quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Como ser um bom católico?




            Deus nos ensina através da sua Palavra, por intermédio do apóstolo Pedro, que devemos estar preparados para testemunhar da nossa fé. Assim está escrito: “Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3:13-15). Então, o que dizer a alguém que porventura nos pergunte o motivo de sermos crentes?
            A minha resposta pessoal seria: Sou crente porque sou lavado e remido no sangue de Cristo, porque o aceitei como Senhor e Salvador da minha vida e fui justificado pela fé por meio da graça de Deus. Estando em Cristo, sou adotado como filho de Deus, santificado pelo Espírito Santo, estou perdoado dos meus pecados e separado do mundo para as boas obras preparadas para que eu ande nelas, o que se pode resumir em amor e obediência. Nele eu tenho a segura esperança da vida eterna, porque nele não há mais condenação. Um dia Ele voltará para levar a sua igreja, santa e imaculada, e eu irei com Ele nas nuvens morar para sempre no Paraíso celestial, na nova Jerusalém. E, lógico, citaria inúmeros versículos bíblicos.
            Mas que resposta eu daria se alguém me perguntasse: Por que você é católico? Voltando até o ano de 1994 e resgatando a minha mentalidade e a minha fé católica de outrora, eu certamente responderia: Porque nasci num lar católico, porque vou à missa, comungo... Na verdade não saberia muito que dizer. Mas esse não seria um problema apenas meu. A grande maioria dos católicos, os leigos, que não tem costume de ler a Bíblia nem de participar de cursilhos e pastorais; que não são carismáticos nem frequentam a comunidade Canção Nova, muito pouco tem a dizer a respeito da razão de serem católicos. Rezam, fazem novenas, pagam promessas, se prostram diante de imagens, comungam, se confessam aos padres, adoram o papa, mas a sua fé não possui fundamento bíblico algum. Por que você é católico? Porque sou, ora!
            Uma das grandes estratégias dos líderes da igreja católica chama-se “batismo”.  Segundo o Compêndio do Vaticano II, o batismo é um rito sacramental que une a todos os fiéis católicos, tornando-os verdadeiramente filhos de Deus através de uma nova vida incorporada em Cristo. O batismo consagra o fiel ao sacerdócio comum e o torna participante do sacerdócio real de Cristo. Ele é a porta através da qual o fiel é introduzido na igreja e o faz ter participação plena, cônscia e ativa na liturgia. Através do batismo o fiel alcança a sua salvação, pois só aí passa a fazer parte da única igreja que salva: a católica, e fora dela ele está perdido.
A palavra-chave para entendermos a importância do batismo e o que ele significa para o que pretendo demonstrar aqui chama-se “sacramento”. Os sacramentos, de acordo com o Catecismo da Igreja Católica (cân. 1127): “Celebrados dignamente na fé, os sacramentos conferem a graça que significam”. No mesmo Catecismo, a respeito do significado dos sacramentos, o cânon 774 afirma:


A obra salvítica de sua [de Jesus Cristo] humanidade santa e santificante é o sacramento da salvação que se manifesta e age nos sacramentos da Igreja (que as Igrejas do Oriente dominam também “os santos mistérios”). Os sete sacramentos são os sinais e os instrumentos pelos quais o Espírito Santo difunde a graça de Cristo, que é a Cabeça da Igreja, que é seu corpo. A Igreja contém, portanto, e comunica a graça invisível que ela significa. É neste sentido analógico que ela é chamada de “sacramento”.

            Percebe-se, então, que os sacramentos conferem salvação. Desta forma, como sacramento de iniciação na fé (fé que um recém-nascido não possui porque ainda não tem consciência de pecado nem da necessidade de aceitar a Cristo para ser salvo), o batismo finca as raízes do fiel na igreja católica, onde será ensinado e fará a primeira comunhão e a crisma. Ele participará da vida da igreja e poderá desenvolver ministérios próprios para os leigos ou mesmo abraçar a vida sacerdotal. A maioria das pessoas, porém, cumpre os rituais exigidos e tornam-se católicos apenas nominais. Pergunte-se a maioria dos entrevistados nos censos do IBGE e dirão: sou católico. Pergunta-se quantas vezes vai à igreja: casamentos, batizados, missa de sétimo dia... Alguns vão todos os domingos e dias de festas.
            Então, o que é ser um bom católico? O que o fiel deve fazer para afirmar sua fé além de participar dos sacramentos da igreja? Atualmente, principalmente com o movimento carismático católico e a luta dos padres para frear o avanço do protestantismo, transformando seus cultos em cópias do movimento pentecostal evangélico, algo mais tem sido exigido do fiel católico, inclusive a leitura da Bíblia e a santificação. Mas a grande massa, aqueles que são católicos apenas verbalmente e que não abrem mão do cigarro, das bebidas e das festas mundanas (que inclusive estão mescladas às festividades de santos padroeiros das cidades), não atentam a essas novas exigências. Na verdade, a igreja católica já tem estabelecido regras que o seu fiel deve praticar para estar quite com a sua fé. São os “Mandamentos da Igreja”, descritos no Catecismo da Igreja Católica, cânon 2041 a 2043. São eles:

I – Participar da missa inteira nos domingos e outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho.
II – Confessar-se ao menos uma vez por ano.
III – Receber o sacramento da Eucaristia ao menos pela Páscoa da ressurreição.
IV – Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja.
V – Ajudar a Igreja em suas necessidades.

            São cinco mandamentos que, quando praticados, fazem com que o fiel “se sinta católico”. Não é necessário que ele esteja o tempo inteiro na igreja, nem que esteja constantemente confessando a Deus os seus pecados; também não é preciso participar constantemente da Eucaristia, se for somente na Páscoa já está ótimo. Agindo assim, o fiel estará mostrando ser um bom católico, porque obedeceu às regras, cumpriu os rituais exigidos, deu o seu dízimo, absteve-se de carne por alguns dias. Mas não foi só isso! Ele reverenciou seu santo padroeiro, devotou sua vida à Maria, acendeu muitas velas, encomendou muitas almas.
            É assim que a grande maioria dos católicos se relaciona com Deus, por meio dos sacramentos, dos dogmas, das liturgias, dos rituais, das festas, da devoção à Maria e aos santos, do terço, das novenas, do culto aos mortos e aos anjos, das velas, dos amuletos (escapulário, medalhas milagrosas, relíquias de santos mortos). Não existe um relacionamento pessoal e íntimo com Deus por meio de Cristo. Tudo o que foi relacionado acima é cumprido de maneira mecânica, sem consciência. As pessoas nascem num “país católico” e por isso são católicas. Participam dos sacramentos, mas nada disso produz relacionamento profundo com Deus, motivado pela fé consciente e sincera, pelo arrependimento genuíno, pelo desejo de adoração, pelo reconhecimento do senhorio de Cristo e da soberania de Deus.
            Existe um grande personagem da nossa História que sempre demonstrou ser um católico legítimo e praticante, fiel às tradições e observante dos rituais. Ele, coforme conta Reinaldo Azevedo (2012, p. 82)

...era um homem extremamente religioso. Era devoto de Santo Expedito e Santa Luzia, não obstante, pelo seu racismo, não apreciava São Benedito.
Com frequência, ajoelhava-se perante o oratório, nas novenas rezava como um bom católico. Tinha um rosário e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição do Juazeiro. A sua principal oração era o Ofício da Virgem da Conceição.
Os cangaceiros, todos juntos, rezavam em voz alta, de joelhos, principalmente na hora do ângelus, antes de se deitarem.
Às sextas feiras da paixão, passavam o dia com as armas descarregadas. Nesse dia, o chefe não falava absolutamente nada.

            O nome desse fiel católico? Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, o mais famigerado cangaceiro do sertão Pernambucano, responsável por espalhar terror e morte na sua época. Ou como diz a canção: “Bandoleiro das terras nordestinas”. Um católico praticante, mas sem escrúpulos; cumprindo com seus rituais, mas sem qualquer compromisso com Deus e com a sua Palavra.
Agora, através dos relatos históricos de Nigel Cawthorne (2002), observemos o currículo de um fiel, cujo nome era Rodrigo, que cometeu seu primeiro assassinato aos 12 anos de idade: orgulho, arrogância, crueldade, tirania. Ele era inflexível e implacável, vingativo e imprevisível. Notório por sua promiscuidade na juventude, tendo inúmeras amantes. Mesmo em idade avançada, jamais perdeu seu faro para as mulheres bonitas. Teve inúmeros filhos ilegítimos durante sua carreira. Seduziu uma viúva espanhola e conquistou também as suas duas filhas e era conhecido por sua voracidade sexual. Cometeu adultérios. Gostava de caçar e de jogar e possuía muitos bens preciosos e caríssimos, inclusive inúmeros cavalos e criados. Após um batizado, retirou-se para um jardim fechado, onde foi permitida a entrada apenas de cardeais, de seus criados e das senhoras, ficando maridos, pais, irmãos e outros parentes masculinos de fora.
Sob sua responsabilidade, Roma tornou-se um mercado público, onde todos os ofícios sacros estavam à venda. Sobre ele foi dito: “Estamos agora nas garras daquele que talvez seja o mais selvagem lobo que o mundo já viu”. Ele foi tido como “o mais voluptuoso tirano”. Além disso, diz-se que ele havia feito pacto com o diabo para chegar onde chegara. Sobre ele, Cawthorne (2002, p. 233) relatou: “Rodrigo adorava patrocinar entretenimentos nos quais se exibiam mulheres nuas e núbeis. Algumas vezes eles interrompiam a missa. Certa ocasião, ele trouxe mulheres às gargalhadas até o altar e a hóstia santificada foi pisoteada”. Ele também praticava a simonia, envenenando seus eleitos após a nomeação. Quem é esse Rodrigo? Ninguém menos que o papa Alexandre VI (1492-1503).
Então, basta apenas ser batizado, fazer parte de uma igreja, cumprir rituais e participar de liturgias? Basta nascer católico para ser católico? Cantores de músicas que fomentam a violência contra a mulher, fazem apologia ao alcoolismo, incentivam a prostituição, a promiscuidade e o adultério agradecem a Deus no início e no fim de cada show. Padres pedófilos são denunciados constantemente e encobertos pelo Vaticano. Freiras afogam bebês recém-nascidos em fontes e lagoas para não denunciar o seu pecado. Padres, tomados por desejos carnais, envolvem-se em romances escondidos com suas fiéis ou se tornam homossexuais. O sincretismo religioso permite ao católico frequentar terreiros de umbanda e mesas brancas, bem como participar de toda espécie de ritual “ecumênico”. O que é ser católico afinal de contas? O que é ser um “bom católico”?
É claro que se pode devolver a pergunta: O que é ser um “bom evangélico?”. Boa pergunta para o protestantismo materialista do neopentecostalismo, que se rende a cada dia mais à teologia da prosperidade, buscando satisfazer todos os desejos que a carne pode ter, deixando de lado o Evangelho de Graça de Deus. Pastores corruptos, lobos devoradores, crentes que não oram, não evangelizam, não praticam a misericórdia, não são socialmente responsáveis, não compartilham, não se aconselham. Apenas cantam: “Por todo lado sou abençoado!”. Mercenários, como o bispo Edir Macedo, que se professem crentes e vivem a encostar Deus contra a parede, exigindo seus direitos às riquezas dos cofres celestiais. Pessoas cujo deus é o ventre e cujo anseio está em conquistar riquezas materiais, esquecendo-se da única riqueza que realmente interessa: a vida eterna.
Então, o que é ser um “bom cristão”? Deixo a cargo de cada um a resposta a esta pergunta. Termino com a oração da paz, de São Francisco de Assis:

Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado; pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna.

Se você gostou deste texto, tem algo a acrescentar ou alguma crítica a fazer, envie email para: pregandoaverdadeirafe@gmail.com.


Mizael de Souza Xavier.
27 de dezembro de 2012.

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, Reinaldo. Cangaço tatuado no braço. Rio Grande do Norte: Sebo Vermelho, 2012.

CAWTHORNE, Nigel. A vida sexual dos papas: uma exposição irreverente dos bispos de Roma, de São Pedro até nossos dias. São Paulo: Ediouro, 2002.

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2003.

Compêndio do Vaticano II. Petrópolis: Vozes, 2000.



DICAS DE LEITURA SOBRE O CATOLICISMO ROMANO E OS PAPAS:


CORNWELL, John. O papa de Hitler: a história secreta de Pio XII. Rio de Janeiro: Imago, 2000.

_____________. A face oculta do pontificado de João Paulo II. Rio de Janeiro: Imago, 2005.

FRATTINI, Eric. O mundo secreto dos papas: de São Pedro a Bento XVI. São Paulo: Novo Século, 2005.

LACHATRE, Maurice. Os crimes dos papas: mistérios e iniquidades da corte de Roma. São Paulo: Madras, 2004.

NUZZI, Gianluigi. Sua Santidade: as cartas secretas de Bento XVI. Rio de Janeiro: Leya, 2012.

SCOTTI, R. A. Basílica de São Pedro: esplendor e escândalo na construção da catedral do Vaticano. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

STANFORD, Peter. A papisa: a busca da verdade sobre a história de Joana, a papisa. Rio de Janeiro: Gryphus, 2000.

URQUHART, Gordon. A armada do papa: os segredos e o poder das novas seitas da igreja católica. Rio de Janeiro: Record, 2002.

YALLOP, David. O poder e a glória: o lado negro do Vaticano de João Paulo II. São Paulo: Planeta, 2007.


DICAS DE LEITURA SOBRE O FALSO PROTESTANTISMO:


MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 2005.

NICODEMUS, Augustus. O que estão fazendo com a igreja: ascensão e queda do movimento evangélico brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão 2008.

PIERATT, Alan B. Evangelho da prosperidade: análise e resposta. São Paulo: Vida Nova, 1993.

ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a graça: esperanças e frustrações no Brasil neopentecostal. São Paulo: Mundo Cristão: 2005.

_____________. Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.


DICA DE LEITURA PARA AMBOS:


Bíblia Sagrada. Céu: Deus, eternamente.


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Versículo para meditar: Colossenses 3:16








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