
Este
dogma de fé católico romano foi definido, como vimos, por Pio IX em 8 de
dezembro de 1854, pela Bula Ineffabilis
Deus. Mas já em 1166 o imperador Manuel Commeno declarou a festa da
Imaculada Conceição (celebrada a partir do século VIII em vários conventos do
Oriente) feriado nacional. Pio IX atestou que Maria foi imune do pecado
original, em previsão dos méritos da redenção operada em Cristo. Isto é, além
de Maria ser concebida sem pecado antes mesmo de Jesus Cristo o ser, alcançou a
salvação antes ainda da vinda de Cristo ao mundo e de sua Paixão. O principal
testemunho desta doutrina parte principalmente de S. Afonso de Ligório (p.
237), declarado pelo papa Pio IX doutor da igreja:
Para aplacar um
juiz, não se lhe pode mandar seu inimigo, observa Gregório Magno. Este, em vez
de o aplacar, mais o irritaria. Entretanto Maria tinha de ser medianeira de paz
entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e
inimiga de Deus, mas só como sua amiga toda imaculada. Mais um motivo reclamou
que Deus preservasse Maria da culpa original.
Aplica-se a isto o fato de que Jesus
não haveria de nascer de uma criatura manchada pelo pecado original, para que o
inimigo (o diabo) não tivesse do que o acusar. Entendemos, então, que, nascendo
de uma mulher pecadora, Jesus haveria de ser contaminado também pela maldição
adâmica. Para que isto não sucedesse, Maria teria de ser isenta de toda mancha
do pecado original. Foi Maria também poupada do pecado original para que fosse
a “esposa” do Espírito Santo: “Virgem bendita, és formosíssima em todo sentido;
em ti não há mancha alguma de qualquer pecado, leve ou grave ou original.
Idêntico é o pensamento do Espírito Santo, chamando sua esposa de ‘jardim
fechado e fonte selada’ (Ct 4, 12)” (Ligório, p. 248). O mesmo pensamento é
expresso no Concílio Vaticano II (LG 56):
Quis, porém, o Pai
das misericórdias que a encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que
era predestinada a ser a Mãe de seu Filho, para que assim como a mulher
contribuiu para a morte, a mulher também contribuísse para a vida. O que de
modo excelentíssimo vale da Mãe de Jesus, a qual deu ao mundo a própria Vida
que tudo renova e foi por Deus enriquecida com dons dignos para tamanha função.
Daí não admira que nos Santos Padres prevalecesse o costume de chamar a Mãe de
Deus de toda santa, imune a toda mancha de pecado, como que plasmada pelo
Espírito Santo e formada nova criatura.
Em
concordância com isso, Murad (2009, p. 124) afirma que “Maria é pré-redimida
pelo Verbo de Deus. Ela recebe a graça salvadora numa intensidade maior do que
nós, o que lhe dá força para integrar tendências e pulsões”. Essa Imaculada
Conceição, segundo Roschini (1960, p. 121) é singular, isto é um privilégio só de Maria; em previsão dos méritos de Cristo, sendo Maria redimida de forma
preservativa (impedindo a sua queda); e no
primeiro instante de sua existência, isto é, no momento em que sua alma foi
criada, impedindo que o pecado a atingisse. Assim, segundo o mesmo autor,
“Maria não estêve (sic!) nunca,
portanto, nem mesmo por um instante, sob a lei do pecado, sob o domínio de
Satanás”.
Ainda outro texto utilizado para
reafirmar esta doutrina é o de Lucas 1:30: “Mas o anjo lhe disse: Maria, não
temas; porque achaste graça diante de Deus”. Em muitas traduções católicas
romanas o versículo 28 aparece com a expressão “cheia de graça” ao invés de
“muito favorecida”, que indica que Deus estava com ela. O objetivo desta troca
de expressões é, muito provavelmente, o de enaltecer Maria e diferenciá-la das
demais pessoas, ditas comuns, e dos santos e anjos. É o que atesta Ligório (p.
260):
Ora, em vista da
escolha de Maria para Mãe de Deus, convinha certamente que o Senhor, desde o
primeiro instante, a adornasse com uma graça imensa, superior em grau à de
todos os outros homens e anjos. Pois tal graça tinha de corresponder à imensa e
altíssima dignidade, à qual o Senhor a elevara.
Esta graça não poderia estar contida
em uma alma pecadora, mas somente em uma alma “imaculada”, separada das demais
criaturas. Tendo em vista uma Maria “cheia de graça”, o que dizer, então, de
Noé quando a Palavra de Deus afirma que “Noé achou graça diante de Deus”?
(Gênesis 6:8). O comentário de Dr. Russel Shedd, na Bíblia Vida Nova, traz os
seguintes esclarecimentos acerca deste trecho:
Noé ilustra quais
são os elementos essenciais na vida do verdadeiro crente: 1) Sua posição (v 8),
salvo, sem o merecer, pelo favor de Deus; 2) Sua atitude (v 9), ele era homem
justo; 3) Seu caráter (v 9), era perfeito (significando retidão genuína); 4)
Seu testemunho (v 9), “em sua geração”, ou entre os contemporâneos. Era um
pregador da justiça (2 Pe 2:5); 5) Sua comunhão com Deus (v 9), “andou com
Deus”; 6) Sua conduta (v 22), sempre em consonância com a vontade revelada de
Deus.
O que
vemos em Noé é a figura de um homem justo que agradava a Deus em seus caminhos
e condutas; dava testemunho aos homens da justiça de Deus, ao ponto de ser
separado para construir e Arca e nela embarcar com os seus familiares. Porém,
nem por isso Noé achou-se imbuído de tão grande graça como Maria na doutrina
romanista. E se Maria achava tão bela graça diante de Deus em comparação com a
graça achada em Noé, dela certamente decaiu ao ser proclamada “rainha do céu”,
“senhora do mundo”. Porque a graça que Deus nos deu é para exaltá-lo, e não a
nós. É para que Ele reine em nós e, não, nós nele.
O que
sabemos acertadamente, é que todo homem carrega em si aquilo que alguns
teólogos costumam denominar de “maldição adâmica”, que popularmente conhecemos
por “pecado original”, e isto certamente inclui Noé, o apóstolo Paulo, Maria e
toda a raça humana. Em Romanos 3:23 temos o apoio escriturístico para esta
verdade incontestável: “pois todos pecaram e carecem da graça de Deus”. Todo o
quinto capítulo, também do livro de Romanos, tratará deste assunto: o pecado
original em Adão e a justificação pela fé em Cristo. Já no capítulo quatro do
livro de Gênesis o pecado é citado pela primeira vez (v. 7). Aquele que diz não
ter pecado a si mesmo se engana (1 João 1:8). Desta forma, estarão os doutores
católicos enganados ao declararem Maria sem pecado, pois ela mesma jamais fez
tal declaração.
Do fato
de o homem haver quebrado a sua comunhão perfeita com Deus se distanciando
dele, provém a expiação pelo pecado na Antiga Aliança (cf. Êxodo 29:36 e
Deuteronômio 32:43), e mais perfeita e definitivamente através de Cristo, na
cruz do Calvário (Colossenses 1:20 e 2:14). Da compreensão do pecado original
depende a compreensão do sacrifício de Cristo e de toda a doutrina do Novo
Testamento. É seguro dogma de fé que Cristo morreu para nos reconciliar com
Deus (cf. Romanos 5:10; 1 Coríntios 15:3,22; 2 Coríntios 5:18; Gálatas 1:4;
Colossenses 1:20; 1 Pedro 3:18). Pelo fato de sermos pecadores é que em nós
abundou a graça salvadora e vivificadora de Deus em seu Filho (Romanos 5:20).
Dentro
desta compreensão bíblica, a doutrina da Imaculada Conceição de Maria tende a
negar inúmeras verdades. As Escrituras afirmam que o Messias haveria de ser
puro, sem mancha do pecado original (1 Pedro 1:19; 2:22; 3:18; Hebreus 4:15; 1
João 3:5). Para tanto, a sua concepção jamais poderia acontecer através do
método natural de concepção, entre seres pecadores. Ele seria o próprio Verbo
encarnado (João 1:14), o Filho do Deus Vivo (Mateus 16:16), livre de toda
contaminação pecaminosa, separado de todo o mundo. Esta declaração é ponto pacífico
nas Escrituras, a não ser por algumas seitas que insistem em negar a divindade
de Cristo (diversas seitas da Idade Média, os Testemunhas de Jeová, o Islamismo,
etc.).
A
Bíblia, contudo, não deixa claro ou sequer fornece base para tal, que a virgem
que receberia a semente do Espírito Santo deveria ser imune do pecado original.
A impecabilidade de Cristo é incontestável, mas a de Maria é certamente
impossível. O que sabemos, é que a própria Maria em seu Magnificat declara-se carente de um salvador: “A minha alma
engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lucas
1: 46). E quem necessita de um salvador senão o homem perdido?
Para
confirmar a doutrina da Imaculada Conceição, teríamos que negar toda a Palavra
de Deus. Contudo, Maria cria na salvação que ao mundo estava sendo oferecida
através de Jesus Cristo. Ela haveria de compreender mais tarde todo o plano da
salvação, compreender o significado da morte de seu filho amado e esperar pela
sua ressurreição. Maria certamente cria que Cristo morreu pelos nossos pecados
(1 Coríntios 15:3), o justo pelos injustos (1 Pedro 3:18). Sabia, também, que
somente Ele poderia salvá-la e a toda humanidade (Atos 16:31; Romanos 10:9;
Efésios 2:8,9; Tito 3:5). Não seria pelos seus merecimentos que Maria seria
salva ou por possuir uma santidade elevada acima dos homens e dos anjos, pois
“o justo viverá pela fé” (cf. Gálatas 3:11 e Hebreus 10:38). Nossas
justificativas perante Deus são como “trapos de imundície” (Isaías 64:6).
3ª. Agir por Maria
Neste
terceiro ponto, no livro “O Segredo de Maria”, Montfort apenas diz: “É
necessário ir sempre a Nosso Senhor só por Maria, pela sua intercessão e pelo
seu crédito junto dele, de sorte que nunca o encontraremos só quando oramos”
(p. 38). Porém, antes de nos atermos ao estudo desse trecho, acima de tudo
sobre a declaração de que jamais encontraremos Jesus apenas orando, precisamos
ver o que ele explica no seu Tratado a respeito do mesmo tema, isto é, em tudo
agir por Maria. Nele, o santo católico afirma (p. 241, 242):
É preciso fazer
todas as ações por Maria, quer dizer, em todas as coisas obedecer à Santíssima
Virgem, e em tudo conduzir-se por seu espírito, que é o santo espírito de Deus.
São filhos de Deus os que se conduzem pelo espírito de Deus... E os que pautam
sua conduta pelo espírito de Maria são filhos de Maria e, por conseguinte,
filhos de Deus... Disse que o espírito de Maria é o espírito de Deus, porque
ela jamais se conduz por seu próprio espírito, e sempre pelo espírito de Deus,
e este de tal modo a dominou que acabou tornando-se seu próprio espírito.
Ele,
então, ensina que esta prática devocional envolve renunciar a seu próprio
espírito e vontade, entregar-se ao espírito de Maria para ser movido e
conduzido conforme ela quiser, e desenvolver sempre este ato de oferecimento e
união para chegar mais cedo à união com Jesus pelo espírito de Maria, que é o
espírito do próprio Cristo (p. 243, 244). Sugiro que se leia novamente o trecho
acima da obra de Montfort para que não restem dúvidas que o que ele está
querendo nos insinuar é uma ligação direta e inseparável de Maria com o
“espírito de Deus” que, como sabemos, é o Espírito Santo. Isto é, o Espírito
Santo e o espírito de Maria, por causa de sua união com Cristo, é o mesmo
Espírito Santo.
Lendo e
entendendo a doutrina de Montfort, não nos admira ele chamar Maria de “divina”,
porque realmente ela não somente é a quarta pessoa da Trindade, como é tratada
como deusa, não somente por Montfort, mas pela maioria dos teólogos católicos.
Porém, o que lemos acima não é nada para se comparar com o que Ligório escreve
em seu livro, Glórias de Maria, citando o ensino de São Tomás (p. 292, 293):
Quanto mais uma
pessoa se avizinha ao seu princípio, tanto mais recebe da sua perfeição. Ora,
sendo Maria a criatura mais vizinha a Deus, do mesmo Deus ela participou mais
graça, perfeição e grandeza. Que todas as outras criaturas... ser Mãe de Deus é
a dignidade imediata depois da dignidade de ser Deus. Por isso, diz que Maria
não pode ser mais unida a Deus, do que foi, senão fazendo-se Deus [...] A
virgem devia ser Mãe de Deus. Precisou, portanto, na linguagem de S.
Bernardino, ser exaltada a certa igualdade com as Pessoas Divinas, por meio de
uma quase infinidade de graças... Aqui trema e emudeça toda criatura, ousando
apenas contemplar a imensidade de tão sublime dignidade! Deus habita no seio da
Virgem, com ela mantém a identidade de uma natureza.
O que
dizer a vista dessas coisas? Que palavras o crente fiel em Cristo e conhecedor
da Palavra de Deus pode utilizar para expressar a sua indignação diante de tal
doutrina? Note-se que tanto Montfort como Ligório não se utilizam de textos das
Sagradas Escrituras para confirmar seus ensinos, mas da palavra dos santos e
doutores da igreja romana, que por sua vez também não possuem base bíblica para
suas asseverações. Estamos diante de uma doutrina estranha à Bíblia, que não
pode ser encontrada em parte alguma, do Gênesis ao Apocalipse. Nem Moisés, nem
os profetas, nem Jesus, nem os apóstolos, nem Paulo em suas epístolas, nem
qualquer outro escritor dos livros da Bíblia fizeram alusão ao que acabamos de
ler.
Assim
diz o Senhor por intermédio do profeta Isaías: “Eu sou o Senhor, este é o meu
nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens
de escultura” (42:8). Muito mais que às imagens de escultura de Maria, o
catolicismo romano dá a glória que é devida somente a Deus à própria pessoa de
Maria. Toda a mariolatria e a invocação dos santos estão excluídas através da
compreensão da verdade de Deus expressa neste texto do profeta Isaías. O culto
ao ego e ao dinheiro da Teologia da
Prosperidade, também não encontra lugar na adoração dos filhos de Deus. Deus é
o grande Eu Sou e nenhuma criatura finita, como Maria ou qualquer um de nós,
mantém identidade divina com Ele. A nossa identidade com Deus está em Cristo
Jesus, o que não nos torna deuses, mas humanos pecadores santificados pelo
Espírito Santo.
Esta
terceira prática prova incontestavelmente aquilo que o cristianismo Reformado,
Protestante, vem dizendo há vários séculos a respeito da devoção católico-romana
à Maria: é de fato uma idolatria, ou “mariolatria”. Além disso, contrariando completamente
todas as palavras ditas por Jesus a respeito do tema, Montfort afirma que nunca
encontraremos Jesus só quando oramos. Não somente quando oramos, mas quando
cremos, nos aproximamos livremente de Jesus, que nos recebe como filhos amados
do Pai. O apóstolo João escreveu: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes
que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus. E
esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa
segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1 João 5:13,14). O Senhor Jesus nos ouve,
nos atende, nos recebe, nos abraça, nos afaga. Ele está conosco, presente,
vivo, atuante.
O
próprio Senhor Jesus nos exorta a ir até Ele: “Vinde a mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso
para vossa alma. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus
11:28-30). E, em João 6:35-40, disse também:
Eu sou o pão da
vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.
Porém eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes. Todo aquele que
o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei
fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a
vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum
eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último
dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o filho e nele crer
tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.
Ir até
Jesus é uma liberdade e uma necessidade da alma humana. É somente encontrando o
Salvador que poderemos ser salvos. Ele não coloca barreiras nem nos impede de chegar
até Ele, contanto que seja pela fé na sua obra redentora. Estando em Cristo,
estamos certos de poder contar com sua intercessão e com sua resposta às nossas
orações. Diversos textos bíblicos nos garantem que podemos, sim, nos aproximar
de Jesus em oração e que devemos fazer tudo em seu Nome. Por exemplo: Mateus
18:20; João 14:13; 15:16; 16:23; Atos 2:21; 2 Coríntios 5:20; Colossenses 3:17.
Não existem razões bíblicas ou mesmo racionais para acreditar que o remido não
pode se aproximar de Jesus e que deve fazê-lo somente por Maria. Como já vimos,
em Cristo temos livre acesso ao Pai; logo, também temos livre acesso a Ele,
pela fé, por meio da graça, jamais de forma meritória.
4ª. Agir para
Maria
A
quarta e última forma desta devoção é fazer todas as coisas para Maria, sendo
escravo desta “augusta Princesa” (p. 38), como um criado, um servo, um escravo
(Tratado, p. 249). Mais uma vez Montfort repete que absolutamente nada na vida
cristã deve ser feito sem a presença de Maria, sua intercessão, seu patrocínio.
Ela deve ocupar o centro das ações de seus fiéis súditos, de modo que cada
palavra, cada reza, cada sacrifício, cada gesto de caridade para com o próximo,
cada sufrágio pelas almas que penam no purgatório, cada esmola, cada
peregrinação tenham a sua inteira participação. Tudo pertence a ela e a ela
deve ser creditado. E esse é um meio, segundo o pensamento do santo católico,
de chegarmos até Jesus e agradarmos a Deus, que é, apenas em tese, o fim último
desta devoção.
Contra
esta prática e todas as demais, pesa a verdade incontestável da Palavra de
Deus. De duas formas: não dando nenhum suporte a tal veneração, e condenando-a
veementemente. A Bíblia nos ensina que toda a vida cristã deve estar alicerçada
sobre um único fundamento, que é Cristo, a pedra angular da igreja (Atos 4:11;
Efésios 2:20). Nele encontra-se toda a nossa suficiência. Ele é o motivo da
nossa adoração, do nosso serviço, dos nossos dons, da nossa santidade. Eis
algumas verdades que nos dão a certeza de que Cristo somente nos basta:
·
É por meio de
Cristo que o poder de Deus se aperfeiçoa nas nossas fraquezas (2 Coríntios
12:7-10). Se houvesse a necessidade da mediação de Maria para nos
aperfeiçoarmos ou alcançarmos de Deus seus dons e suas graças, certamente a
Bíblia nos informaria ou algum dos apóstolos, como Paulo, teriam esta prática
na sua vida. Muito embora o fato de Jesus ter colocado Maria sob os cuidados do
apóstolo João e isso ter sido entendido pelo catolicismo romano como a
maternidade de Maria sobre os crentes, nenhum personagem bíblico jamais a
chamou de mãe ou contou com suas orações, conselhos, mediação e intercessão.
·
Fomos criados
em Cristo Jesus para toda a boa obra (Efésios 2:10). É Ele quem nos consola e
nos confirma em toda boa obra e boa palavra (2 Tessalonicenses 2:16,17). Não é
a escravidão a Maria que nos torna perfeitos obreiros do Senhor, se assim
fosse, Estêvão, antes de ser morto, teria dado graças a Maria por tê-lo feito
merecedor de sofrer pelo Evangelho de Cristo, da mesma forma os outros
apóstolos. Da cadeia, Paulo e Silas não clamaram por Maria, nem o apóstolo
João, preso na ilha de Patmos, de onde escreveu o livro do Apocalipse, fez
qualquer menção à necessidade da intercessão da mãe de Jesus.
·
Temos livre
acesso a Deus através de Cristo (Romanos 5:1,2; João 15:16) e livre acesso a
Cristo através da conversão e da oração, quando clamamos pelo seu poderoso Nome
(João 14:13; Atos 4:12; Romanos 10:13). Em parte alguma da Bíblia existe a
intermediação de Maria entre o crente e Cristo, mas somente entre o crente e
Deus: Jesus Cristo. É estranho que, diante de tanta certeza dos santos e
doutores católicos da mediação de Maria e da sua interseção, nenhum dos apóstolos
tenha feito uso deste artifício nem deixado absolutamente nada escrito sobre
ele, nem mesmo um versículo.
·
A oração do
crente tem muito poder junto a Deus (Tiago 5:16). A eficácia da oração do
crente está no poder de Deus que o justifica e o torna aceito diante de Deus. A
Bíblia, além de garantir que o crente será atendido segundo a vontade de Deus,
não coloca barreira alguma que o impeça de chegar até Ele, a não ser a sua
falta de fé ou seu desejo egoísta. Todas as barreiras que havia entre Deus e os
homens foram quebradas quando Cristo derramou seu sangue na cruz, ressuscitou e
subiu glorioso aos céus.
·
Tudo o que nós
fizermos deve ser direcionado exclusivamente à glória de Deus, agindo com, em, por e para Jesus: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação,
fazei-o em nome do Senhor Jesus,
dando por ele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:17). O que somos, temos e fazemos deve
ser apresentado diante do trono de Deus por meio de Jesus Cristo. Por Ele damos
graças a Deus, sem a necessidade de Maria ou qualquer outro santo que já tenha
morrido ou ainda viva entre nós.
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Você não entende se não estiver na graça de Deus! Hoje, dia 25.03.13, faço 10 anos de consagrada a Jesus por meio da Virgem Maria... FELIZ DA VIDA! Você explica bem... bem da forma protestante e sem lógica!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAMADO MIZAEL VC É MUITO INTELIGENTE QUE O ESPIRITO SANTO LHE CONDUZA A SABEDORIA PARA QUE VOCE ALCANCE O CÉU ONDE MARIA LHE AGUARDA COMO FILHO AMADO
ResponderExcluirUma senhora analfabeta foi ao médico e depois de realizar alguns exames o médico falou:
ResponderExcluir- A senhora é crente, não é?
- Sou, sim.
- Eu gosto muito de crente, só tem um problema, eles falam muito de Jesus, mas falam pouco de Maria.
(Silêncio)
- Doutor, posso te fazer uma pergunta?
- Sim.
- Se, quando eu chegasse aqui, sua secretária me dissesse que você não estava, mas sua mãe estava sim, você acha que eu ia querer ser atendida por ela?
- Claro que não, quem se formou em medicina não foi ela, fui eu!
- Pois é, doutor, quem morreu na cruz por mim foi ELE e não ela!