terça-feira, 27 de março de 2018

ESTRATÉGIAS DO BOM SALDADO DE JESUS - PARTE 1




TEXTO ÁUREO: 2 Timóteo 2:1-10


A NATUREZA DA NOSSA GUERRA

·         Em 2 Timóteo 2:1-10, o apóstolo Paulo estimula Timóteo a participar de uma batalha já travada há muitos séculos e que agora faz parte do cotidiano da Igreja do Senhor: uma luta pela verdade. Todas as investidas de Satanás, o que inclui os falsos profetas, os falsos mestres, os anticristos e o anticristo, são contra a verdade do Evangelho, apresentando uma mentira travestida de verdade que impede que as pessoas conheçam verdadeiramente a Cristo e o busquem pelas razões corretas. No campo de batalha do crente, toda luta é uma luta contra a mentira e a favor da verdade.
·         Toda luta pela verdade (pregação e prática desta verdade) começa dentro de nós, na nossa mente. Somente uma mente transformada e submissa a Deus pode viver em santidade, resistir às investidas de Satanás e não conformar-se com este mundo (Rm 12:1,2). Tanto o pecado que habita em nós quanto as ofertas de Satanás e a sedução do mundo visam nos levar a pecar, a transformar a verdade de Deus em mentira e a nos colocar no caminho do erro. Defender a verdade não significa apenas pregá-la, mas viver de conformidade a ela. Se pregamos o que é certo e praticamos o que é errado, a verdade não está em nós.
·         A defesa da fé é algo tão importante que levou Judas, irmão de Jesus, quando foi redigir a sua carta, a mudar o assunto que tinha em mente. Ao invés de escrever acerca da comum salvação, ele se sentiu “obrigado” a exortar que se batalhasse diligentemente pela fé “que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3). O motivo dessa preocupação do apóstolo está claro no v. 4: “Pois, certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
·         Ao aconselhar os presbíteros de Éfeso, Paulo tinha em mente, também, o problema dos falsos mestres e dos falsos ensinos que penetrariam na igreja após a sua partida (At 20:28-32). O seu conselho aos presbíteros foi que eles zelassem pelo rebanho que o Espírito Santo os havia confiado (v. 28). Para isso, encomendou-lhes ao Senhor e à palavra da sua graça (v. 32). Somente através da Palavra de Deus é possível proteger-nos e proteger a Igreja contra os falsos ensinos.
·         O apóstolo Paulo alertou Tito a respeito dos falsos mestres, em especial os da circuncisão, afirmando que é preciso “fazê-los calar”, repreendendo-os severamente para que sejam sadios na fé “e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade” (Tt 1:10-14). Da mesma forma, Paulo alertou Timóteo para admoestar “certas pessoas a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que antes promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Tm 1:3-7).


USANDO AS ESTRATÉGIAS CORRETAS

            Nesta batalha, não lutamos com a nossa própria forma nem utilizamos as nossas próprias armas. O apóstolo Paulo vai mostrar que o crente precisa estar revestido de um poder que vai além da sua capacidade humana, e que envolve deixar-se encher pela graça de Deus e envolver-se ativamente na batalha.


1. Fortificar-se na graça (v. 1)

·         A guerra pela verdade é uma guerra de Deus, onde atuamos como soldados usados por Ele na propagação do seu Evangelho. Ao escrever “fortifica-te”, Paulo está usando um termo grego que está na voz passiva (endynamoo), que seria melhor traduzido como “ser fortalecido”. Isto significa que o crente atua de forma passiva, não luta com sua própria força, mas no poder que Deus lhe dá. Escrevendo aos crentes de Éfeso, Paulo utiliza o termo endunamousthe para afirmar: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6:10). É Deus quem capacita aqueles que Ele chama para a sua obra.
·         Quanto mais lutamos com as nossas próprias forças e desprezamos o verdadeiro poder, tanto mais nos tornamos cansados e abatidos. Na luta pela verdade, o que fará a diferença no campo de batalha será o tipo de arma que estamos utilizando. Se lutamos revestidos do poder de Deus, confiantes de que Ele trabalha por nós, em nós e através de nós, não nos cansaremos nem nos afadigaremos, mas teremos as nossas forças constantemente renovadas (Is 40:28-31).
·         O verdadeiro poder para realizarmos as obras de Deus e sairmos vitoriosos não vem da nossa capacidade humana limitada, mas do seu Espírito que habita em nós: “Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6). Davi, mesmo sendo rei e tendo um exército bem equipado à sua disposição, escreveu: “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriamos em nome do Senhor, nosso Deus” (Sl 20:7).
·         O poder (dumanis) que nos é dado por Deus é para que sejamos as suas testemunhas, o que diz respeito à pregação correta do Evangelho a todas as pessoas de todas as nações da terra: “mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1:8).
·         O poder que opera na vida do soldado se Jesus não vem dele mesmo, mas de Deus, que o capacita para a sua tarefa evangelizadora: “E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3:4-6).
·         O crente só pode obter vitória no campo de batalha se lutar com as armas corretas. As nossas armas não são carnais, mas espirituais (2 Co 10:4,5) e têm como objetivo apresentar a revelação divina conforme se encontra nas Escrituras contra  as mentiras apregoadas por Satanás e seus servos.
·         O conhecimento de Deus deve nos levar à submissão total a Ele. Se somos fortalecidos pela sua graça, entendemos que dependemos de Deus e devemos lutar conforme o seu padrão, não o nosso.


2. Multiplicar o conhecimento (v. 2)

Uma das grandes estratégias na defesa da verdade é propagá-la, criando uma rede multiplicadora desta verdade, utilizando-se de pessoas convertidas e idôneas para pregá-la, ensiná-la e defendê-la. Vemos aqui o poder do ensino das Sagradas Escrituras no fortalecimento da fé cristã e no avanço do Evangelho. O apóstolo Paulo deixa bastante claro o que deveria ser transmitido: “o que de minha parte ouvistes”. Em sua primeira epístola a Timóteo, Paulo já o havia exortado a guardar o que lhe fora confiado (1 Tm 6:20) contra aqueles que ensinavam doutrinas contrárias à verdadeira com intuitos gananciosos (6:3-10). O mesmo conselho ele dá a Tito, exortando que ele fale somente o que convém à sã doutrina (Tt 2:1). Não é qualquer mensagem que o soldado de Cristo deve propagar e defender, mas o conteúdo da pregação evangélica, que pode ser resumido na seguinte sentença de Paulo: “mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Co 1:23). A mensagem que pregamos e defendemos é a mensagem da cruz de Cristo (v. 18), o próprio Jesus como Senhor e a nós mesmos como seus servos (2 Co 4:5; Ef 3:8; Gl 3:1). O conhecimento divino que deve fazer parte da artilharia do bom soldado de Cristo em defesa da fé deve ser:

·         A ressurreição de Cristo. A ressurreição de Cristo é o fundamento da fé cristã e a legitimação da missão evangelística da Igreja (At 17:31; 24:21; 26:7,8; Rm 14:9; 1 Co 15:15-22; Cl 1:18; 2 Tm 4:1; 1 Pe 4:5). Paulo chega a escrever que se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação e a nossa fé, e modo que nos tornamos falsas testemunhas diante de Deus (1 Co 15:14,15).
·         Ensino bíblico coerente com as Escrituras (At 17:11). O soldado do Senhor precisa ter um conhecimento sólido da Bíblia para não se desviar dela. Nenhuma mensagem pode ser diferente do Evangelho que está registrado nas páginas da Bíblia, seja por ignorância ou por má fé (Gl 1:6-9). Paulo exorta a Tito que ele se apegue à palavra fiel, que é segundo a doutrina (Tt 1:9).
·         Jesus como a própria mensagem. A nossa mensagem é uma: o Senhor Jesus, poder e sabedoria de Deus (1 Co 1:22-24; cf. At 24:11; 2 Co 4:5). O Jesus que anunciamos é Deus, Senhor e Cristo (At 2:36; 5:42; 10:36-42).
·         Fé num único Deus. A evangelização deve anunciar ao mundo um único e verdadeiro Deus (At 14:15-17; 17:23-34; 26:15-18; Rm 1:19-25; Ef 4:17-19), ensinando aos que vivem na ignorância, aos ateus e aos idólatras a necessidade de adorar somente ao Deus Trino (1 Ts 4:5; 2 Ts 1:8; Gl 4:8; 1 Co 15:34; Ef 4:17-19; 1 Pe 1:14; Jr 10:25; Jó 18:21).
·         O Evangelho da graça. Testemunhar do Evangelho da graça de Deus foi o ministério recebido do Senhor Jesus pelo apóstolo Paulo (At 20:24), o que equivale a pregar o Reino de Deus. Logo, vemos claramente que a proclamação do Reino envolve o anuncio da graça de Deus em Cristo.
·         Uma mensagem libertadora. O Cristo que se revela nas Escrituras, muda radicalmente a nossa razão de viver. A mensagem evangelística é uma mensagem de libertação. A compreensão da verdade salvadora era algo que somente Deus poderia dar ao perdido, porque o seu coração está endurecido (Mt 13:10-15). Jesus é a verdade (Jo 14:6) e o seu Espírito é libertador (2 Co 3:17).
·         Uma mensagem escatológica. A mensagem da pregação evangelística é escatológica: ela inicia demonstrando a salvação providencial em Cristo e terminha com a proclamação da sua vinda gloriosa para arrebatar a Igreja e julgar a humanidade. Esta era a pregação do Senhor: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3:2; cf. 4:17). Esta deve ser a pregação do bom soldado do Senhor: a proclamação da salvação em Cristo e a vinda do seu Reino glorioso, como já declarava o Antigo Testamento (Is 56:11; Jl 3:14; Zc 1:14) e como pregou o apóstolo Pedro (At 3:18-21). A declaração “Jesus está vindo!” deve voltar a fazer parte da nossa pregação, declarando abertamente que Deus julgará o mundo (Hb 9:27) e que o inferno é uma realidade, mesmo que para alguns o Senhor pareça demorar-se (2 Pe 3:9,10).

Mizael Xavier

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