"O amor não enxerga os defeitos
do outro". Você concorda com isso? O autor do livro "O pequeno
Príncipe", Antoine de Saint-Exupéry, escreveu: "Só se vê bem com o
coração. O essencial é invisível aos olhos". Linda essa frase. Mas não
podemos esquecer que, em se tratando de seres humanos, o essencial que uma
pessoa carrega em si pode não ser nada agradável. Às vezes, por enxergar apenas
aquilo que é aparente, fechamos os nossos olhos para verdades essenciais da
pessoa que jamais poderiam ter passado desapercebidas. Isso pode envolver algo
positivo (qualidades que desprezamos porque não gostamos da sua aparência, do
seu jeito de ser ou seu nível social, por exemplo) ou negativo (os defeitos que
decidimos relevar em nome de algo que nos interessou muito, como a sua
aparência, o seu nível social elevado ou qualquer outra coisa do nosso
interesse).
Outra afirmação importante nessa frase
é que o coração "vê". O autor não está conclamando todos a uma
cegueira coletiva, mas apenas redirecionando a fonte da nossa visão: dos olhos
(aquilo que é aparente) para o coração (aquilo que é afetivo e busca a
essência). E o coração não se faz de cego! O que está diante dos olhos é
aparente, mas o coração enxerga bem a fundo. Ele quer conhecer o âmago do ser,
a essência. Bom, todos sabemos que essa é uma metáfora, porque o coração nada
vê, quem vê é o nosso interesse sincero em conhecer a fundo a pessoa que amamos
ao invés de a olharmos apenas na superfície. E se não gostarmos daquilo que
vimos?
Talvez devêssemos mudar um pouco a
frase do célebre autor e afirmar: "É preciso enxergar o coração, não
aquilo quem está diante dos nossos olhos". Isso é algo aproximado da visão
de Deus! Ou seja: devemos olhar as pessoas como Deus as olha. E como ela nos
olha? A resposta está expressa nas palavras do Senhor quando Davi foi escolhido
dentre os seus irmãos para ser o rei de Israel, quando Samuel acreditou que um
dos filhos mais vistosos de Jessé, chamado Eliabe, seria o escolhido: “Porém o
Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura,
porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o
exterior, porém o Senhor, o coração” (1 Samuel 16:7). Daí vem o ditado: quem vê
cara, não vê coração.
É preciso muito cuidado: algumas
pessoas mostram ser o que não são, enquanto outras não mostram ser, mas são. E
o cuidado é redobrado quando percebemos que cada situação dessa carrega um
sentido oposto. Explico: algumas pessoas fingem quem são boas, enquanto
escondem um monstro dentro de si. Outras se esforçam para se parecerem más,
talvez como um mecanismo de defesa, enquanto escondem muitas coisas boas que
apenas esperam a oportunidade de se revelar. Como discernir quem é quem? Tempo,
dedicação e conhecimento. Quem busca uma relação amorosa séria e duradoura,
sabe que o tempo jamais faltará. Quem prefere se apressar, talvez se
arrependerá. Ou talvez até não! Mas se existe o modo certo e seguro de fazer as
coisas, por que não investir nele? Devemos investir nosso tempo em conhecer a
verdade, porque ela é libertadora!
Como poderemos enxergar a verdade
existente na pessoa amada? Fechando os olhos? Nem os olhos nem o coração, mas
questionando e até mesmo observando o seu comportamento: as nossas atitudes
refletem o nosso interior. Uma pessoa pode até nos enganar com a sua hipocrisia
por algum tempo, mas a longo prazo ela revela quem é, não há dúvidas. Portanto,
além de enxergar, devemos também conversar: Quem é você? O que você é? O que
ambos teremos a ganhar com este relacionamento? Existe algo importante que eu
deva saber antes que a coisa fique séria? Não devemos temer fazer isso, afinal
de contas, a vida é nossa, e quem vai se relacionar com tal pessoa somos nós.
Se tudo der errado, não são os gurus da autoajuda e das frases de impacto que
sofrerão as dores: somos nós!
Fechar os olhos para os defeitos da
pessoa amada é uma perigosa falácia, criada por quem, talvez, não deseja que os
seus próprios defeitos sejam expostos ou considerados. O grande problema em
pensar que é possível não enxergar os defeitos de quem amamos e pretendemos nos
relacionar é que eles não deixam de existir, mas continuam ali, presentes em
cada palavra e/ou gesto. Podemos fingir que eles não existem, todavia eles não
farão o mesmo por nós, mas sempre irão se revelar, de preferência contra nós.
Fechamos os olhos para o defeito de mentir da pessoa, agora ela mente para nós.
O certo é que devemos sim enxergar os
defeitos da pessoa amada, como ela também enxergará os nossos. Isso é algo
absolutamente natural, além de sábio. Primeiro porque oa defeitos são parte
integrante da sua personalidade. Não teremos somente um lado dela (o bom), mas
ela toda. Por isso, qualidades e defeitos precisam estar bem patentes para nós.
Outros o tempo se encarregará de revelar. Segundo: talvez alguns defeitos não
sejam suportáveis. A tendência de quem está apaixonado é achar que pode
suportar tudo por amor e que com o tempo a mudança necessária ocorrerá. Até que
chegam as mentiras, as traições, a indiferença, as agressões. E aí a história
de "fechar os olhos para os defeitos do outro" se revela uma terrível
armadilha.
Precisamos conhecer os defeitos da
pessoa com quem vamos nos relacionar, como também ela conhecerá os nossos. Eles
podem ser listados durante uma conversa franca. Alguns, claro, eclodirão
somente com a convivência. O objetivo desse conhecimento não é descartar a
pessoa por causa dos seus defeitos. A não ser que ela revele que é maníaca
homicida. O objetivo é saber em que terreno estamos pisando e se teremos
condições de continuar pisando nele ou se é melhor dar meia volta. Se alguém
disser que não abre mão de certa prática nem para salvar a relação, há que se
pensar sobre o assunto. Existe a esperança de que Deus opere um milagre. Mas
talvez não.
Até que ponto estamos dispostos a
suportar uma pessoa com um ciúme doentio? Estamos seguros de entrar numa
relação com uma pessoa possessiva e controladora, sabendo que a nossa liberdade
será praticamente anulada? O que dizer de pessoas emocionalmente instáveis ou
até mentalmente desequilibradas? Talvez nos assustemos ao descobrir
comportamentos violentos, depressivos, manipuladores, dependentes ou mesmo
apáticos. Não é errado estabelecer limites para nós mesmos, algo do tipo: Eu
suporto tudo, mas não levante a mão para me bater.
Saber que uma pessoa possui defeitos é
bastante salutar para nós mesmos enquanto pessoas igualmente defeituosas. Ela
possui as suas fragilidades, nós possuímos as nossas. Poderemos, então
compreender e aceitar um ao outro, comprometendo-nos mutuamente com as mudanças
necessárias. Quando ambos reconhecem suas limitações, não podem contar
perfeição um do outro, a menos que estejam dispostas a buscar juntos a
perfeição tão almejada.
Conhecer o outro de antemão é
importante. Para nos afastamos sumariamente de alguém? Em casos extremos, sim.
Mas o ideal é para saber em que podemos ajudar e ser ajudados. Um e outro se
conhecem para crescerem juntos, ultrapassarem suas barreiras interiores, suas
limitações, seus exageros, seus medos, suas crises. Quem ama de verdade estará
ao lado da pessoa amada para ajudá-la a se tornar uma pessoa cada dia melhor.
Tudo isso, é claro, se ambas se dispuserem a isso, se reconhecem em que
precisam mudar, se forem humildes e corajosas o suficiente para enfrentar o
processo.
Portanto, devemos desistir dessa ideia
de que o amor é cego. A loucura é cega, mas o amor, não. Fechar os olhos para
os defeitos do outro é engano e autoengano. Além disso, é uma total falta do
amor que se afirma sentir. Quem ama, ajuda o outro a crescer. Fingir que ele é
perfeito não o ajudará. Só ama de verdade quem é capaz de enxergar os defeitos
da pessoa amada e permanecer ao seu lado. O amor falso fecha os olhos para os
defeitos, e ainda ora: "Meu Deus, faça com que ele mude, porque não quero
passar por tal e tal coisa". Hipocrisia.
Uma última palavra sobre esse cuidado
tão importante sobre a maneira como devemos enxergar o outro é o cuidado que
devemos ter com o nosso olhar para não emitimos julgamentos precipitados e
injusto. Muitas vezes só enxergamos aquilo que queremos, desprezando todo o
resto. Mergulhamos a ponta dos dedos dos pés na superfície do oceano que é alguém
e já emitimos um parecer desfavorável, sem nos permitir mergulhar nas suas
profundezas. Os nossos olhos (ou coração) podem estar enxergando a realidade
com filtros capazes de distorcê-la? Que filtros são esses? Preconceito,
orgulho, traumas, complexos, medo, insegurança e tantos outros. Por melhor que
a pessoa seja, quando usamos o filtro dos traumas por exemplo (violência,
abandono, abusos, bullying, etc.), acabamos vendo nela um inimigo em potencial.
Projetamos sobre ela culpas que não são dela, criamos vários possíveis quadros
do futuro em que ela nos faz mal sem que ela sequer saiba. É o que acontece
após várias desilusões amorosas: se todas erraram comigo, ela também errará.
Logo, é melhor nem tentar. E seguimos fazendo tudo errado de algo que poderia
ser bonito e ter dado certo.
O ponto central desde estudo é
enxergar os defeitos de maneira sadia, construtiva e transformadora. Mas
atenção: nso significa enxergar os defeitos que achamos que a pessoa possui ou
que presumimos que ela desenvolverá com o tempo. Não podemos lançar cargas
injustas sobre os outros. E vale a pena ressaltar: essa é uma vida de mão
dupla: observamos e somos observados, avaliamos e somos avaliados.
Quando encontrar alguém especial,
preste bastante atenção aos seus defeitos. Mas lembre-se: não deixe de perceber
as suas qualidades. Não procure motivos para partir, mas para ficar. Outra
coisa muito importante: tenha sempre diante de si o espelho invisível da
verdade, onde seus próprios defeitos e qualidades se revelam. Não existem seres
humanos perfeitos, mas seres humanos imperfeitos que dão o seu melhor para que
o amor aconteça e a paz se estabeleça.
Mizael Xavier
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colapso?
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DO FIM À SUPERAÇÃO
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. Encarando a realidade
. Primeiro passo: reprograme-se
. O caminho da cura
. Atitudes que transformam
. Aprendendo a lidar com os
sentimentos
. Revendo a nossa relação com o ex
. Possibilidades
. Identificando a relação abusiva
DA SUPERAÇÃO AO NOVO AMOR
. Da superação à continuidade
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