terça-feira, 20 de abril de 2021

A PANDEMIA E A EVASÃO NAS IGREJAS: CONSELHOS AOS PASTORES

 


CONSELHOS AOS PASTORES

(Mizael Xavier)
                        
São os pastores os servos designados por Deus para guiar o seu rebanho (Hb 13:7,17; Ef 4:11). Desse modo, eles são diretamente responsáveis por muitas das razões aqui estudadas: por criá-las ou por permitir que elas aconteçam sem qualquer intervenção. São eles, também, os principais responsáveis por prevenir, avaliar e tratar quaisquer dos problemas que foram estudados aqui, mesmo que os responsáveis diretos por esses problemas sejam eles próprios. O autor de Hebreus nos exorta a obedecermos os nossos guias (gr. episkopos: líderes, pastores), pois velam pela nossa alma (Hb 13:17). E se eles não zelam pela nossa alma, mas ao contrário, tiram proveito dela? Está implícito que esses não merecem a nossa obediência. O que eles precisam é de disciplina. Então, diante de tudo que estudamos, ouso aconselhar algumas atitudes importantes para evitar ou reverter as razões e desculpas que vimos aqui.

 
1) Façam uma autocrítica. Não é nenhuma novidade que os pastores, por mais piedosos que possam ser, são seres humanos como quaisquer outros. Logo, eles devem ser os primeiros a, como líderes, perguntar sobre a sua responsabilidade diante deste tema: a evasão nas igrejas cristãs. Para isso, eles devem manter uma visão crítica de si e do seu ministério, avaliando de maneira proativa as necessidades daqueles que estão sob a sua guarda, suas crises, seus questionamentos e suas reivindicações. O pastor precisa ser sensível à voz do Espírito e da sua comunidade, dialogando com todos os irmãos, não somente com os líderes, atendendo aos interesses legítimos da congregação. O termo vigiar (gr. agrupsousin) em Hebreus 13:17 significa estar vigilante, estar em alerta, vigiar, cuidar de (cf. Ef 6:18). Essa vigília começa com o cuidado de si mesmo, das suas fraquezas e limitações (Mt 26:41; 1 Co 16:13; 1 P3 4:7; 5:8). Se o pastor estiver desatento, se não manter os seus olhos fixos na obra que o Senhor lhe deu, não será capaz de fazer uma leitura correta dos problemas que surgem, se conseguir identificá-los. Esse cuidado constante deve torná-lo proativo.
 
2) Sejam líderes verdadeiros conforme os padrões bíblicos estipulados para os obreiros na Igreja, servindo com amor e humildade aos irmãos, sem ser movidos por sórdida ganância (1 Pe 5:1,2; Tt 1:6-11; 1 Tm 3:1-10; At 20:28; Hb 13:17). A liderança na igreja deve ser teocrática, jamais personalista, muito menos paternalista. O pastor não deve gerar dependência, mas formar cristãos livres para servir. O ponto chave de todas as questões que envolvem a presença do pastor é o seu caráter. A Igreja do Senhor precisa de homens cheios do Espírito Santo, que inspirem cristãos a servirem a Deus com alegria, alguém em quem possam confiar e seguir. Jesus era alguém em quem se podia confiar, pois o seu caráter era Santo e a sua pregação, coerente com as suas obras. Mateus registra a impressão da multidão após o Sermão do Monte: "Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas" (Mt 7:28,29).
 
3) Atuem como verdadeiros obreiros aprovados no manejo da Bíblia, alimentando a Igreja apenas com a sã doutrina, o Evangelho da graça de Deus, sem acréscimos nem distorções (2 Tm 2:15; Rm 1:15; 1 Co 1:23; 9:16,17; 2 Co 4:5; Gl 1:6-9; Ef 3:8; Tt 1:9; 2:1; 3:8). O falso evangelho atrai os falsos crentes e afasta os crentes genuínos. Se o próprio líder da igreja não se alimentar da Lei do Senhor, como espera formar crentes inteligentes e firmes na fé? Após alertar o jovem pastor Timóteo a respeito dos apóstatas dos últimos dias, o apóstolo Paulo o exorta sobre a necessidade e o valor de guardar a boa doutrina e exercitar-se na piedade (1 Tm 4:1-7). Timóteo era um pastor jovem, que provavelmente sofria por causa disso, mas Paulo o anima a praticar o dom que lhe fora dado por Deus (vs. 12-14), ordenando: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvará tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes" (v. 16). Se o pastor não cuidar da integridade do seu caráter e do seu ministério, se não zelar com fervor pela sã doutrina, verá o que é falso penetrar na igreja e o que é verdadeiro, abandoná-la. O liberalismo teológico precisa ser erradicado e a ortodoxia deve permear todo o ensino da Igreja, suas bases de fé e sua espiritualidade prática.
 
4) Proporcionem bem-estar aos membros da igreja. O evangelicalismo tem sido infectado em todas as suas instâncias por uma teologia humanista, focada no crente, nos seus problemas e nas suas vitórias. No neopentecostalismo materialista do nosso tempo, Deus é mero coadjuvante na vida e na fé de muitos crentes. Por outro lado, peca-se praticando o contrário: deixando de lado as pessoas e os seus problemas. Eis um paradoxo: cria-se uma teologia extremamente antropocêntrica, mas negligencia-se o cuidado pastoral. Essa falta de cuidado também acomete as igrejas históricas e as independentes: nem sempre o fiel encontra a comunhão e a fraternidade que a Bíblia ensina. Portanto, é importante criar na igreja um ambiente hospitaleiro e acolhedor, onde os irmãos se sintam a vontade e sejam cuidados pela prática do amor e da misericórdia, sem acepção de pessoas (3 Jo 5-8; 2 Co 7:2,3; Fp 4:13; 1 Pe 4:9; Hb 13:2; Rm 12:1; Tg 2:1-13). Por mais que a nossa busca seja pela glória de Deus, não é errado nos sentirmos importantes e amados, percebermos que temos valor não somente para Deus, mas também para as pessoas. Invistam em uma igreja amorosa e inclusiva (nos termos que já debatemos).
 
5) Acima de tudo, zelem pela sã doutrina. Em muitas das razões que estudamos, percebe-se que a falta de conhecimento da Palavra de Deus é responsável por muitas evasões. Quanto menos conhecemos da Bíblia, mais confusos nos tornamos a respeito do que crer e do que praticar, do certo e do errado, do que é vontade de Deus e do que não passa de vontade da carne – da nossa e da dos outros. Pastores comprometidos com o Reino de Deus devem zelar pelas Escrituras, investindo fortemente no discipulado e no ensino, educando os irmãos na sã doutrina contra o pecado e as heresias, para que possam amar e servir a Deus de forma excelente (1 Tm 5:17; 2 Tm 2:2; 3:16,17; 4:1,2; Rm 15:4; Cl 3:16; Mt 28:18-20; At 2:42; Gl 6:6). As grandes crises enfrentadas pelos crentes geralmente são apenas sintomas da falta de conhecimento. Como disse o Senhor a respeito de Israel: o povo estava sendo destruído pela falta de conhecimento (Os 4:6). A instituição havia (a Lei), só lhes faltava conhecê-la verdadeiramente e colocá-la em prática. Embora a busca pelo conhecimento de Deus também envolva o esforço pessoal, a igreja é o local onde o aprendizado deve se dar. Pastor que não ensina seus fiéis, permite que outros o ensinem: os teólogos liberais, os fornecedores de fast food teológico da Internet, a carne, o mundo e o diabo.
 
6) É importante que se pratique a disciplina bíblica correta, sem exageros nem concessões; para restauração, não para destruição, com amor e misericórdia (Hb 10:25; 12:5-11; Mt 18:15-17; 1 Ts 5:14; 1 Tm 5:20; 2 Tm 2:24,25; 1 Co 5:9-13; 2 Ts 3:14,15). Os crentes precisam de liberdade e de limites, todos aplicados com sabedoria e integridade, de modo a não haver libertinagem nem rigidez excessiva. A igreja local é aquele pai que abre seus braços aos filhos pródigos, jamais os abandona, mas que também os corrige quando erram. Deus aplica a disciplina aos seus filhos, conforme escreveu o autor de Hebreus: "Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, ne desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos têm-se tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos" (Hb 12:6-8). Igreja que não pratica a disciplina está sendo negligente e demonstra não se importar com a saúde espiritual e o crescimento dos seus membros. Certas situações vividas por alguns pastores podem significar a disciplina de Deus sobre eles, não perseguição ou opressão diabólica.
 
7) Contra os liberais e os libertinos infiltrados nas igrejas, os pastores precisam investir numa igreja alicerçada sobre os valores eternos da Palavra e do Reino de Deus (Mt 6:33; Jo 6:27; Rm 12:1,2; 14:17; Fp 4:8; 1 Co 13; Gl 5:22; 2 Pe 1:5-7). Esses valores não podem ser relativos, mas absolutos. A ética de Deus leva em conta o seu caráter justo e santo; ela resiste ao tempo e aos modismos. O pastor deve encarnar esses valores, vivê-los e ser padrão para toda a igreja. Paulo exortou Timóteo: “Ninguém despreza a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão [modelo] dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Tm 4:12). Ou seja: o pastor deve ter uma vida santa, dedicada a Deus e aos fiéis, com um coração puro e amor verdadeiro. Uma Igreja edificada sobre a rocha jamais poderá ser abalada! O trânsito entre denominações, o surgimento de novas igrejas a cada dia e o número crescente de desigrejados denuncia a libertinagem teológica e comportamental, que, não em poucos casos, começa na liderança.
 
8) Saiam de dentro do templo! Invistam no cuidado pastoral e na evangelização. Estejam próximos dos irmãos, importando-se com eles de verdade e com suas famílias (3 Jo 2; 1 Tm 3:5; 1 Pe 5:1-4; Tg 1:6-9; 1 Tm 3:2-7; Fp 2:3). Se o pastor não fizer isso, perderá de vista a congregação, com seus problemas reais. Não esperem conhecer seus fiéis somente pelo que eles demonstram ser no culto do domingo à noite, com suas melhores roupas e um sorriso no rosto para disfarçar a dor e não demonstrar falta de fé. Quanto maior o número de membros, maior deverá ser a estrutura para cuidar dessas pessoas, estar ao lado delas, ensiná-las, fornecer a elas todo o cuidado pastoral que a Palavra de Deus ensina.
 
9) Invistam na responsabilidade social para com os membros da Igreja, socorrendo os necessitados, consolando os aflitos, ajudando os oprimidos, oferecendo todo apoio na dor, fortalecendo a sua fé e edificando suas vidas pela prática do amor (Êx 22:21-24; Tg 1:27; 2:26; Rm 15:26-28; 2 Co 8:1-4; 1 Tm 5:4). Lembrem-se: o objetivo bíblico dos dízimos e das ofertas é ajudar pessoas (Dt 26:12; Ml 3:8-10; At 20:35; Fp 4:18; At 11:29,30). Nenhuma estrutura física jamais será tão imponente quanto uma boa estrutura espiritual forjada no amor. Essa preocupação social também deve se estender ao bairro onde a igreja está plantada, abençoando a vida dos moradores com a pregação do Evangelho da salvação e com a prática do amor que esse Evangelho ensina. A igreja cristã precisa fazer a diferença no mundo, apresentando-se como missionária da paz, do amor e da justiça a um mundo em trevas, salgando e iluminando aqueles que, ao verem as suas boas obras, glorificarão ao Pai que está nos céus (Mt 5:14-16).
 
10) Jamais abram mão da centralidade da pregação da Palavra na vida da igreja. Não a substituam por coisa alguma. A pregação do Evangelho deve ser a alma da Igreja (2 Tm 3:16,17; 4:2; Mt 10:7; Rm 1:16,17; 10:14-17; 1 Co 1:17-24). Para o dr. Martyn Lloyd-Jones (2008, P. 34), a pregação da Palavra é a tarefa primordial da Igreja, algo que somente ela pode fazer. Somente a pregação da Palavra produz resultados duradouros e permanentes na vida humana (idem, p. 38). A razão de muitos irmãos mudarem de congregação é porque aquilo que ouvem e presenciam não faz diferença alguma nas suas vidas, não produz transformação duradoura. Isso acontece de dois modos: alguns, por não serem alimentados e instruídos corretamente, desenvolvem uma fé inconstante e descompromissada, transitando entre igrejas ou deixando de lado a sua fé. Embora, como vimos, cada um tem a sua própria responsabilidade pessoal diante de Deus, é papel da Igreja ser pedagoga e discipuladora. O segundo modo é aquele em que o crente está sedento de alimento sólido, de crescimento espiritual e envolvimento ativo na obra do Senhor, mas percebe que o lugar onde está lhe oferece justamente o contrário, e então sai. A Palavra precisa ser pregada, como afirmou o apóstolo Paulo, em tempo e fora de tempo, quer seja oportuno, quer não (2 Tm 2:4,3).
 
11) Preguem sobre a salvação e enfatizem a necessidade de conversão. É importante que o pastor da igreja tenha em mente que nem todos os membros da sua congregação são crentes genuínos. Alguns nasceram em lar evangélico, mas nunca tiveram um encontro pessoal com Cristo. Outros se “converteram” pelos motivos errados e para o objetivo errado. Ainda há aqueles que afirmam ser crentes, mas que o seu estilo de vida revela totalmente o contrário. A igreja carece de ensino para a sua edificação e de cuidado social, mas nada disso pode ser realizado enquanto a pregação evangelística é negligenciada. Por isso, principalmente nos cultos de domingo quando o número de presentes costuma ser maior, a mensagem precisa ser evangelística. Quando o Evangelho é pregado, causa três tipos de impacto na vida dos ouvintes: (1) confronta o perdido com a sua pecaminosidade e desperta nele a urgência do arrependimento para a salvação, movido pelo Espírito Santo; (2) revela os perdidos que jamais aceitarão a mensagem da cruz, sendo para eles aroma de perdição ao denunciar a dureza do seu coração; (3) e edifica o crente genuíno, alegra o seu coração pela salvação já alcançada e o motiva a servir sempre mais e melhor a Deus, inclusive ao evangelizar aqueles que ainda não creem. Portanto, a mensagem evangelística sempre irá surtir efeitos positivos na igreja, mesmo que seja afastamento os falsos irmãos.
 
12) Por fim, combatam os falsos ensinos e os falsos mestres (Jd 3,4; Dt 18:20-22; Mt 7:15-20; 1 Ts 5:20,21; Rm 16:17,18; 1 Tm 6:3-5; 1 Jo 4:1; Mc 13:22,23; 2 Pe 2:1-3). A prática incorreta geralmente está ligada a doutrina incorreta. A permissividade quanto a pregadores despreparados e a música gospel de caráter duvidoso ajudam a disseminar o erro. Se o líder da igreja não batalhar pela sã doutrina, como espera que os fiéis creiam da maneira correta e pratiquem o que é certo? Aqui está implícito que é desejo do leitor primar pela sã doutrina e ajudar a sua igreja a crescer na graça e no conhecimento de Deus. Na conclusão da sua segunda epístola, o apóstolo Pedro faz referência a alguns indivíduos que estavam distorcendo os escritos de Paulo e as demais Escrituras, para a própria destruição deles (2 Pe 3:14-16). A exortação é que devemos nos acautelar, porque hoje a prática não é diferente, muito pelo contrário. Aqueles que são arrastados pelo erro desses insubordinados, escreve Pedro, acabam decaindo da sua própria firmeza (v. 17), motivo pelo qual devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (v. 18). A respeito dos pastores – líderes do rebanho que o Senhor lhes confiou –, ou eles estão do lado daqueles que pervertem o Evangelho ou daqueles que o defendem. Não existe um lado neutro. De que lado você está?
 
ATENÇÃO: Este poema faz parte do livro DECEPCIONADOS COM A IGREJA: 70 RAZÕES E DESCULPAS PARA A EVASÃO NAS IGREJAS CRISTÃS, de Mizael Xavier, à venda em formato de livro eletrônico pela Amazon. Veja a capa:


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