ESTE ESTUDO FAZ PARTE DO MEU LIVRO: "CATOLICISMO ROMANO, DOUTRINAS E REFUTAÇÕES", AINDA A PUBLICAR.
Ao tratarmos sobre a salvação
pessoal em capítulo anterior, vimos que esta se dá através da fé somente,
independente das obras. As obras são conseqüências da fé, pois espera-se de
alguém que se converteu ao Evangelho do amor que viva em amor, praticando as
obras do amor, frutos do Espírito Santo.
Mas estas obras não podem preceder a fé, isto é, serem feitas com o intuito
perverso de o homem justificar-se a si mesmo diante de Deus, esquecendo-se que
a obra de Cristo foi única, perfeita, suficiente e eterna. Se julgamos alcançar
a salvação mediante nossos próprios méritos, tornamos nula a obra da cruz e
fazemos Deus mentiroso.
Como religião que prega a salvação “comunitária”, a salvação
pela observância de dogmas e rituais, pela permanência cega no seio de suas
doutrinas, a igreja católica romana costuma batizar os recém-nascidos, o que
sempre gerou muitas polêmicas, mesmo entre seus mais ilustres doutores e
santos. Equivocam-se completamente ao afirmar que o protestantismo reprova o
batismo de crianças e que estas devem, primeiramente, tornar-se adultas para se
batizar. Este pensamento é errado, pelo menos para a maioria das igrejas
evangélicas. Em geral, prega-se o batismo para crianças, e organizações – como
a APEC - têm um trabalho evangelístico
totalmente voltado para elas. O que se pede é que elas cumpram duas exigências
bíblicas: arrependimento e fé, independente da idade que tenham.
Padre Artur Betti (op. cit.), o autor mais citado neste estudo devido ao seu livro que trata sobre as mais diversas doutrinas do
catolicismo romano, inicia a sua defesa ao batismo de recém-nascidos de um modo
bastante contundente. Em primeiro lugar, expõe alguns textos bíblicos referentes
a queda do Homem (Gênesis 2:17; 3:3,5,19,23). Então, tira a conclusão óbvia, de
crença universal, de que todos concordamos: não há nenhum justo (Romanos 3:10),
porque todos morreram em Adão (1 Coríntios 15:22). Todos pecaram (Romanos 5:12)
e destituídos estão da glória de Deus (3:23). E observa:
O
salmista, por sua vez, reconhecendo ter sido atingido por essa transgressão,
havendo nascido em pecado, declara, inspirado por Deus: “Eis que (eu) nasci na
culpa (na iniquidade) e minha mãe concebeu-me em pecado” (Sl 50,7 ou 50,17;
Bíblia evangélica, Sl 51:5). (p. 79)
Apesar destas afirmações e da
constatação que “a doutrina do pecado original, nas Escrituras, nos textos do
Antigo e do Novo Testamento, é evidente e bem clara” (p. 80), ele se apressa em
dizer que, ao nascer, a criança não é culpada do pecado original, mas como
pertence a uma família de pessoas decaídas, chega ao mundo privada da glória de
Deus, permanecendo assim até o momento em que recebe o sacramento do batismo.
Aceitando este argumento poderíamos nos perguntar: Se a criança não nasce culpada
do pecado original, em que momento de sua vida ela o contrai, caso não seja
batizada ainda pequena? A Palavra de Deus diz que “todos pecaram”, e “todos”
inclui as crianças.
Novo
nascimento
Seguindo por sua linha de raciocínio, Pe. Artur Betti fala
sobre nascer de novo. Este novo nascimento, para o catolicismo romano, é
simbolizado através do batismo das águas: “Cristo instituiu o batismo (Mt28,19)
para fazer acontecer nas pessoas de fé a salvação (Mc 16,16), o novo nascimento
da água e do espírito (Jo 3,5)” (p. 81). Todavia, este argumento é
insuficiente, por pelo menos três motivos:
1º) A palavra empregada no
texto vem do grego anõthen, traduzida
aqui por “de novo”. Ela, porém, pode bem ser traduzida por “de cima”, o que mostra o caráter divino
da nova criação, ou da nova criatura. Não é uma obra operada por mãos humanas,
dogmas ou sacramentos, mas é uma obra exclusiva do Espírito Santo penetrando no
interior do coração do crente, transformando seu caráter, seu pensar e seu
agir. O divino penetra no humano, formando uma nova criatura em Cristo Jesus (2
Coríntios 5:17).
2º) A mudança total e radical
no caráter do crente se manifesta através deste novo nascimento, porque ele
agora não anda mais segundo as obras da carne, mas segundo os frutos do
Espírito Santo (Romanos 7:18; 8:6-9; 1 Coríntios 15:50). Como esta mudança de
caráter se dará em recém-nascidos que ainda não o desenvolveram, que, embora
tenham o pecado original, ainda não tem consciência de si mesmas?
3º) Este novo nascimento não é
algo mágico que ocorre na vida do ser humano, mas apresenta algumas condições
através das quais se poderá alcançá-lo: arrependimento sincero de coração
(simbolizado no batismo de João – das águas) e fé (representada pelo seu próprio batismo no Espírito Santo, o qual
traz fé).
Desta forma, a fé não pode ser transmitida hereditariamente,
nem a fé dos pais pode garantir a salvação de seus filhos, como pretende o
catolicismo romano. A fé é um processo divino que envolve a parte divina (o
Espírito Santo que convence-nos da justiça, do pecado e do juízo, cf. João
16:8) e a parte humana (disposição de arrependimento e fé diante de Deus
proporcionados por Ele próprio em sua graça). O que é nascido da carne é carne
(João 3:6) e não evolui da carne para o Espírito através de um processo
puramente mecânico do qual ele não toma consciência, mas lhe é imposto pelos
seus pais e pela igreja. A igreja em si nada impõe. Tudo o que acontece até o
momento do batismo parte de uma escolha de Deus, conforme a sua vontade
(Efésios 1).
Este novo nascimento é o passo crucial para a entrada no
Reino de Deus, porquanto para isso Jesus veio ao mundo. João 3:15 nos mostra
que este novo nascimento é reservado para aqueles que creem em Cristo Jesus.
Quem crê tem a vida eterna. Isto é uma condição imposta para a entrada no Reino
de Deus. Todavia, embora asseverando que todos estão destituídos da glória de
Deus e necessitem do batismo para se regenerarem, Pe. Artur Betti exclui as
crianças, como já vimos. Ele vai ainda mais além nesta questão, afirmando que
as crianças não necessitam de arrependimento:
Os
recém-nascidos não tem de quê se arrepender ou de se penitenciar para receberem
o batismo. Não existe aqui obstáculo para o batismo das crianças para o novo
nascimento que elas necessitam. Só se
cobra contrição, arrependimento, como fez Pedro, de quem deve, dos pecadores,
não dos inocentes, que nenhum pecado cometeram, pessoalmente. (p. 85)
Podemos nos perguntar: O que
é um pecado “impessoal”? Ou: Se as crianças precisam se batizar porque nasceram
em pecado, porque então elas não precisam de arrependimento? Se todos pecaram,
porque elas estão excluídas? Podemos concluir que a doutrina apresentada pelo
referido padre é infundada e contraditória, pois se todos pecaram, todos
precisam se arrepender. Se as crianças nascem em pecado, por que não
necessitariam de arrependimento? Quando a Bíblia nos fala que “todos pecaram”
não está querendo dizer que “todos têm cometido pecados”, mas é uma referência
ao pecado original. De fato um recém nascido ainda não mentiu, adulterou, pecou
contra o Espírito, mas a semente do mal está dentro dele, por mais forte que
seja esta expressão. Senão, em que momento de sua vida ele contrai este pecado
que se torna necessário o arrependimento?
Recapitulando, o batismo é uma ordenança do próprio Cristo:
batizar-se e batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus
28:19). Não é um sacramento que confere salvação ou Graça, mas um ato externo
de testemunho diante dos homens de que se está envolvido em um novo nascimento.
Para o batismo existem condições: fé e arrependimento (Marcos 16:16). Sem fé
não existe arrependimento. Como nos arrepender se não cremos no Deus que nos
pede isto? Como desistirmos de nossos pecados para servirmos a Deus se não
cremos no pecado original? Concluindo, o batismo não salva. Se fôssemos salvos
pelo batismo, a obra de Cristo na cruz teria sido inútil e desnecessária
(Efésios 2:8,9).
A fé
comunitária
Como já temos estudado, o catolicismo romano sustenta que a
fé dos pais vale também para seus filhos, santificando-os e tornando-os
crentes. Através do texto de 1 Coríntios 7:14 afirmam que, quando os pais são
crentes, os filhos passam a ser também, conforme indicam na fé do carcereiro.
Esta salvação comunitária independeria da conversão do restante das pessoas,
bastando que somente uma cresse. Todavia, devemos observar o seguinte com
relação ao citado texto:
1. 1
Coríntios 7:14 não ensina que o incrédulo torna-se crente pelo convívio com
alguém crente. Se assim fosse, a salvação já não seria pela fé em Cristo Jesus,
mas pelo simples conviver com pessoas convertidas, o que seria muito cômodo.
Mas o dom de Deus é a vida eterna para todo o que crê (João 3:16; Atos 15:11;
16:31; Romanos 1:16; 10:9; 1 Coríntios 1:21; 1 João 5:1,10, etc.), porque “sem
fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11:6). O que o texto nos ensina, na
verdade, é que o incrédulo pode conviver com alguém que crê em Deus, que tenha
se convertido a Cristo e tornar-se participante de todas as bênçãos por este
recebidas. Mas não temos motivos ou base para crer que estas bênçãos sejam de
salvação da alma, visto que no incrédulo não há arrependimento e fé para
permitir a operação do Espírito Santo dentro de si, temporal e eternamente. No
meio do povo de Israel existiam pessoas que gozavam das bênçãos de Deus e, no
entanto, não estavam salvos. Deus não se agradou da maioria deles (10:5). A
“salvação comunitária”, ou “hereditária” que o catolicismo romano prega, anula
a cruz de Cristo.
2. É
equivocada a teoria de que, em Atos 16:31, esteja a comprovação de que existe a
fé comunitária, uma salvação que não é pessoal, mas algo outorgado pela fé de
uma única pessoa a um grupo familiar. À pergunta “Senhores, o que devo fazer
para que seja salvo?”, feita pelo carcereiro, Paulo respondeu: “Crê no Senhor
Jesus, e serás salvo, tu e tua casa”. Esta resposta demonstra, antes de tudo, o
ensino nítido de Atos dos apóstolos, a salvação pela fé (cf. 4:12; 10:43;
13:39, etc.). Este ensino era conteúdo sempre presente na pregação de Pedro,
suposto primeiro papa da igreja romana (cf. 2:21,42; 10:43, etc.). Uma leitura
atenta de Atos 16:30-34 mostrará que o carcereiro levou Paulo para sua casa,
onde ele pregou a Palavra de Deus (v.32) e o carcereiro “com todos os seus,
manifestavam grande alegria por terem
crido em Deus” (v.34, grifo nosso). Isto é, os familiares do carcereiro não
foram automaticamente salvos pela fé dele, mas precisaram, também, crer em Deus
através da pregação da Palavra. Cumpria-se, então, a profecia de Paulo no v.
31: o carcereiro e “sua casa” foram salvos pela fé na Palavra de Deus, que
mostra a Cristo como Messias, Senhor e Salvador.
3. O
batismo para a igreja católica romana é um sacramento. Como sacramento é algo
que necessita ser obedecido e praticado ao pé da letra, sem espaço para
questionamentos. Quem questiona a validade de um sacramento está indiretamente
afirmando que o papa errou. Os sacramentos como os conhecemos hoje foram
decretados no Concílio de Florença, em 1439. O Concílio de Trento assim os
trata:
843a. Para concluir
a salutar doutrina da justificação, que na Sessão anterior foi declarada com o
consenso comum dos Padres, achou-se conveniente tratar dos santíssimos
sacramentos da Igreja, pelos quais toda a verdadeira justiça ou começa, ou
começada aumenta, ou perdida é reparada. Por isso, o sacrossanto Concílio
Ecumênico e geral de Trento..., para eliminar os erros e extirpar as heresias a
respeito destes santíssimos sacramentos que, embora já tivessem sido condenadas
outrora pelos nossos Padres, voltaram novamente à tona em nossos dias, ou
também surgidos de há pouco, que muito mal fazem à pureza da Igreja Católica e
à salvação das almas — baseando-se na doutrina das Sagradas Escrituras, nas
tradições apostólicas e no consenso dos outros Concílios e dos Padres — julgou
dever estatuir e decretar os presentes cânones...:
4.
E amaldiçoa aqueles que não crerem no que foi ensinado sobre os
sacramentos:
844.
Cân. 1. Se alguém disser que os
sacramentos da Nova Lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo Nosso
Senhor, ou que são mais ou menos que sete, a saber: Batismo, Confirmação,
Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção, Ordem e Matrimônio; ou que algum destes
sete não é verdadeira e propriamente sacramento — seja excomungado.
- Além disso:
861.
Cân. 5. Se alguém disser que o
Batismo é facultativo, isto é, não necessário para a salvação — seja excomungado.
Como país
católico que é, o Brasil respeita religiosamente as leis impostas por Roma, o
império religioso vigente. O batismo não só faz parte da cultura e da tradição do
nosso povo, como também é uma obrigação religiosa que se deve cumprir
cegamente, sob risco de tronar-se anátema. Não importa se os padrinhos vão
exercer o papel para o qual a igreja os designou. Não importa se a família
costume ou não freqüentar a igreja. O que importa é cumprir o mandamento do
Vaticano – não o de Cristo, pois aí teriam que crer primeiramente – e tornar-se
forçosamente membros de uma instituição religiosa. Depois de serem cumpridas as
festividades religiosas referentes ao sacramento do batismo, é bem provável que, pela grande
maioria das pessoas, a igreja seja esquecida. Como então poderá esta família
ensinar ao recém-batizado sobre as doutrinas bíblicas? Que tipo de fé lhe
passarão? Baseado em que ele sentirá segurança da sua salvação?
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