quinta-feira, 29 de março de 2018

O SENHOR É O MEU PASTOR - SALMO 23:1a




Senhor (v.1a)

“O Senhor é o meu pastor”

            Só é possível entendermos claramente o Salmo 23 quando nos acercamos desta primeira afirmação do rei Davi: “O Senhor é o meu pastor”. Poderíamos ousar inverter esta frase e ler: “O pastor é o meu Senhor”. Isto nos dá uma dimensão muito maior e um entendimento mais abrangente de quem é o pastor presente neste salmo: ele é ninguém menos que o Senhor (YHVH, ou Jeová). Logo, o Pastor de Davi é o Deus de Israel, alguém que possui total autoridade sobre a sua vida e a quem ele deve adoração incondicional e irrestrita. Se Deus é o nosso pastor, não apenas estamos seguros quanto às suas bênçãos, como também devemos estar certos de que precisamos viver em obediência a Ele. A maioria dos crentes que possuem um quadro na parede com este salmo ou o recitam em momentos de angústia e medo, não se dá conta de que ele não fala apenas de um pastor, mas, acima de tudo, de um Senhor. Se Deus não é Senhor da nossa vida, Ele também não é o nosso Pastor, logo não somos suas ovelhas. O pastor só cuida das suas próprias ovelhas, jamais das ovelhas de outros pastores. Sendo assim, ler o Salmo 23 e apoderar-se das suas verdades e bênçãos envolve fazer-nos a seguinte pergunta: Deus é Senhor da minha vida?
            A nossa segurança está justamente no fato de pertencermos a este Senhor, que não apenas nos salva, como também cuida de nós. Toda a confiança do salmista que permeia todo o Salmo 23 está fundamentada nesta dupla figura de Deus como Pastor e como aquele que nunca falta. Se Davi não possuísse esta certeza de ter Deus como o Senhor zeloso pela sua vida, jamais estaria seguro de caminhar pelos vales sombrios do mundo e alcançar a vitória de Deus para ele. Muito pelo contrário, o desespero da incerteza de chegar faria com que ele tivesse medo até mesmo de partir. Vemos esta confiança plena em Deus logo no início da caminhada de Davi como ungido do Senhor. É o que podemos atestar na sua exclamação diante do gigante Golias, que afrontava toda a nação de Israel: “Tu vens contra mim com espada, e com lança, e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado” (1 Sm 17:45).
Este é um salmo de alguém que teve uma experiência com Deus. O v. 1 demonstra que o rei Davi possuía uma relação íntima com o seu Pastor. Ele não somente conhecia a sua natureza e o seu caráter, como também era conhecido por Ele. Davi conhecia Deus além da palavra, isto é, da Lei e do cumprimento daquilo que nela estava prescrito. Ele o conhecia por se relacionar com Ele, o que vemos claramente nos seus Salmos, onde o rei abre o seu coração, reconhece os seus pecados e pede perdão, clama por socorro e agradece pelos livramentos recebidos. Davi era alguém que não somente cria em Deus, mas que o vivenciava em toda a sua vida por meio da oração, da adoração, da atenção à sua Lei, das maravilhas que Deus operava na sua vida. Isto nos lembra outro personagem da Bíblia: Jó, que mesmo sendo considerado por Deus um homem de caráter ilibado, que cumpria a sua vontade e de quem nada de errado podia ser dito, reconhece após passar por duras provas: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5).
Quando Davi chama o Senhor de “meu pastor”, não está afirmando que Deus é uma possessão sua, muito pelo contrário: ele que é possessão de Deus. Ao contrário da teologia moderna que trata Deus como um mero escravo a serviço dos desejos e planos dos crentes, Deus é aquele Pastor que governa, alimenta e protege as suas ovelhas. Então devemos responder à pergunta feita no primeiro parágrafo, porque se Deus não é Senhor da nossa vida, não somos sua possessão, não somos suas ovelhas e não estamos seguros quanto ao nosso destino final. O Senhor Jesus afirmou que naquele dia muitos o chamarão de Senhor e listarão tudo o que fizeram em seu Nome. Ele, porém, lhes dirá: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:22,23). Então quem está apto para entrar no seu Reino? O próprio Senhor já havia afirmado: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (v. 21). Logo, é impossível seguirmos a Jesus e nos deixarmos conduzir por Ele se não o reconhecemos como Senhor da nossa vida e se não fazemos aquilo que Ele nos manda fazer (Lc 6:46).
O rei Davi tinha a certeza de ser ovelha do seu Senhor, sabia que pertencia a Ele. Então, o salmo que ele compôs não é uma simples reza, um poema a ser estampado num quadro ou numa camiseta, muito menos um mantra a ser repetido constantemente para atrair bênçãos e afugentar o mal. Ele é, na verdade, o retrato de uma vida entregue totalmente ao Senhor, submissa à sua vontade. Muitos apropriam-se do Salmo 23 sem jamais terem conhecido o Senhor descrito nele. Este Pastor salmodiado por Davi é o próprio Senhor Jesus, profetizado por Isaías, ao escrever: “Eis que o Senhor Deus virá com poder, e o seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa. Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (Is 40:10,11). Em Ezequiel 34:11-31, a figura ao pastor também aparece como aquele que procura e busca as suas ovelhas (v. 11). Ele não somente as busca, como também as encontra e as reúne de onde foram espalhadas, para apascentá-las e dar-lhes repouso, fazendo a devida separação entre ovelhas, carneiros e bodes (v. 17).
A profecia de Ezequiel não aponta apenas para a restauração de Israel após o cativeiro, mas também para a vinda do Sumo Pastor, que recolheria as suas ovelhas espalhadas pelo mundo (Jo 10:16), conduzindo-as em segurança ao aprisco celestial. Jesus é, então, o bom pastor, que dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10:11). Ao contrário do mercenário que não vem para cuidar do rebanho, mas foge diante dos perigos e é capaz até mesmo de negociar as ovelhas para obter lucro financeiro, Jesus garante que jamais abandonará as suas ovelhas e que elas podem estar seguras de que jamais serão arrebatadas das suas mãos (Jo 10:28). O nosso Supremo Pastor nos dá garantia de recebermos a coroa da glória (1 Pe 5:4).


A vocação das ovelhas

As palavras de Jesus registradas pelo apóstolo João conforme vimos acima, foram direcionadas aos judeus que o interrogavam a respeito de quem Ele era verdadeiramente, pois, na sua mente, Jesus era um louco endemoninhado (v. 20). Estava patente que, mesmo diante das obras que Jesus praticava, eles não conseguiam enxergar que ele era o Cristo de Deus (v. 25). E por que não conseguiam? Jesus afirma: “Mas vós não credes, porque não sois minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (vs. 26,27). É isto que acontece atualmente em muitas igrejas que se dizem cristãs e com muitas pessoas que utilizam o Salmo 23 como um conjunto de palavras místicas: elas não obedecem a Jesus, não o seguem com sinceridade, não obedecem a sua Palavra, não fazem o que Ele manda, não vivem nem pregam a verdade, porque não são ovelhas do seu pasto. Em suma: não são verdadeiramente convertidas, ou seja: não são crentes de fato. A igreja é uma imensa lavoura de trigo, onde o joio cresce e se mistura até o dia da colheita (Mt 13:24-30).
Não devemos nos enganar achando que podemos ter o Pastor do Salmo 23 se Ele não for primeiramente o nosso Senhor. Davi era servo de Deus e isso lhe trazia a segurança de ser guiado, cuidado e protegido por Ele. Algo importante a respeito de Davi e que também diz respeito a nós é que não foi ele quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu. Essa escolha diz respeito à promessa feita a Abraão, homem escolhido por Deus para ser o pai da nação de Israel, como também à própria escolha de Davi como rei. Eis uma verdade: não são as ovelhas que escolhem o pastor, mas é o pastor quem escolhe as ovelhas. Somente aqueles enviados a Jesus por Deus são suas ovelhas, como o próprio Senhor declarou: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo algum o lançarei fora... Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia... E prosseguiu; Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido” (Jo 6:37,44,65).
A vocação das ovelhas – os eleitos de Deus para a salvação em Cristo – faz parte da vocação interna ou eficaz, conforme explicada por Berkhof (1992, p. 225 a 230). Existe, na verdade, duas vocações: a externa e a interna. Ambas são o chamado geral e gracioso de Deus aos pecadores para aceitarem a salvação oferecida por Cristo. Todos os pecadores não buscam a Deus, mas são procurados por Ele, por meio de uma obra redentora que envolve o Pai (1 Co 1:9; 1 Ts 2:12; 1 Pe 5:10), o Filho (Mt 11:28; Lc 5:32; Jo 7:37) e o Espírito Santo (Mt 10:20; Jo 15:26; At 5:31,32). Esta vocação está direcionada a todas as pessoas que em todos os lugares escutam de algum modo a Palavra de Deus, o chamado evangélico ao arrependimento e à conversão. A diferença está em como o chamado de Deus afetará a cada um: os eleitos e os réprobos, isto é, aqueles que jamais responderão positivamente ao convite de Deus à conversão.
A vocação externa é estendida a todos os homens sem distinção. Quando falamos de Jesus nas praças ou pregamos o seu Evangelho nas redes sociais, um número imenso de pessoas ouve a verdade sendo ministrada. Esta vocação geral e externa está presente na grande comissão (Mt 28:19; Mc 16:15). A rejeição ao Evangelho por parte dos ouvintes que não são ovelhas do Senhor fica patente também (Mt 10:15; 11:21-24; 22:12-14; Lc 14:15-24; Jo 3:36; 5:40; 16:8,9; At 13:46; 2 Ts 1:8; 1 Jo 5:10). Embora a realidade do pecado, da salvação pela fé, da necessidade do arrependimento e da condenação eterna seja claramente exposta a essas pessoas, elas mantêm o coração endurecido. Embora a salvação seja oferecida graciosamente por Deus a todos os pecadores (Jl 2:32; Sl 86:5; Is 55:1; Mt 11:28; Ap 22:17) e não somente aos eleitos (Pv 1:24-26; Ez 3:19; Mt 22:2-8,14; Lc 14:16-24), é fato que muitos morrerão na incredulidade, porque jamais foram escolhidos por Deus para crerem.
Já a vocação interna é eficaz e produz salvação na vida do pecador, porque é efetuada pelo Espírito Santo. Podemos exemplificar esta situação através da própria natureza do rebanho de ovelhas. Se um pastor juntar as suas ovelhas às ovelhas de outro pastor, de modo que seja impossível diferenciar visualmente as ovelhas umas das outras, não saberemos quais são as ovelhas do pastor e quais não são. Então o pastor chamará as suas próprias ovelhas do meio de todo aquele rebanho. Todas ouvirão o chamado do pastor, mas somente as suas próprias ovelhas atenderão a este chamado e irão até ele. As outras ovelhas, embora tenham ouvido o mesmo chamado, permanecerão onde estão, porque não fazem parte do seu rebanho. O pastor é o mesmo (Jesus), o chamado é o mesmo (ao arrependimento), as palavras utilizadas são as mesmas (o Evangelho), mas quem não é de Deus, não irá até Jesus.
A Palavra de Deus é pregada e o Espírito Santo atua de maneira eficaz na vida dos escolhidos, convencendo-os do seu pecado e convertendo-os (1 Co 1:23,24; At 13:48). Essa conversão não pode ser revogada (Rm 11:29). Uma vez que o pecador se converte, está totalmente livre de condenação (Rm 8:1,2). É importante dar atenção ao fato de que o Espírito Santo opera a salvação por meio da escuta da Palavra (Rm 10:17), do Evangelho de Cristo, persuadindo a sua consciência e abrindo o seu entendimento para a verdade que liberta do pecado e da morte, de modo que o pecador se volta para Deus. Muitos recorrem a Deus porque foram convencidos por pregações triunfalistas que prometiam a solução para seus problemas pessoais diversos. Estes não foram convencidos do pecado pelo Espírito, mas abraçaram a fé para ter uma vida tranquila e próspera. Pode-se comparar a bodes que, observando o cuidado do pastor por suas ovelhas, se juntaram ao rebanho para gozar deste cuidado, mas que jamais farão parte dele. As igrejas estão lotadas de pessoas assim, que nunca receberam o chamado eficaz e que, por isso, não são convertidas. Estão no meio do povo de Deus para se alimentar dos pastos verdejantes, mas não estarão na Casa do Senhor para todo o sempre.
Podemos apreender uma verdade dessas palavras de Jesus: Deus conhece aqueles que são seus, as suas ovelhas. Falando a respeito de homens que se desviaram da verdade, o apóstolo Paulo escreveu: “Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor” (2 Tm 2:19; cf. Nm 16:5). Logo, nem todos os que se aproximam dele e até mesmo o seguem são ovelhas do seu pasto. Muitos que se dizem cristãos e lotam inúmeras igrejas espalhadas pelo mundo inteiro jamais experimentaram a verdadeira conversão, jamais foram escolhidos por Deus para fazerem parte do seu rebanho. Ao contrário, buscam a Deus e seguem a Jesus por motivos egoístas e interesseiros, para conquistar bênçãos e vitórias.
Não somos nós que escolhemos Deus para ser o nosso Pastor, mas é Ele quem nos escolhe para sermos as suas ovelhas. Senão, vejamos:

·         É Deus quem soberanamente nos escolhe/elege segundo a predestinação (Ef 1:3-14; cf. tb. Dt 10:15; Sl 33:12; 65:4; 135:4; Mt 11:27; 22:14; 24:22,31; Lc 18:7; Jo 15:16; 17:24; At 13:48; Rm 8:28-33; cap. 9; 10:20; 11:5,6; Cl 3:12; 1 Ts 5:9; 2 Ts 2:13; 2 Tm 1:9,10; 2:10; Tt 1:1,2; Tg 2:5; 1 Pe 1:1,2; 2:8,9; Ap 17:8,14; 1 Co 1:27-29; Fp 2:13). Nenhum pecador deseja ir a Deus para ter vida (Jo 5:40), é preciso que Deus o busque e lhe dê a fé necessária à salvação e a vida que ele tanto precisa (Ef 2:1,8,9).
·         É Deus quem chama (Rm 8:28-33; cap. 9; 2 Tm 1:9; 1 Pe 2:9; 5:10; Jo 6:37,44,65; 2 Ts 2:13,14). Somos ovelhas escolhidas e chamadas por Deus para segui-lo. Todo o processo de salvação se inicia, desenvolve-se e termina com Deus, nosso Pastor.

Ser escolhido por Deus para fazer parte do seu rebanho de salvos traz consequências positivas à vida das ovelhas, o que se demonstra por meio de um caráter santo, transformado pelo Espírito Santo e comprometido com o Reino de Deus. Deus não é somente aquele que cuida e protege, mas é, antes de tudo, aquele que governa. Podemos ver essa submissão ao governo de Deus e à sua soberana vontade na vida do próprio Davi. No capítulo sete do segundo livro de Samuel, o profeta começa nos informando um dos motivos por que Davi era um homem segundo o coração de Deus. Davi tinha cuidado e zelo pela arca de Deus (v. 2), isto é, pela presença do Senhor no meio do seu povo. Ele cria que Deus merecia morar num lugar melhor, já que ele mesmo viva numa casa de cedro, enquanto a arca de Deus habitava numa tenda. O profeta Natã disse-lhe: “Vai, faze tudo quanto está no teu coração, porque o Senhor é contigo” (v. 3). A vontade do coração de Davi não seria dele mesmo, mas de Deus, pois Ele estava guiando a sua vida. Davi declara no Salmo 37: “Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração” (v. 4). E qual era o desejo do seu coração? O Salmo 40:8 nos responde: “agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração está a tua lei.”
A partir do momento em que temos a lei de Deus no nosso coração, não estaremos mais em busca de satisfazer a nossa vontade, a não ser que esta seja fazer a vontade de Deus. Seguir a Deus e ser fiel a Ele traz bons frutos para a nossa vida, como aconteceu com Davi. Afastar-se dos caminhos de Deus e não guardar a sua Palavra pode trazer péssimos resultados, como ocorreu com Saul (v. 15). O rei Davi colheu o fruto da sua comunhão com Deus, mesmo que errando em muitos momentos. Ele era homem de coração sincero e contrito (Sl 51:17). O capítulo 7 de 2 Samuel também possui uma visão profética da pessoa de Cristo e do seu reinado eterno (11-14). As ações de graça de Davi que se seguem são um conforto pelas grandes obras do Senhor, que estabeleceria para sempre o seu descendente: Jesus. Assim como Davi, podemos enxergar as obras e as promessas de Deus e nos alegrar no seu cumprimento, sabendo que Ele é fiel para cumprir tudo o que nos prometeu na Bíblia. Viver o hoje na expectativa da iminente volta de Cristo para levar a sua igreja, traz nova perspectiva e significado à nossa existência, além de nos colocar em conexão com esse Reino vindouro que já existe em nós, despertando compromisso e amor pela Palavra de Deus.


As falsas ovelhas entre nós[1]

Deus profere, por meio de Ezequiel, uma profecia contra os falsos profetas. Isso nos mostra que a preocupação de Jesus com os mentirosos infiltrados no meio do povo de Deus refletia uma preocupação divina de muitos séculos (Ez 13:1-16). Como aconteceu na época dos profetas, de Jesus e dos apóstolos, muitos falsos profetas e falsos mestres têm surgido no meio do povo de Deus, fingindo-se de ovelhas, intitulando-se pastores, missionários, bispos e até mesmo apóstolos. Eles operam supostos sinais e maravilhas e realizam toda sorte de milagres em nome de Deus, mas pela atuação de Satanás. Fazem isso utilizando uma fé supersticiosa e sincretista, misturando ao Evangelho elementos da Umbanda. Eles são indivíduos listados na Bíblia, como: falsos mestres (Mt 7:15-20; Rm 16:17,18; 1 Tm 6:3-5), falsos profetas (Mt 24:11; 1 Jo 4:1; 2 Pe 2:1-3; Ap 19:20), falsos cristos (Mt 24:23-26; Mc 13:22,23), falsos irmãos (Gl 2:4,5), falsos apóstolos (2 Co 11:13-15) e homens ímpios (Jd 5-16). Estudando o caráter dessas falsas ovelhas e os seus ensinamentos (Gl 1:6-8; 2 Co 11:3,4; 2 Ts 2:3,4,8-10), percebemos os riscos que eles representam à Igreja e os problemas que podem causar com suas ações e pregações. A Igreja precisa estar alerta, identificando esses indivíduos e excluindo-os do meio do povo de Deus. Muitos desses falsos irmãos são anticristos que acabam por sair do nosso meio, o que deixa bastante claro que não eram dos nossos (1 Pe 2:18,19). Aquele que é de Cristo não se deixa enredar por esses falsos cristãos porque, ao contrário deles, possuem a unção que vem do Santo (v. 20).
Afora esses casos declaradamente heréticos, nem sempre é fácil identificar as falsas ovelhas. Primeiro porque ninguém admitirá ser um falso crente; segundo porque não tem como saber ao certo quem eles são, pois quem julga é Deus. Mas o Senhor nos dá uma pista: “Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto” (Lc 6:44). As verdadeiras ovelhas do Senhor andam no Espírito e produzem o seu fruto (Gl 5:22-25). Paulo afirma: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8:14). Algumas pessoas estão dentro da Igreja e se declaram crentes porque frequentam uma denominação e exercem algumas práticas religiosas. Mas é possível estarem enganadas quando observamos seus atos (Pv 16:25; 2 Jo 1:9; Tt 1:16; Cl 2:8). Além dos falsos mestres, aí também estão os convertidos pelos motivos errados, como bênçãos, milagres e prosperidade. A atitude da Igreja, nestes casos, deve ser identificar esses indivíduos e continuar a evangelizá-los. Em alguns casos – como os falsos profetas – deve-se praticar a exclusão da comunhão com os irmãos para evitar que contaminem os demais (1 Co 5:1,2,11,13). Aqui está a importância da pregação pura do Evangelho. A própria exposição da verdade já deixa patente quem anda na mentira, confronta as falsas ovelhas e as desafia nas suas crenças e práticas. Quem anda na verdade é amigo da verdade; quem resiste a ela, torna-se seu inimigo.
Ainda existe outro grupo de falsas ovelhas: os amigos do Evangelho, aquelas pessoas capazes de frequentar durante anos a Igreja, participar de todas as suas atividades, contribuir com ofertas e apoiar os seus projetos, mas sem jamais terem feito uma decisão pessoal por Jesus. Algumas delas jamais receberam nem receberão o chamado eficaz para se converterem. Esses amigos procuram ser crentes, todavia sem assumir um real compromisso de vida e de fé com o Senhor, deixando sempre uma porta aberta para o mundo, onde estão os pecados que eles no fundo não querem abandonar. É preciso deixar bastante claro que eles não são filhos de Deus (1 Jo 3:10; Jo 1:12; 3:6; 8:47; Gl 3:26), mesmo frequentando a Igreja, porque não “são” Igreja; e que se morrerem sem Cristo, perecerão. Somente crendo em Jesus poderão ser salvos (At 16:31; 2 Pe 2:4-9; 2 Ts 1:7-9; Jo 10:9). Quando Jesus Cristo vier levar a sua Igreja, fará a separação entre o joio e o trigo, as ovelhas e os bodes, e os “amigos do Evangelho” não subirão com Ele (Mt 13:24-30; 25:31-46). Quem não teve as vestes lavadas no sangue do Cordeiro não é a sua noiva (Ap 22:14; At 20:28; Ef 5:25-27). Somente as ovelhas genuínas têm seus nomes escritos no Livro da Vida (Ap 3:5; 20:12; Jo 3:16; 1 Jo 5:3; Hb 11:4). Estar na Igreja sem ter sido convencido do pecado pelo Espírito Santo não levará ninguém para o céu, mesmo que se esteja envolvido em ministérios, seja filho de pastor e dê dízimos e ofertas.




[1] Este ponto do estudo é adaptado do livro “Ide e pregai”, de minha autoria, ainda a publicar.

AUTOR:

Mizael de Souza Xavier

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terça-feira, 27 de março de 2018

ESTRATÉGIAS DO BOM SALDADO DE JESUS - PARTE 1




TEXTO ÁUREO: 2 Timóteo 2:1-10


A NATUREZA DA NOSSA GUERRA

·         Em 2 Timóteo 2:1-10, o apóstolo Paulo estimula Timóteo a participar de uma batalha já travada há muitos séculos e que agora faz parte do cotidiano da Igreja do Senhor: uma luta pela verdade. Todas as investidas de Satanás, o que inclui os falsos profetas, os falsos mestres, os anticristos e o anticristo, são contra a verdade do Evangelho, apresentando uma mentira travestida de verdade que impede que as pessoas conheçam verdadeiramente a Cristo e o busquem pelas razões corretas. No campo de batalha do crente, toda luta é uma luta contra a mentira e a favor da verdade.
·         Toda luta pela verdade (pregação e prática desta verdade) começa dentro de nós, na nossa mente. Somente uma mente transformada e submissa a Deus pode viver em santidade, resistir às investidas de Satanás e não conformar-se com este mundo (Rm 12:1,2). Tanto o pecado que habita em nós quanto as ofertas de Satanás e a sedução do mundo visam nos levar a pecar, a transformar a verdade de Deus em mentira e a nos colocar no caminho do erro. Defender a verdade não significa apenas pregá-la, mas viver de conformidade a ela. Se pregamos o que é certo e praticamos o que é errado, a verdade não está em nós.
·         A defesa da fé é algo tão importante que levou Judas, irmão de Jesus, quando foi redigir a sua carta, a mudar o assunto que tinha em mente. Ao invés de escrever acerca da comum salvação, ele se sentiu “obrigado” a exortar que se batalhasse diligentemente pela fé “que uma vez por todas foi entregue aos santos” (v. 3). O motivo dessa preocupação do apóstolo está claro no v. 4: “Pois, certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo”.
·         Ao aconselhar os presbíteros de Éfeso, Paulo tinha em mente, também, o problema dos falsos mestres e dos falsos ensinos que penetrariam na igreja após a sua partida (At 20:28-32). O seu conselho aos presbíteros foi que eles zelassem pelo rebanho que o Espírito Santo os havia confiado (v. 28). Para isso, encomendou-lhes ao Senhor e à palavra da sua graça (v. 32). Somente através da Palavra de Deus é possível proteger-nos e proteger a Igreja contra os falsos ensinos.
·         O apóstolo Paulo alertou Tito a respeito dos falsos mestres, em especial os da circuncisão, afirmando que é preciso “fazê-los calar”, repreendendo-os severamente para que sejam sadios na fé “e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade” (Tt 1:10-14). Da mesma forma, Paulo alertou Timóteo para admoestar “certas pessoas a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que antes promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Tm 1:3-7).


USANDO AS ESTRATÉGIAS CORRETAS

            Nesta batalha, não lutamos com a nossa própria forma nem utilizamos as nossas próprias armas. O apóstolo Paulo vai mostrar que o crente precisa estar revestido de um poder que vai além da sua capacidade humana, e que envolve deixar-se encher pela graça de Deus e envolver-se ativamente na batalha.


1. Fortificar-se na graça (v. 1)

·         A guerra pela verdade é uma guerra de Deus, onde atuamos como soldados usados por Ele na propagação do seu Evangelho. Ao escrever “fortifica-te”, Paulo está usando um termo grego que está na voz passiva (endynamoo), que seria melhor traduzido como “ser fortalecido”. Isto significa que o crente atua de forma passiva, não luta com sua própria força, mas no poder que Deus lhe dá. Escrevendo aos crentes de Éfeso, Paulo utiliza o termo endunamousthe para afirmar: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6:10). É Deus quem capacita aqueles que Ele chama para a sua obra.
·         Quanto mais lutamos com as nossas próprias forças e desprezamos o verdadeiro poder, tanto mais nos tornamos cansados e abatidos. Na luta pela verdade, o que fará a diferença no campo de batalha será o tipo de arma que estamos utilizando. Se lutamos revestidos do poder de Deus, confiantes de que Ele trabalha por nós, em nós e através de nós, não nos cansaremos nem nos afadigaremos, mas teremos as nossas forças constantemente renovadas (Is 40:28-31).
·         O verdadeiro poder para realizarmos as obras de Deus e sairmos vitoriosos não vem da nossa capacidade humana limitada, mas do seu Espírito que habita em nós: “Prosseguiu ele e me disse: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel: Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6). Davi, mesmo sendo rei e tendo um exército bem equipado à sua disposição, escreveu: “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriamos em nome do Senhor, nosso Deus” (Sl 20:7).
·         O poder (dumanis) que nos é dado por Deus é para que sejamos as suas testemunhas, o que diz respeito à pregação correta do Evangelho a todas as pessoas de todas as nações da terra: “mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1:8).
·         O poder que opera na vida do soldado se Jesus não vem dele mesmo, mas de Deus, que o capacita para a sua tarefa evangelizadora: “E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica” (2 Co 3:4-6).
·         O crente só pode obter vitória no campo de batalha se lutar com as armas corretas. As nossas armas não são carnais, mas espirituais (2 Co 10:4,5) e têm como objetivo apresentar a revelação divina conforme se encontra nas Escrituras contra  as mentiras apregoadas por Satanás e seus servos.
·         O conhecimento de Deus deve nos levar à submissão total a Ele. Se somos fortalecidos pela sua graça, entendemos que dependemos de Deus e devemos lutar conforme o seu padrão, não o nosso.


2. Multiplicar o conhecimento (v. 2)

Uma das grandes estratégias na defesa da verdade é propagá-la, criando uma rede multiplicadora desta verdade, utilizando-se de pessoas convertidas e idôneas para pregá-la, ensiná-la e defendê-la. Vemos aqui o poder do ensino das Sagradas Escrituras no fortalecimento da fé cristã e no avanço do Evangelho. O apóstolo Paulo deixa bastante claro o que deveria ser transmitido: “o que de minha parte ouvistes”. Em sua primeira epístola a Timóteo, Paulo já o havia exortado a guardar o que lhe fora confiado (1 Tm 6:20) contra aqueles que ensinavam doutrinas contrárias à verdadeira com intuitos gananciosos (6:3-10). O mesmo conselho ele dá a Tito, exortando que ele fale somente o que convém à sã doutrina (Tt 2:1). Não é qualquer mensagem que o soldado de Cristo deve propagar e defender, mas o conteúdo da pregação evangélica, que pode ser resumido na seguinte sentença de Paulo: “mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios” (1 Co 1:23). A mensagem que pregamos e defendemos é a mensagem da cruz de Cristo (v. 18), o próprio Jesus como Senhor e a nós mesmos como seus servos (2 Co 4:5; Ef 3:8; Gl 3:1). O conhecimento divino que deve fazer parte da artilharia do bom soldado de Cristo em defesa da fé deve ser:

·         A ressurreição de Cristo. A ressurreição de Cristo é o fundamento da fé cristã e a legitimação da missão evangelística da Igreja (At 17:31; 24:21; 26:7,8; Rm 14:9; 1 Co 15:15-22; Cl 1:18; 2 Tm 4:1; 1 Pe 4:5). Paulo chega a escrever que se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação e a nossa fé, e modo que nos tornamos falsas testemunhas diante de Deus (1 Co 15:14,15).
·         Ensino bíblico coerente com as Escrituras (At 17:11). O soldado do Senhor precisa ter um conhecimento sólido da Bíblia para não se desviar dela. Nenhuma mensagem pode ser diferente do Evangelho que está registrado nas páginas da Bíblia, seja por ignorância ou por má fé (Gl 1:6-9). Paulo exorta a Tito que ele se apegue à palavra fiel, que é segundo a doutrina (Tt 1:9).
·         Jesus como a própria mensagem. A nossa mensagem é uma: o Senhor Jesus, poder e sabedoria de Deus (1 Co 1:22-24; cf. At 24:11; 2 Co 4:5). O Jesus que anunciamos é Deus, Senhor e Cristo (At 2:36; 5:42; 10:36-42).
·         Fé num único Deus. A evangelização deve anunciar ao mundo um único e verdadeiro Deus (At 14:15-17; 17:23-34; 26:15-18; Rm 1:19-25; Ef 4:17-19), ensinando aos que vivem na ignorância, aos ateus e aos idólatras a necessidade de adorar somente ao Deus Trino (1 Ts 4:5; 2 Ts 1:8; Gl 4:8; 1 Co 15:34; Ef 4:17-19; 1 Pe 1:14; Jr 10:25; Jó 18:21).
·         O Evangelho da graça. Testemunhar do Evangelho da graça de Deus foi o ministério recebido do Senhor Jesus pelo apóstolo Paulo (At 20:24), o que equivale a pregar o Reino de Deus. Logo, vemos claramente que a proclamação do Reino envolve o anuncio da graça de Deus em Cristo.
·         Uma mensagem libertadora. O Cristo que se revela nas Escrituras, muda radicalmente a nossa razão de viver. A mensagem evangelística é uma mensagem de libertação. A compreensão da verdade salvadora era algo que somente Deus poderia dar ao perdido, porque o seu coração está endurecido (Mt 13:10-15). Jesus é a verdade (Jo 14:6) e o seu Espírito é libertador (2 Co 3:17).
·         Uma mensagem escatológica. A mensagem da pregação evangelística é escatológica: ela inicia demonstrando a salvação providencial em Cristo e terminha com a proclamação da sua vinda gloriosa para arrebatar a Igreja e julgar a humanidade. Esta era a pregação do Senhor: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 3:2; cf. 4:17). Esta deve ser a pregação do bom soldado do Senhor: a proclamação da salvação em Cristo e a vinda do seu Reino glorioso, como já declarava o Antigo Testamento (Is 56:11; Jl 3:14; Zc 1:14) e como pregou o apóstolo Pedro (At 3:18-21). A declaração “Jesus está vindo!” deve voltar a fazer parte da nossa pregação, declarando abertamente que Deus julgará o mundo (Hb 9:27) e que o inferno é uma realidade, mesmo que para alguns o Senhor pareça demorar-se (2 Pe 3:9,10).

Mizael Xavier

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quarta-feira, 21 de março de 2018

EDUCAÇÃO CRISTÃ DE FILHOS - INTRODUÇÃO



INTRODUÇÃO



O maior desafio da humanidade hoje não está na conquista de outros planetas, na descoberta de novas tecnologias, na solução para os problemas sociais que afligem o mundo. Estas coisas sempre foram buscadas, com ou sem avanços. O maior desafio que enfrentamos hoje é na criação dos nossos filhos num ambiente caótico e hostil como a sociedade em que vivemos atualmente. O mundo está cada vez mais desprovido de valores e repleto de mecanismos pecaminosos geradores de morte. Desde cedo as crianças são bombardeadas por estímulos e informações que, na maioria das vezes, não são saudáveis. E são esses estímulos e essas informações que construirão o seu caráter, determinando o seu comportamento presente e futuro dentro da família e em toda a sociedade. O que antes chamávamos de valores morais são considerados conceitos ultrapassados ou ideais reacionários promovidos pela religião, que limitam a liberdade humana e lhe impõe um estilo de vida particular. Não existem mais limites e a própria sexualidade é questionada. O modernismo ateísta, infiltrado em todos os âmbitos da sociedade, tenta provar que Deus é inútil. Quando as pessoas não compram essa ideia, continuam a crer em Deus, mas vivem como se Ele não existisse.
Então nossos filhos vêm a um mundo tomado pela incredulidade, pela relativização dos valores, pelo consumismo desenfreado, pela falta de ideais altruístas, pela sensualidade generalizada no imaginário e na cultura, pela violência cada dia mais crescente, pela falta de perspectivas, pelo individualismo, pelo ódio. O nosso desafio é educar através do exemplo, manter uma vida santa e íntegra diante de Deus, vivendo e ensinando aos nossos filhos os valores eternos do Pai celestial e da sua Palavra. Este é um empreendimento que demanda tempo, oração e muitas lágrimas derramadas aos pés da cruz, mas que possui frutos duradouros e eternos. O papel da educação cristã é crucial para proteger o intelecto, a emoção e a espiritualidade dos filhos, fornecendo-lhes uma base bíblica sólida para a construção do seu caráter.Esta é a nossa missão como pais. Viver no mundo sem ser do mundo, nadar contra as ondas da depravação total, apresentar-nos a nós e aos nossos filhos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus em um culto racional e constante é a meta de pais que farão a diferença.
Uma questão crucial neste tema é que, enquanto os filhos não são convertidos pelo Espírito Santo a Jesus, necessitam bem mais que uma educação baseada em princípios bíblicos, mas carecem ainda de evangelização. Entender as coisas espirituais e praticá-las só é possível a partir do momento que o indivíduo é inserido no corpo de Cristo por meio da conversão. Enquanto isso não acontece, por melhor que seja a educação dos pais, os filhos ainda serão carnais, ímpios; eles estarão ainda perdidos e não levarão a sério as coisas de Deus. Assim, o lar é o local onde o evangelismo de crianças deve começar. Se elas não tiverem o exemplo e a pregação dos seus pais, dificilmente aceitarão de outras pessoas ou, por outro lado, acabarão se deixando influenciar pelo exemplo e pela pregação errados. Este evangelismo no lar envolve[1]:


Ensino

A apresentação do Evangelho por meio da educação pelos pais é o contato mais direto que a criança terá com a Palavra de Deus. Os pais crentes devem educar os seus filhos na disciplina e na admoestação do Senhor (Ef 6:4). A admoestação está ligada à censura e advertência, à instrução por meio da Palavra, o que envolve a disciplina, como uma forma de treinamento da criança (cf. 1 Co 10:11; Tt 3:10). Esta educação, que em outros textos bíblicos traz o termo grego paideia, também está associada às recompensas e punições que esta educação carrega. Em Provérbios 22:6, Salomão nos instrui: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”. A criança que cresce num lar cristão deve receber instruções morais baseadas na Bíblia, aprendendo a amar a Deus e a obedecê-lo, sendo íntegra, justa, obediente, honesta, amorosa, praticante do bem, solidária, amante da Bíblia. Ela deve ser estimulada a ter intimidade com Deus por meio da oração. O ensino da palavra de Deus no lar leva a criança ao desenvolvimento mental (Pv 1:1-4; Sl 119:130), físico (Pv 3:2; 4:20-22), emocional (Sl 119:24, 25, 40, 44, 45, 49, 50, 88, 93, 107, 154, 165), social (Pv 3:1-4; Sl 119:23, 24, 42, 51, 52), moral e espiritual (Pv 3:1-3; 4:4-12; 6:6-27; Sl 119:9-11,24, 29, 30, 59, 60, 163).


Testemunho pessoal

Diante de tudo o que é ensinado à criança a respeito de Deus e da sua Palavra, o exemplo dos pais é que falará ainda mais alto. Não adianta ensinar à criança algo que ela percebe que não está sendo verdade no próprio testemunho dos pais, que não é praticado por eles. Os pais precisam educar os seus filhos por meio de um testemunho coerente, praticando aquilo que ensinam.


Evangelização

Por fim, o ensino e o testemunho pessoal devem vir acompanhados da evangelização. Isto é: a criança deve ser orientada quanto à realidade do seu pecado e a necessidade de crer em Jesus para ser salva. A prática da Palavra só é possível a partir da conversão, quando o pecador recebe o Espírito Santo que o estimula e o capacita para praticá-la. A educação cristã para aqueles que não são crentes serve como um ensino moral elevado capaz de promover o bem e formar boas pessoas e bons cidadãos; mas se o aprendizado não vier acompanhado da conversão, não produz indivíduos salvos. Um dos grandes erros de muitas crianças, adolescentes e jovens que são filhos de crentes, que frequentam assiduamente uma igreja, que participam da escola bíblica e que realizam apresentações de dança e teatro em ocasiões especiais é achar que tudo isso as torna crentes. Muitos adultos frequentam a Igreja nessa mesma situação, servem do seu jeito, vivem uma vida religiosa, mas jamais aceitaram a Jesus como seu Senhor e Salvador. Mesmo que tenha sido educada dentro dos princípios da Palavra de Deus e, juntamente com sua família, pratique muitos desses princípios, ainda assim a criança precisa passar pela experiência da conversão para se considerar salva. A salvação não é uma doença transmitida de uma pessoa para outra ou uma molécula de DNA dos pais que passa a fazer parte intrinsecamente dos seus filhos.
Todos provavelmente conhecemos histórias de pastores que possuem filhos nas drogas; de crianças que foram criadas dentro da Igreja e que pararam de frequentá-la assim que entraram na adolescência. Da mesma forma, ouvimos histórias de crentes que estão firmes no Senhor e que se converteram ainda crianças, com menos de dez anos de idade, às vezes aos cinco anos. Quando Paulo fala, em 1 Coríntios 7:14, a respeito da santificação dos filhos pela presença de um crente na família, não está afirmando que esses filhos sejam crentes. Se assim fosse, o marido descrente seria crente pela fé da esposa e vice-versa. Numa família de crentes, as crianças estão sob a influência de Deus por meio dos seus pais, o que não acontece numa família de descrentes, onde a influência é totalmente maligna.

O objetivo deste estudo é abordar a educação cristã sob dois aspectos importantes no processo de transmissão da Palavra de Deus aos filhos: uma comunicação eficaz baseada no respeito mútuo e no constante diálogo; e a prática dos estímulos corretos que visam levar às práticas corretas, de acordo com os princípios éticos, morais e espirituais apresentados na Bíblia. A educação não é uma operação invasiva, mas um processo dinâmico de conquista diária, onde quem ensina também é ensinado. Ela é baseada na afetividade, pois educar sem amor não é educar. Muitos ditadores conquistam a obediência e ensinam seus cidadãos por meio da coerção, com ameaças e punições. Não é isto que a Bíblia nos ensina; não é este o exemplo do Senhor Jesus.



[1] Adaptado do livro “Ide e pregai: curso de formação de evangelistas”, de minha autoria, ainda a publicar.

Mizael Xavier

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