CONSELHOS
AOS PASTORES
(Mizael Xavier)
São os pastores os
servos designados por Deus para guiar o seu rebanho (Hb 13:7,17; Ef 4:11).
Desse modo, eles são diretamente responsáveis por muitas das razões aqui
estudadas: por criá-las ou por permitir que elas aconteçam sem qualquer
intervenção. São eles, também, os principais responsáveis por prevenir, avaliar
e tratar quaisquer dos problemas que foram estudados aqui, mesmo que os
responsáveis diretos por esses problemas sejam eles próprios. O autor de
Hebreus nos exorta a obedecermos os nossos guias (gr. episkopos: líderes, pastores), pois velam pela nossa alma (Hb
13:17). E se eles não zelam pela nossa alma, mas ao contrário, tiram proveito
dela? Está implícito que esses não merecem a nossa obediência. O que eles
precisam é de disciplina. Então, diante de tudo que estudamos, ouso aconselhar
algumas atitudes importantes para evitar ou reverter as razões e desculpas que
vimos aqui.
1) Façam
uma autocrítica. Não é nenhuma novidade que os pastores, por mais piedosos
que possam ser, são seres humanos como quaisquer outros. Logo, eles devem ser
os primeiros a, como líderes, perguntar sobre a sua responsabilidade diante
deste tema: a evasão nas igrejas cristãs. Para isso, eles devem manter uma
visão crítica de si e do seu ministério, avaliando de maneira proativa as
necessidades daqueles que estão sob a sua guarda, suas crises, seus
questionamentos e suas reivindicações. O pastor precisa ser sensível à voz do
Espírito e da sua comunidade, dialogando com todos os irmãos, não somente com
os líderes, atendendo aos interesses legítimos da congregação. O termo vigiar
(gr. agrupsousin) em Hebreus 13:17
significa estar vigilante, estar em alerta,
vigiar, cuidar de (cf. Ef 6:18).
Essa vigília começa com o cuidado de si mesmo, das suas fraquezas e limitações
(Mt 26:41; 1 Co 16:13; 1 P3 4:7; 5:8). Se o pastor estiver desatento, se não
manter os seus olhos fixos na obra que o Senhor lhe deu, não será capaz de
fazer uma leitura correta dos problemas que surgem, se conseguir
identificá-los. Esse cuidado constante deve torná-lo proativo.
2) Sejam
líderes verdadeiros conforme os padrões bíblicos estipulados para os
obreiros na Igreja, servindo com amor e humildade aos irmãos, sem ser movidos
por sórdida ganância (1 Pe 5:1,2; Tt 1:6-11; 1 Tm 3:1-10; At 20:28; Hb 13:17).
A liderança na igreja deve ser teocrática, jamais personalista, muito menos
paternalista. O pastor não deve gerar dependência, mas formar cristãos livres
para servir. O ponto chave de todas as questões que envolvem a presença do
pastor é o seu caráter. A Igreja do Senhor precisa de homens cheios do Espírito
Santo, que inspirem cristãos a servirem a Deus com alegria, alguém em quem
possam confiar e seguir. Jesus era alguém em quem se podia confiar, pois o seu
caráter era Santo e a sua pregação, coerente com as suas obras. Mateus registra
a impressão da multidão após o Sermão do Monte: "Quando Jesus acabou de
proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina;
porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas"
(Mt 7:28,29).
3) Atuem
como verdadeiros obreiros aprovados no manejo da Bíblia, alimentando a
Igreja apenas com a sã doutrina, o Evangelho da graça de Deus, sem acréscimos
nem distorções (2 Tm 2:15; Rm 1:15; 1 Co 1:23; 9:16,17; 2 Co 4:5; Gl 1:6-9; Ef
3:8; Tt 1:9; 2:1; 3:8). O falso evangelho atrai os falsos crentes e afasta os
crentes genuínos. Se o próprio líder da igreja não se alimentar da Lei do
Senhor, como espera formar crentes inteligentes e firmes na fé? Após alertar o
jovem pastor Timóteo a respeito dos apóstatas dos últimos dias, o apóstolo
Paulo o exorta sobre a necessidade e o valor de guardar a boa doutrina e
exercitar-se na piedade (1 Tm 4:1-7). Timóteo era um pastor jovem, que
provavelmente sofria por causa disso, mas Paulo o anima a praticar o dom que
lhe fora dado por Deus (vs. 12-14), ordenando: "Tem cuidado de ti mesmo e
da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvará tanto a ti
mesmo como aos teus ouvintes" (v. 16). Se o pastor não cuidar da
integridade do seu caráter e do seu ministério, se não zelar com fervor pela sã
doutrina, verá o que é falso penetrar na igreja e o que é verdadeiro, abandoná-la.
O liberalismo teológico precisa ser erradicado e a ortodoxia deve permear todo
o ensino da Igreja, suas bases de fé e sua espiritualidade prática.
4) Proporcionem
bem-estar aos membros da igreja. O evangelicalismo tem sido infectado em
todas as suas instâncias por uma teologia humanista, focada no crente, nos seus
problemas e nas suas vitórias. No neopentecostalismo materialista do nosso
tempo, Deus é mero coadjuvante na vida e na fé de muitos crentes. Por outro
lado, peca-se praticando o contrário: deixando de lado as pessoas e os seus problemas.
Eis um paradoxo: cria-se uma teologia extremamente antropocêntrica, mas
negligencia-se o cuidado pastoral. Essa falta de cuidado também acomete as
igrejas históricas e as independentes: nem sempre o fiel encontra a comunhão e
a fraternidade que a Bíblia ensina. Portanto, é importante criar na igreja um
ambiente hospitaleiro e acolhedor, onde os irmãos se sintam a vontade e sejam
cuidados pela prática do amor e da misericórdia, sem acepção de pessoas (3 Jo
5-8; 2 Co 7:2,3; Fp 4:13; 1 Pe 4:9; Hb 13:2; Rm 12:1; Tg 2:1-13). Por mais que
a nossa busca seja pela glória de Deus, não é errado nos sentirmos importantes
e amados, percebermos que temos valor não somente para Deus, mas também para as
pessoas. Invistam em uma igreja amorosa e inclusiva (nos termos que já
debatemos).
5) Acima
de tudo, zelem pela sã doutrina. Em muitas das razões que estudamos,
percebe-se que a falta de conhecimento da Palavra de Deus é responsável por
muitas evasões. Quanto menos conhecemos da Bíblia, mais confusos nos tornamos a
respeito do que crer e do que praticar, do certo e do errado, do que é vontade
de Deus e do que não passa de vontade da carne – da nossa e da dos outros.
Pastores comprometidos com o Reino de Deus devem zelar pelas Escrituras,
investindo fortemente no discipulado e no ensino, educando os irmãos na sã
doutrina contra o pecado e as heresias, para que possam amar e servir a Deus de
forma excelente (1 Tm 5:17; 2 Tm 2:2; 3:16,17; 4:1,2; Rm 15:4; Cl 3:16; Mt
28:18-20; At 2:42; Gl 6:6). As grandes crises enfrentadas pelos crentes
geralmente são apenas sintomas da falta de conhecimento. Como disse o Senhor a
respeito de Israel: o povo estava sendo destruído pela falta de conhecimento
(Os 4:6). A instituição havia (a Lei), só lhes faltava conhecê-la
verdadeiramente e colocá-la em prática. Embora a busca pelo conhecimento de
Deus também envolva o esforço pessoal, a igreja é o local onde o aprendizado
deve se dar. Pastor que não ensina seus fiéis, permite que outros o ensinem: os
teólogos liberais, os fornecedores de fast
food teológico da Internet, a carne, o mundo e o diabo.
6) É
importante que se pratique a disciplina bíblica correta, sem exageros nem concessões; para restauração, não para
destruição, com amor e misericórdia (Hb 10:25; 12:5-11; Mt 18:15-17; 1 Ts 5:14;
1 Tm 5:20; 2 Tm 2:24,25; 1 Co 5:9-13; 2 Ts 3:14,15). Os crentes precisam de
liberdade e de limites, todos aplicados com sabedoria e integridade, de modo a
não haver libertinagem nem rigidez excessiva. A igreja local é aquele pai que
abre seus braços aos filhos pródigos, jamais os abandona, mas que também os
corrige quando erram. Deus aplica a disciplina aos seus filhos, conforme
escreveu o autor de Hebreus: "Filho meu, não menosprezes a correção que
vem do Senhor, ne desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige
o que ama, e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que
perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não
corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos têm-se tornado
participantes, logo, sois bastardos e não filhos" (Hb 12:6-8). Igreja que
não pratica a disciplina está sendo negligente e demonstra não se importar com
a saúde espiritual e o crescimento dos seus membros. Certas situações vividas
por alguns pastores podem significar a disciplina de Deus sobre eles, não
perseguição ou opressão diabólica.
7) Contra os liberais e os libertinos
infiltrados nas igrejas, os pastores
precisam investir numa igreja alicerçada sobre os valores eternos da Palavra e
do Reino de Deus (Mt 6:33; Jo 6:27; Rm 12:1,2; 14:17; Fp 4:8; 1 Co 13; Gl
5:22; 2 Pe 1:5-7). Esses valores não podem ser relativos, mas absolutos. A
ética de Deus leva em conta o seu caráter justo e santo; ela resiste ao tempo e
aos modismos. O pastor deve encarnar esses valores, vivê-los e ser padrão para
toda a igreja. Paulo exortou Timóteo: “Ninguém despreza a tua mocidade; pelo
contrário, torna-te padrão [modelo] dos fiéis, na palavra, no procedimento, no
amor, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Ou seja: o pastor deve ter uma vida santa,
dedicada a Deus e aos fiéis, com um coração puro e amor verdadeiro. Uma Igreja
edificada sobre a rocha jamais poderá ser abalada! O trânsito entre
denominações, o surgimento de novas igrejas a cada dia e o número crescente de
desigrejados denuncia a libertinagem teológica e comportamental, que, não em
poucos casos, começa na liderança.
8) Saiam
de dentro do templo! Invistam no cuidado pastoral e na evangelização.
Estejam próximos dos irmãos, importando-se com eles de verdade e com suas
famílias (3 Jo 2; 1 Tm 3:5; 1 Pe 5:1-4; Tg 1:6-9; 1 Tm 3:2-7; Fp 2:3). Se o
pastor não fizer isso, perderá de vista a congregação, com seus problemas reais.
Não esperem conhecer seus fiéis somente pelo que eles demonstram ser no culto
do domingo à noite, com suas melhores roupas e um sorriso no rosto para
disfarçar a dor e não demonstrar falta de fé. Quanto maior o número de membros,
maior deverá ser a estrutura para cuidar dessas pessoas, estar ao lado delas,
ensiná-las, fornecer a elas todo o cuidado pastoral que a Palavra de Deus
ensina.
9) Invistam
na responsabilidade social para com os membros da Igreja, socorrendo os
necessitados, consolando os aflitos, ajudando os oprimidos, oferecendo todo
apoio na dor, fortalecendo a sua fé e edificando suas vidas pela prática do
amor (Êx 22:21-24; Tg 1:27; 2:26; Rm 15:26-28; 2 Co 8:1-4; 1 Tm 5:4).
Lembrem-se: o objetivo bíblico dos dízimos e das ofertas é ajudar pessoas (Dt
26:12; Ml 3:8-10; At 20:35; Fp 4:18; At 11:29,30). Nenhuma estrutura física
jamais será tão imponente quanto uma boa estrutura espiritual forjada no amor.
Essa preocupação social também deve se estender ao bairro onde a igreja está
plantada, abençoando a vida dos moradores com a pregação do Evangelho da
salvação e com a prática do amor que esse Evangelho ensina. A igreja cristã
precisa fazer a diferença no mundo, apresentando-se como missionária da paz, do
amor e da justiça a um mundo em trevas, salgando e iluminando aqueles que, ao
verem as suas boas obras, glorificarão ao Pai que está nos céus (Mt 5:14-16).
10) Jamais abram mão da centralidade da pregação da Palavra na vida da
igreja. Não a substituam por coisa alguma. A pregação do Evangelho deve ser a
alma da Igreja (2 Tm 3:16,17; 4:2; Mt 10:7; Rm 1:16,17; 10:14-17; 1 Co
1:17-24). Para o dr. Martyn Lloyd-Jones (2008, P. 34), a pregação da Palavra é
a tarefa primordial da Igreja, algo que somente ela pode fazer. Somente a
pregação da Palavra produz resultados duradouros e permanentes na vida humana
(idem, p. 38). A razão de muitos irmãos mudarem de congregação é porque aquilo
que ouvem e presenciam não faz diferença alguma nas suas vidas, não produz
transformação duradoura. Isso acontece de dois modos: alguns, por não serem
alimentados e instruídos corretamente, desenvolvem uma fé inconstante e
descompromissada, transitando entre igrejas ou deixando de lado a sua fé.
Embora, como vimos, cada um tem a sua própria responsabilidade pessoal diante
de Deus, é papel da Igreja ser pedagoga e discipuladora. O segundo modo é
aquele em que o crente está sedento de alimento sólido, de crescimento
espiritual e envolvimento ativo na obra do Senhor, mas percebe que o lugar onde
está lhe oferece justamente o contrário, e então sai. A Palavra precisa ser
pregada, como afirmou o apóstolo Paulo, em tempo e fora de tempo, quer seja
oportuno, quer não (2 Tm 2:4,3).
11) Preguem sobre a salvação e enfatizem a necessidade de conversão. É
importante que o pastor da igreja tenha em mente que nem todos os membros da
sua congregação são crentes genuínos. Alguns nasceram em lar evangélico, mas
nunca tiveram um encontro pessoal com Cristo. Outros se “converteram” pelos
motivos errados e para o objetivo errado. Ainda há aqueles que afirmam ser
crentes, mas que o seu estilo de vida revela totalmente o contrário. A igreja
carece de ensino para a sua edificação e de cuidado social, mas nada disso pode
ser realizado enquanto a pregação evangelística é negligenciada. Por isso,
principalmente nos cultos de domingo quando o número de presentes costuma ser
maior, a mensagem precisa ser evangelística. Quando o Evangelho é pregado,
causa três tipos de impacto na vida dos ouvintes: (1) confronta o perdido com a
sua pecaminosidade e desperta nele a urgência do arrependimento para a
salvação, movido pelo Espírito Santo; (2) revela os perdidos que jamais
aceitarão a mensagem da cruz, sendo para eles aroma de perdição ao denunciar a
dureza do seu coração; (3) e edifica o crente genuíno, alegra o seu coração
pela salvação já alcançada e o motiva a servir sempre mais e melhor a Deus,
inclusive ao evangelizar aqueles que ainda não creem. Portanto, a mensagem
evangelística sempre irá surtir efeitos positivos na igreja, mesmo que seja
afastamento os falsos irmãos.
12) Por fim, combatam os falsos ensinos e os falsos mestres (Jd 3,4; Dt
18:20-22; Mt 7:15-20; 1 Ts 5:20,21; Rm 16:17,18; 1 Tm 6:3-5; 1 Jo 4:1; Mc
13:22,23; 2 Pe 2:1-3). A prática incorreta geralmente está ligada a doutrina
incorreta. A permissividade quanto a pregadores despreparados e a música gospel
de caráter duvidoso ajudam a disseminar o erro. Se o líder da igreja não
batalhar pela sã doutrina, como espera que os fiéis creiam da maneira correta e
pratiquem o que é certo? Aqui está implícito que é desejo do leitor primar pela
sã doutrina e ajudar a sua igreja a crescer na graça e no conhecimento de Deus.
Na conclusão da sua segunda epístola, o apóstolo Pedro faz referência a alguns
indivíduos que estavam distorcendo os escritos de Paulo e as demais Escrituras,
para a própria destruição deles (2 Pe 3:14-16). A exortação é que devemos nos
acautelar, porque hoje a prática não é diferente, muito pelo contrário. Aqueles
que são arrastados pelo erro desses insubordinados, escreve Pedro, acabam
decaindo da sua própria firmeza (v. 17), motivo pelo qual devemos crescer na
graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (v. 18). A
respeito dos pastores – líderes do rebanho que o Senhor lhes confiou –, ou eles
estão do lado daqueles que pervertem o Evangelho ou daqueles que o defendem.
Não existe um lado neutro. De que lado você está?
ATENÇÃO: Este poema faz parte
do livro DECEPCIONADOS COM A IGREJA: 70 RAZÕES E DESCULPAS PARA A EVASÃO NAS IGREJAS CRISTÃS, de
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