A genuinidade da Bíblia
A Bíblia não é um livro novo; talvez
seja um dos mais antigos que se tenha história. O livro de Gênesis começou a
ser escrito aproximadamente 1400 anos antes de Cristo. O Apocalipse, último
livro da Bíblia, foi escrito por volta do ano 100 d. C. Para que todo esse
material como o temos hoje fosse escrito, foram necessários 1500 anos, e já se
passaram mais de 2000 anos desde que os livros começaram a circular. Ela foi
escrita por aproximadamente 40 homens, tendo a palestina como o seu berço.
Estes homens viveram em épocas diferentes e pertenciam a lugares diferentes.
Mas tudo o que está escrito na Bíblia concorda entre si, não havendo erros de
espécie alguma.
A credibilidade da Bíblia
A credibilidade da Bíblia está descrita
nela mesma. Jesus Cristo afirmou que nenhuma letra da Palavra de Deus
seria alterada; nenhum “til”, nenhum “i”. Disse ainda que suas palavras não
passariam (Mt 5:8; 24:35; Lc 16:17; 21:23). Essa Palavra é o que
Ele anunciava com autoridade (Mc 2:2; Lc 4:32) e são palavras de
vida eterna (Jo 6:68). Nesta palavra cresciam os primeiros cristãos de
Jerusalém (At 6:7). Ela ultrapassa os limites impostos pelos homens,
indo até a Samaria (At 8:14) e os gentios (At 11:1). Nela os crentes são
enriquecidos (1 Co 1:5), instruídos (Gl 6:6); porque ela lhes é como
Espada do Espírito (Ef 6:17); fiel e digna de toda aceitação (1 Tm 1:15;
4:9). Ela não está algemada (2 Tm 2:9), mas pronta para ser
pregada em todo tempo e lugar (2 Tm 4:2). Esta palavra, viva, eficaz
e boa (Hb 4:12; 6:5) deve ser guardada, obedecida e praticada
(Tg 1:22; 1 Pe 3:1; 1 Jo 2:5). Por ela, muitos serão mortos (Ap 6:9)
e decapitados (Ap 20:4).
A Bíblia tem se mantido a mesma e
intacta por mais de dois mil anos, isto levando-se em conta apenas o seu
período canônico. Vidas tem sido transformadas pelo seu poder. Os Evangelhos
são o cumprimento de todas as profecias da Bíblia em Cristo. Mas eles não se
limitam aos Sinóticos e ao Evangelho de João. Toda pregação bíblica que
apresente a Jesus como o Messias é chamada de Evangelho, como a pregação de
Paulo. Assim, a credibilidade da Bíblia é muito mais que teórica, ultrapassa
aquilo que foi escrito e se mostra em Cristo e nas vidas diariamente
transformadas pela sua pregação.
Uma das maiores provas do amor de Deus,
antes do seu sacrifício na cruz, é o fato de que Ele se revela ao homem, busca
se relacionar com Ele. Isto não diminui o fato de que em nós não habita bem
algum (cf. Rm 7:18), que somos destituídos da glória de Deus e por isso estamos
sob condenação, mas nos leva a crer num Deus Todo-amoroso e repleto de
misericórdia. Se não fora o Senhor estaríamos irremediavelmente perdidos! Ele
sabe disso e por nos amar tanto deseja nos aproximar de Si. O seu desejo é que
cada um creia no seu Filho, se arrependa dos seus pecados e se converta, a fim
de obter a vida eterna preparada para nós antes da fundação do mundo.
Apesar desta gloriosa verdade, a
questão da morte espiritual continua impedindo que o homem se chegue para Deus.
Como alguém que está morto poderá ter vida e viver na plenitude de Deus? De que
modo alguém incapaz de buscar a Deus poderá ser salvo? Ora, de onde vem esta
salvação tão necessária à nossa eternidade? Em Efésios Paulo nos desvenda esta
verdade: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós;
é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (2:8,9). A salvação é
pela graça e por meio da fé. Mas ainda resta-nos a pergunta: E de onde vem essa
fé, já que o ser humano é tão corrupto e incapaz de buscar a Deus? O próprio
Paulo declara aos Romanos que a fé “vem pela pregação, e a pregação, pela
palavra de Cristo” (10:17).
O Espírito Santo não pode atuar na vida
daquele que não ouve o Evangelho. Não que Ele não tenha poder para convencer o
homem como melhor lhe aprouver, mas o próprio Deus condiciona a fé à pregação
da sua Palavra, pois importa que ela seja pregada para a salvação daquele que
tiver fé (cf. Mc 13:10). O Espírito veio convencer o homem da justiça, do
pecado e do juízo (Jo 16:8). Jesus afirma que o Espírito Santo
convencerá o mundo do pecado “porque não crêem em mim” (v. 9). A partir do
momento que cremos em Cristo e somos convencidos pelo Espírito do pecado, somos
salvos. E esta salvação está condicionada ao conhecimento do Evangelho:
“Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada
ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:13,14).
A pregação do Evangelho cessa a morte
espiritual, uma vez que apresenta ao homem a verdadeira vida (cf. 1 Tm 6:19),
dando-lhe a oportunidade de crer para se arrepender dos seus pecados. A vontade
de Deus e a oração de Paulo a favor deles – os judeus rebeldes – era para que
fossem salvos (Rm 10:1), porque “o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele
que crê” (v. 4). Esta justiça não é decorrente da Lei ou de obras, mas da fé
(v. 6). E Paulo assevera: “Se com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e,
em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
Porque com o coração se crê para a justiça e com a boca se confessa a respeito
da salvação” (vs. 9,10). Todavia, nem todos obedeceram e ou obedecem ao
Evangelho (v. 16), porque o seu coração se mantém endurecido para a Palavra.
Em contado com a Palavra de Deus que
liberta, o homem é impactado com a verdade da vida eterna. Ele conhece o fato
de que é pecador, de que está morto, de que precisa de Cristo para ser salvo. O
Espírito abre o seu entendimento para compreender estas verdades, o que não
quer dizer que o pecador irá aceitá-las. Ele pode endurecer o seu coração, se
manter rebelde contra Deus. Ainda assim Deus lhe fala através do Evangelho por
três vezes no livro de Hebreus: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o
vosso coração” (3:7,15; 4:7; cf. Sl 95:7). Aqueles que ouvem o Evangelho e
recebem a Cristo pela fé, se arrependem e passam da morte para a vida (Jo
5:24).
Escrevendo aos Romanos, Paulo atesta
este poder maravilhoso do Evangelho de Cristo para salvar o pecador: “Pois não
me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de
todo aquele que crê, primeiro o judeu e também o grego; visto que a
justiça de Deus se revela no evangelho. De fé em fé, como está escrito: O
justo viverá por fé” (1:16,17). A mensagem da cruz era a mola mestra do Evangelho
de Paulo, por isso ele diz aos Coríntios: “Certamente, a palavra da cruz é
loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”
(1 Co 1:17). De fato, a fé dos Coríntios não estava apoiada em sabedoria
humana, mas no poder de Deus (2:5). E esta fé não vinha de outro lugar senão da
pregação da cruz, do Evangelho de Cristo, para a salvação de todo o que nele
crê.
Canonicidade da Bíblia
O primeiro cristão a utilizar a
expressão “cânone da Igreja” foi Atanásio (367 d.C.). Reconhecer um livro como
canônico significa creditar-lhe inspiração e autoridade divinas. No início, o
próprio povo judeu já reconhecia alguns livros do Antigo Testamento como
Sagrados, mas havia dois cânones:
·
O Cânone de
Alexandria: considerava sagrados todos os livros da Bíblia hebraica, incluindo os
apócrifos. No ano 250 a.C., alguns judeus que viviam em Alexandria e
falavam o idioma grego, fizeram uma tradução do Pentateuco neste idoma. No ano
150 a.C., os demais livros também foram traduzidos. Esta tradução recebeu o
nome de Septuaginta, referindo-se aos 70 especialistas que trabalharam nela.
·
O Cânone
Palestiniano: fruto do Concílio de Jamnia em que, no ano 90 a.C., alguns líderes
judeus se reuniram e discutiram a cerca dos livros canônicos, tendo aceitado 24
dos livros do Antigo Testamento hebraico, que equivalem exatamente aos nossos
39 livros. Os livros não reconhecidos oficialmente foram rejeitados e passaram
a ser considerados como apócrifos, ou pseudoepígrafos.
Destes dois cânones surgiu a diferença
entre as Bíblias católica e protestante em relação ao Antigo Testamento.
Enquanto os protestantes escolheram o Cânone Palestiniano. Os católicos escolheram
o Alexandrino. Assim, além dos 39 livros que temos hoje como inspirados por
Deus, a Bíblia católica acrescentou: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico,
Baruc, 1 e 2 Macabeus. Da forma como temos a Bíblia hoje, reconhecemos pela fé
que todos os seus livros são divinamente inspirados e formam o cânone que Deus
desejou que tivéssemos em mãos.
O
cânone do Novo Testamento sempre obteve a mesma autoridade, tanto por parte dos
católicos, como dos protestantes, não havendo alteração nem no seu conteúdo nem
na ordem em que os livros foram dispostos. Os autores levaram quase setenta
anos escrevendo seus livros e epístolas após a morte de Jesus. Aos poucos todos
esses escritos foram organizados em um só volume e declarados como inspirados
por Deus, possuindo autoridade em matéria de fé e prática cristãs. Já no final
do primeiro século, os Evangelhos e as cartas de Paulo começaram a circular em
um só volume.
Visto
que muitas outras literaturas circulavam naquela época – como a Carta de
Clemente, a Didaquê, a Epístola de Barnabé, o Pastor de Hermas, o Apocalipse de
Pedro, etc. – alguns critérios foram adotados para comprovar a inspiração e a
autoridade dos escritos:
·
Apostolicidade. O livro deveria ter
sido escrito por algum dos apóstolos ou por alguém muito próximo a eles.
·
Universalidade. O seu conteúdo deveria ser de
aplicação universal, podendo abençoar muitas pessoas além do destinatário
original.
·
Uso na igreja. Apenas os livros que já eram
utilizados e bem aceitos na igreja primitiva foram considerados canônicos.
·
Autoridade. Os livros que foram aceitos no
Cânone tinham a sua inspiração e autoridade reconhecidas pelo povo de Deus.
·
Antiguidade. Quanto mais antigo o livro, mais
próximo do evento que lhe deu origem ele está.
·
Consistência doutrinária. Os livros
precisavam possuir uma unidade coerente de pensamento com os ensinos de Jesus e
consigo mesmos.
A canonização foi muito importante para
preservar intactos os ensinamentos de Jesus e os próprios ensinos apostólicos.
Além disso, a preservação desse material era importante contra os falsos
ensinos que já circulavam na igreja desde o final do primeiro século.
A Inspiração da Bíblia
A Bíblia é seguramente a Palavra de
Deus; ela não “contém a Palavra de Deus”, mas é a Palavra de Deus escrita para
o homem. A Bíblia faz parte da revelação de Deus para nós. É a revelação
especial em que Deus revela o seu propósito para a humanidade e os seus
mandamentos. O homem pode até conhecer algo que Deus por meio das coisas
criadas, mas é somente através da sua Palavra que ele pode conhecer a Deus
completamente, naquilo que Ele se permite revelar. Mas a Palavra de Deus não se
limita às coisas escritas, mas está encarnada na pessoa de Jesus Cristo, o
próprio Deus feito homem (cf. Jo 1:1,2).
A Bíblia é, então, o registro da
revelação especial de Deus. Ela foi escrita por homens de maneira sobrenatural,
inspirados pelo Espírito Santo, que os guiava como instrumentos poderosos nas
mãos de Deus para deixar gravada toda a revelação que Ele desejava. Em 2
Timóteo 3:16,17 o apóstolo Paulo ensina que toda a Escritura é inspirada por
Deus. Pedro, em 2 Pedro 1:21, diz que nenhuma profecia jamais teve origem
humana, mas foi dada a homens inspirados pelo Espírito Santo. O autor de
Hebreus afirma: “Deus, havendo outrora falados aos nossos pais diversas vezes e
de muitas maneiras pelos profetas...” (Hb 1:1,2). Paulo exortou Timóteo a
perseverar nas doutrinas que havia aprendido, porque elas eram inspiradas por
Deus (2 Tm 3:14,15).
Nos Evangelhos, sempre encontramos a
expressão “Está escrito” (cf. Mt 4:4). Quando os apóstolos foram escolhe aquele
que tomaria o lugar de Judas, Pedro disse: “Irmãos, é necessário que se cumpra
a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente pela boca de
Davi, a respeito de Judas, que foi o guia dos que prenderam Jesus” (At
1:16; cf. Salmo 41:9). Desta forma, as Escrituras Sagradas comprovam-se como
inspiradas pelo Espírito Santo tanto no Antigo, como no Novo Testamento. Paulo
acreditava estar escrevendo inspirado pelo Espírito (cf. 1 Co 6:7,12). De igual
modo, João entendia que a mensagem que ele escrevia vinha da parte do Senhor (1
Jo 1:5).
A inspiração da Bíblia não é mecânica –
onde os escritores eram como robôs, passivos, desprovidos de suas capacidades
mentais – como também não eram dinâmicas – como um livro onde o homem percebe a
Deus e escreve suas impressões. A sua inspiração é plena, inspirada diretamente
por Deus, mantendo uma harmonia com as particularidades do caráter humano, do
seu temperamento. Essa inspiração, após ser escrito o seu último livro, cessou.
Tudo aquilo que Deus queria nos revelar a cerca dele mesmo e da sua vontade
para a humanidade termina em Apocalipse.
O valor das Sagradas Escrituras
Não há como negar que toda teologia que
pretenda retirar da Bíblia o seu valor como Palavra divinamente inspirada por
Deus é contraditória e agride as próprias Escrituras Sagradas, que a si mesmas
proclamam inspiradas por Deus (2 Timóteo 3:16). Apesar disso, muitos teólogos
liberais e o Magistério da igreja romana que apela para a “tradição oral”,
afirmam que Deus não deixou nada escrito e que Jesus não escreveu nem mandou
escrever livro algum (cf. Gênesis 4:8ss; 15:18ss; Levítico 10:8-11). Talvez
eles desconheçam o livro de Apocalipse 1:11, onde é ordenado ao apóstolo João
escrever tudo o que via e ouvia, bem como Apocalipse 22:18,19, onde segue-se
uma maldição para todo aquele que lhe fizer qualquer acréscimo ou tirar
qualquer coisa. É a palavra escrita que garante que o que foi ensinado no
passado chegará ao final dos tempos intacto, sem acréscimos e/ou decréscimos. O
que é dito oralmente pode ser aumentado ou diminuído sem que se possa provar o
que originalmente foi dito; cada um teria a sua verdade do fato, manipulando-a
como bem quisesse.
As alegações contra a genuinidade, a
credibilidade, a canonicidade e a inspiração divinas da Escrituras são
incoerentes com vários outros textos Bíblicos:
·
Mateus 1:22 nos mostra que o cumprimento da profecia legitima a
Escritura como Palavra divinamente inspirada. Deus falou através do profeta
Isaías, de modo que o livro do profeta Isaías é comprovadamente uma Escritura
inspirada por Deus, não somente pelo fato do cumprimento da profecia em si, mas
pela consideração do próprio Mateus.
·
Mateus 22:29 aponta para o erro do não conhecimento das Escrituras. Isto
é: havia algo escrito que deveria ser lido e conhecido pelos judeus, através de
estudo e meditação na Palavra de Deus. O desconhecimento das Escrituras é que
traz à tona tantas heresias e seitas, com suas doutrinas e dogmas antibíblicos,
buscando sustento em outras fontes, como a Tradição, o Livro de Mórmon, etc.
Durante anos a igreja romana proibiu aos seus fiéis a leitura da Bíblia e a sua
tradução na linguagem corrente, como uma forma de impedir as várias
interpretações divergentes, como aconteceu com Martinho Lutero, e proteger seu
“depósito de fé”, isto é, seus rituais, crenças, dogmas e concílios. Hoje,
muitos teólogos evangélicos tem deturpado a Palavra de Deus, tomando-a apenas
como um compêndio de história da religião judaico-cristã, desprezando o seu
valor divino e espiritual.
·
Lucas 4:16-21 mostra Jesus lendo o livro de Isaías 61:1,2, mostrando que
aquela profecia acabava de se cumprir e Ele era o seu cumprimento. Jesus jamais
rejeitou a palavra Escrita, muito pelo contrário. Dizer que Ele não escreveu
nem mandou escrever nenhum livro como forma de justificar a autoridade da
Tradição, é diminuir o valor das Sagradas Escrituras, Antigo e Novo
Testamentos.
·
Em Lucas 24:45 Cristo abre o entendimento das Escrituras aos apóstolos
que em Moisés, nos Profetas e nos Salmos estava sobre Ele “escrito”. Aqui é
ressaltado novamente o valor das Sagradas Escrituras. Cristo cumpriria aquilo
que sobre Ele estava “escrito”. As leis de Deus foram dadas a Moisés por
“escrito”. Esta lei, porém, deveria ultrapassar os limites da escrita e fazer
sentido no coração do homem.
·
Em João10:35 Jesus afirma que a Escritura não pode falhar. Ela não pode
falhar porque é a voz do próprio Deus e Deus jamais falha. Como comprovar que
Deus afirmou tal coisa a Adão e Eva sem ter algo escrito para comprovar? Por
estar escrito todos sabemos o que aconteceu, como aconteceu e quando aconteceu,
com riqueza de detalhes e com as mesmas palavras e argumentos desde o princípio
dos tempos. O que aconteceria se nada tivesse sido escrito? Certamente toda a
história bíblica teria se transformado em lendas populares, modificadas ao
bel-prazer de quem as contasse. Neste sentido jamais poderíamos manter crédito
ao que se falasse a acerca de Deus. Mas como tudo está escrito, inspirado pelo
Espírito Santo de Deus, sabemos como tudo aconteceu e acontecerá.
·
Atos 8:35 mostra Filipe expondo a Escritura ao eunuco que a lia sem
compreendê-la. As Sagradas Escrituras sempre fizeram parte da vida dos judeus;
eles mesmos a escreveram por inspiração divina. Ao pregar o Evangelho ao
eunuco, Filipe parte daquilo que ele estava lendo e a partir dali lhe apresenta
o plano da salvação. A Palavra de Deus se revela poderosa para a salvação
daquele que crê.
·
Em Atos 17:11 os crentes de Beréia são elogiados pela sua preocupação
com o estudo das Escrituras. Eles a estudavam para saber se a pregação
apostólica estava de acordo com aquilo que Deus havia escrito, com as profecias
que apontavam para a vinda do Messias. O que aconteceria se nada tivesse sido
escrito? Que tipo de material estes cristãos primitivos poderiam estudar para
ter certeza da vontade de Deus, que sempre esteve impressa nas Escrituras
Sagradas? O uso da Tradição oral quer justamente desvalorizar a Bíblia,
conferindo-lhe uma margem de erro para que se possam abrir brechas às doutrinas
transmitidas somente através da forma oral.
·
Em Atos 18:28 Paulo, “por meio da Escritura”, convencia publicamente os
judeus que o Cristo é Jesus. Paulo pregava “oralmente” o Evangelho fazendo uso
da “Escritura”. A “tradição oral” de Paulo baseava-se na Palavra de Deus
inspirada e escrita. Esta “tradição oral” de Paulo seria posteriormente
transmitida às igrejas através das epístolas, onde Paulo repassa aquilo que já
havia ensinado por meio oral, acrescentando o que ainda faltava ser aprendido.
·
Em Romanos 15:4 Paulo diz claramente que “tudo quanto outrora foi escrito,
para o nosso ensino foi escrito”, atentando, inclusive, que “pela
consolação das Escrituras” podemos ter esperança. Quando Deus inspirou aos
homens para que escrevessem a sua Palavra, Ele sabia de sua importância e
significado. Tanto para o ensino da vida cristã como para o conhecimento do caminho
da salvação e a consolação do Espírito Santo, temos a Palavra de Deus, escrita
e preservada integramente durante séculos, isenta de erros ou contradições.
·
Em 1 Coríntios 15:3 Paulo diz que Cristo morreu “segundo as Escrituras”.
As Escrituras apontavam para Cristo. Como seria se nada do que Deus falou
tivesse sido escrito? Em que nós creríamos hoje se nada do que Jesus ensinou e
mais tarde os Apóstolos, inspirados pelo Espírito Santo, tivesse sido escrito?
·
Gálatas 3:8 e 22 mostra que os gentios seriam justificados pela fé e que
tudo estava encerrado sob o pecado para salvação pela fé em Cristo.
·
Em Tito 1:2,3 vemos que as Escrituras são o cumprimento das promessas de
Deus antes dos tempos eternos, sendo manifestada na pregação do Evangelho. O
Evangelho, desta forma, é a Palavra de Deus divinamente inspirada, preparada na
eternidade. É a revelação verdadeira.
·
Em 2 Pedro 3:16, o apóstolo Pedro considerou os escritos de Paulo como
parte das Escrituras.
Tais
verdades não só confirmam o valor das Sagradas Escrituras, como atestam que a
palavra escrita era amplamente utilizada e divulgada por toda a cristandade. É
difícil saber (talvez nem tanto) o motivo pelo qual os muitos teólogos
desconhecem ou escondem esta verdade. Mas para confirmarem que o Evangelho foi
pregado primeiramente por tradição oral, são obrigados a citar textos escritos,
como Tito 1:5; 2 Timóteo 2:1,2; 1 Tessalonicenses 2:13; 2 Tessalonicenses 2:15;
Atos 15:6-29. É fato que os apóstolos antes andaram pregando o Evangelho e só
depois escreveram epístolas onde deixaram registradas as doutrinas cristãs, mas
não é possível que entre a pregação oral e a escrita possa haver alguma
incoerência. Devemos lembrar que somente no ano de 1546, século XVI, é que foi
conferida à Tradição autoridade igual a da Bíblia, o que quer dizer que esta
Tradição é pós-canônica, não era a mesma tradição dos apóstolos.
A
tradição que Paulo passava aos crentes quando pregava ou escrevia suas
epístolas era fundamentada nas Escrituras: “Irmãos, venho lembrar-vos o
evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por
ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei,
a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo vos entreguei o que também
recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras,
e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras” (1 Coríntios 15:1-4; cf. Isaías 53:5-12). O Evangelho que ele
anunciou, a Palavra que ele pregou e tudo que ele entregou foi que Cristo
morreu e ressuscitou “segundo as Escrituras”. A importância deste Evangelho
pregado por Paulo era tamanha que nada lhe poderia ser tirado, muito menos
adulterado: “Admira-me que estais passando tão depressa daquele que vos chamou
na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, senão
que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas
ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu, vos pregue evangelho que vá
além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como
já dissemos, e agora repito, se alguém vos pregar evangelho que vá além
daquele que recebestes, seja anátema” (Gálatas 1: 6-9)
Este Evangelho ele não recebeu de
homens, mas do próprio Cristo (v. 12). A superioridade das Sagradas Escrituras
e a sua divina inspiração são melhor confirmadas no seguinte texto de 2 Pedro
1:16-21: “Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós
mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade[1],
pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela Glória
Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu filho amado, em quem me
comprazo[2].
Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com ele no monte
Santo. Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e
fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até
que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo,
primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular
elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos
pelo Espírito Santo”.
O Apóstolo Pedro andou com Jesus,
viajou com Ele, comeu, conversou e tornou-se o discípulo amado. Presenciou suas
pregações, perseguições e milagres; também viu e ouviu seu julgamento, morte,
ressurreição e ascensão. Ele estava reunido com os demais Apóstolos no dia de
Pentecostes quando o Espírito que o Mestre prometera desceu sobre eles. Tudo o
que ele falava realmente não era invenção, era a mais pura realidade de alguém
que viveu a História, que “aconteceu” com ela. Mas, ainda assim, ele não se
baseava simplesmente em seus relatos, mas apelava para a superioridade da
revelação divina, que não parte do homem, mas de Deus. Os homens podem falhar
em suas impressões da realidade, mas a Palavra de Deus jamais falha. Então,
homens guiados por Deus escreveram aquilo que serviu de base para toda a
doutrina dos Apóstolos; não a tradição dos homens, não a tradição meramente
oral, mas, acima de tudo, a Palavra Escrita e isenta de erros e más
interpretações.
AUTOR:
Mizael Xavier
[1] Pedro fala
daquilo que viu e ouviu do próprio Cristo, não do que outras pessoas lhe
falaram ou estórias que inventaram.
[2] Este fato
ocorreu quando da transfiguração de Jesus, presenciada por Pedro, Tiago e João
(cf. Mateus 17:1-8; Marcos 9:2-8 e Lucas 9:28-36). Esta mesma voz – de Deus –
havia dito a mesma coisa no batismo de Jesus (Cf. João 1:32-34; Lucas 3:21,22;
Marcos 1:9-11; Mateus 3:13-17).
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