O sacerdócio católico-romano
Na parte de baixo da “igreja piramidal”, mais perto do povo,
encontram-se os sacerdotes da igreja católica romana, aqueles que guiam mais
diretamente o rebanho e repassam aos fiéis as doutrinas decididas pelos seus
superiores. Eles são chamados de “padres”. Mas qual a sua origem? E a sua
função? Existiam padres no Novo Testamento, na igreja primitiva?
Quem é o
sacerdote?
O padre é o presbítero da
igreja romana. Ele é ordenado sacerdote e comissionado para um serviço numa
igreja específica, onde poderá ficar pelo resto de sua vida. Há bastante
discussão entre os teólogos romanistas se o padre como sacerdote encarna a
igreja em si ou apenas determinada função ou serviço eclesiástico. É certo que
nos tempos idos a figura do sacerdote era mais imponente na igreja. Ele
realizava todos os serviços, tanto ministeriais quanto sacramentais. Com a
abertura do Vaticano II para uma maior participação dos leigos na celebração
eucarística e nos diversos ministérios e pastorais da igreja, este poder parece
ter sido descentralizado e dividido entre os membros da congregação aptos a
exercê-lo, embora o sacerdote ainda aja como líder, regendo a igreja e
ensinando-a. Este chamado “sacerdócio comum dos crentes” levou centenas de anos
para se consolidar e caminha a passos curtos, mas já permite aos leigos uma
maior criatividade e liberdade de ação no serviço religioso e um prazer maior
em participar dos problemas da sua diocese.
O próprio papel do sacerdote parece ter assumido outras
dimensões, além do poder especial para ministrar os sacramentos, em especial o
da Eucaristia. Ele tornou-se mais próximo e participativo da comunidade,
deixando de ser aquela figura distante, intocada, de difícil acesso para estar
mais próximo das carências de suas ovelhas. Também ficaram mais visíveis suas
necessidades humanas básicas e comuns, bem como suas falhas de caráter e conduta.
Embora o padre ainda seja visto com enorme respeito pela comunidade católica, a
sua imagem de homem santo, modelo de virtude e castidade não tem encontrado
mais tanto espaço na mente do povo, principalmente depois de inúmeras denúncias
– a maioria abafada pelo Vaticano – de homossexualismo e pedofilia praticada
por alguns indivíduos que se utilizam da sacramentalidade de sua batina para
práticas menos santas. Muitos destes problemas podem ter sido ocasionados pela
imposição do celibato, castrando a natureza masculina dos padres – e feminina
das freiras – como se fosse possível abdicar tão facilmente de uma natureza
dada pelo próprio Deus. Os que têm o Dom de celibato podem ter mais facilidade
para se conter. Todavia, os que desejam abraçar o ministério sacerdotal, mesmo
sem possuir este Dom, se vêem obrigados a cumpri-lo, contra todos os seus
desejos.
Em fim, o sacerdote é o representante do bispo nas igrejas
e, num plano maior, do papa. A ele são confiadas as ovelhas do rebanho de Deus,
para guiá-las, cuidá-las e ensiná-las sobre as leis da igreja e de Deus. Se
fôssemos estudar mais profundamente veríamos que, apesar da certeza romanista
de que o padre é um homem comum revestido de um poder especial, ele de qualquer
forma torna-se diferente das demais pessoas.
A ordenação
sacerdotal
O sacerdócio romanista não é aceito pelo protestantismo,
porque o Novo Testamento não faz alusão alguma a esta função dentro da igreja
cristã, como atesta o Pe. Ribolla:
Nas
origens, não se conhecia a palavra sacerdote
na comunidade cristã. No fim do I século é que São Clemente esboça uma teologia
sacerdotal. E no século VI é que a palavra hierarquia
predominou com o significado, com o “cheiro” de Poder. E daí vem a “Igreja
piramidal”: no ápice, em cima, os bispos, depois os padres e na base, o povo.
No começo não era assim. O todo era o Povo de Deus.[1]
Esta idéia de sacerdócio é, então, algo que não fazia parte
da prática da igreja primitiva e que só começou a ser praticado pelo final do
primeiro século. No decorrer da história cristã a função sacerdotal foi
ganhando força e somando doutrinas e dogmas até se tornar naquilo que
conhecemos hoje como o ofício do padre na igreja romana. A História também
mostrará que muitos dos padres da Antigüidade eram filhos de outros padres ou
bispos e muitos deles ascenderam ao trono de Roma, como papas, como foi o caso
de Bonifácio I (418-422).
A entrada no sacerdócio dá-se através do sacramento da
“ordenação”. Após anos de estudo e preparo, o candidato ingressa no ministério
da igreja através da Ordenação Sacerdotal. Segundo o Vaticano II, o sacerdócio
dos presbíteros (padres) difere do sacerdócio comum dos leigos. Ele goza de
poder sacro, forma e rege o povo sacerdotal, confecciona o sacrifício
eucarístico e o oferece em nome de todos (LG, 28). A palavra “padre” vem do
latim pater, que significa “pai”.
Assim, o padre-sacerdote é considerado como “pai na fé” e guia dos fiéis de sua
igreja.
O sacerdócio católico romano origina-se do sacerdócio do
Antigo Testamento. Explicam alguns autores romanistas que, assim como as
diversas culturas, mesmo pagãs, têm a função sacerdotal que serve como uma
espécie de intermediária entre o fiel e a sua divindade, o catolicismo possui o
sacerdote, que faz esta mediação; uma figura de caráter sagrado, respeitada por
toda a comunidade. O sacerdote é, na verdade, mais que um simples homem; ele é
revestido de um grande poder, sendo às vezes tomado como um cidadão-modelo,
portador da verdade divina e pastor do rebanho de Cristo. Embora o Vaticano II
e outros documentos que tratam do ofício sacerdotal afirmem que o padre deve
ser exemplo para a comunidade para a qual foi designado, não são poucos os que
levam uma vida comum e, muitas vezes, mundana, entregues aos vícios e as
paixões da carne, chegando a freqüentar regularmente ambientes e festas que não
seriam lícitas a homens da sua posição.
Este sacerdócio fundamenta-se na suposição de que Jesus
queria que seu sacerdócio continuasse, e para isso deixou representantes seus
na Terra, entregando seus poderes sacerdotais nas mãos dos homens, seus
sucessores como sacerdotes, conferindo-lhes tremendos e diversos poderes, os
mesmos conferidos aos Apóstolos[2]
(Marcos 3:13-19; Lucas 10:46). Deste modo, os Apóstolos nomeados por Cristo
tiveram os seus sucessores. Os sucessores de Pedro prefiguram na História como
papas, enquanto os sucessores dos demais Apóstolos como bispos. Os padres são o
que o Novo Testamento chama de “presbíteros”, estando sujeitos diretamente à
autoridade do bispo diocesano e por fim ao papa.
O ato de ordenação sacerdotal é um ato sacramental feito
através da imposição de mãos pelo bispo, seguindo o exemplo das primeiras
comunidades cristãs relatados no Novo Testamento. Em Atos 6:6 foram eleitos
sete diáconos através da oração e da imposição de mãos pelos Apóstolos. Outra
vez, através do mesmo sistema, foram comissionados Barnabé e Saulo para uma
obra específica para a qual o Espírito Santo os havia chamado. (Atos 13:1-3).
Do mesmo modo se dava a eleição dos presbíteros em cada igreja por que passavam
(Atos 14:23). Paulo fala a Timóteo dos dons que ele havia recebido através da
imposição de mãos (1 Timóteo 4:14; 2 Timóteo 1:6). Na imposição de mãos da
ordenação católica romana está incluída a prece pelo derramamento do Espírito
sobre o candidato ao sacerdócio.
Esta ordenação sacramental, todavia, sempre ofereceu
problemas e controvérsias, principalmente entre os reformadores, não
encontrando estes fundamentação bíblica para a sacramentalidade da ordenação
sacerdotal, visto serem todos os crentes tidos como sacerdotes (1 Pedro 2:9),
independente de ritos de iniciação e imposição das mãos por outros membros da
igreja. É necessário observar que nenhum dos textos citados acima do livro de
Atos e nas epístolas de Paulo a Timóteo, existe referência à sacramentalidade
da ordenação diaconal e missionária; principalmente não há menção a uma
ordenação sacerdotal dos sete diáconos escolhidos para um serviço específico na
comunidade, nem de Paulo ou Barnabé, muito menos de Timóteo, nem qualquer
indicação que em algum momento de seu ministério tenham exercido tal função.
Contra tais argumentos reformistas o Concílio de Trento agiu prontamente,
anatemizando qualquer um que afirmasse não haver no Novo Testamento sacerdócio
visível e exterior:
961.
Cân. l. Se alguém disser que no Novo
Testamento não há sacerdócio visível e externo, ou que não há poder algum de
consagrar e oferecer o verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor, bem como de perdoar
e reter os pecados, mas há apenas um simples ministério de pregar o Evangelho, ou
que aqueles que não pregam não são absolutamente sacerdotes — seja excomungado [cfr. n° 957, 960].
962.
Cân. 2. Se alguém disser que além do
sacerdócio não há na Igreja Católica outras Ordens maiores e menores, pelas
quais gradualmente se chega ao sacerdócio — seja
excomungado [cfr. n° 958].
963.
Cân. 3. Se alguém disser que a Ordem
ou sacra ordenação não é verdadeiro e próprio sacramento instituído por Cristo
Nosso Senhor, ou que é uma invenção humana, excogitada por pessoas ignorantes
das coisas eclesiásticas, ou que somente é um rito de eleger ministros da
palavra de Deus e dos sacramentos — seja
excomungado [cfr. n° 957, 959].
Visível e externo significa que existe uma função específica
dentro da igreja, uma função que não é simplesmente espiritual, mas
personificada em uma pessoa: o padre, tendo como poder pregar o Evangelho e
oferecer o sacrifício eucarístico. Este sacerdócio é uma evolução hierárquica:
começa-se como seminarista, diácono, até o ato da ordenação, continuando em
ordem crescente até o episcopado. A ordenação romanista não é, portanto, como
se dá com os ministros evangélicos que são ordenados pastores para cuidar do
rebanho de Deus; ela é um ato sacramental e como sacramento confere
conseqüências espirituais, como a salvação da alma, por exemplo.
Entretanto, o século XX veio reiterar a sacramentalidade da
ordenação sacerdotal:
Os
diferentes princípios podem ser entendidos como diferentes aspectos do todo.
Inicialmente deve ser visto o contexto maior: o serviço para o qual a Igreja
foi chamada em sua totalidade. Ela como um todo e todos os seus membros têm a
missão de proclamar a Palavra de Deus (martyria),
de viver a mensagem proclamada em comunhão praticada (diaconia) e celebrar ambas as coisas em sinais (leitourgia). Os cargos de serviços
específicos servem à realização dessas manifestações elementares na Igreja. Porque a Igreja não tem como tarefa
proclamar a si mesma, e, sim, a Palavra de Deus preestabelecida e que também
sempre a questiona; por isso ela precisa do papel do proclamador, que defronta
a comunidade – e que, nesse sentido, no exercício desse serviço, representa a
Cristo. Para que se realize comunhão, há necessidade do serviço congregador,
inspirador, despertador de capacidades, que pode ser denominado serviço
prestado à comunidade. E visto que esse serviço é parte essencial da Igreja,
ele também se manifestará nas celebrações litúrgicas centrais da Igreja.[3]
Todavia, o que está em questão aqui não são os serviços
prestados à comunidade pelo sacerdote como pastor e ministro do Evangelho, mas
a sua função sacerdotal, através da qual ele pode ministrar os diversos
sacramentos, em especial a Eucaristia, onde ele oferece constantemente o
sacrifício de Cristo, renovando-o e repetindo-o a cada celebração eucarística.
Está em questão, também, o fato de tal sacrifício e função sacerdotal jamais
terem feito parte do ideal apostólico ou ministerial do Novo Testamento.
Estudando sobre a doutrina romanista a cerca da Eucaristia, podemos ver que se
pretende igualar a santa ceia ao sacrifício pascal judaico, numa tentativa de
garantir que a presença de Cristo no sacrifício eucarístico é muito mais que
figurativo, memorial, mas de fato uma presença viva (transubstanciação).
Acima de tudo, a ordenação sacerdotal confere ao padre
títulos que jamais permearam a doutrina dos Apóstolos, nem foram ensinados por
Jesus Cristo. A ordenação feita pelo bispo ocorre durante a celebração da
missa. O candidato é ungido com óleo enquanto são ditas as seguintes palavras:
Nosso
Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de
poder, te guarde para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o
Santo Sacrifício (...) Tu és, agora, sacerdote eternamente, segundo a Ordem de
Melquisedeque, como Cristo Jesus o foi,
e a quem tu representas por toda a eternidade.[4]
Desta forma, o padre-sacerdote passa a exercer uma função
que, biblicamente, é de exclusividade do Senhor Jesus. Note-se que o autor se
refere ao sacerdócio de Cristo no passado: “o foi”. O que se pode concluir com
esta afirmação é que o sacerdócio eterno e imutável de Cristo (Hebreus 9:26-28)
teve fim, dando-se início a sucessividade do sacerdócio romanista, onde
qualquer homem pode assumir o lugar de Cristo no sacerdócio da igreja. Por ser
um sacramento, o sacerdócio é um carisma, um sinal que permanece para sempre,
irreversível, eterno. O autor citado chega a comparar o sacerdócio dos
ministros católicos com o de Cristo “segundo a ordem de Melquisedeque”. Então
ambos, Jesus Cristo e os sacerdotes católicos, possuem esse sacerdócio eterno,
sendo que o de Cristo “foi” e agora é perpetuado pela igreja romana.
Caso o
queira, o sacerdote pode alcançar a dispensa do serviço sacerdotal, inclusive,
do celibato, mas de sua ordenação de caráter sacerdotal ele jamais receberá
dispensa. O perigo de abandonar a igreja é conhecido desde os primórdios do
catolicismo romano. Para o leigo isso acarreta em perda da salvação. Para o
sacerdote, além disso, passa a existir uma série de restrições contra ele,
principalmente se ainda desejar permanecer no seio da Santa Madre Igreja. Em
outras épocas as punições eram mais severas e as perseguições mais intensas.
Assim condenava o I Concílio de Nicéia (325):
Quem
temerariamente, sem se importar com o temor de Deus e sem atender à lei
eclesiástica, seja presbítero ou diácono ou qualquer forma sujeito à regra
canônica, abandonar a Igreja, não deve ser acolhido em nenhuma outra igreja;
antes, devem ser empregados todos os
meios para forçá-los a voltarem às suas próprias paróquias; e se insistirem
em ficar, devem ser privados da comunhão. (cânone 16)[5]
Atualmente, alguns sacerdotes que decidem largar a batina,
dependendo da região do país onde se localiza a sua paróquia, precisam amargar
a vergonha de serem considerados ex-padres, traidores da verdadeira igreja,
ficando marcados para sempre. Decidir largar o sacerdócio romanista é um
processo doloroso, principalmente porque o que assim procede sempre continuará
sendo considerado como sacerdote, jamais poderá se livrar do seu ofício
totalmente.
Funções eclesiásticas
Conforme as resoluções do Vaticano II, os presbíteros
(padres ou sacerdotes) estão destinados a pastorear uma Igreja em particular
(CD, 1088), constituindo com o bispo uma só família, onde este é o pai. A sua
primeira tarefa é anunciar o Evangelho de Deus a todos, ensinando não a sua
sabedoria, mas o Verbo de Deus, aplicando a verdade perene às circunstâncias
concretas da vida (PO, 1148). Outra função dos presbíteros é agirem como
ministros de Cristo nas celebrações sagradas, reconciliando, pelo sacramento da
penitência, os pecadores com Deus e a Igreja, e aliviando os doentes pela Unção
dos Enfermos (PO, 1150, 1151). Sua função principal, porém, diz respeito à
celebração eucarística, que é onde o seu ofício de sacerdote mais encontra significado.
A função do sacerdote na igreja romana é mais que
representativa. Em virtude do sacramento da Ordem, ele age “in persona Christi Capitis” (na pessoa
de Cristo Cabeça), fazendo as vezes do próprio sacerdote, que é Cristo Jesus. O
sacerdote da Antiga Lei era apenas figura de Cristo, ao passo que o sacerdote
da nova dispensação age em sua pessoa, apesar de esta presença de Cristo não
tornar o sacerdote imune das fraquezas humanas (Catecismo da Igreja Católica,
1548-1550). Mas podemos perguntar: se o sacerdote age na pessoa de Cristo, como
seu substituto, não deveria fazê-lo em todas as áreas da sua vida, já que ele
continua sendo sacerdote mesmo sem estar celebrando a Eucaristia? Como, então,
encontramos estes Alter Christus em
rodas de bâbados e festas profanas, agindo como se nenhuma relação tivessem com
o Salvador? Como explicar que a cada dia a moralidade dos padres tem-se tornado
cada vez mais baixa? Cristo agiria assim?
Como dissemos, a presença do sacerdote na comunidade está
mais constante e viva, não devendo ele exercer somente a ministração dos
sacramentos, mas sendo levado a interagir com a comunidade e torná-la mais
participativa da obra da igreja. Além de anunciar o Evangelho de Deus (PO, 4) e
ministrar o sacrifício eucarístico (PO, 2), os presbíteros desempenham outras
funções que os tornam mais participativos da comunidade onde a paróquia está
inserida, preocupando-se mais com os seus problemas mais elementares, tornando
sua função menos simbólica para o povo. Ele deve, portanto:
·
Reunir em nome de Cristo a família de Deus em um
só objetivo, levando-a a Deus.
·
Ensinar aos fiéis em humildade de espírito e
admoestá-los como filhos.
·
Cultivar a vocação pessoal de cada um.
·
Orientar os homens à maturidade cristã.
·
Exercitar a caridade e o serviço ente os fiéis,
levando-os a realizarem de maneira cristã as tarefas da comunidade.
·
Receber com maior importância os mais pobres e
humildes da sociedade para a evangelização.
·
Ocupar-se dos mais jovens, além dos casados e
pais, reunindo-se em grupos de amizade.
·
Mostrar solicitude com os doentes e agonizantes,
visitando-os e confortando-os no Senhor.
·
Cultivar o espírito missionário universal para o
qual a Igreja está designada.[6]
·
Esforçar-se em conjunto com os leigos,
dando-lhes exemplo.[7]
·
Reconhecer e promover a dignidade dos leigos e
suas incumbências na missão da Igreja.
·
Ouvir com gosto os leigos, apreciando seus
desejos e reconhecendo sua experiência e competência nos diversos campos de
atividade humana, verificando juntos os sinais dos tempos.
·
Reconhecer e incentivar os diversos carismas dos
leigos.
·
Entregar com confiança tarefas aos leigos para o
serviço da Igreja, deixando-lhes liberdade e possibilidade de agir.
·
Harmonizar de tal forma as diversas
mentalidades, que ninguém se sinta estranho à comunidade.
Como se
pode ver, toda a doutrina da Idade Média veio por terra. Antes, o que era uma
figura distante que se sobrepunha a todos os fiéis, agora deve buscar unir-se a
eles em prol do bom andamento da igreja. Os fiéis outrora calados, aquém do
significado das missas celebradas em Latim e privados da livre leitura da
Bíblia, agora são chamados a participarem da vida eclesiástica com ações de sua
própria iniciativa, dando vida às diversas pastorais existentes hoje na igreja
católica romana. O movimento carismático, criticado por muitos católicos
tradicionalistas, coloca o leigo em contato com a possibilidade da manifestação
dos diversos carismas e deixa bem claro: o sacerdote não encarna toda a igreja;
é apenas mais uma parte da engrenagem. Ele não é o portador de todos os dons,
mas apenas o facilitador deles.
Esta nova
visão de sacerdócio pode estar inserida dentro de um contexto de contenção do
avanço do protestantismo. De fato, nas igrejas reformadas, o cristão sempre
teve espaço para agir, sendo os pastores e bispos escolhidos dentro da própria
comunidade, tendo eles o chamado específico para exercer o ministério. Embora
encontremos “crentes de banco”, o cristão é chamado a exercer ministérios,
colocando em prática os diversos dons e talentos que Deus distribui para a
edificação do corpo de Cristo. Esta participação sempre ativa e renovadora
difere da apatia da grande maioria dos católicos que freqüentam as igrejas, aonde
vão simplesmente para cumprir uma obrigação religiosa. Somente os pouquíssimos
que se engajam nas pastorais e nos movimentos carismáticos podem dedicar-se um
pouco mais completamente ao serviço de Deus. Para mudar o quadro de apatia que
envolve os seus fiéis e impedir que eles troquem a morbidez do catolicismo
pelas igrejas protestantes, é que o catolicismo romano tem “aberto” as suas
portas para a comunidade. O serviço do sacerdote aí é fundamental, pois é ele
quem mais está em contato com os fiéis.
O celibato
Um dos ensinos mais controversos da igreja romana é o dom de
celibato. Apesar de ser chamado de “dom”, o celibato é imposto àquele que
deseja ingressar no presbitério da igreja romana, sendo ordenado sacerdote.
Esta doutrinação não veio à luz senão no ano de 1139, através do Concílio de Latrão.
Isto é, mais de mil anos se passaram após o início oficial do cristianismo para
que a igreja romana definisse como dogma de fé a doutrina do celibato,
encontrando muita resistência por parte do clero que jamais quis abrir mão de
suas aventuras sexuais de fornicação, homossexualismo e prostituição. Se a promiscuidade
entre o clero já era insuportável, tendeu a piorar com a instituição do
celibato, passando os chefes de Roma a agir à surdina. Além disso, havia os
clérigos casados que viram sua vida conjugal ruir e suas esposas e filhos
ficarem desamparados.
Como veremos mais adiante na refutação desta doutrina, existe,
mesmo dentro da própria igreja romana, uma certa confusão com relação à
autenticidade do celibato. Esta confusão não é atual, mas vem desde o início
das discussões sobre o dogma. Até o início do século IV o celibato não era
imposto aos diáconos, presbíteros e bispos pelas leis eclesiásticas, mas muitos
membros de autoridade entre o clero já faziam a opção por segui-lo. O Concílio
de Valence (374) considerou casados duas vezes os que se casavam uma vez
enquanto pagãos e depois contraíam o matrimônio novamente através da igreja
romana. A partir do século IV começaram a surgir novas e diversas exigências
quanto à vida sexual e conjugal dos membros eclesiásticos. O Concílio de Ancira
(314) permitia o casamento de um diácono somente se, no momento da sua
ordenação, ele tivesse manifestado a vontade de se casar. Já o Concílio de
Neocesaréia (entre 314 e 325) exclui do clero o sacerdote que se casa.
O Concílio de Elvira (início do século IV) traz mandamentos
mais severos com relação a situação dos clérigos casados. O cânone 33 obriga os
membros do clero que haviam se casado antes da ordenação a observarem a
continência com suas esposas, sendo isto expandido para todo o Ocidente pelo
fim deste mesmo século, trazendo vários problemas ao clero: se deveriam ou não
coabitar com suas esposas. O que estava por detrás destes concílios e dogmas
não era muito a questão moral e prática do celibato para os religiosos, mas a
questão financeira. Por respeito ao patrimônio eclesiástico, os bispos eram
obrigados a permanecerem célibes ou a colocar suas esposas em conventos[8]. O
estado deplorável do clero na Idade das Trevas da igreja romana comprova isso.
Como se sabe, esta igreja sempre foi portadora de abundantes bens materiais,
como suntuosas catedrais, latifúndios, obras de arte, ornamentos de ouro, etc.,
frutos de indulgências concedidas aos nobres, doações, “esmolas” e outras
fontes mais obscuras. Este denominado “Tesouro da Igreja” sempre foi o alvo
preferido dos papas mais devassos que ocupavam o trono de Roma, gastando as
riquezas da igreja com prostitutas, jogatina, apostas, amantes homossexuais e
uma vida promiscua. Para a igreja romana seria um enorme prejuízo a
constituição de famílias por parte de seus sacerdotes e clérigos, pois assim
deveriam lhes pagar salário compatível com seu cargo e função. Estes
“empregados” deveriam deixar herança quando morressem e esta, certamente,
sairia dos cofres da igreja.
A favor do
celibato, os autores romanistas citam argumentos cristológicos e escatológicos,
bem como razões práticas[9].
Através dele, argumentam, haveria uma maior possibilidade de testemunho
expresso a favor de Cristo. Sem a sua penosa renúncia (sexo e casamento), o
sacerdote jamais poderia alcançar a plenitude de vida. Livre das preocupações
decorrentes de uma vida matrimonial, o sacerdote estaria livre para desenvolver
melhor o seu ministério, servindo com mais liberdade aos homens e as suas
necessidades. É o que atesta o Vaticano II ao afirmar que o celibato é a
perfeita e perpétua continência por amor ao Reino dos céus (PO, 1195),
recomendada por Jesus Cristo (Mateus 19:12), a favor da vida sacerdotal, ao
qual se ajusta de mil modos.
Vê-se claramente que, para o catolicismo romano, o celibato
está acima do matrimônio, como uma virtude especial, superior, capaz de tornar
o homem mais santo e apto para o serviço religioso. Todavia, considerar o
matrimônio como empecilho ao bom desenvolvimento da vida espiritual e
eclesiástica é ir contra o mandamento divino e a própria natureza do homem. O
que é o celibato? É a ausência total de relacionamento amoroso, o que inclui o
sexo. Será, então, que o sexo é impuro? Será que o casamento denigre a imagem
espiritual do ser humano? Se a resposta for positiva, por que tanto Jesus como
os Apóstolos não condenaram o casamento e exaltaram o celibato?
A Palavra de Deus nos mostra o matrimônio como sendo o ideal
de Deus para o homem. O Apóstolo Pedro, suposto primeiro papa da igreja
católica romana, era casado; Jesus curou a sua sogra (Mateus 8:14; Marcos 1:30;
Lucas 4:38). Se Pedro era casado e o casamento não é permitido ao sacerdote,
Jesus deveria tê-lo aconselhado a abandonar sua esposa para servir-lhe melhor?
Em momento algum na Bíblia encontramos a esposa de Pedro como sendo uma pedra
no seu ministério. Não há referências de que ele tenha sido impedido de
empreender uma viagem missionária por estar cuidando dos afazeres domésticos.
Muito pelo contrário, é bem provável que sua esposa o acompanhava nas suas
viagens missionárias. Se Pedro e alguns outros Apóstolos eram casados, porque a
igreja romana instituiu o celibato? Se a igreja católica reivindica o título de
Una e Infalível igreja de Cristo, invariável e sempre a mesma desde a sua
fundação, porque não continuou com o costume da época, deixando que seus obreiros
se casem, caso o queiram?
Refutações
Toda doutrina romanista
referente ao sacerdócio, suas funções e o celibato, é estranha à Bíblia. Como
veremos a seguir, não há indicação alguma que Cristo tenha formado um corpo de
sacerdotes ao reunir os doze apóstolos, nem que os tenha conferido qualquer
tipo de sucessão apostólica. Muito menos iremos encontrar em toda a Escritura
Sagrada alguma passagem que apoie a doutrina do Alter Chirtus. O sacerdócio imutável de Cristo é também
intransferível; não há como homem algum se dizer no lugar de Cristo, como se
quisesse anular a sua presença. Conforme ficará provado, a sucessão sacerdotal
de Cristo é a Bíblia e o Espírito Santo que Ele nos enviou para operar em Seu
Nome. Os cristãos é que são os verdadeiros sacerdotes e templos do Espírito
Santo, não para oferecer constantemente Cristo como sacrifício, mas para
oferecerem-se a si próprios em sacrifício a Deus.
É interessante notar que, mesmo dizendo-se parte da Nova
Aliança, a igreja católica romana tira do Antigo Testamento muitos de seus
rituais, trazendo passagens totalmente fora de seu contexto para explicar suas
doutrinas. Não estamos querendo com isso dizer que se deve desprezar o Antigo
Testamento, como se o Novo não dependesse dele e vice-versa. O que está em
questão é que os cristãos vivem realmente a nova dispensação, onde a
funcionalidade do sacerdocio perdeu todo o seu sentido. Se já não existe mais a
necessidade de sacrifícios em prol dos pecados, pois Cristo já ofereceu um
único, último, perfeito e eterno sacrifício de si mesmo pela humanidade, por
que haveria necessidade de sacerdotes? Se sacerdote é aquele que oferece
sacrifícios a Deus pelo pecado do povo para uni-los novamente, esta função
cessou no sacrifício salvítico de Cristo que une a Deus todo aquele que nele
crê.
O sacerdócio no Antigo Testamento
Como já foi afirmado, a função de sacerdote não fazia parte
do ideário da igreja cristã primitiva nem jamais foi esboçado por qualquer um
dos Apóstolos no livro de Atos, nas epístolas ou no livro de Apocalipse. A
função sacerdotal sempre foi adotada no Antigo Testamento, onde havia a sua
necessidade. O sacerdote era um homem designado por Deus para fazer a mediação
entre as coisas divinas e o homem, em prol deste. Eram pessoas específicas que
Deus separava para esta mediação, já que o homem não tinha acesso direto à Sua
presença por causa dos seus pecados. Arão foi separado por Deus para ser
sacerdote, servindo como oficiante do culto realizado no primeiro tabernáculo e
depois no templo. Porém, antes de Arão já havia sacerdote, Melquisedeque, do
qual seguiu-se Jesus segundo a sua ordem eterna (Gênesis 14:17-20; Hebreus
7:1-3).
Outra designação do sacerdote no Antigo Testamento era
oferecer sacrifícios a Deus pelo pecado do povo, reconciliando-os e fazendo
expiação pelos pecados (1 Samuel 2:28; Ezequiel 44:11,15; Hebreus 5:1; 8:3).
Estes sacrifícios envolviam a imolação de animais, cujo sangue aspergido servia
para a purificação. Por fim, ao sacerdote cabia interceder pelo povo. Esta
intercessão estava além de uma simples intercessão, mas envolvia todo o seu
ofício sacerdotal como mediador e reconciliador pelos sacrifícios oferecidos
(cf. Êxodo 28-29; Levítico 21; 1 Crônicas 24).
Todas estas funções sacerdotais da Antiga Aliança aplicam-se
com perfeição ao sacerdócio romanista: a mediação entre os homens e Deus; a
oferta do sacrifício pelos pecados e, finalmente, a intercessão a favor dos
fiéis. Os sacerdotes, também, serviam como mestres do povo e mensageiros de
Deus, até o surgimento do ministério profético, quando os profetas passaram a
exercer esta função. Já no catolicismo romano, esta função continua com o
sacerdote, embora o Vaticano II tenha aberto mais aos fiéis a participação
efetiva na igreja, inclusive no ministério de ensino. Mas tudo isto encontra um
problema bíblico: não existe no Novo Testamento o sacerdócio que havia no
Antigo ou qualquer outro tipo de sacerdócio humano, pois ele teve seu fim em
Cristo Jesus, que se tornou nosso último e Sumo Sacerdote para sempre. Se o catolicismo romano pretende firmar seu
sacerdócio com base no sacerdócio do Antigo Testamento, deve saber que, assim
como ele, o seu também é totalmente ineficaz.
O sacerdócio de Cristo
O sacerdócio de Cristo parte da necessidade do homem pecador
de expiar os seus pecados para entrar novamente em comunhão com Deus. Os
sacrifícios do Antigo Testamento mostravam-se inúteis, uma vez que o povo de
Israel a cada dia se tornava mais pecador e de coração endurecido. Os
sacrifícios prescritos por Deus haviam caído no legalismo; era o sacrifício por
ele mesmo, como mero cumprimento religioso. Aqueles sacrifícios, no entanto,
tipificavam o sacrifício de Cristo (1 Coríntios 5:7; Efésios 5:2; Hebreus
10:1,11,12). Eles não podiam tirar os pecados (Salmo 40:6; Hebreus 9:9;
10:1-11) e não eram aceitos por causa destes pecados (Isaías 1:11,15; 66:3;
Oséias 8:13). Além disso, os sacrifícios eram insuficientes para se adquirir a
salvação (1 Samuel 15:22; Salmo 40:6; 51:16,17; Isaías 1:11; Oséias 6:6; Amós
5:22; Malaquias 6:6; Mateus 9:13; 12:7; Hebreus 9:9).
Deus, porém, na sua infinita misericórdia, insistia em
reconciliar-se com os homens, em trazê-los de volta para si. Jamais foi da Sua
vontade que o homem vivesse destituído da Sua Glória, perdido e sem esperança.
O objetivo dos sacrifícios no início era que o homem deixasse seus pecados e
buscasse a Deus, vivendo uma nova vida, repleta de perdão. Mas isso não foi
possível, não porque Deus errara ou visse seus planos sendo destruídos, mas por
causa da dureza do coração do homem, que insistia em cometer pecados, seguro de
que seria justificado quando um novo sacrifício fosse oferecido. Conforme vimos
no capítulo sobre “penitência”, este fato da continuidade do pecado já
preocupava os líderes católicos há centenas de anos, levando-os a instituir o
sacramento da penitência, onde haveria uma satisfação pelos pecados cometidos
após o batismo. O erro do catolicismo romano, porém, é desacreditar no poder do
Espírito Santo e da salvação de Cristo, continuando a praticar sacrifícios
semelhantes aos do Velho Testamento, mas com uma roupagem Cristã.
A solução para o homem já havia sido prescrita desde a queda
de Adão e Eva: a vitória de Cristo sobre o pecado e Satanás (Gênesis 3:15).
Deus ofereceu em sacrifício o seu único e amado Filho para que, através dele, o
homem pudesse encontrar a salvação e o caminho de casa. Jesus fez o que nenhum
sacrifício oferecido por mãos humanas jamais pôde fazer. Deus o fez sacerdote e
vítima e o exaltou sobremaneira, dando um Nome que está acima de todo nome
(Filipenses 2:9). Este sacerdócio de Cristo cumpria o que se pedia do
sacerdócio do Antigo Testamento no tocante a mediação entre os homens e Deus, o
sacrifício pelos pecados e a intercessão pelo povo. Toda a tipificação e o
simbolismo do sumo sacerdote, único que podia entrar no Santo dos Santos além
do véu, foram cumpridos em Cristo.
Como os sacerdotes da Antiga Aliança,
Cristo foi designado por Deus em favor dos homens (Hebreus 5:1), para
aproximá-los de Si e oferecer sacrifício[10]
em favor deles. Através do livro de Hebreus podemos constatar a maneira e o
tipo do sacerdócio de Cristo e nos perguntar: Existe ainda a necessidade de
sacerdotes, como os da igreja romana? Existe ainda a necessidade de sacrifício
pelos pecados, como o sacrifício eucarístico? Existe ainda a necessidade de
sacrificar Cristo todos os dias sobre o altar da Missa?
1. Ao
contrário dos sacerdotes romanistas, Cristo tinha todas as qualificações de
sacerdote (5:6; 6:20; 7:15,17; cf. Salmo 110:4). Ele era segundo a ordem de
Melquisedeque, um sacerdócio sem princípio e fim. Sem princípio porque Jesus já
existia desde a eternidade, e sem fim porque seu sacerdócio é para sempre.
Embora afirmem que “fazem as vezes de Cristo”, o sacerdócio romano tem início,
meio e fim.
2. Cristo
não era sacerdote por mandamento ou instituição carnal, mas por desígnio divino
e infalível (3:1,2; 5:4,5). Seu sacerdócio era o cumprimento dos desígnios de
Deus para o homem. Se os sacerdotes romanos pretendem tomar as vezes de Cristo,
subtende-se que eles devem, também, estar designados divinamente para tal, o
que é bem provável, já que o sacerdócio de Cristo é imutável.
3. O
sacerdócio de Cristo é de uma ordem superior a de Arão e aos sacerdotes levitas
(7:11,16,22; 8:1,2,6), por um motivo: nestes sacerdócios havia sempre a
necessidade de um novo sacrifício pelos pecados. Mas Cristo sacrificou a si
mesmo, tornando-se Sacerdote e vítima ao mesmo tempo, não havendo mais
necessidade de se oferecer sacrifícios pelo pecado do povo. Seu sacerdócio
eterno o tornou fiador de superior aliança. Se Cristo como sacerdote
ofereceu-se a si mesmo como sacrifício, morrendo na cruz, os sacerdotes romanos
deveriam, como “outros cristos”, fazerem o mesmo?
4. O
sacerdócio de Cristo substitui todos os outros (7:20-28; 9:23-28). Se de fato é
assim que ensinam as Sagradas Escrituras, por que deveria o sacerdócio católico
romano substituir o sacerdócio de Cristo? Se Cristo é um sacerdote eterno e o
seu sacrifício foi perfeito e para sempre, por que haveria Ele de instituir um
novo sacerdócio através dos Apóstolos e da “sucessão apostólica”?
5. Cristo
exerceu todas as funções do ofício sacerdotal: mediação (9:15; 12:24; cf. Efésios
2: 13-18); sacrifício (9:13,14,25,26; 7:27) e intercessão (7:25; 9:24). Estas
funções, como já vimos, eram exercidas pelo ministério sacerdotal da Antiga Aliança
e pretende ser copiado pela igreja romana. A figura do sacerdote é a mesma e
seus rituais são os mesmos, inclusive com o altar onde Cristo é sacrificado
como um cordeiro em todas as celebrações eucarísticas, onde o padre-sacerdote
diz ao elevar a hóstia: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
Estas funções não foram repassadas por Cristo aos seus Apóstolos, mas Ele
continua eternamente salvando os pecadores através da fé pessoal de cada um que
se converte.
6. O
sacrifício de Cristo foi: eterno (7:11-19); único e perfeito (7:20-28); eficaz
(9:11-22); para sempre (9:23-28) e permanente (10:1ss). Se foi eterno já não há
necessidade de renovação em cada celebração eucarística. Se foi único e perfeito,
os sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes romanos são inúteis. Se foi para
sempre, eles também são desprezíveis e ferem o sentido de tal sacrifício. Se
foi permanente, a Missa é uma mentira que fere a santidade e o poder de Deus.
7. O
sacrifício sacerdotal e expiatório de Cristo trouxe conseqüências sobre a
humanidade, sobre aqueles que crêem nele: a expiação da culpa (7:27; 10:12), a
propiciação de Deus (2:17) e a reconciliação com Deus (2:17). Se em Cristo a
nossa culpa foi expiada e por isso alcançamos reconciliação com Deus, que
necessidade haveria de novos sacerdotes e novos sacrifícios?
8. Em
João 3:16 lemos: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Deus oferece seu próprio Filho em sacrifício pelos pecados da humanidade.
Poderíamos afirmar que, ao oferecerem constantemente Jesus Cristo em sacrifício
durante a celebração eucarística, estariam os sacerdotes romanos fazendo as
vezes de Deus?
Independente
da boa vontade que o sacerdote católico romano possa ter em tornar-se
participativo da vida prática dos seus fiéis, o seu serviço como sacerdote em
todos os sentidos do termo é totalmente desnecessário e antibíblico. Cristo não
formou um corpo de sacerdotes, mas de Apóstolos, discípulos que deveriam lançar
os fundamentos da sua igreja, pregando o Evangelho aos povos e nações,
batizando-os e ensinando-os a guardar todos os seus mandamentos. A missão dos
12 era a de serem ministros de uma Nova Aliança, oferecida à humanidade por
Deus através do sacrifício de seu próprio Filho na cruz. Este sacrifício foi
providencial e perfeito, não havendo necessidade de repeti-lo todos os dias. Os
autores romanistas argumentam que o sacrifício feito pelos sacerdotes é único
porque, em todas as partes do mundo, em todas as vezes, sacrificam o único e o
mesmo Cristo, sempre.
Além disso,
o sacerdócio da igreja romana denuncia a existência de uma hierarquia que tende
a suprimir os direitos dos leigos, por mais que se esteja abrindo a eles um
espaço participativo da vida eclesiástica. Esta hierarquia não existia na
igreja primitiva, como já tivemos a possibilidade de ver. Os Apóstolos e
discípulos sempre trabalharam em conjunto, mesmo exercendo funções
administrativas e ministeriais dentro da Igreja, aproveitando cada dom
individual (profecia, ensino, aconselhamento, etc.), servindo todos para a
edificação do corpo, do qual Cristo era a Cabeça, o líder supremo. Se
aceitarmos a possibilidade da existência da função sacerdotal na Nova Aliança,
por sermos todos sacerdócio real (1 Pedro 2:9), todos deveríamos ter o direito
de celebrar a eucaristia e não somente o sacerdote.
O celibato
Quando o papa Gregório VII (1073-85) decidiu proibir o
casamento entre os clérigos, afirmando que padres pecadores não eram mais
padres, houve grande resistência por parte da igreja, principalmente na
Alemanha e na França. Em 1074 ele afastou os padres casados, mas ele mesmo
tinha como sua amante uma condessa chamada Matilda, segundo afirmavam. A imposição
do celibato aos religiosos gerou enormes crises na igreja romana,
principalmente problemas sociais para as ex-esposas de padres e seus filhos que
se viram perdidos e sem apoio. Famílias foram separadas, lares foram destruídos
e muitas mulheres abandonadas cometeram suicídio. Em 1076 Gregório foi
excomungado por um grupo de bispos por ter separado os maridos de suas esposas.
E em 1080 o Concílio de Brixen condenou-o por “fomentar divórcio entre
legítimos esposos”[11].
O casamento honroso entre os religiosos foi substituído pela
fornicação, homossexualidade, incesto, pedofilia e por toda sorte de torpeza.
Os religiosos que estavam casados, maridos de uma só esposa, felizes com seus
filhos, se viram privados de tudo isso e passaram a agir às escondidas. Com o
passar dos anos a situação piorou, pois os padres e bispos que iam sendo
ordenados já estavam sob a imposição celibatária e, portanto, jamais poderiam
contrair matrimônio, vindo a buscar prazer em outras fontes, onde não poucas
freiras e virgem acabaram como escravas de seus prazeres mais sórdidos. Tudo
isto como conseqüência de um dogma inconseqüente que não levou em canta a
Palavra de Deus e sua sã doutrina.
O
celibato é, então, uma doutrina antibíblica que necessita de uma breve
explanação. Antes de tudo, baseados nas informações já repassadas, deveremos
nos perguntar: 1) Em que possibilitaria o celibato a favor de Cristo? Por acaso
Cristo era contra o casamento ou o fato dos sacerdotes se casarem diminuiria a
sua santidade e o testemunho das Escrituras? 2) Devemos entender que o fiel
comum, casado, está impossibilitado de alcançar a plenitude de vida cristã? A
sua esposa é um entrave ao seu desenvolvimento espiritual? O matrimônio é um
empecilho à atuação do Espírito Santo? 3) Como Jesus podia ser a favor do
celibato para os sacerdotes se ele não criou nenhuma classe sacerdotal? 4)
Jesus, quando disse a Pedro: “Segue-me e o farei pescador de homens”, estava
acrescentando aí que para segui-lo Pedro deveria abandonar a sua esposa?
O citado cânone 33 do Concílio de Elvira já demonstra a
total incoerência romanista ao impor a doutrina do celibato aos seus clérigos.
Jamais foi da vontade de Deus que o marido mantivesse qualquer tipo de
continência com sua esposa ou vice-versa. O casamento sempre foi visto na
Bíblia como algo divino e saudável que deve ser incentivado e mantido, pois é
indissolúvel para Deus. Para compreendermos a enormidade do equívoco romanista
devemos observar os seguintes pontos:
1. Como
vimos, a instituição do celibato só veio surgir muitos séculos depois de
Cristo, isto quer dizer que demorou muito para que toda a sua teologia fosse
formulada, aguardando-se um momento histórico específico para confirmá-la. Este
dogma de fé católico jamais foi unânime entre aqueles obrigados a se tornarem
celibatários, tanto na Idade Média quanto nos dias atuais, onde vemos grande
insatisfação por parte dos padres, culminando com a promiscuidade sem limites
entre os sacerdotes romanos. Era contra estes problemas que Paulo alertava: é
melhor casar do que viver abrasado (1 Coríntios 7:1,7-9). Ao contrário do que
muitos pregam, Paulo não determinou o celibato, mas fez uma exceção para
aqueles que tivessem o dom e o quisessem assumir. Paulo provavelmente era
viúvo, embora a Bíblia não deixe isso claro. Mas como ele deveria ser membro do
Sinédrio, ser casado era uma das condições para este cargo. Este ensinamento
não era direcionado somente aos que possuíam algum cargo eclesiástico efetivo,
mas a toda a igreja. Se o padre decide pelo celibato, não há condenação alguma
nisso, caso ele realmente tenha o dom e seja capaz de sustentá-lo. Caso não o
tenha, ele tem duas possibilidades: casar-se e esquecer do sacerdócio ou
exercer o sacerdócio lutando contra seus instintos naturais. Daí surge a
pergunta: o que os vocacionados para o sacerdócio devem fazer se desejam
ardentemente exercer este ministério, mas por outro lado também anelam casar-se
um dia?
2. O
casamento é o ideal de Deus para a humanidade. Quando Deus criou o homem e a
mulher e os colocou no paraíso deu-lhes a ordem de crescer e se multiplicar
(Gênesis 1:28). Se o próprio Deus não achou bom que o homem estivesse só e por
isso lhe fez uma companheira (Gênesis 2:18), por que a igreja romana deseja
privar os seus sacerdotes desta? Celibato é uma questão de dom. Assim como nem
todos são profetas ou mestres, mas possuem outros dons, nem todos estão aptos a
casar-se ou a serem celibatários.
3. Em
Levítico 21:13,14 consta que os sumos sacerdotes deveriam selecionar suas
esposas, não podendo desposar-se de uma viúva, repudiada, desonrada ou
prostituta, mas escolhendo entre as virgens do povo. Por que os papas, os novos
sumos sacerdotes, não tomam esposas dignas como os sumos sacerdotes do Antigo
testamento e permitem que seus sacerdotes façam o mesmo já que o catolicismo
romano considera-se totalmente fundamentado na Bíblia? Se o sacerdócio
romanista é em tudo parecido com o sacerdote antigo, por que não se assemelhar
também neste ponto? E mais: Se os sacerdotes da Antiga Aliança tinham tempo de
dedicar-se ao serviço sacerdotal e a sua família, porque os “sacerdotes da Nova
Aliança” não o teriam?
4. Ao
contrário dos concílios que pretendiam separar os sacerdotes de suas esposas ou
obrigar os bispos casados a observarem a continência, a Bíblia nos ensina
claramente que o casal não deve jamais se privar um do outro, salvo por motivo
específico, vindo a juntar-se o mais rápido depois (1 Coríntios 7:5). O que
ocorreu em 1076 foi um total desrespeito à Palavra de Deus. Os líderes romanos
deliberadamente decretaram uma imposição que ia totalmente contra àquilo que
Deus já havia prescrito por intermédio do Apóstolo Paulo. Se a igreja romana
alega seguir fielmente a Tradição Apostólica, como explicar estes fatos
grosseiros? Se o papa desde sempre foi considerado infalível, como explicar que
o Concílio de Elvira tenha obrigado os clérigos à continência? E porque
obrigaram os papas que os sacerdotes se separassem de suas esposas se a Bíblia
ensina que quem está casado não deve se separar (1 Coríntios 7:27)? Jesus, que
julgam como exemplo para o dom de celibato, era contra o divórcio (Mateus
19:3-12). O fato de Jesus ter dito a Pedro que quem abandonasse tudo para
segui-lo receberia grande recompensa no presente e no porvir, não quer dizer
que ele apoiasse a idéia do celibato para os seus seguidores. “Qualquer um”
poderia significar não somente os Apóstolos, mas qualquer outra pessoa.
5. O
matrimônio já foi visto na Idade Média como algo impuro que trazia malefícios
ao homem. Mas, segundo as Sagradas Escrituras, ele é digno de honra (Hebreus 13:14).
Proibindo o casamento aos sacerdotes, os papas os entregaram a toda sorte de
perversões. Conforme o ideal bíblico, cada homem deve ter a sua mulher para
evitar a fornicação. O catolicismo romano caminhou sempre no sentido contrário
disto, impondo sobre seus sacerdotes algo que não lhes era próprio e que ia
contra a sua natureza. O casamento impede que o homem viva abrasado, ávido
atrás da prática sexual com várias parceiras. É certo que o fato de estar
casado não impede uma vida extraconjugal, mas o que se espera de pessoas
crentes e fiéis a Deus é que vivam de maneira pura e honesta em sua relação.
Quando o casamento e o sexo estão dentro da vontade de Deus, não há razão para
considerá-los como impuros ou obstáculos à vida ministerial e espiritual.
6. Que
Pedro era casado já está patente. Mas, além disso, ele levava consigo a sua
esposa por onde quer que fosse pregar o Reino de Deus (1 Coríntios 9:4,5). Se a
esposa de Pedro jamais se tornou um estorvo para o seu ministério intinerante,
porque as esposas dos sacerdotes da igreja romana se tornariam? O argumento
romanista é que sem estarem casados estariam livres para exercer seu
ministério, dedicar-se somente a ele, visto a dificuldade em conciliá-lo com
uma vida familiar. Mas o que dizer de profissões como médicos, enfermeiros,
policiais, bombeiros, etc., que requerem, às vezes, horas de plantão e
fins-de-semana longe da família, além de uma dedicação quase exclusiva? Estes
profissionais não precisam, também, conciliar sua profissão com a família? Pelo
seu pouco tempo para uma vida pessoal eles deixariam de se casar e ter filhos?
Por que?
7. Paulo
alertou seu companheiro Timóteo contra os espíritos enganadores que penetrariam
na igreja com intuitos perversos (1 Timóteo 4:1-5). O resultado desta profecia
de Paulo estamos vendo em toda a história da igreja romana, com a instituição
de celibato para os sacerdotes, privando-os de constituírem uma família e
obrigando-os a satisfazer secretamente seus desejos sexuais, estuprando,
abusando sexualmente de crianças e desonrando virgens, inclusive noviças e
freiras, além de praticarem o homossexualismo nos Seminários e conventos.
8. O
casamento para os ministros do Evangelho parte da necessidade de serrem
exemplos para a comunidade cristã, além de poderem ajudar aqueles casais que
estejam passando por dificuldades conjugais. Os bispos devem ser maridos de uma
só esposa, aptos para ensinar, governando bem sua própria casa e criando seus
filhos em toda disciplina e respeito. “Se alguém não sabe governar a sua
própria casa, como cuidará do rebanho de Deus?” – este era o argumento de Paulo
(1 Timóteo 3:1-5). Mas ainda podemos indagar: se o ministro não tem casa alguma
para cuidar, como espera cuidar da casa do Senhor? Como pretende exortar quanto
a educação dos filhos? Como pretende tratar os casais e aconselhá-los? Para
isso a igreja romana tem criado as diversas pastorais, a fim de suprir esta
deficiência dos seus sacerdotes.
Concluímos
desta forma que não existe nenhum impedimento expresso na Bíblia para o
casamento dos sacerdotes. O maior motivo para isto é que a função sacerdotal
pregada pelo catolicismo romano é inexistente no Novo Testamento, além de
desnecessária para o cristianismo, porque Cristo tornou-se o Sumo Sacerdote
eterno, segundo a ordem de Melquisedeque. Também para os Apóstolos não foi
imposta nenhuma forma de celibato ou continência conjugal. Quando Jesus “deu as
chaves da igreja a Pedro” comissionando-o para sua obra missionária, ou quando
lhe pediu que apascentasse suas ovelhas, não lhe impôs condição alguma ligada à
área conjugal, principalmente porque Pedro era casado e Jesus era radicalmente
contra o divórcio. O celibato é uma imposição desnecessária que surgiu ao longo
dos séculos para preencher as necessidades de uma igreja específica, a romana.
Antes de o celibato ter sido declarado dogma, os diáconos, padres, bispos e
papas contraíam matrimônio normalmente, sem que isso viesse afetar seu
ministério ou se sentissem menos aptos a exercê-lo. Suas funções eclesiásticas
jamais foram abaladas por manterem relações sexuais com suas esposas ou
cuidarem de seus filhos. Depois da imposição do celibato, sim, a vida promiscua
do clero passou a afetar sua espiritualidade e a santidade da igreja.
[1] Op.
cit., p. 163. Grifos do autor.
[2] Devemos
com isto entender que os Apóstolos também eram sacerdotes? Se sim, porque não
há nenhuma referência ao exercício de seu poder sacerdotal? Se a principal
função do sacerdote é o sacrifício eucarístico, onde encontrar referências a
ele no Novo Testamento?
[3] SCHNEIDER, op. cit., p. 317.
[4] RIBÓLLA, op. cit., p. 146. Grifo nosso.
[5] SKRZYPCZAK,
op. cit., p. 24 e 25.
[6] Até
aqui: PO, 6.
[7] A
partir daqui: PO, 9.
[8] Cf.
Dicionário Patrístico e de Antigüidades Cristãs, p. 277 e 278.
[9] SCHNEIDER, op. cit., p. 320.
[10] Na Antiga Aliança os judeus ofereciam
“sacrifícios” pela expiação dos pecados. Na Nova Aliança um único sacrifício
foi oferecido por Cristo para sempre. No catolicismo romano, embora seja o
mesmo cordeiro a ser sacrificado (Jesus Cristo), os sacerdotes oferecem-no
diariamente, configurando o plural “sacrifícios”, como se um só não tivesse
sido o suficiente.
[11] CAWTHORNE,
op. cit., ps. 115 e 116.
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