quinta-feira, 19 de setembro de 2024

NEM TUDO PRECISA ESTAR NA BÍBLIA: REFUTAÇÕES DE UMA FALÁCIA

NEM TUDO PRECISA ESTAR NA BÍBLIA: REFUTAÇÕES DE UMA FALÁCIA
(Mizael Xavier)

Se perguntarmos a um cristão evangélico em que ele baseia a sua fé, a resposta uníssona será: na Bíblia Sagrada. Embora haja muitas distorções teológicas presentes em muitas denominações evangélicas, embora algumas dessas denominações incluam na sua fé e prática novas supostas revelações e profecias, as igrejas genuinamente cristãs e reformadas não possuem nenhuma outra regra de fé e de prática além da Bíblia Sagrada. Para a igreja católica romana, no entanto, isto não é uma verdade, mas ajuntam-se à Bíblia, com o mesmo peso e valor revelacional, a Tradição e o Magistério da igreja. Além de proibir seus fiéis de interpretarem a Bíblia individualmente (não "particularmente", mas sem necessidade da mediação oficial da Santa Sé), a igreja católica não lhes dá total segurança quanto ao que está escrito na Bíblia, uma vez que novas doutrinas e dogmas podem lhe ser acrescentados.

Muitos padres, pregadores e influenciadores católicos pregam e ensinam algo que já se tem tornado um bordão nas suas palestras e homilias: "Nem tudo precisa estar na Bíblia". De forma inflamada e repleta de ironia, alguns deles escarnecem dos cristãos evangélicos, que insistem na sua "ignorância" de que a Bíblia é a única regra de fé e prática cristãs. "E quem disse que tudo precisa estar na Bíblia?", eles indagam, enquanto tentam refutar um dos maiores pontos de fé das igrejas reformadas: o Sola Scriptura, ou "somente as Escrituras". Um dos seus argumentos falaciosos é que em momento algum a Bíblia afirma que somente ela deve ser considerada a fonte da revelação divina, mas que existem outras fontes e que Deus continua a se revelar à igreja. Tais fontes, é claro, pertencem exclusivamente à igreja católica romana, única depositária da fé cristã e única com autoridade divina sobre o conteúdo da revelação de Deus.

Aqui estão algumas declarações de padres e influenciadores católicos sobre a ideia de que nem tudo está escrito na Bíblia:

1. O padre Paulo Ricardo, ferrenho opositor da igreja e da fé protestante nas redes sociais, argumenta que a própria Bíblia aponta para a importância da tradição oral além das Escrituras. Ele menciona que os apóstolos deixaram ensinamentos que não foram escritos, e que esses devem ser preservados pela tradição da Igreja. Ele cita textos bíblicos como João 21,25 e 2 João 12 para reforçar que nem tudo o que Jesus fez ou ensinou foi registrado na Bíblia. Isto, claro, não leva em conta o ensino geral das Escrituras, muito menos uma exegese séria do texto bíblico. Em João 21:25, João não fala a respeito das palavras e do ensino de Jesus, mas das suas obras (sinais e milagres). Em 2 João 12, o apóstolo não fala de outras revelações, mas se temas pertinentes à fé cristã, que, com certeza, seguiriam a mesma linha teológica das suas demais cartas e do Evangelho por ele escrito. Se fôssemos aplicar o princípio cogitado pelo referido padre, deveríamos supor que Judas também deixou margem para novas revelações (cf. Judas 1:3), o que é bastante improvável, uma vez que ele escreve a sua carta justamente para combater os falsos profetas e seus falsos ensinos. Ele exorta no v. 17: "Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras anteriormente proferidas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo". Essas palavras estão registradas e formam nosso Novo Testamento. E isto nos basta.

2. O papa Francisco, que tem sido criticado pela ala mais conservadora da igreja católica romana contra suas ideias modernistas, em uma de suas audiências, explicou que a Bíblia não pode ser lida como um romance e que ela foi escrita para cada pessoa, em seu contexto pessoal. Ele também destacou a importância da oração para compreender as Escrituras e evitar interpretá-las de forma mecanicista, sem um encontro real com Deus. Em parte, o líder católico está certo. Primeiro, porque a Bíblia nos atinge em nosso próprio contexto pessoal, sendo aplicada a toda a nossa vida. Segundo, porque a Palavra de Deus deve ser tomada a partir de um encontro com Deus, um encontro de conversão. No entanto, a Bíblia é aplicada a cada pessoa em seu próprio contexto, mas não foi escrita para cada um em seu contexto de vida, uma vez que tal pensamento pode sugerir que a Palavra de Deus se adapta à nossa realidade, que é o sonho perseguido pelos ativistas da ideologia de gênero e por aquelas que insistem que a Bíblia deve ser reescrita para se adaptar às demandas do mundo moderno. Determinados mandamentos, doutrinas e dogmas não cabem na realidade do ser humano moderno. A liberação de bençãos especiais para casais homoafetivos por parte do papa Francisco já revela o que a sua fala quer realmente dizer.

3. Em outro exemplo, o site Montfort explica que a tradição também é uma fonte de revelação, baseada nas palavras de Cristo. Jesus teria dito que o Espírito Santo guiaria os apóstolos para toda a verdade, completando assim o ensino que não foi todo registrado nas Escrituras (João 16,12-13). Eles também citam João 21,25 para mostrar que nem tudo o que Jesus fez foi escrito. Tal ensino herético é refutado por meio do próprio texto bíblico citado, de João 16:12-14: "Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora; quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar". A verdade a que o Espírito guiaria os apóstolos não poderia ser diferente da verdade pregada pelo Senhor Jesus. As coisas reveladas pelo Espírito Santo aos apóstolos, que eram e que haveriam de vir, estão registradas nas páginas da Bíblia. A nós, que não somos apóstolos nem escritores sagrados, o Espírito Santo guia na verdade já revelada. O trunfo da igreja católica neste ponto, é a sucessão apostólica, de modo que, como sucessores de Pedro, os papas continuam a receber as "revelações" do Espírito Santo, transmitindo-as à igreja. A propósito, São Luís Maria Grignion de Montfort, que dá nome ao site, é autor do livro "Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem", que ensina uma devoção inteiramente escravizada à mãe de Jesus.

4. Em um vídeo postado na Internet (25/08/2023), o padre Christian Shankar afirma categoricamente, utilizando-se do mesmo texto bíblico (João 16:12,13): "Quando alguém falar com você que tudo está na Bíblia, você vai dizer pra pessoa: mentira, você não está falando a verdade. Nem tudo está na Bíblia. A Bíblia tem algumas coisas. Na cabeça de alguns por aí, parece que alguém andava atrás de Jesus com uma prancheta, uma caneta, um gravador, anotando tudo, e chegava em casa e digitava [...] Nós católicos, a nossa fonte de fé é sustentada em três [ele não terminou a frase, mas, com certeza, trata-se do tripé: Bíblia, Tradição e Magistério] o que é diferente do mundo protestante [...] Por isso o protestante fala que o que não tá na Bíblia, não é. Aí você fala com ele: há coisas que não estão na Bíblia" (transcrito por mim). Vemos claramente que se trata de uma homilia para leigos que pouco leem a Bíblia, quem dirá estudá-la; e quando chegam a estudar a Palavra de Deus, fazem isso mediados pelo tripé que determina não somente a sua fé, mas a maneira de interpretação do texto bíblico. Sobre a fala absurda do referido padre a respeito das "anotações", não era necessário ninguém acompanhar Jesus, registrando em tempo real tudo o que via ou ouvia. Este foi o trabalho dos apóstolos, evangelistas, missionários e escritores sagrados, que guiados, ensinados e, somente os escritores, inspirados pelo Espírito Santo, transmitiram até nós a vida e as palavras de Jesus. O Senhor mesmo lhes havida dito: "Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito" (João 14:25,26).

As razões ocultas da falácia católica

Por que é tão essencial para a igreja romana que a Bíblia não seja a única regra de fé e prática para o cristão? Por que é indispensável que, além da Bíblia, existam fontes extras de revelação divina controladas pelo papa e seus oficiais? Uma resposta rápida seria: porque somente com o uso da Bíblia Sagrada é impossível sustentar as doutrinas e dogmas católicos romanos extra-bíblicos, mesmo com a presença dos seus livros apócrifos. Para caber nas invencionices teológicas católicas, é necessário haver uma interpretação totalmente distorcida da Bíblia, repleta de alegorias e desprovida de uma exegese séria e sadia. A Tradição e o Magistério são apenas ferramentas a mais neste sistema gerador de novas revelações proféticas e novas interpretações do texto bíblico.

Além disso, existem outros motivos que se escondem por detrás da falácia: "nem tudo precisa estar na Bíblia". Vejamos os principais:

1. Justificar a existência de doutrinas e dogmas claramente estranhos e contrários às Escrituras Sagradas, que só podem se sustentar por meio da Tradição e do Magistério da igreja.

2. Legitimar as interpretações teológicas oficiais da igreja, que não levam em conta apenas a exegese do texto bíblico, mas incluem o entendimento baseado em uma suposta "revelação continuada", que, além dos mecanismos oficiais (Tradição e Magistério), conta com declarações, escritos e revelações dos santos, de Maria e dos papas.

3. Oferecer margem a novas formas de interpretação do texto Sagrado, além de legitimar novos ensinos, doutrinas e dogmas, com base em releituras, reinterpretações e alterações na Palavra de Deus.

4. Manter a Bíblia aberta a novas revelações, trazidas por supostas aparições de Maria, além da adequação da Bíblia e da fé às demandas do pensamento mundano moderno.

Uma das grandes estratégias que os pregadores e influenciadores digitais católicos empregam para criticar as igrejas evangélicas e desqualificá-las como igrejas verdadeiras, comprometendo a sua legitimidade é, a partir da Reforma Protestante, ocorrida em 1517, listar o ano de fundação, bem como os fundadores de cada igreja evangélica. Com isso, afirmam ser a única igreja fundada diretamente por Jesus Cristo. Existem diversos erros nesta falácia e que merecerão uma atenção posterior. Para os fins deste estudo, vejamos apenas como a igreja romana também tem a sua própria linha do tempo na formulação de novas doutrinas e dogmas, que não surgiram no ano I com o nascimento da igreja, mas só se desenvolveram e se firmaram muitos séculos depois. Estes dogmas são considerados pela igreja católica como sendo parte da Tradição Sagrada, que, junto com as Escrituras, constitui a base da fé. Segue uma lista de dogmas católicos não explicitamente encontrados na Bíblia, com os respectivos anos de promulgação, papas e documentos:

1. A Maternidade Divina de Maria: Proclama que Maria é Mãe de Deus (Theotokos).
Ano: 431
Papa: Celestino I
Documento: Concílio de Éfeso

2. A Perpétua Virgindade de Maria: Maria permaneceu virgem antes, durante e após o nascimento de Jesus.
Ano: Definido dogmaticamente no Concílio de Latrão em 649
Papa: Martinho I
Documento: Concílio de Latrão

3. Transubstanciação: A doutrina de que o pão e o vinho se transformam literalmente no corpo e sangue de Cristo durante a Eucaristia.
Ano: Definido no IV Concílio de Latrão (1215)
Papa: Inocêncio III
Documento: Firmiter Credimus

4. A Indulgência Plenária: A prática de conceder indulgências plenárias para reduzir o tempo no purgatório.
Ano: 1343
Papa: Clemente VI
Documento: Unigenitus Dei Filius

5. Purgatório: Afirma a existência do purgatório como um estado temporário de purificação para os fiéis.
Ano: Formalizado no Concílio de Florença (1439)
Papa: Eugênio IV
Documento: Laetentur Caeli

6. Imaculada Conceição de Maria: Declara que Maria foi concebida sem o pecado original.
Ano: 1854
Papa: Pio IX
Documento: Ineffabilis Deus

7. Infalibilidade Papal: Declara que o papa é infalível ao proclamar ex cathedra doutrinas de fé e moral.
Ano: 1870
Papa: Pio IX
Documento: Declaração do Primeiro Concílio Vaticano

8. Assunção de Maria: Afirma que Maria foi levada ao céu de corpo e alma no final de sua vida terrena.
Ano: 1950
Papa: Pio XII
Documento: Munificentissimus Deus

Todos esses dogmas são resultados da falaciosa frase: "Nem tudo precisa estar na Bíblia". Se a igreja católica possuísse a mesma fé que os evangélicos, nada disso teria sido possível, uma vez que não está na Bíblia e a contradiz em inúmeros aspectos. É claro que movimento evangélico, de um modo geral, também possui muitas doutrinas que não encontram respaldo bíblico, como a Teologia da Prosperidade, por exemplo, que possui diversos estudos neste blog refutando suas heresias.


Refutações bíblicas

Para alcançar seus objetivos, é imprescindível, para a fé católica romana, que nem tudo esteja totalmente revelado na Bíblia, mas que haja a possibilidade de Deus promover novos entendimentos e trazer novas doutrinas, sempre através dos canais oficiais da igreja. No entanto, a Bíblia deixa bastante clara a sua suficiência como revelação de Deus completa e inalterável. Aqui estão dez refutações bíblicas e de teólogos protestantes à afirmação de que nem tudo que o cristão precisa crer está na Bíblia:


1. Suficiência das Escrituras (2 Timóteo 3:16-17)

A Bíblia é clara ao afirmar que "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra." Este texto ensina que a Bíblia contém tudo o que é necessário para que o cristão viva e creia de maneira correta. Se a Bíblia se declara útil para a nossa fé, significa que não precisamos de nenhuma outra fonte. Podemos e devemos ler e estudar os livros dos grandes teólogos e escritores cristãos, uma vez que escrevam segundo a sã doutrina revelada nas Sagradas Escrituras e delas não se desviem. João Calvino, autor das "Institutas" ou "Instituições da religião cristã", enfatiza que as Escrituras são a "norma final" da fé, ou seja, a autoridade suprema à qual todas as doutrinas devem se submeter. Onde a Bíblia não fala, o cristão se cala.


2. A Palavra Eterna (Isaías 40:8)

O profeta Isaías escreveu: "Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso Deus subsiste eternamente." Isso demonstra que a Palavra de Deus é suficiente, imutável e duradoura, sendo a fonte de toda verdade necessária para o cristão. Ao longo dos séculos (como veremos adiante), a igreja católica tem inventado as mais diversas doutrinas e dogmas que acabam por invalidar a doutrina conforme revelada nas Sagradas Escrituras. Se por um lado o Vaticano II concorda que somente Cristo salva, por outro, afirma ser necessário pertencer à igreja católica para ser salvo e ainda contar com a mediação que a intercessão de Maria. Nosso grande redormador, Martinho Lutero, defendia que a Bíblia é o fundamento único da fé cristã e que todas as outras fontes de autoridade devem ser julgadas à luz dela. Se determinado ensino, doutrina ou dogma não podem ser amplamente comprovado por meio da Bíblia e somente dela, não devem ser cridos como Palavra de Deus.


3. As Escrituras como testemunho completo (João 5:39)

Jesus exorta os judeus a examinarem as Escrituras porque elas "testificam de mim". Isso mostra que toda a verdade sobre Cristo e o plano de salvação já está nas Escrituras, não sendo necessária revelação externa. Ao falar a respeito do conteúdo do seu Evangelho, João afirma: "Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (20:30,31). O que está escrito é suficiente para que creiamos em Cristo e tenhamos vida em seu nome. Não há necessidade de novas revelações. Charles Haddon Spurgeon, o "príncipe dos pregadores", ressaltava que o cristão deve se voltar exclusivamente às Escrituras para compreender Cristo e a salvação. O apóstolo Paulo escreveu sobre a nossa salvação: "E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo" (Romanos 10:17). A qual palavra de Cristo o apóstolo do Senhor se referia: aquela que hoje temos reunida nos 66 livros da Bíblia ou aquelas que a igreja católica traria ao longo dos séculos?


4. A fé uma vez entregue aos santos (Judas 1:3)

Escrevendo contra os falsos profetas e a favor da sã doutrina, Judas diz: "Exorto-vos a batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos." Isso indica que a fé cristã foi entregue completa, sem necessidade de adições posteriores. A revelação já foi finalizada na Bíblia. John Owen argumentava que o cânon das Escrituras é fechado e que qualquer coisa que vá além dela não pode ser considerada verdade cristã. Quando os apóstolos pregavam ou escreviam seus textos sagrados, eles o faziam com base na Palavra revelada, ou seja, o Antigo Testamento, e ao mesmo tempo eram inspirados pelo Espírito Santo naquilo que deixaram registrado. O apóstolo Paulo explicou o conteúdo da sua mensagem: "Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3,4). Ao falar sobre os escritos de Paulo, Pedro demonstra claramente que eles eram considerados como parte das Escrituras Sagradas: "ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2 Pedro 3:16).

5. Não acrescentar à Palavra de Deus (Deuteronômio 4:2)

Conforme lemos no texto citado de Deuteronômio, o Senhor diz a respeito da sua Palavra: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem dela tirareis." Deus claramente proíbe qualquer adição à Sua Palavra, o que inclui doutrinas externas à Bíblia. Em Apocalipse 22:18,19, o Senhor encerra a revelação com uma exortação ainda mais dramática: "Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas neste livro". Se nada pode ser acrescentado nem subtraído da Bíblia, significa que todo o seu conteúdo já está completo e é suficiente. Se precisássemos de algo mais, as palavras do Senhor não fariam o menor sentido. Francis Turretin afirmava que o princípio da Sola Scriptura é essencial, pois a Bíblia é suficiente e completa, e qualquer adição representa uma violação direta à autoridade divina. Dizer que a Bíblia não é suficiente, é chamar Deus de mentiroso.


6. A Palavra de Cristo habitando em nós (Colossenses 3:16)

Paulo escreveu aos colossenses: "Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração". Esse texto incentiva o cristão a viver segundo a Palavra de Deus revelada, o que exclui a necessidade de outras fontes. A Palavra de Deus em nós é suficiente para uma vida santa e piedosa, cheia de verdade e de justiça, repleta de frutos e obras. Afirmar o contrário, dizer que a Bíblia não contém tudo que é necessário para nos moldar e nos orientar, significa dizer que Deus errou ao nos dar um livro incompleto. Se os dogmas que citamos são verdadeiros e essenciais a fé cristã, porque só vieram séculos após o início da Igreja e a morte dos apóstolos? Por que não existe nada de escrito sobre a infalibilidade do papa ou sobre indulgências? A fé dos primeiros cristãos era incompleta? Herman Bavinck sublinhava que a revelação especial de Deus em Cristo está completa nas Escrituras, não havendo necessidade de buscar revelação extra-bíblica. Não acreditar nisso é desprezar o próprio Espírito Santo que inspirou a escrita da Bíblia, é chamar Deus de mentiroso, é se colocar no lugar de para determinar qual seja a sua vontade e o que deve ser descartado.


7. O Evangelho completo nas Escrituras (Gálatas 1:8)

A carta de Paulo aos gálatas teve como tema central a excelência da Palavra de Deus contra os ataques dos hereges judaizantes, que insistiam em acrescentar à fé cristã os elementos do judaísmo. Paulo afirma que, ainda que um anjo pregasse um evangelho diferente do que já foi pregado, deveria ser anátema. Isso demonstra que a revelação contida nas Escrituras é plena e suficiente. Escrevendo a Timóteo, o apóstolo profetiza sobre coisas que já aconteciam na sua época e que ainda viria a acontecer, como ficou comprovado em tantas heresias que surgiram ao longo dos séculos, o que inclui a igreja católica romana e suas doutrinas e dogmas anátemas. Ele escreve em 2 Timóteo 4:3,4: "Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas". Dar ouvidos à Bíblia, somente à Bíblia, é dar ouvidos à verdade. Buscar verdades fora da Bíblia é emprestar os ouvidos a Satanás. John Stott enfatizava que a Bíblia contém tudo o que é necessário para a salvação e que qualquer nova revelação seria uma distorção do evangelho. O apóstolo Paulo costumava chamar a sua pegação de "meu evangelho" (cf. Romanos 2:16; 16:25). Em 2 Timóteo 2:8,9, ele escreve: "Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado de entre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu evangelho; pelo qual estou sofrendo até algemas, como malfeitor; contudo, a palavra de Deus não está algemada". Se queremos saber qual era o Evangelho de Paulo, somente na Bíblia poderemos aprender. E se quisermos viver para Deus, será de acordo com esse Evangelho já revelado e registrado.


8. Jesus como o Verbo encarnado (João 1:1,14)

Jesus é o "Verbo" (Palavra) encarnado, e Suas palavras foram registradas nas Escrituras. Como o ápice da revelação de Deus, não há necessidade de novas revelações ou tradições. No seu sermão profético, em Mateus 24, o Senhor diz: "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão" (v. 35). Tudo o que havia para sabermos, Deus já nos revelou. Quando fazemos acréscimos à Bíblia, significa que a palavra que não deveria passar, passou, uma vez que não foi suficiente e acabou sendo aumentada ou diminuída para caber no imaginário das autoridades católicas. Como o Verbo de Deus, Jesus também é caminho, verdade e vida: somente por Ele podemos chegar ao Pai (João 14:6). O caminho já está traçado, a verdade já está revelada e a vida já nos foi dada em Cristo, pelos seus méritos. A salvação que Ele nos deu é completa e definitiva: "Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hebreus 7:25). No entanto, a teologia católica tem acrescentado outros elementos que interferem na salvação do pecador, tais como: a doutrina do purgatório, as indulgências, a salvação pelas obras, a corredenção de Maria, além do uso de objetos sagrados como o escapulário e a medalha de São Bento. Isto significa que a Bíblia errou quando disse que Jesus nos salva totalmente e que outras revelações mostrariam que uma vida escravizada a Maria seria necessária à salvação? O teólogo Karl Barth declarou que Jesus Cristo é a revelação última de Deus e que Ele nos fala por meio das Escrituras, sendo esta a única fonte confiável da Palavra de Deus. É nisto que os verdadeiros cristãos acreditam.


9. As Escrituras testificam da salvação (Romanos 10:17)

Como nasce a fé? Em Efésios 2:8,9, vemos que ela é um dom do Espírito Santo. Em Romanos 10:17, vemos que ela nos é dada a partir da escuta da Palavra do Senhor: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo." Isso mostra que a fé cristã vem por meio da Palavra, que já foi revelada e escrita nas Escrituras. A única garantia que os fiéis católicos podem ter de que as palavras dos seus papas são palavras de Cristo (porque eles se autoproclamaram representantes legais de Cristo na Terra) é a própria palavra deles, com base em textos completamente distorcidos da Bíblia, em especial Mateus 16:13-19. Nada, além do Espírito Santo e da Palavra podem gerar a fé salvífica para o pecador, nem as obras meritórias, nem Maria nem o pertencer à igreja católica romana. Jonathan Edwards insistia que a Palavra de Deus, escrita na Bíblia, é suficiente para gerar fé e guiar o cristão em todas as áreas da vida. E se ela é suficiente, tudo se encerra nela. Tudo o que precisamos saber sobre a salvação está revelado nas páginas da Bíblia. Em Atos 2:14-36, vemos o primeiro discurso de Pedro, após a descida do Espírito Santo, inteiramente fundamentado nas Escrituras. Em Atos 3:19-21, o mesmo Pedro prega:

"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade."

Cristo já cumpriu a sua obra na cruz e o tempo da restauração já está determinado desde a antiguidade. Nada mais há que ser dito, revelado ou acrescentado, porque a Palavra de Deus registrada já é suficiente.


10. A Palavra como verdade (João 17:17)

Por fim, a Bíblia é a Palavra de Deus e a Palavra de Deus é a verdade, uma verdade absoluta. Se é absoluta, então é perfeita e suficiente para nós. Conforme orou o Senhor Jesus: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade." Jesus afirma que a Palavra de Deus é a verdade absoluta e final, não precisando de complementos ou revelações externas. John Piper defende que a Bíblia é clara ao afirmar sua própria suficiência como a verdade divina, sendo a única base para a vida e a fé do cristão. Se existe necessidade de complementar as Escrituras e isso tem sido feito por meio de acréscimos que contradizem ou mesmo anulam o que está escrito, como poderemos confiar na Bíblia? No entanto, os cristãos reformados levam a questão para outro nível, questionando: como poderemos confiar na Tradição e no Magistério, uma vez que acrescentam e até modificam o conteúdo bíblico inspirado pelo Espírito Santo? Trata-se de uma escolha com consequências eternas, e a escolha do verdadeiro crente é crer e confiar unicamente na Bíblia, que pode até ser loucura para os que se perdem, mas que é poder de Deus para a salvação de todo aquele que deposita a sua fé no Redentor: "Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos" (1 Coríntios 1:18,19). Sim, está escrito e o que está escrito nos basta.

Concluindo, a Bíblia é a verdadeira e úncia revelação de Deus. Ela é suficiente e poderosa, eterna e infalível. Tudo o que precisamos saber, tudo o que Deus quis nos revelar sobre Si e sobre sua vontade e propósitos, está nas páginas da Bíblia. Somente a Bíblia Sagrada é a nossa segurança de que é Deus quem está falando conosco. Qualquer outra fonte da voz de Deus deve ser questionada e, de modo geral, provém de falsos mestres, falsos profetas, falsos apóstolos e anticristos, o que inclui inúmeros presentes nas seitas neopentecostais.

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