sábado, 13 de março de 2021

RESILIÊNCIA E O PODER DE DEUS


 
RESILIÊNCIA
Filipenses 4:10-14
Autor: Mizael Xavier
 
 
O QUE É A RESILIÊNCIA?
 
Física: a resiliência é um termo ligado à física. O Dicionário Aurélio a descreve como “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica”.
 
Seres humanos: capacidade que algumas pessoas possuem de literalmente “dar a voltar por cima”, adaptando-se de forma criativa às adversidades, desenvolvendo-se em meio às lutas e tragédias da vida. A pessoa resiliente protege a sua emoção e transforma em uma força vital e propulsora aquilo que deveria destruí-la. Isso nos lembra aquela velha máxima do filósofo Friedrich Nietzsche: “Aquilo que não nos mata nos torna mais fortes”.
 
Diferença: os objetos sofrem a ação de forma passiva, mas nós, seres humanos, sofremos a ação de forma ativa, pois não somente interagimos como o meio, como também somos capazes de transformá-lo. Os objetos nada podem fazer para melhorar a si próprios a cada ação externa, mas nós, sim. Diferente dos materiais, somos seres inteligentes, possuímos a capacidade de nos renovar e nos fortalecer todos os dias. É aí que está a riqueza da resiliência humana: ao invés de nos enfraquecer e desgastar com o tempo, os problemas nos fortalecem. Quanto maior a pressão exercida sobre nós, mais a nossa capacidade de resistir e de utilizá-la ao nosso favor aumenta.
 
Limites: até onde podemos ser esticados sem que nos rompamos? Cada pessoa tem o seu próprio limite, que é até onde podemos suportar a pressão que a vida exerce sobre nós. Alguns estouram mais cedo que outros. Na resiliência, utiliza-se essa pressão para expandir os limites.
 
Pergunta: temos nos deixado apenas influenciar e moldar pelo meio, pelas circunstâncias (reatividade) ou temos agido de maneira assertiva, resiliente, fazendo escolhas e tomando decisões que servirão para o nosso crescimento pessoal (proatividade)?
 
 
A ORIGEM DA NOSSA RESILIÊNCIA
 
Todos nós temos capacidade para enfrentar e vencer as adversidades. Ser resiliente não está ligado à raça nem poder aquisitivo, mas ao nosso comportamento diante dos reveses da vida. É nós momentos de tensão que o ser resiliente se revela. Existem basicamente quatro fontes de origem da resiliência:
 
Inato: algumas pessoas parecem nascer com uma capacidade fora do comum para enfrentar e vencer as crises. Tal capacidade pode ser geneticamente herdada dos seus progenitores. Todavia, tanto os problemas quanto as maneiras de enfrentá-los são bastante individuais.
 
Experiência de vida: Poletti e Dobbs afirmam que é sobretudo na primeira infância que se formam os recursos que vão permitir a resiliência (op. cit., p. 43). Isto significa que a nossa personalidade é moldada desde cedo e nos prepara e capacita para enfrentarmos a vida. Desde cedo a criança é exposta a diversas experiências que pedirão dela uma atitude, o que aos poucos vai determinando o seu comportamento.
 
Ambiente: pessoas criadas em ambientes saudáveis, com a presença do amor e do respeito, têm maiores chances de se tornarem resilientes. Além da experiência de vida, a influência do ambiente concorre para um pensar resiliente (educação familiar e escolar, cultura, situação social e financeira, religião, etc.). A resposta é individual.
 
Regeneração: A conversão em si já se caracteriza como um ato resiliente de Deus na vida do perdido. Ele pega aquele ser caído e pecaminoso e lhe dá uma nova vida. De degenerado ele passa a regenerado. Como templo do Espírito Santo, o crente possui um poder sobrenatural de resiliência, o poder que vem do Alto, a capacidade dada por Deus para enfrentar com fé e esperança as provações, superando as suas crises, crescendo e se tornando mais forte. Após a conversão, temos essa capacidade sobrenatural de desenvolver a resiliência, mas isso também não deixa de ser um processo, uma vivência diária na dependência de Deus, na obediência à sua Palavra e na comunhão com os irmãos na fé.
 
 
COMO SER RESILIENTE
 
Aprendemos e nos fortalecemos conforme vamos enfrentando as nossas crises e vencemos as barreiras impostas pelas adversidades. Não existe um botão que liga a resiliência e a faz funcionar. Ela vai acontecendo aos poucos. Pode ser que hoje nos sintamos em uma determinada área da nossa vida, mas outras ainda vão requerer cuidados. A resiliência funciona a partir de determinadas atitudes que nos colocam no caminho da superação. Vejamos um esquema de como nasce a resiliência e como ela se desenvolve conforme avançamos na solução dos nossos problemas.
 
Tomada de consciência. O processo de superação tem início quando tomamos consciência da situação que estamos vivenciando. A negação do sofrimento é um dos obstáculos que estudaremos no segundo capítulo. Muitos não reconhecem seus traumas e complexos, seus medos, suas crises pessoais e conjugais e seus pecados. Sem essa consciência, a resiliência não acontece, mas acabamos vivendo no autoengano.
 
Avaliação estratégica do problema numa busca pela melhor solução. Precisamos nos acercar da nossa própria realidade, indo à fundo na ferida e encontrar as suas raízes, ao invés de nos preocuparmos apenas com os sintomas. O conhecimento de todos os fatores que alimentam a crise torna as nossas ações eficazes. Essa avaliação envolve a forma como percebemos a situação, o valor que lhe atribuímos e a visão de nós mesmos como possível causa e como fator determinante de superação.
 
Aprender a escutar o ambiente e as pessoas. Isso nos ajuda a analisar melhor e entender a situação. O ambiente pode nos fornecer informações importantes sobre os problemas e apontar soluções. O que está faltando ou sobrando? Ao escutar as pessoas, temos o mesmo efeito. Nelas podem estar os problemas e as soluções. Quanto mais atentos estivermos, mais agirmos de maneira resiliente. Carmello (op. cit., p. 75) nos chama a administrar as exigências externas (ameaças e desafios reais) ou internas (ameaças e desafios ilusórios), para controlar e dominar a situação antes que sejamos dominados por ela.
 
Comprometimento com as ações e mudanças necessárias. Quando identificamos a raiz dos problemas que nos afligem, investimos nas ações necessárias para solucioná-los. É preciso haver planejamento das nossas ações para não agirmos desordenadamente. Feito isso, surge a necessidade de compromisso integral com a superação. É preciso se envolver, investindo o tempo e os esforços necessários. Precisamos controlar o ambiente de maneira proativa.
 
Alocação de talentos e recursos. Devemos utilizar nossas capacidades e recursos nos momentos de crise da forma mais proveitosa e construtiva possível. Deus nos tem dado recursos que são naturais, como inteligência e talentos. Quanto mais recursos tivermos em mãos, mais rápido nos adaptaremos e poderemos superar. As nossas habilidades cognitivas, emocionais e comportamentais nos colocam no caminho para modificar a nossa realidade.
 
Criação de uma rede afetiva de ajuda. Somos seres interdependentes, principalmente pelo fato de sermos membros da Igreja de Cristo. Estamos todos ligados e dependemos uns dos outros. Dessa forma, uma resiliência verdadeira só pode se dar por meio da ajuda mútua. Precisamos nos cercar de pessoas que somem à nossa vida e ao mesmo tempo procurar nos afastar daquelas que só nos fazem mal.
 
Continuidade. Em todas essas coisas estaremos no processo da superação, praticando as ações necessárias para que ela aconteça. Ou seja: a resiliência não se dá quando superamos uma crise, mas ela é o próprio processo de superação. Após alcançada a vitória almejada, é preciso dar-lhe continuidade. Isso em dois sentidos: primeiro, mantendo aquilo que foi conquistado sem permitir que a mesma crise se instaure novamente. Não devemos sofrer sempre pelas mesmas coisas. Outros motivos para sofrermos poderão vir, mas estaremos fortalecidos. Segundo: dando continuidade à resiliência, levando esse processo às demais áreas da nossa vida e futuros problemas. Não podemos baixar a guarda. Ninguém é completamente resiliente em todos os aspectos da vida, mas pode ser plenamente consciente da necessidade constante de ser resiliente.
 
Multiplicação. O ápice da resiliência não é quando superamos uma crise, mas quando nos dispomos a ajudar a outros a enfrentarem as suas próprias crises através da nossa própria experiência. Essa verdade está descrita em 2 Coríntios 1:3-5: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação; que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus. Porque, como as aflições de Cristo abundam em nós, assim também a nossa consolação abunda por meio de Cristo." Somos consolados para consolar.
 
 
RESILIÊNCIA E O PODER DE DEUS
 
A capacidade que temos para vencer está muito além das nossas próprias forças, mas vem de Deus. Este é o grande diferencial da resiliência cristã: contar com um poder sobrenatural e infinito para vencer e para crescer. Paulo expressou isso belamente quando disse "quando sou fraco é que sou forte" (Rm 12:10); e quando declarou a respeito das suas adversidades: "Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Fp 4:13).
 
Processo de lapidação. A provação existe com propósito e significado. Muitas vezes passamos por ela murmurando, mas esquecemos que Deus está nos lapidando, provando a nossa fé, nos dando crescimento e amadurecimento. Quando entendemos isto, a provação se torna uma lição para o amanhã (Tiago 1:2,3). Como poderemos experimentar da graça de Deus sem passar pelo deserto? Como poderemos crescer espiritualmente se esperamos que nossa vida seja isenta do fogo que nos purifica? Como nos tornarmos pedras preciosas para o Senhor e não aceitamos a sua lapidação?
 
Confirmar a nossa fé. É no momento da angústia e do sofrimento que a nossa fé é provada. É muito fácil crer em Deus quando tudo vai bem, quando não há tempestade no mar da nossa vida. Nestes momentos acabamos até esquecendo que Ele existe.  Mas é nas trevas que deve brilhar a nossa luz, é na cova dos leões que saberemos se confiamos ou não na presença de Deus conosco; é dentro da fornalha que arde em fogo que mostraremos nossa confiança no livramento do Senhor; é no deserto escaldante de nossa existência que poderemos dizer: Até aqui nos ajudou o Senhor (1 Samuel 7:12). Somente passando pela prova é que poderemos ser aprovados, ou não (Tiago 1:12; 1 Pedro 1:7).
 
Fortalecer-nos no seu poder. Quando passamos por provações nos sentimos fragilizados, mesmo pondo nossa confiança plenamente no Senhor. Isto acontece porque somos humanos falhos, repleto de defeitos, e Deus compreende isto. Mas devemos orar e vigiar (Mateus 24:42; 26:41; Marcos 13:37; 14:38; Lucas 21:36; Efésios 6:18; Colossenses 4:2; 1 Tessalonicenses 5:6; Apocalipse 16:15), pois o inimigo se aproveita de nossas fraquezas para trabalhar em cima delas e nos fazer esmorecer. Todavia, se realmente estamos alicerçados na rocha, que é Cristo, e debaixo da graça de Deus, o seu poder será aperfeiçoado em nós nestes momentos de fraqueza (2 Coríntios 12:9). Quando somos fracos, é que somos fortes, porque não confiamos nas nossas próprias forças, mas no poder que vem do Senhor. Se nos fazemos de fortes por nossa própria capacidade, o poder de Deus deixa de operar em nós. Devemos estar fortalecidos em Deus a na força do seu poder (Efésios 6:10; Colossenses 1:11; Filipenses 4:13; Salmo 10:17).
 
Despertando da letargia espiritual. Deus pode estar usando a provação para nos acordar de nossa letargia espiritual, nos sacudir, nos colocar de volta no caminho correto. Ele pode estar fazendo isso não só com uma pessoa dentro da igreja, mas com toda a igreja, para guiá-la a um avivamento espiritual, à volta ao primeiro amor (Apocalipse 2:4,5). Quando perdemos o foco do nosso chamado, a essência da nossa missão, que é a de ser testemunhas do Evangelho de Cristo, o objetivo de Deus com a provação é renovar nosso espírito missionário, nos revestir de poder, trazendo arrependimento, nos convencendo de que devemos buscá-lo acima de tudo.
 
 
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