Antes
de aprendermos mais a respeito da missão evangelizadora da Igreja, é importante
desfazermos alguns mitos sobre o evangelismo. Não é novidade que a Palavra de
Deus tem sido pregada de forma totalmente deturpada em muitas denominações, até
mesmo em cruzadas evangelísticas. Algumas vezes por total falta de conhecimento
da Bíblia por parte de pregadores despreparados, mas a maioria das vezes por má
fé. Existem muitos falsos mestres entre nós; é preciso que fiquemos atentos.
Vamos estudar os principais mitos:
Ganhar almas para Jesus.
Isto é um equívoco, pois ninguém ganha ninguém. O Evangelho é o instrumento utilizado
por Deus para acessar a mente e a alma do pecador, para mostrar-lhe a redenção
e chamá-lo ao arrependimento. Esse processo começa e termina com o Espírito
Santo (Jo 16:7-11). Escrevendo aos efésios (cap. 1), Paulo apresenta a adesão
do pecador à fé em Cristo como iniciativa da graça de Deus (cf. 2:8,9). Em
Cristo, Ele nos abençoou com toda sorte de bênçãos espirituais (v. 3),
elegeu-nos (v. 4), predestinou-nos segundo a sua vontade (v. 5) e nos selou com
o Espírito Santo da promessa como penhor da nossa redenção e possessão sua (vs.
13,14). Assim como ninguém é capaz de “ganhar almas para Jesus”, nenhuma alma
pecadora se aproxima de Deus se Ele não o atrair. A obra é de Deus, é a sua poderosa
graça que opera em nós, não os mecanismos humanos ou o poder da retórica. A
tarefa do evangelista é tão somente pregar o Evangelho ao perdido.
Para ser evangelista é preciso falar
em “línguas estranhas”. Este mito está geralmente ligado a
algumas denominações pentecostais, que exigem que seus obreiros sejam
“batizados com/no o Espírito Santo”, tendo como evidência o dom de línguas
estranhas. Todavia, em parte alguma da Bíblia existe tal exigência. A exigência
é o selo do Espírito Santo, que autentica que somos convertidos, salvos e,
portanto, capacitados com poder e autoridade para pregar o Evangelho (Ef 1:13;
Ez 36:26,27; 1 Co 3:16). E a evidência deste selo é o fruto do Espírito (Gl
5:22,23).
Evangelizar é só para quem tem o dom e
foi consagrado. Como já vimos, evangelizar é uma
obrigação de todo cristão, mesmo que ele não possua o dom de evangelismo nem
tenha sido consagrado na sua igreja como evangelista. A sua consagração como
ministro do Evangelho ocorreu no momento da sua conversão (1 Pe 2:9,10; Ef
2:10). Isso não impede que a Igreja consagre evangelistas oficialmente, acima
de tudo os vocacionados especialmente para este ministério e que possuam o dom
de evangelista.
Não é preciso estudar a Bíblia, pois é
o Espírito Santo quem falará por nós. Este mito está
baseado em Mateus 10:19, que diz: “E, quando vos entregarem, não cuideis com o
que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de
dizer, visto que não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala
em vós”. Todavia, o contexto não é de evangelismo, mas de perseguição e prisão
por causa do Evangelho. O crente precisa ler e estudar a Bíblia constantemente
para a sua tarefa evangelizadora, como ainda estudaremos. Quando isso falta,
começam a surgir os falsos ensinos e as heresias.
É possível evangelizar apenas com o
testemunho pessoal. O testemunho pessoal é importante,
tanto de uma vida reta diante dos homens como das maravilhas que Cristo operou
em nós quando nos convertemos. Mas até mesmo os ateus podem possuir uma vida
reta, bem como membros de outras religiões que não conduzem à salvação podem
falar de milagres e maravilhas. O cerne do evangelismo deve ser a proclamação
do Evangelho de Cristo antes e acima de tudo. O testemunho pessoal funciona
apenas como um exemplo daquilo que Cristo operou. Salientando que o testemunho de bênçãos e vitórias não conduz o
pecador à conversão, mas a adesão a uma fé que, em sua mente, resolverá todos
os seus problemas. Sobre isso ainda falaremos mais profundamente. No módulo
três, aprenderemos mais sobre evangelismo e testemunho pessoal.
Não é preciso evangelizar, pois Deus
já determinou quem irá para o céu. Embora desde a
eternidade Deus saiba quem são os seus, a Palavra deve ser ministrada a todas
as pessoas, pois, como já vimos, não podemos saber quem são aqueles que o
Espírito Santo converterá. Deus não nos revelou. O evangelista deve pregar a
todos sem questionar, pois o mesmo Deus que escolheu quem será salvo, também
escolheu a pregação da sua Palavra como o meio de conduzir o pecador à fé em
Cristo (Rm 10:9-15). Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!
A questão do “politicamente correto”. A
filosofia reinante no mundo é que devemos respeitar todas as crenças e que
nenhuma delas pode se firmar como única e verdadeira. Também se ensina que não
existe uma verdade absoluta e que cada um vive da maneira que desejar, de modo
que não se pode falar em pecado, céu ou inferno. Embora devamos respeitar as
pessoas e suas crenças, a Palavra deve ser pregada, a verdade deve ser ensinada
e defendida. Não podemos temer o mundo e suas vãs filosofias, mas pregar com
intrepidez a mensagem que o Senhor nos confiou (2 Tm 4:1-5). Outra questão
importante: não devemos adequar a mensagem evangélica para que ela fique
“politicamente correta” de um ponto de vista mundano. O conteúdo da nossa
pregação deve ser sempre “cristologicamente correto”.
Todos os caminhos conduzem a Deus. Como
resultado do mito anterior, existe a crença equivocada de que todos os caminhos
conduzem a Deus. Isto é: todas as religiões são legítimas, pois pretendem ligar
o homem a Deus, cada qual do seu modo, mas o fim é o mesmo. Veja, por exemplo,
o que diz o conteúdo de uma foto encontrada na Internet: “A minha religião não
arrebanha fiéis porque não acredita que é melhor que a sua religião, respeita
sua livre vontade de escolha, tem a plena convicção de que todas as religiões
levam ao mesmo destino, ao mesmo Deus, embora por caminhos diferentes...”
(Fabinho Ishio, Dos Samurais aos Orixás). Isso é uma terrível mentira que o
evangelista não pode comprar. Existe apenas um Deus e Salvador (Is 43:11;
45:21), um único caminho que conduz a Ele, Jesus (Jo 14:6); e uma única fé (Ef
4:5). Não é arrogância dizer que somente a fé cristã é a verdadeira, legitimada
pela Palavra infalível de Deus.
A missão do evangelista é saquear o
inferno. Uma expressão que está se tornando muito
comum atualmente no mundo evangélico é “saquear o inferno”. Apesar de pretender
demonstrar uma aparente fé poderosa em Deus, essa expressão mais demonstra
arrogância e ignorância com relação à missão da Igreja e às Escrituras. Esse pretenso
saque se dá, muitas vezes, por meio do desrespeito e da intolerância religiosa,
contando até mesmo com a invasão de locais de culto de outras religiões.
Todavia não é isso que a Bíblia ensina. Em primeiro lugar, evangelizar é uma
atitude de amor e misericórdia, com a mesma mansidão que o Senhor pregou o
Evangelho. Isso envolve respeito para com os fiéis de outras crenças e atitudes
condizentes com o caráter santo do povo de Deus. Em segundo lugar, a missão da
Igreja não é “saquear o inferno”, mas pregar as boas-novas que impedem que o
pecador penitente vá para lá. Em
terceiro lugar, aqueles que são de Deus já estão destinados ao céu, de modo que
ninguém está tirando ninguém do inferno. Em quarto lugar, aqueles que estão
destinados para a Ira não terão outro destino que não o inferno, não havendo
nada que possamos fazer para mudar isso, pois o Senhor já o decretou. A nossa
missão é só uma: pregar o Evangelho, apenas isso. Leia Romanos 9 e Efésios 1.
A
culpa é nossa! Alguns apelos para o envolvimento
evangelístico visam comover os crentes e fazê-los se sentirem culpados pelas
pessoas que diariamente morrem sem ouvir o Evangelho. Uma situação parecida com
o apelo católico romano na época da Reforma, culpando os fiéis pelos tormentos das
almas dos seus parentes e amigos que sofriam no purgatório. Em suma, a mensagem
transmitida culpa os crentes pelas almas que vão para o inferno, afirmando que
elas poderiam ter ido para o céu se tivessem sido evangelizadas; portanto a
culpa é da Igreja, do crente que não evangelizou. Embora este estudo ressalte a
importância de pregar o Evangelho para que o perdido conheça a Cristo e seja
reconciliado com Deus, acusar os crentes pela danação eterna dos perdidos é
mentiroso e antibíblico. Um dos textos utilizados para este mito é Ezequiel
3:17-19, onde o Senhor diz ao profeta: “Filho do homem, eu te dei por atalaia
sobre a casa de Israel; da minha boca ouvirás a palavra e os avisarás da minha
parte. Quando eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares
e nada disseres para advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, este
perverso morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei.
Mas se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldade e do seu
caminho perverso, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu salvaste a tua alma”.
Entretanto,
existem algumas observações importantes que devem ser feitas. Primeira: o
contexto de Ezequiel não é um contexto evangelístico, mas do ministério do
profeta, responsável por transmitir ao povo as palavras de Deus. Como atalaia
de Deus, ele deveria pregar para que o perverso se convertesse e o justo não se
desviasse. Entretanto, a punição do profeta não seria pelo pecado cometido pelo
povo, mas por sua omissão em não exercer a sua vocação profética e ocultar do
povo a vontade de Deus que poderia libertá-lo. Segunda: a Palavra de Deus
afirma que todos pecaram e carecem da glória de Deus, de modo que são
indesculpáveis e prestarão contas do seu próprio pecado (Rm 3:23; 14:12; 2 Co
5:10; 1 Pe 4:5). A palavra que pode salvar ou condenar já foi transmitida e
está escrita na Bíblia (1 Co 1:18; Jo 3:16,36). Terceira: Deus conhece os que
são seus, e estes de modo algum morrerão sem que o Espírito Santo os convença
do pecado e os converta (Jo 6:37-39,65; 17:6-9,24; 10:28,29). Se eu não pregar,
outro pregará. De alguma forma o Evangelho o alcançará, o que só ressalta a
importância da evangelização. Quarta: aqueles que não possuem seus nomes
escritos no Livro da Vida, de modo algum se converterão, mas morrerão na
incredulidade, negando a Cristo, seja por suas palavras ou por suas ações.
Quando o perdido morre sem Jesus, a culpa não é de quem não evangelizou, mas
apenas sua. Como veremos no capítulo 10, nem todos crerão. A salvação é individual;
a condenação, também. A fé em Cristo livra o pecador da ira de Deus (1 Ts 1:10);
a rejeição a Cristo faz com que ele permaneça sobre esta ira (Jo 3:36).
Mizael Xavier
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