sábado, 23 de março de 2013

POBRE PAULISTA - uma reflexão sobre o preconceito e a intolerância


Pobre paulista (Ira)


Todos os não se agitam

Toda adolescência acata
E a minha mente gira
E toda ilusão se acaba

Dentro de mim sai um monstro

Não é o bem, nem o mal
É apenas indiferença
É apenas ódio mortal

Não quero ver mais essa gente feia

Não quero ver mais os ignorantes
Eu quero ver gente da minha terra
Eu quero ver gente do meu sangue

Pobre São Paulo,

Pobre paulista, Oh, Oh
Pobre São Paulo,
Pobre paulista, Oh, Oh (Repete desde início)

Eu sei que vivo em louca utopia

Mas tudo vai cair na realidade
Pois sinto que as coisas vão surgindo
É só um tempo pra se rebelar

Pobre São Paulo,

Pobre paulista, Oh, Oh
Pobre São Paulo,
Pobre paulista, Oh, Oh (Repete desde início)
Parou, pensou e chegou … a essa conclusão

Pobre São Paulo,

Pobre paulista, Oh, Oh
Pobre São Paulo, pobre paulista…
Pobre São Paulo, pobre paulista…
Pobre São Paulo, pobre paulista…
Pobre São Paulo, pobre paulista…

Quem viveu os anos 80 e curtiu a melhor fase do Rock brasileiro, com certeza lembrará desta música do grupo Ira, intitulada POBRE PAULISTA. A música é uma veemente declaração de ódio revelado pelos nordestinos. Cuspindo um misto estranho de indiferença e ódio mortal, o cantor esbraveja que não quer mais ver essa gente feia e ignorante. Mas o que o compositor deste hino à intolerância regional considera como feio e ignorante? Além de construir seus arranha-céus, trabalhar nas suas fábricas, labutar nas suas lojas, servir nas suas forças armadas, contribuindo pare o crescimento econômico e social da digníssima cidade de São Paulo, que outros atos os nordestinos cometeram dignos de tanto ódio?

Confesso que nos anos 80, no auge dos meus 16 anos, curti a banda Ira e cantei diversas vezes esta música. Somente quando me dei conta do seu conteúdo real foi que decidi que já era tempo de abominá-la. Apesar de ser filho de um nordestino, potiguar, seridoense, não sou do nordeste, sou do Rio de Janeiro. Mas amo esta terra, conheço as suas limitações e as limitações do povo daqui. E de uma coisa tenho certeza: são as mesmas que as de todos os povos em todo o Brasil e no mundo inteiro. Ninguém é inferior ou superior a ninguém por conta do seu local de nascimento, do seu sotaque, da sua cor de pele, do seu nível social ou escolar. Todos somos iguais perante Deus e também deveríamos ser perante nós mesmos.

O que significa “É só um tempo pra se rebelar”? Será apologia a violência, como aquela que queima índios e moradores de rua, que espanca e mata prostitutas e homossexuais? Ou será aquela demonstrada pelos skinhead no trato com aqueles que eles consideram indignos de existirem na terra? Será a das torcidas organizadas, dos grupos de extermínio, dos neonazistas? Não sei ao certo se os criadores desta música ainda pregam a intolerância e fazem apologia ao uso da violência contra os seus semelhantes. Creio que com a evolução da história eles tenham abandonado esse pensamento insano e maligno.

Porém, este sentimento preconceituoso que diminui o próximo ainda está presente na nossa música, acima de tudo em letras de forró, onde a mulher é tratada como objeto sexual apenas, como coisa que se usa e se joga fora; como criatura que pode e deve suportar violência física e psicológica, que pode ser traída, trocada, humilhada, abandonada pela primeira prostituta da esquina. Nada mudou! E o mais surreal: nos dias de hoje, de movimentos feministas e mobilizações pelos direitos humanos, pela liberdade e pela igualdade, essas músicas ainda fazem muito sucesso, tocam em rádios e são cantadas em shows (cheios de mulheres...).

O que tudo isto tem a ver com a Gestão com Pessoas? Absolutamente tudo! Seja na seleção de colaboradores-parceiros, na contratação, na avaliação de desempenho, na promoção, na demissão, a questão do preconceito e da intolerância é algo que pode gerar injustiças. É necessário que tal realidade presente em músicas como POBRE PAULISTA, reconhecendo o valor das pessoas, independente do local onde moram, da sua cor de pele, do seu gênero sexual, com salários e oportunidades iguais para todos, desde que cumpram os requisitos necessários de habilidades e competências. Os gestores de pessoas devem estar atentos a qualquer desvio moral e ético neste sentido, para que as organizações cresçam de maneira digna e justa.

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