Pensar em uma oratória eficaz significa, primeiramente, pensar nos seus objetivos. Muito mais do que transmitir informações, o objetivo de qualquer palestra ou pregação é transmitir algo significativo à plateia para influenciá-la a um tipo de pensamento e/ou comportamento. Quando estamos estudando e observamos nossos colegas apresentando trabalhos escolares, percebemos que eles levam para frente da classe o seu jeito de ser, sem mudar quase nada. Os gestos, a forma de falar e de caminhar, os trejeitos, a timidez, as brincadeiras, as gírias, tudo está presente. Em parte isso está correto, porque cada orador tem o seu estilo próprio. Porém, nem sempre o jeito natural de ser surtirá o mesmo efeito que o jeito estudado, treinado para causar impacto, para dar vida à mensagem. Existe um estilo próprio de ser como pessoa e um estilo próprio de ser como orador, sem abrir mão da naturalidade e do pessoalismo. Uma das coisas que podemos observar nos oradores profissionais, é que dificilmente falarão numa tribuna da mesma forma como falam numa roda de amigos, por exemplo. A postura, as expressões corporais e faciais, a tonalidade da voz são muito diferentes. Existem regras que se traduzem no sucesso de um bom palestrante. Chegar diante das pessoas para falar algo sem ter o que dizer ou sem saber como fazê-lo, demonstra amadorismo e despreparo. E a diferença entre o orador amador e o experiente está justamente no preparo do segundo.
Existem algumas regras gerais que servem para balizar a oratória. Não importa se numa classe para alunos do primário, na faculdade no último ano, na apresentação do projeto arquitetônico de um grande hotel para investidores, no palanque durante um discurso eleitoral, no púlpito durante o sermão. São regras que devem ser seguidas se queremos ser ouvidos e compreendidos. E se queremos que aquilo que vamos dizer cause impacto na vida das pessoas e as conduza a uma ação, o aprendizado é o caminho. Uma boa palestra pode ser algo que repercutirá durante longo tempo na vida dos ouvintes. Chris Anderson, presidente do TED, escreveu (2016, p. 11):
Feita de forma correta, uma palestra é capaz de galvanizar uma sala e transformar a visão de mundo de uma plateia. Feita de forma correta, uma palestra é mais eficaz que qualquer texto escrito. A escrita nos dá as palavras. A fala humana carrega consigo todo um novo conjunto de ferramentas. Quando olhamos nos olhos de um palestrante, sua inteligência e sua paixão, exploramos qualificações inconscientes que foram aprimoradas ao longo de centenas de milhares de anos. Qualificações que podem nos eletrizar, estimular, motivar.
Sim, Deus nos têm dado qualificações que podem ser desenvolvidas para alcançar a mente e o coração das pessoas, para levá-las a uma nova cosmovisão. Existe uma diferença entre transmitir informações e conhecimentos apenas para deixar claro o nosso ponto de vista e fazer isso com a intenção de influenciar os ouvintes. No primeiro, não estamos preocupados com o que as pessoas pensam ou se elas aceitarão ou não o nosso ponto de vista; o que importa e que estejam cientes da nossa versão dos fatos. Já o segundo, estamos seguro das nossas convicções e acreditamos nelas o suficiente para querer incuti-las na mente dos ouvintes, com a intenção de levá-los a um novo patamar de conhecimento e a um comportamento diferente.
A autora Isabel Furini (1999) nos apresenta cinco regras para a oratória, que resumem aquilo que iremos estudar:
Tenha em mente o público
Um bom orador não leva em conta apenas o seu ponto de vista, mas também o do público para o qual falará. Quando um palestrante assume a tribuna para dissertar sobre um assunto, deve levar em consideração a experiência de vida dos seus ouvintes, suas expectativas e seu conhecimento. Uma palestra pode não acrescentar nada de novo àquilo que todos já sabiam ou pode trazer novas informações ou novos pontos de vista sobre o tema abordado. O público precisa estar ciente de que a palestra somará algo à sua vida, que não estão ali para ouvir alguém “enchendo linguiça”. Portanto, valorizar o público e o seu conhecimento é importante para o sucesso do orador. Então, não fale para si mesmo o tempo todo, a não ser que seja necessário ou se o seu testemunho de vida ajudará a esclarecer ou reforçar algo. As pessoas querem se sentir importantes, querem saber que você as valoriza e se preocupa com elas. Se você não tiver em mente o público, talvez aborde o assunto errado ou o assunto certo de uma maneira que ninguém conseguirá entender; e se entenderem, não desejarão aceitar.
Ter em mente o público também significa aquilo que queremos passar para ele, que tipo de pensamento desejamos fomentar e que comportamentos queremos incentivar. Ninguém se aproxima de uma plateia para falar aquilo que todos já estão cansados de saber, mas leva novas informações, uma nova maneira de enxergar o mundo. A sua intenção é tocar na alma do espectador e transformá-lo em “espect-ator”, convencê-lo de que aquilo que ele ouve é importante de pede um posicionamento. De acordo com Anderson (2016, p. 24): “A obrigação número um de um palestrante é reconstruir na mente de seus ouvintes algo que lhe importa. Vamos chamar essa coisa de ideia. Uma criação mental que esses ouvintes podem reter, levar para casa, apreciar e, em certo sentido, permitir que ela os modifique” (grifos do autor). Isso acontece de forma profunda durante uma pregação bíblica, onde o público é impactado com a Palavra de Deus e convocado a uma mudança de posicionamento, conformando-se com aquilo que foi transmitido. É importante que o orador carregue essa vontade de transformar a visão de mundo dos seus ouvintes, transmitindo-lhes ideias úteis que não se percam no vazio.
Fale com fundamentos
Como bem sabemos, ninguém conseguirá jamais abranger todo o conhecimento sobre todas as coisas. Mas quando você se dispõe a falar sobre um assunto, presume-se que tenha o mínio de conhecimento dele. Antes de dar uma palestra, o orador precisa estar ciente de que domina o tema, mesmo que ainda fiquem algumas perguntas a serem respondidas. Ele precisa estar seguro de que gosta do assunto e que se sente à vontade em compartilhar com as pessoas o conhecimento que possui. O bom orador fala daquilo que conhece e não fica enrolando as pessoas com “achismos”. O que ele sabe precisa estar bem fundamentado. Mais adiante abordaremos o tema “perguntas”. Recordo-me que um dos maiores receios dos estudantes em apresentar um trabalho para toda a classe é que no final alguém faça perguntas. Já foi tão difícil decorar todo o assunto, já foi sofrível falar de todos aqueles temas e no fim alguém ainda tem a audácia de fazer uma pergunta! E se eu não souber responder? Ficarei parecendo um idiota. Isto não é verdade quando se tem segurança do tema e a humildade para responder: “Infelizmente não pude abordar o tema de maneira total, mas só alguns pontos. Mas prometo estudar ainda mais e trazer a resposta assim que possível”. Este é o orador profissional em ação.
Organize o discurso
Organizar o discurso significa, também, organizar a sua vida. Não basta o conhecimento em si, mas a forma de repassá-lo é muito importante. Muitas pessoas, inclusive professores, sabem bastante sobre um assunto, mas não possuem nenhuma didática, nenhuma técnica para repassá-lo aos outros. Por conhecerem muito, são chamadas para falar, mas desconhecem as formas de organizar as suas ideias, de expressar-se, de repassar o tema, de lidar com o público, de modo que aquilo que falam não sai tão bem como deveria. Basta recordarmos os professores que dão aulas maçantes em que damos boas cochiladas, e aqueles que prendem a nossa atenção e nos deixam sem perceber que a hora passou. Para evitar que o erro aconteça, o planejamento e o treinamento são essenciais. Essa é uma parte importante do nosso estudo e será vista com detalhes mais adiante.
Seja você mesmo
A personalidade do orador é algo que conta bastante na hora do discurso. Por mais doutor que alguém seja num assunto, se for repassá-lo com ar de superioridade, olhando a plateia com indiferença ou mesmo com desprezo por sua “ignorância”, boa parte daquilo que ele falar se perderá. É necessário, também, enfrentar o medo do público que faz com que muitos oradores usem máscaras, tentando se passar por quem não são, perdendo sua naturalidade. Embora possamos nos espelhar em bons exemplos de oradores, em sua técnica e forma de se expressar, não podemos ser artificiais ou quem não somos. Cada pessoa tem seu estilo próprio, sua voz, seu tempo, seu jeito de caminhar e de se expressar em público. Explore isso, conheça cada detalhe seu e aperfeiçoe-se. Ao contrário dos atores que assumem a vida de outra pessoa ao subir ao palco, o orador tem de ser ele mesmo, mas de uma forma melhorada. Entenda-me: não “ele mesmo” tímido, retraído, com uma voz impossível de se escutar, que não domina a língua portuguesa ou que porta-se desleixadamente. Mas um “eu mesmo” com apropriação das técnicas corretas de oratória. Assista a algumas palestras com diferentes oradores, ligue a TV e assista o discurso de várias pessoas e verá como cada um tem o seu jeito de ser, o seu estilo próprio, mas que alguns elementos importantes da arte de falar em público ficam bastante visíveis.
Ser você mesmo pode incluir ser diferente de todas as outras pessoas. Não siga a onda. Principalmente na área do vestuário e da música, as pessoas estão acostumadas a mudar de roupa e de ritmo ao sabor da moda ou da novela. O que elas são hoje, amanhã estará obsoleto. Alguns perdem a sua personalidade para assumir a identidade do seu cantor ou ator preferidos. Ser você mesmo é agir de maneira diferente, mas sem perder a sua identidade. Como orador, você não pode cometer o erro de tentar igualar seu discurso ou a sua forma de falar aos demais, isso fará de você uma pessoa fria e monótona, que ninguém gostará de escutar. Diga sempre algo diferente e de uma forma diferente, que surpreenda os seus ouvintes, com crença e entusiasmo. As pessoas estão cansadas de ouvir sempre as mesmas palavras, os mesmos velhos discursos. Nas palavras de Witt e Fetherling (2011, p. 51): “Seja você mesmo, e se isso não fizer de você alguém diferente, então algo está seriamente comprometido”.
Tenha autodomínio
O orador precisa convencer a plateia logo de início, tendo segurança não somente do assunto, como também da melhor forma de abordá-lo. No início da palestra, algumas pessoas ainda possuem ideias preconcebidas sobre o tema e possivelmente sobre o próprio palestrante. Costumamos julgar as aparências, e o tipo físico das pessoas às vezes nos determina o seu desempenho e os resultados que obterá. Então, é necessário que o orador assuma uma postura positiva e confiante, independente da sua aparência, mostrando com seus gestos e suas ideias para que veio. Sem hesitações, mesmo diante de semblantes desinteressados, ele precisa levar até o fim sua linha de raciocínio, não se permitindo perder-se entre uma fala e outra. Não é somente o orador que influencia a plateia, mas esta também exerce grande influência sobre ele. Se ele se deixar levar pelos aspectos negativos visíveis do seu público, permitirá que não somente o medo tome conta de si, como também começará a duvidar de si próprio. Podemos usar a apatia da plateia como motivação para um desempenho ainda melhor, despertando o interesse e inspirando novas visões de mundo.
Assuma uma posição
Existe um fator determinante para o baixo desempenho do orador e resultados medíocres: a inconsistência. Ao se colocar diante do público para transmitir conhecimentos com o intuito de influenciá-lo, você deve estar bastante certo quanto aquilo em que acredita, suas convicções, sua fé. Oradores inconsistentes falam palavras ao vento, não acrescentam nada à vida das pessoas e não conseguem deixar clara a sua posição diante de um tema. Ao assumir uma posição, permaneça firme nela, não demonstre medo de expressá-la nem dúvidas quanto aquilo em que acredita. Isto reflete na sua reputação como orador e como líder. Um líder deve ser fiel aos seus princípios, ele não deve jamais negociar os seus valores. Isto não significa que você seja intransigente e inflexível ao ponto de não aceitar o novo quando este vem repleto de verdade e coerência. É preciso ser firme, mas mantendo a humildade para, quando necessário, admitir: eu estava errado. Admitir o erro não significa fraqueza ou que seus princípios foram colocados de lado para assumir outros, mas que você analisou todas as informações e chegou à conclusão de que necessitava reavaliar algo. É como admitir que a Terra gira em torno do sol após séculos afirmando o contrário.
De acordo com Witt e Fetjerling (op. cit., p. 36 a 39), o orador/líder deve se posicionar das seguintes formas: 1) ao lado das pessoas para ajudá-las, influenciá-las e servir-lhes de inspiração; 2) em relação a diversos temas, como segurança, prosperidade, justiça, mantendo um compromisso pessoal com o resultado da sua causa; 3) contra tudo aquilo que não conseguem tolerar, como o aborto e a pena de morte, por exemplo. O orador que deseja ser um líder – ou o líder que deseja ser um bom orador –, leva em conta o que as pessoas pensam, mas não discursa apenas para satisfazer-lhes o interesse, com o intuito de receber aplausos. Eles respeitam as opiniões alheias, por mais divergentes que sejam das suas, mas mantêm firme o propósito de defender a sua posição inequívoca e resoluta. Se você abrir mão disso, não terá nada, não será ninguém. Alguns políticos, quando lhes é conveniente, aliam-se a políticos que antes confrontavam, outrora seus adversários, e vice-versa. A sua inconsistência demonstra que eles não são líderes verdadeiros, mas folhas soltas, sacudidas pelo vento e levadas a toda sorte de lugares.
ATENÇÃO: Este texto é parte de um capítulo do livro “O poder da oratória: a arte de se expressar, convencer e liderar”, de Mizael de Souza Xavier, à venda na Amazon. Para adquirir, basta clicar aqui: O PODER DA ORATÓRIA
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