sábado, 7 de novembro de 2020

A PREGAÇÃO DA PALAVRA NA IGREJA

 


"Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus" (At 20:24).
 
Em seu fabuloso livro, intitulado "Pregação e pregadores" (ed. Fiel, 2008), o Dr. Martin Lloyd-Jones descreveu a pregação da Palavra como "a mais elevada, a maior e a mais gloriosa vocação para a qual alguém pode ser chamado" (p. 15). Entretanto, com felizes exceções, parece que a pregação expositiva da Bíblia nas igrejas está perdendo espaço para palestras sobre autoajuda e temas de interesse geral. O importante é deixar o culto e a mensagem atrativos, para que o perdido sinta desejo de ir ao culto e, quem sabe, aceite a Jesus. O Evangelho puro e simples, com temas como pecado, céu e inferno, parece não ser mais eficaz, além de afastar as pessoas da igreja. Além disso, sermões triunfalistas de prosperidade e isenção de sofrimento escondem que viver para Cristo traz dores e sacrifícios. É um evangelho sem cruz. Junta-se a tudo isso a baixíssima frequência aos cultos de ensino e à escola dominical. Soma-se, ainda, um preconceito irracional contra o ensino teológico que poderia salvar a mente do crente moderno e colocá-lo no centro da vontade de Deus.
 
A pregação bíblica genuína não pode perder seu espaço para o louvor, a dança e o teatro. Embora cada um desses possua a sua utilidade na liturgia do culto moderno e na evangelização, a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus "pregada" (Rm 10:13-17). Essa Palavra é o Evangelho de Cristo (1 Co 1:23), a sã doutrina transmitida pelos apóstolos (1 Tm 1:10; 2 Tm 4:3; Tt 1:9; 2:1). Não é o testemunho das bênçãos que recebemos de Deus. Não é nem mesmo o testemunho do que Deus fez na nossa vida. Essas coisas, na pregação, são secundárias. Elas servem para ilustrar e até mesmo motivar os ouvintes. Mas o Espírito Santo irá trabalhar a partir da verdade bíblica racional e claramente explicada. Bom testemunho de conduta, até um ateu possui. Bênçãos vêm mesmo para os ímpios. Um pecador pode falar da sua vitória contra o vício citando os Alcoólicos Anônimos.
 
O diferencial da igreja cristã está em pregar a respeito daquele que possui as "palavras de vida eterna", Jesus Cristo. E é isso que devemos fazer. Não vemos em parte alguma da Bíblia a Palavra de Deus sendo transmitida de algum modo que não seja pela pregação oral. Leia os Atos dos apóstolos. No caso da Palavra escrita (a Bíblia), ela contém o que já foi transmitido oralmente, e que nós também devemos transmitir. Paulo ordenou a Timóteo: "Prega a palavra" (2 Tm 4:1,2). Em 2 Tm 2:2, o jovem pastor é orientado a transmitir a homens idôneos o que fora ouvido, para que eles, por sua vez, ensinem a outros. Além da forma oral, o conteúdo é muito importante. Se a nossa mensagem não é o Evangelho da graça de Deus e todos os seus desdobramentos (temporais e eternos), fiquemos calados. Se não lemos nem estudamos a Palavra de Deus, não ousemos pisar no altar. Se não temos interesse em nos tornar obreiros aprovados que manejam bem a Palavra da verdade (2 Tm 2:15), não somos dignos de estar no púlpito. Saiamos de lá. Louvo a Deus porque esta é uma preocupação constante do pastor da minha igreja.

Mizael Xavier

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