domingo, 7 de abril de 2013

A MALDIÇÃO DOS INOCENTES - conto juvenil


TRECHO DO LIVRO "A MALDIÇÃO DOS INOCENTES", DE MINHA AUTORIA, AINDA A PUBLICAR.


          Ao chegarem numa clareira no interior da floresta, retiraram Aline da carroça e amarraram-na a uma árvore. Pretendiam deixá-la ali. Mas poderiam esquecê-la? Como recostariam suas cabeças no travesseiro para dormir à noite sabendo que sua filhinha havia sido abandonada ali, sozinha? Estes pensamentos misturavam-se aos gritos das pessoas do povoado, que ecoavam em suas mentes exigindo que fossem embora. Eles não encontravam outra saída. Queriam resolver o problema, mas queriam, também, proteger sua filha da fúria daquelas pessoas que pretendiam fazer-lhe mal. Era melhor ela morrer ali do que nas mãos daquelas pessoas perversas de coração.
            Foi a decisão mais penosa que haviam tomado na vida. Suas muitas lágrimas misturavam-se ao sereno. Após beijarem várias vezes o rosto e a testa de Aline, seguiram seu caminho de volta, deixando-a ainda adormecida, entregue ao seu destino, um destino que deveria ser construído a partir dali, caso ela sobrevivesse. Os gritos, as maldades, os problemas e a revolta dos moradores seriam sanados, mas o preço tinha sido alto, muito alto.
            No meio da madrugada, Aline acordou. Totalmente desorientada, ela viu que estava amarrada a uma árvore. Olhou para os lados e apenas contemplou a mais profunda treva. Aos seus ouvidos chegavam pios de corujas, cricrilar de grilos e coaxar de sapos. Morcegos voavam incessantemente sobre sua cabeça. Então ela caiu em si e se deu conta do que havia acontecido, e talvez pela primeira vez na sua vida, seus olhos se encheram de lágrimas.
- Mamãe! Papai! Onde estão vocês? Por que me deixaram aqui? Venham me buscar!
            Aline chamava enquanto derramava lágrimas sobre seu frágil corpo preso a árvore, mas nenhuma resposta vinha da escuridão. Suas lágrimas de tristeza foram dando lugar a um ódio que foi tomando conta de seu coração e ela começou a esforçar-se para soltar as cordas que a prendiam. Pensava nos pais, sabia que estavam sendo pressionados pelos moradores do povoado, pois sempre presenciou as discussões entre eles e seus pais, onde era tratada como um monstro. Na sua tenra idade, ela já compreendia seu abandono a não parava de pensar em quem eram os culpados.
            Enquanto Aline lutava para se libertar ela ouviu algo que se mexeu na mata ao seu redor.
- Quem está aí? – perguntou ela amedrontada, mas ninguém respondeu; forçou mais uma vez as cordas com ainda mais força.
De repente, um vulto passou apressadamente bem atrás dela, fazendo os seus cabelos balançarem. O coração de Aline acelerou e o seu corpo todo gelou. Ela se esforçou ainda mais para se desprender das cordas, forçando a cabeça para o peito na tentativa de roe-las. Foi quando sentiu que algo ou alguém parara bem na sua frente. Quando conseguiu erguer a cabeça, se deparou com uma figura estranha e sinistra que surgira da escuridão. Era uma velha encurvada carregando um lampião. Durante toda a sua vida ouvira falar da terrível bruxa que habitava aquela floresta e das perversidades que estavam reservadas para aqueles que ousassem pisar ali. Assim que a velha se aproximou mais de Aline, segurou o lampião bem próximo ao seu rosto, iluminando seu olhar de espanto.
- Ora, ora, o que temos aqui no meio da noite? – disse a velha segurando com uma de suas mãos enrugadas o queixo de Aline – Uma menina! O que uma menina tão linda faz amarrada a uma árvore bem no meio da minha floresta?
- Quem é você? Por favor, não me faça mal – sussurrou Aline com as forças que ainda lhe restavam.
- Calma, minha criança. Como você se chama?
- Eu me chamo Aline. Agora me solte para eu voltar para casa!
- Aline? Já ouvi muito falar de você nas vezes em que fui disfarçada até o povoado. Desconfio porque te abandonaram aqui.
- Aqueles malditos moradores obrigaram meus pais a deixar o povoado. Eles não tinham para onde ir e por isso me deixaram aqui. Mas me solte e eu voltarei!
- Voltar? Se você voltar àquele lugar você verá que ficar amarrada a uma árvore não é nada comparado ao que farão com você, menina.
- Eles não podem fazer isso comigo!
- Podem sim, você é um monstro.
- Eu não sou um monstro, sua...
- Sua o que? Por acaso você faz ideia de quem sou?
- Não me interessa. Eu só quero sair daqui e voltar para casa.
- Meu nome é Andregiana, minha menina.
- Andregiana?!
            Ao ouvir esse nome, o coração de Aline disparou e sua pele gelou como a de um cadáver. Então era ela mesma, a terrível Andregiana e estava ali, bem na sua frente, conversando com ela! O que lhe aconteceria? Em que animal seria transformada? Ficaria viva? Toda a sua vida passou diante dos seus olhos. Lembrou-se imediatamente das histórias que ouvia sobre a terrível bruxa comedora de crianças.
- O que pretende fazer comigo? – murmurou Aline quase sem poder falar.
- Vou lhe dar três escolhas: ficar aqui amarrada e ser comida pelas raposas e pelas onças, voltar ao povoado e enfrentar a multidão enfurecida ou vir comigo para a minha caverna.

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