Seja em tudo que vivi e aquilo que vivenciei
através dos depoimentos e desabafos de outras pessoas, a resiliência aparece
como um elemento decisivo para a história de vida de cada um. Assim como
experimentei a verdadeira superação, vi outras pessoas superarem; mas assim
como ainda luto para vencer algumas situações, também vejo muitos na mesma
luta. Se problemas sempre existirão, a necessidade de resiliência também. Ser
resiliente em determinada situação não é garantia que sejamos em todas, porque
todas serão diferentes. A garantia que temos é sempre sairemos fortalecidos e
mais sábios para enfrentar novas reveses com mais assertividade. Com o passar
do tempo e das dores, criamos um arsenal emocional, intelectual e espiritual
que iremos utilizar mais adiante. Além disso, Deus nos provê um crescimento
espiritual constante na prática da sua Palavra e na vivência no Espírito.
A resiliência está ligada diretamente ao nosso comportamento com relação a Deus, a nós mesmos e aos problemas que nos afligem. A nossa atitude diante das tempestades é que determinará a nossa resiliência. Carmello escreve que "o processo de desenvolvimento da resiliência é, basicamente, orquestração dos componentes psicológicos e cognitivos do indivíduo e dos elementos de apoio do ambiente que o cerca" (op. cit., p. 74). O contexto, o indivíduo ou grupo, e o próprio processo fazem parte do processo da resiliência, que também envolve quatro componentes que veremos aqui: condutas, características, fatores de promoção e atributos de sustentação (idem). Isso veremos de maneira introdutória para definirmos o nosso conceito de resiliência e a sua natureza. Todos esses componentes estarão diluídos nos diversos capítulos que se seguirão.
Padrões de conduta
O modo como encaramos a vida revela o tipo de
pessoa que somos e o nosso nível de resiliência. Existem pessoas reativas e
proativas. As reativas enxergam as crises como obstáculos intransponíveis,
vivem assoladas pelas circunstâncias e se deixam abater pelos momentos de
tensão. Elas vivem na defensiva, sentindo-se como vítimas, além de serem
resistentes às mudanças. As pessoas com maior tendência a ser resilientes são proativas.
Elas não vivem se vitimizando nem resistem às mudanças. Pelo contrário:
enxergam as crises como oportunidades de crescimento. Apesar de sentirem as
mesmas emoções negativas diante da crise que as pessoas reativas, elas não se
deixam abalar, confiam em Deus e na sua Palavra. São pessoas positivas,
focadas, flexíveis e organizadas.
Características
predominantes em resilientes
As pessoas resilientes possuem algumas
características inatas ou desenvolvidas ao longo da vida. Tais características,
na verdade, também estão naquelas pessoas que não consideramos resilientes,
esperando serem acionadas. Com relação à resiliência cristã, somente aqueles
que foram regenerados possuem certas características que provém diretamente do
Espírito Santo, como o fruto do Espírito e os dons espirituais, cabendo ao
cristão lançar mão delas ao se deixar guiar pelo Espírito. As adversidades
servem como gatilhos que disparam algo em nós, um sentimento que requer uma
ação, uma resposta. A resposta de muitos pode ser a ansiedade e o desespero. O
Senhor disse que não devemos andar ansiosos pela nossa vida, porque Deus cuida
de nós com amor paternal (6:31-34). O mesmo afirmou o apóstolo Paulo, que nos
orienta a entregar todas as nossas petições a Deus para que tenhamos paz (Fp 4:6,7).
O cristão resiliente é protagonista, jamais abandona o palco da sua própria história, mas atua de maneira consciente na resolução dos seus problemas. Ele é criativo ao buscar soluções, sabe ter ideias produtivas e é inovador. Ele também apreciada as mudanças. Isso não quer dizer que ele não tenha medo, mas que não se deixa dominar por ele. Outra característica é a sua elevada autoestima. Ele não se sente um inútil, muito menos fracassado, mas sabe o valor que tem para Deus, conhece suas limitações, mas também seus talentos. O cristão resiliente também é eficaz. Ele não tenta, ele faz. Ele também possui senso de humor, está feliz mesmo em meio às crises, porque a alegria do Senhor é a sua força. Por fim, ele possui equilíbrio emocional, que, segundo Carmello (ibidem, p. 84), é uma "Característica aplicada a pessoas ou grupos que têm capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia de suas emoções como fonte de energia, informação, conexão e influência humana".
Fatores de promoção
Quando falamos a respeito da resiliência,
acima de tudo a cristã, estamos nos referindo a diversos fatores que, sendo
somados, concorrem para que ela aconteça. Não podemos esquecer que, como
crentes em Cristo Jesus, somos membros do seu corpo, que é a Igreja. Embora
falemos na resiliência como algo individual, ela depende da coletividade e se
desenvolve a partir dela. Na Igreja ninguém ganha ou perde sozinho. Quando um
se machuca, todos sentem e choram com ele; mas se ele é honrado, com ele todos se
alegram (1 Co 12:26,27). Somos o tempo inteiro influenciados por Deus, pelas
pessoas, pelo ambiente e por nossas próprias disposições interiores. Essas
influências servem para melhorar o nosso desempenho e facilitar a conquista dos
nossos objetivos. Existem quatro fatores que concorrem para a capacitação para
o enfrentamento das situações de crise, com melhor adaptação e abertura às
mudanças. São eles:
Modelo de desafio
Esse modelo envolve a maneira como encaramos
a realidade, percebendo-nos como protagonistas capazes de operar a
transformação que precisamos. Isso envolve a capacidade de reconhecimento da
verdadeira dimensão do problema, o reconhecimento das possibilidades de
enfrentamento e o estabelecimento de metas para sua solução. Como cristãos,
também somos desafiados a confiar no Senhor e na força do seu poder para nos
fortalecer (Ef 6:10). Este é um modelo sobrenatural de resiliência do qual o
mundo não dispõe. Ele vai além de nós mesmos e nos revela que já somos mais que
vencedores em Cristo. Por mais que tenhamos responsabilidades para cumprir no
processo de superação e crescimento, é Deus quem opera em nós tanto o querer
como o realizar em todas as situações e áreas da nossa vida, segundo a sua boa
vontade (Fp 2:13).
Vínculos
significativos
Eles estão ligados ao que falamos
anteriormente a respeito da dinâmica do corpo de Cristo. Não precisamos
carregar sozinhos os nossos fardos, mas podemos e devemos compartilhar com os
irmãos na fé as nossas lutas, como eles também compartilharão as suas conosco.
A resiliência cristã nos chama à solidariedade, quando levamos as cargas uns
dos outros (Gl 6:2) e à comunicação efetiva na busca por soluções. Muitos
sofrem calados, não compartilham as suas dores para serem ajudados. Sem o apoio
emocional e espiritual necessários, não podemos vencer. Resiliência que surge
sem a ajuda mútua não é a resiliência verdadeira. Como veremos neste estudo,
somos seres interdependentes.
Mente solucionadora
No capítulo três, quando aprenderemos mais
detalhadamente sobre as características do cristão resiliente, começaremos com
algo muito importante: a mente. Resiliência é transformação, e esta é
impossível sem uma mente transformada. É o que a Bíblia chama de metanoia, como
lemos em Romanos 12:1, onde o apóstolo Paulo diz que devemos nos transformar
pela renovação da nossa mente. Uma mente transformada está em busca da vontade
de Deus. E é isso que o cristão resiliente deve buscar: a vontade de Deus para
a sua vida como a força motriz da sua superação. Além disso, uma mente
solucionadora é analítica, ela não está focada no problema, mas na sua solução
e na oportunidade de crescimento que ele traz consigo. A mente cristã
resiliente está impregnada do caráter de Cristo e tende a agir conforme os seus
passos. O apóstolo Paulo brilhava esse caminho, por isso era capaz de
aconselhar: "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo" (1 Co
11:1).
Sentido de propósito
e futuro
Esses fatores são característicos da vida
daquela que foi salvo para uma "viva esperança" (1 Pe 1:3). Por trás
de toda adversidade existe um propósito divino, algo que vem para nos ensinar,
corrigir e aperfeiçoar. E o sofrimento como força propulsionadora é a raiz do
crescimento cristão: "E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus vos
chamou à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, ele mesmo vos
aperfeiçoará, confirmará, fortificará e fortalecerá" (1 Pe 5:10). Como
crentes, o nosso propósito maior é glorificar a Deus através da nossa vida,
incluindo as dores. Pela fé temos esperança na solução dos nossos problemas,
mas vamos bem mais além: temos uma esperança eterna, que não podemos ver, mas
que é uma certeza (Tg 5:7,8; 1 Jo 3:3; Rm 5:2; 8:24). Essa esperança é a marca
do cristão resiliente. O apóstolo Paulo escreve: "E não somente isto, mas
também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a
paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança" (Rm
5:3,4).
Atributos de sustentação
Segundo Carmello, os atributos de sustentação
"são responsáveis pelo alto grau de adaptação positiva do indivíduo às
mudanças, promovendo a preparação e o aprendizado necessários para seu
crescimento e fortalecimento" (idem, p. 97). Esses atributos facilitam a
sua resiliência, e envolvem:
Eu sou (crenças,
princípios e valores, considerados forças intrínsecas do indivíduo)
São as nossas crenças e princípios que
determinam as nossas atitudes. Elas envolvem a nossa visão de mundo, a maneira
como concebemos e nos relacionamos com tudo ao nosso redor e, acima de nós,
Deus. Na resiliência cristã, a nossa cosmovisão está alicerçada sobre a Palavra
de Deus. Nós somos aquilo que Deus nos revela: pecadores regenerados e
controlados pela sua graça. Somos filhos da luz, logo não andamos mais em
trevas. Somos mais que vencedores em Cristo Jesus. Nas palavras do apóstolo
Pedro: "Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o
povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das
trevas para a sua maravilhosa luz" (1 Pe 2:9). Quando vivemos de acordo
com esses atributos, estamos prontos para vencer quaisquer obstáculos e
crescer.
Eu estou (estados de
ânimo, disposições e posturas, também forças intrínsecas)
Por mais abatidos que nos sintamos, jamais
nos veremos como derrotados. O apóstolo Paulo se reconhecia como alguém pequeno
demais, imerecedor da graça de Deus e da missão que lhe fora confiada. Ele
sabia que nele não habitava bem algum, mas conhecia o poder que operava em sua
vida, pois a sua suficiência vinha de Deus (2 Co 3:5). As nossas disposições
interiores devem refletir o caráter e a coragem de quem é templo do Espírito
Santo e cuja força vem do Senhor. Se pessoas comuns costumam superar grandes
crises e traumas, muito mais poderá aquele que o Senhor salvou. Assim diz o
Senhor: "Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o Senhor, o Criador dos
fins da terra, nem se cansa nem se fatiga? É inescrutável o seu entendimento.
Dá força ao cansado, e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os
jovens se cansarão e se fatigarão, e os moços certamente cairão; mas os que
esperam no SENHOR renovarão as forças, subirão com asas como águias; correrão,
e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão" (Is 40:28-31).
Eu tenho (apoio de
pares, liderança, cultura, que são atributos do meio em que o indivíduo vive)
Este atributo reforça o que já falamos:
ninguém luta ou vence sozinho. O meio em que vivemos (família, sociedade,
escola, trabalho e até mesmo a igreja) nem sempre nos dão o sustento necessário
para superarmos nossas crises, muito pelo contrário. Mas em meio ao caos
precisamos encontrar um caminho seguro para trilhar. Sempre haverá pessoas de
Deus no nosso caminho. Precisamos contar com os irmãos da igreja, os líderes de
ministérios e nossos pastores. Além disso, é necessário escolher com sabedoria
quem e o que exercerá influência sobre as nossas escolhas e atitudes: as crises
ou a esperança, a setas do inimigo ou o estímulo do Espírito, a vontade da
carne ou a Palavra de Deus. Não podemos ser frutos passivos do meio, mas
precisamos agir sobre ele e com ele para um crescimento mútuo. Eis o que
escreve Tiago: "Está alguém entre vós aflito? Ore. Está alguém contente?
Cante louvores. Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e
orem sôbre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; e a oração da fé
salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados,
ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns
pelos outros, para que sareis: a oração feita por um justo pode muito em seus
efeitos" (Tg 5:13-16). A cura acontece quando beneficiamos uns aos outros.
Eu posso (aquisição
de competências relevantes para a superação dos desafios, relacionando-se às habilidades
de aprendizagem e de capacitação)
O "eu posso" do cristão está
contido na seguinte premissa: "Tudo posso naquele que me fortalece"
(Fp 4:13). Ele luta equipado pelo poder do Deus eterno. Este poder também
produz conhecimento. A falta de conhecimento promove muitos erros e
impossibilita o nosso avanço em meio às crises e na nossa vida espiritual de
modo geral. Em primeiro lugar está a falta de conhecimento da Palavra de Deus.
O Senhor disse que o seu povo estava sendo destruído porque lhe faltava conhecimento
(Os 4:6). Quando abrimos mão de conhecer a Deus por meio da Palavra que Ele nos
revelou, deixamos de saber o que Ele espera de nós e a maneira como deseja que
realizemos a sua vontade. A vida cristã está em ouvir ou ler e obedecer a
Palavra de Deus. Em segundo lugar está a falta de conhecimento a respeito de
nós mesmos: os nossos defeitos e qualidades, nossos talentos e habilidades,
nossos pontos fracos e nossas forças, nossos dons espirituais e nosso lugar no
corpo de Cristo. Esse conhecimento nos faz encarar os problemas de maneira
corajosa e assertiva, dando-nos muito maiores condições de superá-los e os
instrumentos corretos. Que habilidades e competências precisamos desenvolver?
A resiliência está ligada diretamente ao nosso comportamento com relação a Deus, a nós mesmos e aos problemas que nos afligem. A nossa atitude diante das tempestades é que determinará a nossa resiliência. Carmello escreve que "o processo de desenvolvimento da resiliência é, basicamente, orquestração dos componentes psicológicos e cognitivos do indivíduo e dos elementos de apoio do ambiente que o cerca" (op. cit., p. 74). O contexto, o indivíduo ou grupo, e o próprio processo fazem parte do processo da resiliência, que também envolve quatro componentes que veremos aqui: condutas, características, fatores de promoção e atributos de sustentação (idem). Isso veremos de maneira introdutória para definirmos o nosso conceito de resiliência e a sua natureza. Todos esses componentes estarão diluídos nos diversos capítulos que se seguirão.
O cristão resiliente é protagonista, jamais abandona o palco da sua própria história, mas atua de maneira consciente na resolução dos seus problemas. Ele é criativo ao buscar soluções, sabe ter ideias produtivas e é inovador. Ele também apreciada as mudanças. Isso não quer dizer que ele não tenha medo, mas que não se deixa dominar por ele. Outra característica é a sua elevada autoestima. Ele não se sente um inútil, muito menos fracassado, mas sabe o valor que tem para Deus, conhece suas limitações, mas também seus talentos. O cristão resiliente também é eficaz. Ele não tenta, ele faz. Ele também possui senso de humor, está feliz mesmo em meio às crises, porque a alegria do Senhor é a sua força. Por fim, ele possui equilíbrio emocional, que, segundo Carmello (ibidem, p. 84), é uma "Característica aplicada a pessoas ou grupos que têm capacidade de sentir, entender e aplicar eficazmente o poder e a perspicácia de suas emoções como fonte de energia, informação, conexão e influência humana".
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