A palavra “equilíbrio”
é um substantivo masculino que expressa harmonia, estabilidade e solidez. Relacionado
às leis da física, o equilíbrio se mostra como o estado do sistema cujas forças
que sobre ele agem se contrabalançam e se anulam de maneira mútua. Um corpo que
se encontra estável é desprovido de oscilação ou desvio. Ele é, também, uma força
que age de maneira igual entre duas ou mais coisas (ou pessoas). No meio
financeiro existe equilíbrio entre os lucros e os gastos. Em sentido figurado,
o equilíbrio pode ser a propriedade ou estado daquilo que permanece estável
(constante); também está relacionado ao equilíbrio de oportunidades de trabalho.
Não somente os corpos e os sistemas possuem equilíbrio, mas também as pessoas:
comedimento emocional, estado mental estável e autocontrolado. Todavia, aos
dicionários não compete explicar como se dá esse equilíbrio, que forças são necessárias
para que algo ou alguém encontre a sua harmonia, estabilidade e solidez. O que
precisa ser acrescentado? O que precisa ser tirado? É possível manter-se todos
os elementos igualmente equilibrados para que haja essa harmonia? Quem ou o que
decidirá isso? Diferentemente dos objetos sólidos inanimados, os seres humanos
agem sobre o seu meio, não apenas sofrem a ação dele. Eles reagem às tentativas
de manter-se ou tirar-se o seu equilíbrio. Embora o seu corpo possa estar
estável, não se pode afirmar o mesmo da sua mente e do seu coração. Definir um
indivíduo mentalmente equilibrado pode significar afirmar que a sua loucura e a
sua lucidez estão sob controle e que ele é capaz de manter-se firme com ambas
as forças atuando dentro de si. Novamente a pergunta: quem decidirá o ponto de
equilíbrio? O que para uns pode parecer loucura ou extremismo, para outros pode
significar seu modo natural de agir, muitas vezes respaldado pela sua própria
cultura, suas crenças e valores.
No campo do
conhecimento humano, quando falamos em buscar um equilíbrio a respeito de
determinado assunto, estamos nos referindo a encontrar um ponto que não se
situe em nenhum extremo. Pensemos em um tema qualquer como sendo uma balança: o
equilíbrio só pode ser mantido quando os dois lados da balança estão iguais,
isto é, não existe uma tendência de se pesar um lado em detrimento de outro. O
que se busca é equilibrar os pontos de vista e as práticas a respeito desse
tema sem que nada se perca no processo, mas que tudo seja validado para ambos
os lados e assim se mantenha o equilíbrio. Tomando como exemplo o amor, pode-se
afirmar que ele não deve ser ofertado de maneira exagerada nem em porções
mínimas, mas de forma equilibrada. Contudo, não há quem possa nos dar a certeza
onde se encontra esse ponto de equilíbrio. O que é amar demais? O que é amar de
menos? Quando podemos saber que exageramos ou que nos doamos insuficientemente?
Qual será o fiel da balança? O mesmo pode-se dizer do ódio. Não existe ódio com
uma pitada de amor ou vice-versa. Os dois não comungam, não compactuam, não se
completam. O ódio é a ausência do amor, como a mentira é a ausência da verdade
e o mal é a ausência do bem.
Mas será mesmo que
existe algum equilíbrio ou pelo menos que em tudo este equilíbrio deve ser
buscado? Pode ser que a nossa busca por equilibrar alguns conhecimentos e
práticas esteja ligada à filosofia reinante no mundo pós-moderno de que não
existe uma verdade absoluta ou um conceito final a respeito de qualquer coisa,
mas tudo é relativo e isento de uma concepção totalmente acabada. Aquilo que é
verdade para alguns, pode não ser para outros; aquilo que para uns é certo,
para outros pode ser errado; e o que é considerado como bem aqui, mais adiante
pode se revelar um grande mal. De acordo com MacArthur (2008, p. 39), “o
pós-modernismo é marcado por uma
tendência de repudiar a possibilidade de qualquer conhecimento seguro e sólido
acerca da verdade” (itálicos do autor). Se a verdade objetiva existe, ela
jamais poderá ser conhecida verdadeiramente, porque a objetividade é uma
ilusão. Aquele que pretende proclamar um conhecimento suficiente a respeito de
alguma verdade é reputado como arrogante e ingênuo. A verdade de cada um é que
irá decidir, e esse é um direito que não pode ser suprimido. Isto envolve a
moralidade. Não existe uma ética, mas diversas éticas que variam de acordo com
os valores e as crenças relativistas de cada pessoa. Mentir, matar, adulterar,
furtar, ludibriar, corromper são conceitos subjetivos que irão se adequar às
circunstâncias sem jamais se configurarem como bons ou maus hábitos.
Buscar o equilíbrio
pode ser a ideia disfarçada de que não existe uma verdade absoluta. O que se
está afirmando na verdade é que podemos ficar com os dois lados da balança, sem
desprezar nenhum. Isto é, podemos suportar opiniões contrárias às nossas para
que mantenhamos o equilíbrio e não pendamos para nenhum dos lados, sob o risco
de sermos taxados de “extremistas”. Ou ainda pior: um conhecimento ou prática
pode comportar diversas verdades e ainda assim se manter íntegro, sem que em
algum momento essas verdades se choquem, ainda que contrárias umas às outras. Logo,
na justiça poderá haver um grau de injustiça, na verdade poderá haver um pouco
de mentira, a legalidade poderá conter uma certa ilegalidade. O equilíbrio
entre ideias e forças não comporta a verdade bíblica, onde, por exemplo, o bem
e o mal são excludentes, assim como o certo exclui o errado e a verdade exclui
a mentira. Do ponto de vista de Deus, não apenas existe a verdade absoluta,
como ela é eterna e imutável. E esta verdade é Ele mesmo, como afirmou o Senhor
Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6). Ou como João declarou a
respeito de Cristo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14).
Se cremos em Deus e
na sua Palavra, não estamos buscando algum equilíbrio, mas a verdade existente
em todas as coisas. Não há como equilibrar ideias e ações, tornando todos os
lados da balança aceitáveis. Existe apenas uma maneira verdadeiramente correta
de entender tudo. A busca pelo equilíbrio pertence àqueles que não aceitam a
verdade absoluta de Deus e da sua Revelação. Em Deus, o certo sempre será
certo, o bem sempre será bem e a verdade sempre será verdade. Do mesmo modo, o
errado, o mal e a mentira também serão absolutos. Aqueles que buscam o dualismo
ou o equilíbrio por trás de todas as coisas, negam a autoridade de Deus e da
sua Palavra e admitem que as Escrituras possam conter erros ou estão sujeitas à
diversas interpretações. Este é o primeiro passo para a formação de heresias e o
caminho seguro para a apostasia. Negar a verdade absoluta de Deus é negar o
próprio Deus. Aceitar que haja interpretações diversas e “equilibradas” na sua
revelação é ir contra a sua soberania e sua sabedoria eterna. A Palavra de Deus
é viva e eficaz e nada deixa às escondidas (Hb 4:12,13). Essa Palavra deve ser
anunciada em sua integralidade (2 Co 2:17). A ministração da verdade exclui as
coisas que de tão vergonhosas ficam em oculto, de forma plena, jamais
adulterada, de modo que haja boa consciência diante de Deus (2 Co 4:2). Os dualismos
e os relativismos pertencem aos perdidos, àqueles que não obedecem à verdade,
que têm cego o seu entendimento e são impedidos de conhecer plenamente o
Evangelho da glória de Cristo (2 Co 4:3-5).
O apóstolo Paulo
escreveu aos crentes de Corinto que nada podemos contra a verdade, senão em
favor da própria verdade (1 Co 13:8). A crença correta sempre levará a práticas
igualmente corretas. Se as crenças forem relativas, que tipo de práticas
produzirão? Tiago escreveu: “Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em
mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg 3:13). A
verdade está em guardar os mandamentos (1 Jo 2:4). Todavia, como guardar os
mandamentos de Deus se ao invés de buscarmos a verdade que há neles buscarmos o
equilíbrio? Se o conhecimento da verdade traz libertação, como afirmou o Senhor
Jesus, em João 8:32, como poderemos ser libertos se não cremos numa verdade
única e absoluta, mas no equilíbrio entre verdades? Conforme escreveu o
salmista, as palavras de Deus são verdade desde o princípio (Sl 119:160). Não
alguma verdade ou o equilíbrio de ideias e conhecimentos a respeito de Deus e
do mundo, mas a verdade em seu sentido pleno e absoluto, que comporta criações,
revelações, decretos, mandamentos e promessas divinos. Tudo o que foi escrito a
respeito de Deus e tudo o que Deus quis nos revelar faz parte de uma verdade
eterna e irrevogável, que não pode ser diminuída, acrescida ou relativizada. As
coisas ou são ou não são, ou podem ou não podem. Não há equilíbrio, apenas a
boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12:2).
Está bastante claro
na Bíblia que devemos buscar a verdade, não o equilíbrio. Se isso é verdade
para um tipo de conhecimento ou prática, o será para todos os conhecimentos e
práticas. Não existem uma crença ou uma doutrina equilibradas. Existem uma
crença e uma doutrina verdadeiras. Com relação ao alimento que fortalece o
corpo é possível mantermos uma dieta equilibrada, onde mesmo os alimentos que
engordam podem ser consumidos em pequenas porções diárias. Todavia, com relação
ao alimento que fortalece a nossa alma não existe uma dieta balanceada: é
preciso consumir tudo, com todas as suas vitaminas, em grandes porções, sem
menosprezar absolutamente nada. A Palavra de Deus deve ser crida, compreendida,
aceita, pregada e vivida na íntegra, como está na Bíblia. E só existe uma única
verdade para cada uma das suas verdades. Não há uma visão “equilibrada” a
respeito da salvação: ela é exclusivamente pela graça e não comporta outro
elemento (Ef 2:8,9); da divindade de Cristo: Ele é o verdadeiro Deus e a vida
eterna (1 Jo 5:20); da Trindade: ela está claramente expressa na Bíblia (p. ex.
1 Jo 5:7); da soberania de Deus: somente Ele é soberano, não há outro (Dt
10:17; Dn 7:27; Sl 72:1-7); da eleição: ela é de acordo com o conselho da vontade
de Deus (Rm 9; Ef 1:4-12). Também da fé, da oração, das últimas coisas, da
santidade, da natureza da Igreja, de missões, do inferno, do bem, do mal, do
pecado, dos dons do Espírito ou qualquer outra doutrina bíblica. Existe apenas uma “única” verdade
para cada uma delas. E esta verdade está na Bíblia, esperando ser lida e
conhecida.
Assim como a nossa
crença deve ser ortodoxa, fundamentada totalmente na Palavra de Deus, aliada à
verdade absoluta e jamais relativista, também a nossa prática de vida não pode
comportar o dualismo, o relativismo. Uma vida santa, por exemplo, só pode ser
vivida de acordo com a santidade de Deus e nela não existe um meio termo, não há
o “equilíbrio”, há o “absoluto”. Ou a pessoa está em trevas ou está na luz,
pois ela não pode servir às duas circunstâncias, não pode comportar um aspecto
de cada uma. O Senhor Jesus declarou: “Ninguém pode servir a dois senhores;
porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e
desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6:24). Não
existe uma forma de equilibrar nosso amor por Deus com o amor pelas riquezas:
quando escolhemos um, estamos automaticamente desprezando o outro. Da mesma
forma não existe equilíbrio entre andar no Espírito e andar na carne. Quem anda
no Espírito, não satisfaz os desejos da carne; quem anda na carne, não poderá
ser cheio do Espírito (Gl 5:16-26). Não é possível buscar um ponto de
equilíbrio entre os feitos pecaminosos carnais e os frutos do Espírito: ambos
são excludentes (Gl 5:19-24).
Embora a maioria
dos cristãos não-protestantes busque o equilíbrio entre crer e servir a um
único Deus e adorar as imagens de escultura, aplicando a essa atitude o termo
“veneração”, está claro que quando optamos por crer e adorar ao único e
verdadeiro Deus, todos os demais tipos de crenças e adoração são destruídos. A
idolatria está como a causa principal do cativeiro babilônico do povo de
Israel. Além de desprezarem os estatutos e as alianças de Deus com seus pais,
eles enveredaram pelas práticas das outras nações, fazendo aquilo que era
abominável perante o Senhor. Em 2 Reis 17:16 lemos: “Desprezaram todos os
mandamentos do Senhor, seu Deus, e fizeram para si imagens de fundição, dois
bezerros; fizeram um poste-ídolo, e adoraram todo exército do céu, e serviram a
Baal”. O povo de Deus feriu o primeiro e maior mandamento de amar e adorar a um
único Deus, Jeová (Dt 5:6-10). O princípio do erro está em desprezar os
mandamentos de Deus. A partir daí, todos os demais pecados eclodem. Não há um
ponto de equilíbrio na fé: ou ela está totalmente em Deus ou está totalmente
fora dele. Não podemos comer na mesa de Deus e na mesa dos demônios. Quando tomamos
um cálice, jogamos fora o outro (1 Co 10:20-22). Ou seguimos o conselho dos
ímpios e sentamos na roda dos escarnecedores ou temos prazer e meditamos na Lei
do Senhor (Sl 1). Deus nos chama a fazer uma escolha: temer ao Senhor e servi-lo
com integridade e com fidelidade, jogando fora tudo que nos conduz à idolatria
ou permanecer servindo a outros deuses. A escolha sensata nos levará a afirmar
como Josué: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24:14,15), ou a
declarar como o povo: “Longe de nós abandonarmos o Senhor para servirmos a
outros deuses” (v. 16).
Também não é
possível buscar um equilíbrio na manifestação da nossa espiritualidade diante
dos homens. A quem devemos agradar? A quem devemos dar a verdadeira satisfação?
Os fariseus buscavam o louvor dos homens, oravam, davam esmolas e jejuavam
publicamente com o fim de serem apreciados e aclamados pelos homens. Fazendo isso,
eles não estavam rendendo glórias a Deus e as suas atitudes eram reprováveis,
como afirmou o próprio Senhor Jesus no Sermão do Monte (Mt 6:2-4,5-8,16-18). Ou
recebemos a recompensa dos homens ou de Deus, não existe equilíbrio (cf. 6:1). O
apóstolo Paulo escreveu aos gálatas: “Porventura, procuro eu, agora, favor dos
homens ou de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não
seria servo de Cristo” (Gl 1:10). O Evangelho que Paulo pregava não era segundo
o homem, mas mediante a revelação de Jesus Cristo (vs. 11,12). Atualmente,
todavia, muitos pregadores têm buscado um equilíbrio entre o que Deus fala nos
evangelhos e o que as pessoas esperam ouvir; entre as doutrinas bíblicas e os
desejos do homem. Isto é: uma “visão equilibrada” da Palavra de Deus permite
que ela se adéque aos anseios e projetos humanos, sem que ambos deixem de lado
as suas prerrogativas, o que não somente é impossível como também é uma heresia
demoníaca. Contra tais pregadores, o próprio Paulo lavra a sentença: anátemas,
isto é, malditos, amaldiçoados (1:6-9).
O apóstolo João não
conseguia encontrar equilíbrio entre dois inimigos declarados: Deus e o mundo. Quem
ama um, despreza o outro (1 Jo 2:15,16). O liberalismo teológico busca uma
forma de adequar a verdade bíblica às demandas modernas, buscando uma teologia
que consiga responder aos anseios mundanos, conformando-se aos padrões de um
mundo corrompido pelo pecado. Para isso ser possível, é preciso abraçar a
filosofia pós-moderna relativista e abrir mão da veracidade das Escrituras
Sagradas como Palavra inspirada de Deus suficiente, inerrante e infalível. O objetivo
claro é absorver apenas aquilo que for do interesse do indivíduo, desprezando
todo o resto, como fazem os ativistas gays, que retiram das Escrituras os
textos que não compactuam com sua prática homossexual. Tiago, então, declara: “Infiéis,
não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4:4). Portanto, um
equilíbrio entre o mundo e Deus não é possível: o mundo precisa ser impregnado
por Deus para abandonar-se a si próprio. De igual modo, o crente não deve
equilibrar a sua vida entre à escravidão ao diabo e a sujeição a Deus. Quando
nos sujeitamos a Deus, o diabo foge de nós (Tg 4:7).
A Bíblia não nos
chama a uma vida equilibrada, mas íntegra. O Senhor Jesus deixa isso bastante
claro ao afirmar: “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é
injusto no pouco também é injusto no muito” (Lc 16:10). Não existe equilíbrio
algum entre fidelidade e injustiça, mas a possibilidade de haver uma exclui a
outra. O cristão que vive retamente pende para o lado da fidelidade e da
justiça, não deixando espaço para sentimentos contrários, de modo a buscar um
equilíbrio nas suas ações, como fizeram Ananias e Safira ao mentirem para o
Espírito Santo (At 5:1-11). A integridade promove segurança (Pv 10:9) e mantém
o cristão firme diante das investidas do mundo, da carne e do diabo. O ponto
crucial é não se dobrar àquilo que Deus desaprova crendo que poderá arranjar
alguma brecha para justificar pecados. Ao enviar Tito para cuidar da
arrecadação da oferta dos coríntios aos crentes pobres de Jerusalém, o apóstolo
Paulo desejava manter a integridade do seu ministério e da verdade, não cedendo
espaço para quaisquer dúvidas e desconfianças (2 Co 8:16-24). Paulo não buscava
equilíbrio entre as suas ações diante de Deus e aquilo que era feito na frente
dos homens, como se fosse possível usar dois pesos e duas medidas e mentir para
Deus (Pv 20:10). Ele escreveu: “pois o que nos preocupa é procedermos
honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens” (v. 21). A
honestidade não pode ser negociada nem estar aberta a “deslizes justificáveis”.
A própria natureza da palavra “íntegro” (inteiro) já demonstra o tipo de
caráter que o cristão deve manifestar em todas as suas ações, evitando o mal
testemunho e as calúnias (1 Pe 3:16).
Nas recomendações
finais de sua epístola, o autor de Hebreus pede aos irmãos oração, pois se
sentia persuadido a ter boa consciência, desejando em todas as coisas viver
condignamente (13:18; “portar-se honestamente”, ARC). A honestidade não pode
comportar outra coisa senão a honestidade. Aquele que é honesto não promove a
injustiça, não se apropria de nada alheio, fala a verdade e é confiável. Escrevendo
aos crentes de Filipos, o apóstolo Paulo apresenta uma lista de valores
absolutos que deveriam fazer parte do pensar e do agir daqueles irmãos:
verdade, respeitabilidade, justiça, pureza, amabilidade, honradez, virtude e
louvor (Fp 4:8). Ele admoesta: “O que também aprendestes, e recebestes, e
ouvistes, e vistes em mim, isso praticais; e o Deus de paz será convosco” (v.
9). Paulo conclama os irmãos a agirem de maneira íntegra, cultivando os valores
e virtudes que conduzem à paz com Deus. São valores absolutos. Aquele que anda
na verdade, não compactua com a mentira. Quem é respeitável, não pode viver de
outra forma. Uma pessoa justa não age com iniquidade. Uma vida equilibrada
seria pesar de um lado da balança a impureza e do outro a pureza, buscando o
equilíbrio entre ambas. Uma vida reta, íntegra, retira da balança a desonra e
permite que somente a honra se faça presente. O que foi aprendido, recebido,
ouvido e visto deve compor de forma plena o caráter do cristão, deve fazer
parte do seu estilo de vida, jamais cedendo qualquer espaço para atitudes
contrárias. Não é um pouco disso e um pouco daquilo, mas os valores eternos e
imutáveis da Palavra de Deus em sua integralidade.
A maneira
como cremos e a forma que vivemos revelarão quem de fato somos. Jesus afirmou
que a árvore se conhece por seus frutos (Lc 6:43-45; Mt 7:22-27). Embora muitos se afirmem
cristãos, seguidores de Jesus, alguns demonstram, por suas crenças e suas
práticas, que não são quem dizem ser. Isso está claro na Bíblia ao se referir a
respeito dos falsos mestres, falsos profetas, falsos apóstolos e o anticristo
(cf. Mt 7:15-23; 24:4,5, 24:23-26; Gl 1:6-8; 2 Co 11:3,4,13-15; 2 Ts 2:3,4,8-10; 2 Pe
2:1-22; Jd 1:1-23). Podemos perceber em todos esses textos que a crença
incorreta produz práticas igualmente incorretas. Aqueles que não acreditam nem
pregam a verdade, mas buscam equilibrar seus próprios pontos de vista com a
Revelação de Deus, geralmente incorrem em erros doutrinários e desvios morais. Para
manter esses desvios morais e não permitir que sejam chamados de “desvios”, os
pensadores pós-modernos decidiram abrir mão da verdade absoluta ou de qualquer
tipo de verdade. Quem poderá dizer que seus atos são imorais se não existe uma
moral real? Quem poderá afirmar que as suas práticas são pecaminosas se não existe
pecado nem mandamento divino a ser obedecido, pois, a priori, não há Deus? Essa
disposição mental para equilibrar as forças e justificar pecados está corroendo
como um câncer a doutrina cristã. Em breve alguns adorarão a Besta, outros não.
Aqueles que se mantiverem fiéis serão decapitados “por causa do testemunho de
Jesus, bem como por causa da Palavra de Deus” (Ap 20:4). Eles não buscaram
equilíbrio, não se dobraram diante da Besta, mas viveram a verdade absoluta de
Deus até as últimas consequências. Quanto aos outros, a parte que lhes coube
foi o lago que arde com fogo e enxofre, a segunda morte (Ap 21:8).
Como vimos nestes
poucos exemplos, o cristão não deve buscar uma doutrina equilibrada a respeito
de nenhum ponto da sua fé, mas a verdade única e absoluta em cada doutrina que
a Bíblia apresenta. Da mesma forma, o seu estilo de vida precisa ser íntegro,
de acordo com a verdade que ele professa crer. A Palavra de Deus é o prumo
seguro da verdade, da fé e da moral. O que ela afirma é verdadeiro e digno de
confiança. Não podemos ou não fazer algo: ou podemos ou não podemos. E quando
escolhemos um, o outro é excluído. Um exemplo está em Deuteronômio 30:19, onde
Deus declara: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te
propus a vida e a morte, e bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que
vivas, tu e a tua descendência”. Está explícito que escolher a morte não traria
vida, como escolher a maldição não traria bênção. Não é possível, também, crer
ou não em Deus. Aquele que se aproxima dele, segundo escreve o autor de
Hebreus, deve crer que Ele existe e que se torna galardoador daqueles que o
buscam (11:6).
O jovem rico
descobriu que não poderia haver qualquer equilíbrio entre seguir a Deus e
continuar apegado aos seus bens materiais. Ele, na verdade, buscava fazer as
duas coisas: cumprir os mandamentos de Deus, mas com o coração voltado para
este mundo e para as suas riquezas que, no final das contas, se mostraram muito
mais importantes que a sua fé (Mt 19:16-22). Após o jovem se retirar triste, o
Senhor declarou que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do
que entrar um rico no reino de Deus, de modo que os discípulos se maravilharam,
dizendo: “Sendo assim, quem pode ser salvo” (vs. 23-25), ao que Jesus
respondeu: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (v.
26). De fato, o que Jesus demonstra nesse episódio é que a salvação não é por
aquilo que fazemos (seguir os mandamentos, abrir mão de tudo), pois assim é
impossível alcançar o céu. A salvação é pela graça de Deus, não pelos nossos
próprios esforços ou nossa vã religiosidade. Desse modo, até o rico avarento
pode ser salvo, porque quem operará na vida dele é o Espírito Santo. Não há um
equilíbrio entre a nossa busca por Deus e a busca de Deus por nós. É ele e
somente Ele quem trabalha em todo o processo da salvação (cf. Os 11:1-5).
Não devemos abrir
mão da verdade absoluta em nenhuma circunstância. É ela que configura a nossa
fé em Deus e determina a prática dessa fé. Quando tentamos buscar um equilíbrio
entre crenças e práticas, fatalmente estamos desprezando a verdade revelada de
Deus e a sua própria natureza santa e perfeita. Escolher este ou aquele
elemento para compor a nossa fé significa abrir mão de outros igualmente
importantes. Mais que isso, essa tentativa de equilibrar doutrinas e práticas
nos conduz à mentira, porque o produto que teremos em mãos não será a fé
verdadeira, mas uma versão distorcida engendrada pelo nosso pecado. A Teologia
da Prosperidade é expert em utilizar
apenas os versículos que, de acordo com a sua interpretação, demonstram que o
cristão deve viver uma vida isenta de sofrimento e financeiramente próspera,
que isso é um direito seu, afirmando, inclusive, que o fiel de Deus não adoece.
Por outro lado, eles rejeitam e não pregam a respeito de textos que demonstram
claramente como os homens de Deus sofreram enquanto estavam na terra, como o
capítulo onze de Hebreus, os sofrimentos de Paulo pelo Evangelho e até o
exemplo de Jesus Cristo. A busca pelo equilíbrio teológico culmina na criação
de falsos ensinos e heresias. O que Deus espera de nós não é o equilíbrio, como
dissemos, mas uma teologia genuinamente bíblica, forjada na correta exegese da
sua Palavra, isenta de pressupostos humanos tendenciosos. Ele também deseja a
integridade do caráter, uma vida reta e santa baseada na sua Palavra,
totalmente isenta das inclinações da nossa carne e impregnada com a ação poderosa
do Espírito Santo. Em todas as coisas, seja Deus verdadeiro, e mentiroso, todo
homem (Rm 3:4).
04.07.2017
Mizael Xavier
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