O MOVIMENTO DE
BATALHA ESPIRITUAL
“Porque o que semeia
para sua própria carne,
da carne colherá
corrupção; mas o que semeia
para o Espírito, do
Espírito colherá vida eterna.”
(Gálatas 6:8)
Eu fui convertido a Jesus no ano de
1994. Até este ano – 2018 – jamais havia pensado em estudar o tema “batalha
espiritual”, por julgá-lo desnecessário e parte de uma teologia equivocada
ensinada nas igrejas pentecostais e nas seitas neopentecostais, como sempre
tive a oportunidade de ler em artigos ou assistir em vídeos espalhados pelas
mídias. O contato com o lado negativo e herético deste tema sempre me trouxe
repulsa. Estudando-o agora, porém, além de perceber o seu lado verdadeiro e
bíblico (uma luta em defesa da verdade contra as mentiras de Satanás), percebi
a importância de abordar as mentiras ensinadas pelo Movimento de Batalha
Espiritual e de cura e libertação para auxiliar aqueles que estão presos a
estas mentiras na busca pela verdade, refutando seus falsos ensinos e mostrando
a versão correta da verdadeira batalha.
A
simples crença em espíritos territoriais, quebra de maldição, objetos
amaldiçoados, mapeamento espiritual e maldição hereditária já demonstra que o
inimigo tem ganhado terreno por meio de heresias que distorcem a Palavra de
Deus e impedem que os crentes lutem a verdadeira batalha. Portanto, tais
crenças não passam de estratégias do pai da mentira para encobrir a verdade,
lançando muitos indivíduos no campo de batalha errado e com as armas erradas.
Estará, então, o inimigo lutando contra si mesmo quando os crentes fazem uso dessas
armas da mentira para derrotá-lo? Veremos aqui que as sutilezas do diabo podem
enganar os incautos com supostas vitórias que já são em si uma terrível derrota
para quem acredita nelas.
Todos os pontos que abordaremos
neste capítulo obedecem à seguinte premissa imposta por esses movimentos: todo
mal é demoníaco. Ou seja: tudo que existe de ruim na vida humana é culpa de um
demônio, desde os males circunstanciais (como a doença, o desemprego, os
acidentes, os problemas diversos, etc.), até os males morais; isto é: existe
uma atuação demoníaca para cada pecado praticado pelo homem (adultério,
mentira, fornicação, uso de drogas, assassinato, estupro, etc.). Sendo assim, a
libertação de todos esses males só é possível quando se luta contra os demônios
que os estão causando, um ministério que os adeptos do Movimento de Batalha
Espiritual chamam de ekbalístico, que
significa “lançar fora” ou “expelir”. Qualquer problema que aflige o crente ou
o descrente pode ser resolvido repreendendo-se, amarrando-se e controlando-se
os demônios, proibindo-os de agirem. Se alguém está sofrendo com a dependência
do álcool, por exemplo, é aconselhado a repreender o espírito do alcoolismo ou
a participar de uma sessão de exorcismo em que esse espírito será expulso de sua
vida para lhe trazer alívio. É claro que o indivíduo continuará se embriagando,
pois o que causa o seu vício não está fora, mas dentro dele: o seu desejo pelo
álcool.
Certa
pastora de uma igreja pentecostal verdadeiramente acredita que é impossível que
uma mulher possa se entregar à prostituição por livre consciência ou que uma
questão social, como a Cracolândia em São Paulo, não possa acontecer pela
iniciativa do ser humano. Essas situações só são possíveis porque essas pessoas
estão sendo dirigidas por demônios, seja através de uma possessão direta ou de
uma influência externa constante. Isto significa que aquelas pessoas jamais
poderiam escolher viver daquele modo tão deplorável, porque algo tão terrível
só pode vir do diabo, excluindo, assim, a responsabilidade individual e negando
o fato de que todos somos pecadores e desejamos constantemente o mal.
Entretanto, quando lemos a Bíblia, não vemos que Jesus veio chamar pecadores a
libertarem-se dos demônios que os levam a pecar, mas ao arrependimento dos seus
pecados e à conversão (Lc 5:32; Mt 3:2). O mesmo pregavam os apóstolos:
“Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”
(At 3:19).
Principais ensinos do movimento
O
que entendemos com relação ao que está revelado na Bíblia não tem importância
alguma se não provém da sua fiel interpretação. Isto significa que para tudo
aquilo que falarmos a respeito de Deus, é necessário embasamento bíblico.
Quando não existe este embasamento, alguns estudiosos recorrem a fontes externas,
como o Magistério da Igreja e a Tradição no catolicismo romano. No mundo
evangélico, algumas doutrinas e práticas que não estão na Bíblia são acolhidas
em nome da liberdade do Espírito e da desculpa de que Deus não muda e continua
falando ainda hoje. Se falamos sobre batalha espiritual, tudo o que dissermos
precisa vir acompanhado de uma doutrina bíblica sólida. Precisamos demonstrar o
que cremos de acordo com as Sagradas Escrituras. Caso não seja possível fazer
isso, é preciso rever nossas crenças.
O Movimento de Batalha Espiritual
não tem a sua origem na Bíblia, mas em uma necessidade particular de conquista
do território inimigo e de inchamento das igrejas. A sua base teológica é
formada por ensinos distorcidos de textos das Escrituras, revelações diretas de
Deus e experiências práticas vivenciadas e/ou observadas. Embora não de possa
determinar ao certo o início desse movimento, presume-se a sua origem, de
acordo com Augustus Nicodemus, em um missionário americano chamado J. O.
Fraser, que na década de 1930 foi missionário na China, pela “Missão para o
Interior da China”, fundada por Hudson Taylor. Em seu trabalho numa tribo no
interior da China, ele viu seu ministério frustrado pelo ocultismo presente na
vida daquele povo, com suas práticas de feitiçaria e magia negra. As suas
tentativas fracassadas de libertar os convertidos dessas práticas, levaram-no a
um enfrentamento direto do diabo, buscando libertar aquelas pessoas da
influência dos espíritos demoníacos. Ele desenvolveu técnicas e estratégias para
anular, eliminar ou impedir a atuação dos demônios nos convertidos, invadindo
os territórios dos demônios para amarrá-los.
No início da década de 1930 os seus
trabalhos foram publicados por sua irmã e logo se tornaram notórios, sendo as
suas ideias popularizadas por Frank Perreti, autor do livro “Este Mundo
Tenebroso”, um Best Seller publicado nos Estados Unidos e traduzido em diversas
línguas ocidentais. Influenciado por Perreti, surge Peter Wagner, considerado o
maior divulgador do Movimento de Batalha Espiritual, sendo responsável pela
difusão do movimento de “Crescimento de Igreja”, associando a isso a ideia de
crescer por meio de sinais e prodígios. Para ele, a época atual urgia um
crescimento por meio de sinais e prodígios, sem os quais a Igreja não poderia
crescer, pois na era moderna ninguém valoriza o conceito de certo ou errado.
Esta visão está compatível com o pensamento cristão moderno, que não suporta
mais a verdade e o discurso do “arrependei-vos e convertei-vos”. As igrejas que
mais crescem no Brasil e no mundo são aquelas ligadas aos movimentos de cura e
libertação, onde os sinais maravilhosos e os milagres tomam cada vez mais o
espaço da pregação bíblica, da mensagem da cruz. As adesões em massa a esses
movimentos não refletem numa real conversão a Jesus Cristo. As igrejas crescem
cheias de pessoas totalmente vazias.
O Movimento de Batalha Espiritual encontrou no
Brasil um solo fértil para a sua proliferação, sendo a doutora Neusa Itioka,
autora do livro “Deuses da Umbanda”, a mais conhecida. Em seu livro, ela coloca
nomes nos demônios que supostamente controlam o Brasil. Todavia, a Bíblia não
chama nenhum demônio pelo nome. O próprio termo “satanás” não é um nome
próprio, mas um adjetivo para referir-se a uma das características desse anjo caído:
adversário; ou diabo (gr. diabolos),
que é enganador. O fato é que a doutora Itioka colheu estes nomes de
testemunhos de pessoas endemoninhadas em tratamento no seu gabinete, bem como
de fontes das religiões umbandistas. Isto significa que ela baseou a sua
doutrina sobre batalha espiritual na palavra de demônios e em fontes extra-bíblicas,
o que retira totalmente a sua autoridade. Conforme dito anteriormente, tudo o
que dissermos a respeito de Deus precisa estar fundamentado nas Sagradas
Escrituras. Quaisquer outras fontes são questionáveis, mesmo que vindas da boca
de um anjo (Gl 1:8). Satanás e seus demônios são anjos.
Igrejas
como a Universal do Reino de Deus e a Mundial do poder de Deus investem pesado
nessas práticas e as superdimensionam, criando novas formas de combater o
inimigo e encher os seus templos. Vejamos alguns ensinos desse movimento que
fazem parte da prática de muitas igrejas, principalmente as pentecostais e as seitas
neopentecostais. É possível identificar na fé da maioria dos crentes ao menos
um elemento desses que vamos estudar agora.
Espíritos territoriais
De acordo com a Bíblia, o mundo jaz
no maligno. Embora Deus seja Soberano sobre tudo e sobre todos, incluindo os
espaços geográficos e toda a natureza, o mundo está espiritualmente morto e a
mercê de Satanás, fazendo o que é da sua vontade maligna. Quando falamos em
mundo, estamos nos referindo a um sistema pecaminoso gerador de morte, que não
produz o bem, só o mal. Embora os demônios não habitem em coisas inanimadas, é
nelas que o ser humano caído vive, podendo contaminá-las com a sua presença e
com o uso errado que faz delas. O objeto em si não possui nenhum valor que não
seja aquela que damos a ele. Uma faca de cozinha, por exemplo, pode ser usada
para partirmos um pão para servir na ceia do Senhor, apertarmos um parafuso,
cortarmos metade de um sabonete ou cometermos um assassinato. Um quarto pode
ser usado para estudarmos, dormirmos, guardarmos coisas velhas, hospedarmos um
missionário ou cometermos adultério. Até mesmo a boca pode ser empregada para
fins nobres – como ensinar, aconselhar, abençoar, pregar o Evangelho – ou com
finalidades malignas: mentir, fazer fofocas, amaldiçoar alguém, dizer
palavrões. Nós precisamos da influência do Espírito Santo para realizar todas
as coisas boas listadas acima, mas não precisamos de uma influência diabólica
para fazer as más.
O
Movimento de Batalha Espiritual caminha na contramão dessas verdades, ensinando
que existem espíritos específicos para cada espaço territorial, o que pode
abranger objetos, casas, ruas, bairros inteiros e até mesmo cidades e países.
Eles são responsáveis pelas pessoas que moram ali. De
acordo com o site revelacao-na-palavra.webnode.com.br:
Espíritos
territoriais são demônios colocados em lugares específicos. Eles argumentam e
resistem para ocupar determinados espaços geográficos, tendo como
responsabilidade amaldiçoar tais localidades. Muitas residências têm sido
atormentadas por demônios, mesmo sendo seus moradores pessoas sem aparente
envolvimento com os mesmos. Isso acontece porque tais espíritos foram invocados
por antigos moradores ou frequentadores do local, e hoje exigem o direito de
permanecerem no mesmo.
Tal
explicação nos lembra o roteiro da maioria dos filmes de terror que vemos no
cinema e na TV. Em se tratando de cidades ou aldeias, esses espíritos podem
cegar as pessoas que ali residem para impedir que a Igreja do Senhor penetre
para lhes pregar o Evangelho que poderia libertá-las. Entretanto, esta cegueira
espiritual não é novidade, pois a própria Bíblia ensina que “o deus deste
século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz
do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4:4). Embora
o mundo esteja cego por Satanás, esta cegueira foi originada na Queda do homem.
Mesmo sem uma presença diabólica em determinados ambientes, os incrédulos
permanecem cegos e alheios a Deus. Os defensores desta heresia afirmam, ainda,
que existe o “trono de Satanás”, como um quartel general de onde ele comanda os
demônios que oprimem uma determinada região. Para iniciar uma campanha de
evangelização nestes locais, é necessário, antes de tudo, que a igreja
neutralizasse os espíritos territoriais que neles vivem.
Esses
territórios ocupados pelos demônios causam grandes danos espirituais, físicos,
emocionais e sociais às pessoas que ali vivem ou que por ali passam, podendo
promover toda sorte de males, incluindo vícios, assassinatos, estupros e
“amarração financeira”. Os principais textos bíblicos utilizados para confirmar
esta teoria são: Daniel 10; João 12:31; 14:30; 16:11; Marcos
5:10, Efésios 6:12, Apocalipse 2:13; e Levítico 14:35,36. Esses espíritos podem
ser atraídos e presos em determinados territórios por: idolatria, feitiçaria,
trabalho de macumba, inveja, simpatias, pecados, invocações e rituais, objetos
amaldiçoados ou enterrados, entre outros. Esses objetos amaldiçoam não somente
a família ímpia que mora nesses locais, mas também as cristãs. Cabe ao
intercessor ou exorcista avaliar o ambiente em questão e determinar que tipo de
espírito está atuando ali, para somente depois expulsá-lo, libertando o
ambiente da presença demoníaca que ali habita por causa de algum trabalho feito
anteriormente. Aconselha-se ao crente tomar muito cuidado com as pessoas que
entram na sua casa e com os objetos que elas trazem, incluindo presentes e
alimentos. Se não for tomado o devido cuidado, poderemos estar trazendo
maldição para dentro do nosso lar, que só poderá ser quebrada quando o objeto
amaldiçoado for identificado e o espírito que está nele for expulso.
Existem alguns sinais característicos que nos
ajudam, segundo o referido site, a identificar a presença desses demônios para
que o lugar possa ser purificado: mudanças de comportamento após a mudança para
tal endereço, opressão e medo de escuro, sensação de estar sendo observado, barulhos
e janelas que batem sozinhas, objetos desaparecerem e aparecerem novamente (o
que ocasiona stress e brigas), brigas constantes no relacionamento; insônias,
sensação de enforcamento enquanto dorme (ou sufoco), ódio repentino. Embora não
esteja excluída a possibilidade da opressão demoníaca (como veremos no capítulo
que trata sobre possessão e exorcismo), muitos desses fatores podem ser
desenvolvidos por causa de problemas patológicos, como transtornos de
personalidade, estresse causado pelas atividades diárias, descontentamento com
a nova moradia, falta de adaptação, entre tantos outros. Pessoalmente, já fui
acometido de terríveis pesadelos em que senti a presença de um ser maligno me
tragando para ser atormentado no meu próprio sonho. A primeira vez foi na minha
infância, na casa onde morava com meus pais; a segunda vez foi durante um
cochilo quando tirava serviço de guarda no exército. Haveria nesses locais
espíritos demoníacos? Quando acordei, o pesadelo cessou e a vida transcorreu
normalmente.
O site consultado ensina que devemos procurar
objetos dentro da casa para removê-los imediatamente. Por exemplo: objetos de
conteúdo pornográfico, objetos ocultistas, presentes supostamente oferecidos
aos demônios (como saber?), cinzeiros, garrafas de bebida alcoólica. Ao quebrar
esses objetos, estaremos anulando a influência maligna. Além disso, evitar
filmes de terror e novelas pornográficas nos auxiliam nesta batalha! Todavia,
como vimos logo no início, o objeto em si não representa mal algum, mas pode se
transformar em um mal de acordo com o uso que fazemos dele. Se formos nos mudar
para alguma casa onde alguns dos objetos listados pelo site tenham sido
esquecidos, uma boa faxina resolverá o problema. Para quem não tem problemas
com bebidas alcoólicas, descobrir uma adega no porão não lhe trará problema
algum. Do contrário, para o alcoólatra, ela representará um tremendo risco.
Este risco, porém, não está na influência de um demônio preso dentro da
garrafa, mas no desejo da sua carne de consumir a bebida até se embriagar. De
fato, é incoerente para o crente usufruir daquilo que pode levá-lo a pecar,
como uma revista pornográfica, por exemplo. Todavia, mesmo sem a revista em
mãos, os seus pensamentos pornográficos poderão fazê-lo cair, e não é
necessária uma influência diabólica para isto.
O pecado da idolatria, da feitiçaria, da
inveja, do ódio, da pornografia ou qualquer outro não provém da influência de
um espírito territorial. Podemos estar dentro da igreja, participando do culto
e pecando. É do coração do homem que provém o seu próprio mal. Quando fala a
respeito do adultério, o Senhor Jesus não ensina que devemos repreender o
“espírito do adultério” ou expulsar da nossa casa o demônio da sensualidade.
Ele coloca toda a responsabilidade do pecado sobre nós mesmos: “Se o teu olho
direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o de ti; pois te convém que se perca
um dos seus membros, e não seja todo o teu corpo lançado no inferno” (Mt 5:29).
É o nosso desejo por fazer aquilo que é errado que nos induz ao erro. Não há
como justificarmos os nossos pecados com base em espíritos territoriais, pois o
mundo inteiro jaz no maligno, mas todos os territórios se tornam malditos pela
presença humana neles, produzindo o mal e destruindo até mesmo o meio-ambiente.
Não é Satanás que joga lixo pelas ruas, extingue os animais e polui as águas e
o ar.
A solução apresentada para nos livrarmos
desses espíritos, segundo o site citado, é uma reunião com os demônios para
depois expulsá-los, comandando e proibindo definitivamente que voltem a habitar
em qualquer cômodo da casa. Pode-se, também, adquirir com o pastor o óleo da
unção para ungir alguns lugares da casa, que incluem: portas, janelas,
aparelhos de TV, computadores, telefones fixos e celulares. O que se pode
presumir disso é que, quando o marido aproveita a ausência da esposa para
acessar as redes sociais e marcar um encontro com outra mulher, a culpa é do
demônio que habita no seu celular. Quando alguém acessa as redes sociais para
fazer fofocas e espalhar maledicências para destruir a vida das pessoas, o
responsável na verdade, foi o espírito imundo que habita no computador. A incoerência
presente neste ensinamento sem fundamento bíblico apenas demonstra que a maior
estratégia de Satanás é atentar contra a verdade de Deus.
Formas de enfrentamento
O Movimento de Batalha Espiritual
apresenta algumas formas de enfrentamento desses demônios que povoam as coisas
e os lugares. O objetivo é utilizar táticas e estratégias para enfrentar o
inimigo e conquistar o seu território. As principais são:
a)
Mapeamento espiritual
O
mapeamento espiritual é um desdobramento do conceito de espíritos territoriais
e abrange o enfrentamento desses espíritos. Ele envolve fazer um mapeamento do
lugar onde se vai evangelizar para identificar quais são os demônios
territoriais que estão naquela região e quais são os seus nomes, amarrando e
destronando esses demônios para só então pregar o Evangelho. A ideia que se
esconde por trás disso é que não seria possível evangelizar enquanto não se
fizesse esse trabalho de purificação. Todavia, mesmo que haja demônios nesses
ambientes e nas pessoas que ali se encontram, o que distancia essas pessoas de
Deus não é a presença do diabo, mas do pecado original. Está escrito no livro
do profeta Isaías: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não
possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas
iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados
encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (59:1,2). Por meio da fé em
Cristo temos o perdão dos nossos pecados e a eterna redenção. Pode uma atuação
demoníaca impedir a pregação do Evangelho do Deus vivo e o avanço da sua
Igreja? Pode haver algum impedimento diabólico para que o eleito de Deus ouça a
sua Palavra para ser convertido? As forças satânicas podem ser maiores que o
poder do Espírito Santo?
No
mapeamento espiritual, deve-se identificar também onde é o trono de Satanás em
determinada região, fazendo-se uma corrente de oração para derrubá-lo. Se isso
não for feito, se as entidades espirituais presentes em determinada região não
forem anuladas, a conversão se torna impossível. Vemos como esse movimento
superestima o poder e a atuação de Satanás, conferindo-lhe tronos na terra e o
poder de impedir que o pecador se arrependa para ser salvo. Todavia, não existe
lugar algum onde Satanás tenha um reino ou um poder que não estejam debaixo do
controle do Deus Todo-poderoso. Não existe no céu ou abaixo do céu lugar onde o
Senhor não reine (Dn 7:27; Sl 7:9; 103:19; Jr 10:7). Todos os principados e
potestades estão sob o domínio de Cristo. Na cruz, Ele os despojou e os expôs
ao desprezo, triunfando deles poderosamente (Cl 2:15). Satanás não precisa ser
destronado para que alcancemos a vitória, pois ele já foi derrotado na cruz.
Nós o enfrentamos não para vencermos, mas porque já somos vencedores em Cristo.
Essa
estratégia inventada pelo Movimento de Batalha Espiritual jamais foi ensinado
por Jesus ou seus apóstolos. Vejamos exemplos tirados do livro dos Atos dos
apóstolos. O primeiro está no capítulo 17, quando Paulo esperava por Silas e
Timóteo em Atenas (vs. 14-16). Que lugar poderia ser mais demoníaco que Atenas,
um grande centro de idolatria, com todos os seus deuses e imagens esculpidas?
Lucas escreve: “Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se
revoltava em face da idolatria dominante na cidade” (v. 16). Seguindo as
estratégias do Movimento de Batalha Espiritual, Paulo deveria fazer um
mapeamento espiritual para definir que demônio estava atuando naquela cidade ou
se ali era o trono de Satanás. Após essa identificação, seria necessário organizar
um grupo de oração com irmãos de guerra para amarrar e expulsar os demônios que
ali se encontravam, para somente assim ter todas as condições de pregar o
Evangelho. Todavia, não foi isso que aconteceu, mas ele passou a dissertar na
sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos (v. 17). Ao invés de amarrar o
espírito da idolatria, Paulo utilizou-se disso para pregar a respeito do Deus
verdadeiro (vs. 22-31), havendo ali muitas conversões (v. 34). Todos os deuses
gregos não foram capazes de impedir a pregação da verdade e a conversão dos
pecadores.
No
capítulo 19, vemos a chegada de Paulo à cidade de Éfeso, onde encontrou alguns
discípulos que foram batizados (vs. 1-7). Inicialmente, Paulo pregou na
sinagoga que havia naquela cidade, vindo a pregar mais tarde na escola de
Tirano, onde esteve falando aos ouvintes por dois anos. Ali foram realizados
milagres extraordinários e muitos espíritos malignos foram expulsos. Assim, “a
palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (v. 20). Houve naquela cidade
uma grande revolta por parte de um ourives, chamado Demétrio, que via seu
negócio afundar por conta da pregação de Paulo e das conversões que vinham
acontecendo, promovendo um grande tumulto que levou os discípulos a enfrentarem
a fúria daquelas pessoas. No final das contas, tudo foi apaziguado e a igreja
permaneceu firme em Éfeso, o que nos rendeu a preciosa carta de Paulo aos
Efésios. Com toda a idolatria presente naquela cidade e todas as forças
contrárias à pregação do Evangelho, em que momento Paulo e os demais discípulos
de Jesus organizaram um clamor para expulsar os espíritos territoriais antes de
evangelizar os idólatras? Em que a deusa Diana impediu que houvesse conversões?
O caminho de Deus corre na direção certa: o poder do Evangelho converte o
idólatra e este abandona a sua idolatria. É assim que a idolatria é quebrada.
Temos
também outro exemplo em 1 Tessalonicenses 2:18, que mostra como Satanás está
atuante no mundo para impedir o avanço do Evangelho. Paulo escreve: “Por isso,
quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas);
contudo, Satanás nos barrou o caminho”. Está claro que a barreira imposta por
Satanás impediu o apóstolo de visitar aqueles irmãos. E ele de fato não foi!
Paulo poderia ter reunido alguns irmãos para uma oração de libertação daquele
território, ou mesmo solicitar que os irmãos de Tessalônica amarrassem e
destronassem Satanás da sua cidade para que o apóstolo pudesse entrar. O que
ele fez, todavia, foi driblar as trincheiras inimigas, enviando Timóteo em seu
lugar. Problema resolvido. Não existem impedimentos para a propagação do Reino
de Deus. As forças diabólicas não são capazes de impedir a obra missionária da
Igreja, mesmo que em alguns instantes possa atrapalhá-la. O que precisamos é
orar e nos revestir das armas da luz, da armadura de Deus para resistirmos ao
diabo e vencermos nos dias maus.
b)
Quebra de maldições
A
oração por quebra de maldição é uma das mais praticadas pelos adeptos do Movimento
de Batalha Espiritual, estando presente em muitas igrejas pentecostais e seitas
neopentecostais. A ideia por trás disso é a “maldição hereditária”, quando um
demônio passa a ter poder sobre uma vida que foi amaldiçoada de alguma forma
por seus pais, controlando-a para que ela não seja feliz, não progrida. Também
está em vista a doutrina de que os filhos sofrem as consequências dos pecados
praticados pelos seus pais. Isto é: se um pai ou uma mãe cometerem assassinato,
a família é amaldiçoada e o demônio do assassinato atormentará esta família ou
o local onde o crime possa ter ocorrido. Outra forma de maldição hereditária
envolve vícios, como o alcoolismo, por exemplo. Se os pais são alcoólatras, a
tendência é suas futuras gerações também desenvolverem a dependência do álcool,
como uma maldição que precisa ser quebrada.
Esta
é uma interpretação equivocada da Bíblia que não leva em conta o ensino geral
das Escrituras. Quebrar uma maldição hereditária pode significar pesquisar em
nossa genealogia a possibilidade de algum familiar ter feito pacto com o
demônio. Aqui não estamos falando de descrentes que vivem sob a maldição da Lei
e por isso ainda estão sob condenação, mas de pessoas que se afirmam crentes em
Cristo Jesus e creem que precisam repreender e expulsar espíritos malignos que
possam estar amarrando a sua vida por conta de alguma maldição que lhes foi
lançada ou em algum familiar. Haverá oração por quebra de maldição na vida
familiar, sentimental, financeira, ministerial, acadêmica e tantas outras.
Um
dos textos utilizados para este falso ensino é Êxodo 20;5, onde o Senhor diz ao
proibir a confecção e a adoração de imagens de escultura: “porque eu sou o
Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até
a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem” (v. 5). O que está em
vista aqui é a perpetuação do pecado da idolatria, o que realmente fez parte da
trágica história espiritual de Israel por muitos séculos. Quando lemos o livro
do profeta Ezequiel em seu capítulo 18, aprendemos que a responsabilidade pelo
pecado praticado é pessoal. Deus começa com uma advertência que destrói
completamente a teologia da maldição hereditária, posicionando-se contra o
provérbio “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se
embotaram” (v. 2). O Senhor diz por meio do profeta que cada um dará conta do
seu próprio pecado. Aquele que praticar a justiça e andar retamente, viverá (v.
9). Todavia, aquele que praticar a iniquidade e fizer o que é mal perante Deus,
o seu sangue será sobre ele (v. 13). Os vs. 14 a 17 nos ensinam que o homem
iníquo pode gerar um filho justo, e este não morrerá na iniquidade do seu pai,
mas viverá. Deus argumenta: “Mas dizeis: Por que não leva o filho a iniquidade
do pai? Porque o filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os meus
estatutos, e os praticou, por isso, certamente, viverá” (v. 19). Vemos como
cada um responderá por seus próprios atos.
A
prática do mal não é fruto de uma maldição herdada, mas consequência das nossas
escolhas pessoais, quando decidimos reproduzir em nossas vidas as atitudes
erradas dos nossos pais. É muito cômodo colocar a culpa pelos nossos erros e
fracassos nos erros dos nossos pais ou em demônios que infestam algum lugar.
Parece ser muito mais fácil organizar um culto de exorcismo ao invés de
reconhecermos a nossas falhas e nos dispormos a mudar, a confiar em Deus e a
lutar para sermos melhores. Sempre teremos a oportunidade de decidir por fazer
o que é certo. No Novo Testamento, encontramos a repetição do ensino de
Ezequiel. Em primeiro lugar, ao deixar bastante claro que a salvação é pessoal
(Jo 3:16,36); e também por afirmar que cada um dará contas de si mesmo a Deus
(Rm 14:12). Não compareceremos diante do tribunal de Deus para responder pelos
pecados cometidos por nossos mais, mas pelos nossos próprios. Entretanto, se
comparecermos salvos por Cristo diante de Deus, a nossa salvação não será uma
“bênção hereditária” para os nossos filhos, isto é: se eles não creram em
Cristo, perecerão.
Para
aquele que está em Cristo, falar sobre maldição é renegar a obra que Jesus fez
na cruz. Por causa da Queda, a raça humana e todo o mundo ficaram sob maldição
(Gn 3:17-19). Na cruz, todavia, toda maldição foi quebrada para aqueles que
creem (Gl 3:13,14). Já passamos da morte para a vida e nenhuma condenação pesa
mais sobre nós (Rm 8:1,33-39; 1 Co 15:53-57). O crente genuíno não precisa
temer palavras de maldição contra ele, mesmo vindas de seus pais. É Deus quem
tem o poder sobre a sua vida, é o Espírito Santo quem nos conduz. As palavras
de maldição não possuem nenhum poder, porque quem pode amaldiçoar é Deus (Êx
20:5,6; Dt 5:9,10). Não podemos supor que Deus fará um mal desejado por alguém
em uma maldição! Imaginemos que uma pessoa tenha a sua família amaldiçoada para
que não prospere. De onde virá o poder para que isso aconteça? Ainda que parta
do diabo, ele só poderá agir se Deus o permitir. Então nos perguntemos: por que
Deus permitiria? Palavras de maldição são palavras lançadas ao vazio. O que
pode acontecer é a pessoa amaldiçoada temer a maldição e passar a viver em
função dela, crendo que de fato não prosperará, o que a levará a viver em
função dessa mentira, achando que não adianta lutar nem investir em nada,
porque alguém disse que ela não iria prosperar jamais. A solução para quem acha
que a sua vida está sob maldição é a autoavaliação e o arrependimento de
pecados.
Trecho do livro: BATALHA ESPIRITUAL: UMA LUTA EM DEFESA DA VERDADE, de minha autoria, À VENDA NA AMAZON:
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Graça e paz irmão Mizael Souza. Parabéns pela iniciativa e pela ousadia em publicar um livro nesta temática para desmistificar revelando o que está por trás destas supostas verdades sobre batalha espiritual.
ResponderExcluirQuando publicar o livro tenho interesse em adquirir um exemplar.
Irei ler aos pouquinhos..obg
ResponderExcluirJacira Pereira.
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