A
primeira homilia realizada pelo novo líder da Igreja católica romana, o papa
Francisco, é um chamado aos fiéis à proclamação da mensagem da cruz de Cristo.
Ele afirmou: "Nós podemos caminhar como queremos, podemos construir muitas
coisas, mas, se não confessamos Jesus Cristo, algo está errado. Tornamo-nos uma
ONG piedosa, mas não a Igreja, a esposa do Senhor". Essa declaração é
pertinente, uma vez que nos lembra que a caridade faz parte do credo da maioria
das religiões, mesmo as politeístas que negam um único Deus e a divindade de
Cristo. Crer no Senhor envolve atitudes coerentes que se demonstram
primeiramente num compromisso de vida com o seu Evangelho. O papa Francisco
afirmou que é necessário "andar sempre na presença do Senhor, tentando
viver de forma irrepreensível".
Francisco afirmou ainda: "Eu
gostaria que todos nós, depois desses dias de graça, tivéssemos a coragem de
caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor, de construir a Igreja no
sangue do Senhor, derramado na Cruz, e confessar a única glória, Jesus
Crucificado". Essa é uma declaração da verdadeira vocação cristã: servir
ao Senhor da glória, o nosso único e verdadeiro Deus. Esquecendo-se de Jesus e
dando ênfase apenas à nossa capacidade de construir igrejas, de socorrer os
necessitados, de buscar revoluções sociais, não estamos vivendo o real
cristianismo. O papa também disse: "Quando caminhamos sem a cruz, quando
edificamos sem a cruz e quando confessamos um Cristo sem a cruz, não somos
discípulos do Senhor, somos mundanos, somos bispos, sacerdotes, cardeais,
papas, mas não discípulos do Senhor".
Não se pode negar que existem coisas
dentro da própria igreja que afastam os crentes da cruz de Cristo.
Especialmente nesta época em que a Teologia da Prosperidade tem-se firmado como
crença predileta dos novos crentes, o que temos visto é um afastamento contínuo
da verdade bíblica e da simplicidade da mensagem do Evangelho da salvação. Por
outro lado, excetuando-se a pregação mesquinha dos apóstolos da prosperidade,
até mesmo as obras de misericórdia da igreja devem ser revistas. Para onde eles
estão apontando? Quem está em evidência todas as vezes que a igreja do Senhor
pratica o bem ao próximo? Quais as suas motivações? Em que isso tem contribuído
para atrair as pessoas à Jesus? As afirmações de Francisco são pertinentes e
merecem ser debatidas por toda a cristandade.
Os miseráveis e os oprimidos do
mundo necessitam da atenção e do nosso amor solidário. Como cristãos que pregam
a justiça, temos o dever ético e moral de estender a mão àqueles que necessitam
de cuidados. É o amor prático, essa capacidade de nos doar por pessoas que
sequer conhecemos que nos identifica como filhos Deus e discípulos de Cristo. A
mensagem da cruz é uma mensagem integral, que revela o amor de Deus pelo
pecador e lhe fornece o caminho da salvação, mas é, também, é um apelo à
prática das boas obras, à luta política e humanitária pelos pobres e oprimidos
do planeta. Todavia, embora a igreja católica latino-americana tenha feito uma
opção pelos pobres como legitimidade do evangelho, a mensagem da cruz é um
apelo à adesão a Cristo por meio da fé na sua obra expiatória, e isto envolve
pessoas de todas as classes, etnias e nacionalidades. A cruz nos mostra que
muito mais que pão para saciar a fome, teto para se abrigar, roupas para se
vestir, escolas para se educar, hospitais para se cuidar, saneamento básico
para viver sem doenças e trabalho para ter dignidade e acesso aos bens
materiais, o mundo necessita de salvação. Desta forma, pobres e ricos são a opção
de Deus, porque todos fazem parte de um mesmo grupo de seres condenados e
carentes de salvação.
Como despenseira das multiformes graças de
Deus, a Igreja organizar campanhas de arrecadação de alimentos para doar a ONGs
que atendem a desabrigados e moradores de rua. Ela pode organizar passeatas,
abaixo-assinados e mobilizar a opinião pública contra a opressão às minorias e
conseguir que o Congresso Nacional aprove leis mais justas. Pode também
investir em cursos profissionalizantes para quem não tem condições de pagá-los,
em estrutura médica e em toda sorte de aparato para devolver a dignidade ao
pobre e libertar o oprimido, como a própria Bíblia nos ordena. Porém, ainda
assim ele pode morrer sem jamais ter aceitado a Jesus. Se isto acontecer, a
vontade de Deus não se cumpriu em sua vida, pois a vontade de Deus é que nenhum
se perca, mas que todos cheguem ao arrependimento. O Evangelho Integral nos
chama para um compromisso social com o mundo, mas é preciso entender que a
salvação que o mundo precisa é pela fé, e nisso estão os muito pobres e os
muito ricos.
Isto nos chama a uma nova prática
evangelística: o evangelho que liberta o espírito e repara as feridas do corpo.
Esta é a razão de existir da missão cristã: libertar e salvar vidas
integralmente. O corpo sem pão perece hoje, a alma sem Jesus perece
eternamente. A Missão Integral precisa exalar o perfume de Cristo, o poder da
cruz para não se tornar apenas mais uma organização que faz o bem social. A
nossa motivação precisa ser a glória do Senhor. Como bem afirmou o papa
Francisco, a Igreja do Senhor não pode ser uma ONG, um grande celeiro de
caridade que deseja libertar o oprimido, sem contudo levá-lo ao conhecimento de
Jesus. Caridade sem Jesus é caridade mundana. A mensagem que a Igreja precisa propagar
através das suas ações sociais é de existe um Deus de amor e caridade, mas que
também é justiça e juízo. Embora a ação social possa criar simpatizantes do
Evangelho e um exército de assistidos gratos a Deus pelas obras de misericórdia
da Igreja, não gera a salvação da alma, com exceções, é claro. A Igreja pode
até conquistar a simpatia da população e da mídia, mas não produz verdadeiros
discípulos de Jesus.
Eis a grande dificuldade em equacionar
pregação da salvação e responsabilidade social. A resposta foi dada e resume-se
no fato de que Deus ama a humanidade integralmente. Ele mesmo criou o homem
“alma vivendo”, num corpo que criou do pó da terra e que dotou de sentidos, de
necessidades físicas, psicológicas, cognitivas, sociais e espirituais. Não
existe mistério algum na Missão Integral. Como salvos permanecemos num corpo
corruptível e carecemos de atenção integral. Essa mesma atenção devemos
direcioná-la para os perdidos. Muitos se converterão e serão salvos, outros
apenas serão salvos de suas misérias sociais, mas o bem foi feito, a Palavra
foi pregada de forma prática. Importa que o Reino seja mostrado, que a cruz de
Cristo seja pregada e que toda ação da Igreja tenha como fim primeiro e único a
glorificação do Nome de Deus. Quem crê será salvo e aqueles que não crerem, que
apenas se satisfizerem com o pão, sairão ainda vazios e com a alma por ser
saciada.
O verdadeiro discípulo de Jesus não está
entre aqueles que comeram os pães e os peixes multiplicados, mas entre os que,
independente da comida que receberam e dos milagres que presenciaram,
permanecem ao lado do Senhor por entender que só Ele tem as palavras de vida
eterna. Todos estão perdidos e necessitam de Cristo. É Cristo o diferencial das
obras evangélicas para as obras das outras crenças, igualmente caridosas, como
o espiritismo. São crenças que investem em toda sorte de ações sociais em prol
dos pobres da sociedade, algumas vezes de maneira assistencialista, outras como
ações para reintegrá-los à comunidade e garantir seus direitos. Não é necessário
crer em Cristo para ser caridoso, mas é necessário crer nele para se salvar e
para apresentar a salvação além do corpo. Somente a fé em Cristo salva. A
partir da salvação, as obras de misericórdia encontram a sua legitimidade,
dignificam o crente como despenseiro das multiformes graças de Deus e fornecem
o testemunho vivo da Igreja que demonstra na prática o amor que prega nos
púlpitos, nas praças e nas casas. Uma das bandeiras levantadas pelos ateus é a
de que não é necessário crer em Deus para fazer boas obras. Deus é inútil para
eles, acima de tudo quando observam o péssimo exemplo de muitos crentes e
denominações.
Uma das críticas à Missão Integral é que
a igreja deve se preocupar apenas com a pregação verbal do Evangelho para a
salvação. De fato, todo cristão deve ter uma prática de vida coerente com a fé
que professa. Embora isso seja necessário como testemunho diante do mundo do
nosso compromisso com o Reino de Deus, a fé na vida dos outros vem pelo ouvir a
pregação da Palavra, não apenas o observar das nossas obras. Esta Palavra
ouvida e confirmada pode ser recebida com fé e produzir salvação (cf. Hb
2:1-4), ou pode não significar nada para aqueles que a escutaram (cf. Hb
4:1,2). Embora haja resistência à verdade salvadora da cruz, a pregação é necessária
para que haja fé. É o que o apóstolo Paulo esclarece na sua epístola aos
romanos (10:13-17):
Porque:
Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão
aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como
ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como
está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem
todos obedeceram ao evangelho; pois diz Isaías: Senhor, quem acreditou na nossa
pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo.
Observar o nosso procedimento
cristão, receber as obras de misericórdia que praticamos e até mesmo ouvir a
Palavra de Deus não é garantia que alguém se converta. Deus sabe os que são seus
e o Espírito Santo é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo
16:8). Como discípulos de Jesus, a nossa missão é apresentar a mensagem da
cruz, o Evangelho da salvação, tanto de forma verbal quanto através da prática
desse Evangelho. Não a mensagem que as pessoas esperam ouvir de um Deus que é
dono do ouro e da prata e que encherá as contas bancárias dos seus filhos de
dinheiro e suas vidas de alegria plena e saúde total. Não a mensagem
triunfalista que insiste em afirmar que crente não sofre e transforma a fé em
moeda de barganha. A fé que o mundo precisa é a do Cristo que morreu pelos
nossos pecados, porque nascemos sob condenação e sem Ele nosso destino é o
inferno. Longe de ser uma pregação de condenação, essa é uma mensagem sobre o amor
e a misericórdia de Deus para conosco, seres imerecedores do seu amor e da sua
sublime graça.
Sobre o nosso procedimento diante
das pessoas que jazem no mundo, a Bíblia nos apresenta duas descrições. A
primeira diz que os discípulos de Jesus são o sal e a luz do mundo,
demonstrando a sua influência e a sua responsabilidade (Mt 5:13-16). O sal deve
acrescentar sabor e a luz deve brilhar para que as trevas sejam dissipadas.
Diante deste testemunho vivo e coerente do crente com a sua natureza santa, o
mundo é obrigado a glorificar a Deus: “Assim brilhe também a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que
está nos céus” (v. 16). Investir no social e acrescentar sabor à vida de
pessoas desesperadas e desamparadas, além de aliviar a sua dor, leva-as a dar
glória a Deus por nosso intermédio. Mesmo sem reconhecerem a Jesus como Senhor
e Salvador, elas olham para as obras da Igreja e dão glórias a Deus, mesmo que
jamais frequentem um culto ou a escola bíblica dominical, mesmo que nunca
pousem seus olhos sobre a Bíblia para lê-la e aprender dela.
A segunda descrição, relatada em 2
Pe 2:11,12, diz respeito às injúrias que estavam sendo lançadas sobre os
cristãos nos primeiros séculos, como crimes e imoralidades. O chamado do
apóstolo é para que aqueles irmãos vivam uma vida santa e irrepreensível,
mantendo um procedimento exemplar naquilo em que estavam sendo acusados.
Observando as boas obras daqueles irmãos, os gentios glorificariam a Deus no
dia da visitação (v. 12). O apóstolo Pedro chama-os a uma fé prática compatível
com o seu caráter santo como forma de testemunhar de Cristo: “Porque assim é a
vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos
insensatos” (v. 16; cf. Tt 2:8). Novamente vemos que o testemunho da fé
evangélica, do procedimento santo daquele que se confessa discípulo de Jesus,
leva os descrentes a glorificarem a Deus. Em momento algum, porém, Paulo ou
Pedro afirmam que essas pessoas foram salvas, que elas fizeram uma opção por
Cristo por meio do testemunho da Igreja.
Por outro lado, as obras são
importantes e são o atestado da nossa fé. Independente se os infiéis aceitarão
ou não a Cristo, somos salvos e chamados para as boas obras (Ef 2:8-10). É
através da prática das boas obras que demonstramos nosso compromisso com aquilo
que cremos. Embora as obras não salvem ninguém, mas apenas a fé na obra
salvítica de Cristo, elas confirmam que servimos ao Senhor e que estamos vivos,
alicerçados sobre fundamento sólido e seguro. A fé sem obras, de acordo com
Tiago, por si só é morta (Tg 2:14-26). Algo morto é algo que não possui vida,
que existe, mas não pode produzir nada porque está inanimado. Se por um lado
não é certo que as pessoas se converterão ao contemplar nossas obras caridosas,
por outro lado é muito pouco provável que elas aceitarão uma mensagem que não
produz transformação e atitude na vida dos seus próprios promulgadores, uma
mensagem incapaz de sensibilizá-los diante das misérias do ser humano. Daí
surgem as críticas contra a Igreja do Senhor, com crentes “sentados, salvos e
satisfeitos”; sal que não salga, luz que não ilumina.
Não é esta a pregação da cruz de
Cristo (cf. 1 Co 2:1-2). Ela não é nem fundamentada nas obras de caridade nem é
isenta delas. A centralidade da cruz é Jesus Cristo e este ressuscitado. Os
apóstolos não apresentam Jesus como o Cristo pendurado no madeiro apenas, mas
procuram enfatizar a sua vitória sobre a morte, ressuscitando dentre os mortos.
Se olharmos as mensagens no livro de Atos, veremos que elas giram em torno do
Jesus ressuscitado (cf. 2:24,32; 3:15,26; 4:10; 5:30; 10:40; 13:30; 17:31).
Outros ensinos das epístolas também corroboram com a mensagem triunfal de Jesus
(cf. Rm 1:14; 4:25; 6:9; 8:34; 1 Co 6:14; cap. 15; Ef 1:20; 2:6; Cl 2:12; 3:1;
2 Tm 2:8; 1 Pe 3:21). É esta a mensagem que o mundo necessita ouvir: Cristo
ressuscitou! Ele vive eternamente e em breve virá buscar os que são seus,
dando-lhes a vida eterna para sempre nos céus. É uma mensagem escatológica e ao
mesmo tempo atual e transformadora, porque resgata o pecador do império das
trevas e torna-o filho de Deus. A cruz transforma a vida, muda o caráter,
santifica, justifica, purifica. Mas a cruz também promove o desejo de justiça,
a solidariedade, o compromisso responsável por aqueles que padecem de opressão
neste mundo caído.
Os sinais que Jesus fazia (curas e
milagres), o perdão aos pecadores, a proclamação da boa nova do Reino dos céus,
não eram um fim em si mesmo. Todas estas coisas eram sinais do Reino de Deus,
sua presença atual (na época de Jesus e na nossa) e vindoura (a parousia). Todos eles eram acompanhados
da mensagem de Cristo: arrependimento e conversão para a vida eterna;
obediência a Deus e fé na sua Palavra. O próprio Senhor Jesus enxergava na
multidão ávida por caridade, pessoas que de modo algum criam nele e nos seus
sinais, mas agiam motivadas por seu próprio interesse: “Em verdade, em verdade
vos digo: vós me procurais, não porque vistes os sinais, mas porque comestes
dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que prece, mas pela que
subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o
Pai, o confirmou com o seu selo” (Jo 6:26,27).
Jesus os chama a irem além de seus
desejos mundanos, de suas preocupações mesquinhas. Muito mais que pão para
saciar a fome do corpo, as pessoas precisam de Jesus para saciar a fome da
alma. Por isso o papel da Igreja se torna ainda mais importante. As empresas e
as estrelas hollywoodianas investem pesado em ações sociais no cuidado com o
pobre, com os desabrigados, com os esfomeados, com os despossuídos, com os
indígenas, com as marginalizados. Comparada com eles, a Igreja tem feito muito
pouco e a grande maioria das denominações, nada. Mas quando a Igreja age,
quando ela intervém, quando ela se importa, quando ela se propõe a mudar a
sociedade, deve fazê-lo no poder de Jesus Cristo, seguindo a orientação do
Espírito Santo e para a glória de Deus. A Igreja não é uma ONG, não é mais um
órgão secular preocupado com o bem-estar das pessoas: ela é o corpo de Cristo preocupado
com o bem-estar das pessoas.
Os sinais da igreja precisam ser sinais
de salvação da alma, sem deixar de se importar com a libertação do corpo. Isto significa
não desprezar o valor das obras sociais da Igreja e afirmar que elas são
necessárias. Mas a Igreja não pode fugir à sua missão de conduzir as pessoas à
fé para a salvação. Esta é a essência da Grande Comissão. Que sinais a Igreja
tem mostrado no mundo para apresentar a presença viva do Reino de Deus? Tais
sinais são verdadeiramente frutos da mensagem da cruz e da transformação
causada por ela na vida dos cristãos? Ou eles fazem apenas propaganda das
igrejas e dos pastores? Não basta a caridade, é preciso viver a cruz, apontar
para a cruz. Como já dissemos, mesmo aqueles que se declaram ateus podem
praticar obras de caridade, distribuir cestas básicas, visitar campos de
refugiados, criar campanhas de arrecadação de donativos para vítimas de
catástrofes naturais, fazer doações em dinheiro para ONGs seculares que ajudam
os necessitados e oprimidos.
O mundo produz caridade, mas não tem
a autoridade e a comissão dadas aos cristãos de pregar o Evangelho. Eles matam
a fome do pobre, ensinam os miseráveis a batalhar pelo pão de cada dia, mas não
são capazes de indicar-lhes o caminho que pode lhes dar a verdadeira vida em
abundância nos céus. Eles ajudam os pobres a se tornarem empreendedores de sua
própria libertação social, mas continuarão perdidos e sem Cristo no mundo. Somente
a Igreja de Cristo pode oferecer a libertação integral. Então não basta a
caridade, é preciso apontar para a cruz, viver plenamente a cruz em cada passo
que a Igreja dá. Precisamos lembrar porque que os discípulos não abandonaram
Jesus quando todos já tinham ido embora. É o apóstolo Pedro quem nos faz
recordar: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras de vida eterna. E
nós temos crido e conhecido que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Jo
6:68,69). A obra de Deus é que creiamos naquele que Ele enviou: o Senhor Jesus
Cristo (v. 29).
Transformar a Igreja numa ONG é ir
na contramão da verdade bíblica, mas negar a realidade da Responsabilidade Social
cristã presente na Missão Integral é um erro ainda maior. O próprio Senhor
Jesus operou milagres, multiplicou pães, ressuscitou mortos, e ainda assim
muitos, talvez a grande maioria, não creram nele, “Mas a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder se serem feitos filhos de Deus, a saber: aos que
creem no seu nome” (Jo 1:12). Levar ao mundo a Palavra viva de Deus é o chamado
da Igreja. Esta Palavra deve refletir nosso caráter cristão, deve fazer sentido
através da prática das boas obras. Ela precisa ser pregada com a vida e com o
exemplo, com a prática do amor abnegado e incondicional pelas almas perdidas,
pelos oprimidos do mundo. Ela precisa ser verbalizada, pregada. As igrejas
neopentecostais e sua Teologia triunfalista da prosperidade têm levado muitas
pessoas a crer nas bênçãos de Deus, nos seus direitos aos tesouros dos cofres
celestiais, no poder do Nome de Jesus, na conquista de empregos e
empreendimentos, mas não tem mostrado o sangue derramado na cruz do calvário
pelo perdão dos nossos pecados.
A Igreja do Senhor é chamada a fazer
diferença no mundo, o que significa ser diferente dele. O mundo, embora caído e
opressor, tem erguido frentes de batalha contra a opressão, as ditaduras, o
capitalismo selvagem, o preconceito e a discriminação; tem aberto sua mente e
coração para a liberdade, a igualdade e a fraternidade. A intolerância tem sido
combatida, os corruptos têm sido presos, a justiça social tem sido pregada.
Nisto tudo podemos enxergar o mover de Deus, a sua graça comum trabalhando no
mundo para diminuir um pouco do sofrimento humano. Mas a Igreja é portadora da
solução verdadeira, da chave para uma vida plena que Deus entregou nas suas mãos
a pregação do Evangelho Integral. Eis o nosso diferencial, a nossa missão, a
nossa razão de existir. Ou pregamos a integralidade da cruz de Cristo, ou já
não somos Igreja. Somos uma ONG, mas jamais a verdadeira Igreja do Senhor.
MIZAEL XAVIER
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