A IGREJA CATÓLICA NÃO NOS DEU A BÍBLIA: CONHEÇA A VERDADEIRA HISTÓRIA
A formação do cânon bíblico do Antigo e do Novo Testamento é um tema fundamental para entender como a Bíblia, em sua totalidade, se tornou o livro sagrado que conhecemos hoje. Para refutar a afirmação de que a Igreja Católica "nos deu" a Bíblia, podemos estruturar um estudo que considera as origens, o desenvolvimento e o processo de canonização de ambos os testamentos, ressaltando o papel das comunidades judaicas e cristãs primitivas nesse processo, antes da influência institucional da Igreja Católica.
1. A Formação do Cânon do Antigo Testamento
A) Origens e Tradição Judaica
Textos Chave e Datação: Os livros do Antigo Testamento foram escritos ao longo de vários séculos, a partir do tempo de Moisés (cerca de 1400 a.C.) até aproximadamente o século V a.C., incluindo a Torá, os Profetas e os Escritos.
Reconhecimento Comunitário: As Escrituras judaicas foram reconhecidas como inspiradas por Deus pela própria comunidade de Israel. Jesus e os apóstolos usaram essas Escrituras sem questionar sua autoridade ou autenticidade.
O Cânon em Israel: O cânon hebraico foi amplamente estabelecido e reconhecido antes do surgimento do cristianismo, com evidências na literatura judaica e nos manuscritos do Mar Morto, datados de 250 a.C. a 70 d.C.
B) A Septuaginta e a Comunidade Cristã Primitiva
Tradução Grega do Antigo Testamento: A Septuaginta, tradução das Escrituras Hebraicas para o grego (século III a.C.), era amplamente usada pelos judeus da diáspora e, mais tarde, pelos cristãos. Entretanto, ela incluía livros adicionais (os chamados "deuterocanônicos") que a tradição judaica posterior não considerou como parte do cânon oficial.
Rejeição dos Deuterocanônicos: Os judeus, no Concílio de Jâmnia (90 d.C.), ratificaram um cânon do Antigo Testamento que excluía os deuterocanônicos. As comunidades cristãs primitivas seguiam o cânon hebraico em vez de adotar inteiramente a Septuaginta, e Jesus e os apóstolos nunca citaram os livros deuterocanônicos como Escritura inspirada.
2. A Formação do Cânon do Novo Testamento
A) Escritos dos Apóstolos e Reconhecimento Primitivo
Escrita e Circulação dos Evangelhos e Cartas: O Novo Testamento foi escrito entre 45 e 100 d.C. por apóstolos ou discípulos próximos deles. Esses textos foram amplamente aceitos e usados pelas igrejas primitivas.
Critérios de Canonicidade: Os livros do Novo Testamento foram aceitos com base em sua autoria apostólica, conteúdo doutrinário e ampla aceitação nas igrejas primitivas. Clemente de Roma (c. 96 d.C.), Inácio de Antioquia (c. 110 d.C.) e outros líderes da igreja já reconheciam muitos desses textos como Escritura.
B) Concílios e Desenvolvimento do Cânon
Concílios Regionais: Concílios como o de Hipona (393 d.C.) e o de Cartago (397 d.C.) formalizaram o cânon do Novo Testamento, mas isso não significa que eles "criaram" esses livros. Eles apenas reconheceram oficialmente os livros que a igreja já usava como inspirados.
Autonomia do Processo de Canonização: Os concílios ratificaram um consenso já existente na igreja, sem impor novos livros. A igreja apenas reconheceu formalmente aquilo que já era amplamente aceito.
3. A Questão do Cânon e a Igreja Católica
A) Formação Independente
Origem do Cânon Anterior ao Catolicismo Romano: Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento foram reconhecidos como Escritura antes da Igreja Católica se estabelecer como uma instituição dominante. A igreja de Roma não criou esses textos; ela, como outras igrejas primitivas, apenas os preservou e confirmou.
Uso dos Textos no Cristianismo Primitivo: Os cristãos do século II já estavam usando os livros que hoje conhecemos no Novo Testamento. Irineu, por exemplo, mencionou os quatro evangelhos, e o Cânon Muratório (c. 170 d.C.) listou muitos dos livros aceitos.
B) Desvios no Período Medieval e Reforma Protestante
Adição dos Deuterocanônicos no Concílio de Trento: A Igreja Católica só formalizou os deuterocanônicos como parte do Antigo Testamento no Concílio de Trento (1546 d.C.), em resposta à Reforma Protestante. Até então, havia discordância sobre esses textos.
A Bíblia Preservada pela Reforma: Os reformadores protestantes retornaram ao cânon hebraico para o Antigo Testamento, rejeitando os deuterocanônicos, e reafirmaram os 27 livros do Novo Testamento.
4. Conclusão
A Bíblia Não Foi "Dada" pela Igreja Católica: A Bíblia, como a conhecemos, é o resultado de um processo histórico de escrita, aceitação e reconhecimento que precede a Igreja Católica institucionalizada. A Bíblia foi preservada e disseminada por comunidades de fé que testemunharam e preservaram a palavra de Deus muito antes da formação oficial da Igreja Católica.
O Papel de Deus na Inspiração e Preservação das Escrituras: Em última análise, os cristãos acreditam que foi Deus quem inspirou e preservou Sua Palavra, independentemente de qualquer instituição humana.
Esse estudo demonstra que a formação do cânon bíblico é uma trajetória comunitária e divina que antecede qualquer influência institucional da Igreja Católica, tornando inapropriada a afirmação de que foi ela que "nos deu" a Bíblia.
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