Senhor (v.1a)
“O Senhor é o meu
pastor”
Só é possível entendermos claramente
o Salmo 23 quando nos acercamos desta primeira afirmação do rei Davi: “O Senhor
é o meu pastor”. Poderíamos ousar inverter esta frase e ler: “O pastor é o meu
Senhor”. Isto nos dá uma dimensão muito maior e um entendimento mais abrangente
de quem é o pastor presente neste salmo: ele é ninguém menos que o Senhor
(YHVH, ou Jeová). Logo, o Pastor de Davi é o Deus de Israel, alguém que possui
total autoridade sobre a sua vida e a quem ele deve adoração incondicional e irrestrita.
Se Deus é o nosso pastor, não apenas estamos seguros quanto às suas bênçãos,
como também devemos estar certos de que precisamos viver em obediência a Ele. A
maioria dos crentes que possuem um quadro na parede com este salmo ou o recitam
em momentos de angústia e medo, não se dá conta de que ele não fala apenas de
um pastor, mas, acima de tudo, de um Senhor. Se Deus não é Senhor da nossa
vida, Ele também não é o nosso Pastor, logo não somos suas ovelhas. O pastor só
cuida das suas próprias ovelhas, jamais das ovelhas de outros pastores. Sendo
assim, ler o Salmo 23 e apoderar-se das suas verdades e bênçãos envolve
fazer-nos a seguinte pergunta: Deus é Senhor da minha vida?
A nossa segurança está justamente no
fato de pertencermos a este Senhor, que não apenas nos salva, como também cuida
de nós. Toda a confiança do salmista que permeia todo o Salmo 23 está
fundamentada nesta dupla figura de Deus como Pastor e como aquele que nunca
falta. Se Davi não possuísse esta certeza de ter Deus como o Senhor zeloso pela
sua vida, jamais estaria seguro de caminhar pelos vales sombrios do mundo e
alcançar a vitória de Deus para ele. Muito pelo contrário, o desespero da
incerteza de chegar faria com que ele tivesse medo até mesmo de partir. Vemos
esta confiança plena em Deus logo no início da caminhada de Davi como ungido do
Senhor. É o que podemos atestar na sua exclamação diante do gigante Golias, que
afrontava toda a nação de Israel: “Tu vens contra mim com espada, e com lança,
e com escudo; eu, porém, vou contra ti em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus
dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado” (1 Sm 17:45).
Este é um salmo de alguém que teve uma
experiência com Deus. O v. 1 demonstra que o rei Davi possuía uma relação
íntima com o seu Pastor. Ele não somente conhecia a sua natureza e o seu
caráter, como também era conhecido por Ele. Davi conhecia Deus além da palavra,
isto é, da Lei e do cumprimento daquilo que nela estava prescrito. Ele o
conhecia por se relacionar com Ele, o que vemos claramente nos seus Salmos,
onde o rei abre o seu coração, reconhece os seus pecados e pede perdão, clama
por socorro e agradece pelos livramentos recebidos. Davi era alguém que não
somente cria em Deus, mas que o vivenciava em toda a sua vida por meio da
oração, da adoração, da atenção à sua Lei, das maravilhas que Deus operava na
sua vida. Isto nos lembra outro personagem da Bíblia: Jó, que mesmo sendo
considerado por Deus um homem de caráter ilibado, que cumpria a sua vontade e
de quem nada de errado podia ser dito, reconhece após passar por duras provas:
“Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42:5).
Quando Davi chama o Senhor de “meu pastor”,
não está afirmando que Deus é uma possessão sua, muito pelo contrário: ele que
é possessão de Deus. Ao contrário da teologia moderna que trata Deus como um
mero escravo a serviço dos desejos e planos dos crentes, Deus é aquele Pastor
que governa, alimenta e protege as suas ovelhas. Então devemos responder à
pergunta feita no primeiro parágrafo, porque se Deus não é Senhor da nossa
vida, não somos sua possessão, não somos suas ovelhas e não estamos seguros
quanto ao nosso destino final. O Senhor Jesus afirmou que naquele dia muitos o
chamarão de Senhor e listarão tudo o que fizeram em seu Nome. Ele, porém, lhes
dirá: “Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt 7:22,23). Então
quem está apto para entrar no seu Reino? O próprio Senhor já havia afirmado:
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele
que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (v. 21). Logo, é impossível
seguirmos a Jesus e nos deixarmos conduzir por Ele se não o reconhecemos como
Senhor da nossa vida e se não fazemos aquilo que Ele nos manda fazer (Lc 6:46).
O rei Davi tinha a certeza de ser ovelha do
seu Senhor, sabia que pertencia a Ele. Então, o salmo que ele compôs não é uma
simples reza, um poema a ser estampado num quadro ou numa camiseta, muito menos
um mantra a ser repetido constantemente para atrair bênçãos e afugentar o mal. Ele
é, na verdade, o retrato de uma vida entregue totalmente ao Senhor, submissa à
sua vontade. Muitos apropriam-se do Salmo 23 sem jamais terem conhecido o
Senhor descrito nele. Este Pastor salmodiado por Davi é o próprio Senhor Jesus,
profetizado por Isaías, ao escrever: “Eis que o Senhor Deus virá com poder, e o
seu braço dominará; eis que o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua
recompensa. Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará
mansamente” (Is 40:10,11). Em Ezequiel 34:11-31, a figura ao pastor também
aparece como aquele que procura e busca as suas ovelhas (v. 11). Ele não
somente as busca, como também as encontra e as reúne de onde foram espalhadas,
para apascentá-las e dar-lhes repouso, fazendo a devida separação entre
ovelhas, carneiros e bodes (v. 17).
A profecia de Ezequiel não aponta apenas para
a restauração de Israel após o cativeiro, mas também para a vinda do Sumo
Pastor, que recolheria as suas ovelhas espalhadas pelo mundo (Jo 10:16),
conduzindo-as em segurança ao aprisco celestial. Jesus é, então, o bom pastor,
que dá a sua vida pelas ovelhas (Jo 10:11). Ao contrário do mercenário que não
vem para cuidar do rebanho, mas foge diante dos perigos e é capaz até mesmo de
negociar as ovelhas para obter lucro financeiro, Jesus garante que jamais
abandonará as suas ovelhas e que elas podem estar seguras de que jamais serão
arrebatadas das suas mãos (Jo 10:28). O nosso Supremo Pastor nos dá garantia de
recebermos a coroa da glória (1 Pe 5:4).
A vocação das ovelhas
As palavras de Jesus registradas pelo
apóstolo João conforme vimos acima, foram direcionadas aos judeus que o
interrogavam a respeito de quem Ele era verdadeiramente, pois, na sua mente,
Jesus era um louco endemoninhado (v. 20). Estava patente que, mesmo diante das
obras que Jesus praticava, eles não conseguiam enxergar que ele era o Cristo de
Deus (v. 25). E por que não conseguiam? Jesus afirma: “Mas vós não credes,
porque não sois minhas ovelhas. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as
conheço, e elas me seguem” (vs. 26,27). É isto que acontece atualmente em
muitas igrejas que se dizem cristãs e com muitas pessoas que utilizam o Salmo
23 como um conjunto de palavras místicas: elas não obedecem a Jesus, não o
seguem com sinceridade, não obedecem a sua Palavra, não fazem o que Ele manda,
não vivem nem pregam a verdade, porque não são ovelhas do seu pasto. Em suma:
não são verdadeiramente convertidas, ou seja: não são crentes de fato. A igreja
é uma imensa lavoura de trigo, onde o joio cresce e se mistura até o dia da
colheita (Mt 13:24-30).
Não devemos nos enganar achando que podemos
ter o Pastor do Salmo 23 se Ele não for primeiramente o nosso Senhor. Davi era
servo de Deus e isso lhe trazia a segurança de ser guiado, cuidado e protegido
por Ele. Algo importante a respeito de Davi e que também diz respeito a nós é
que não foi ele quem escolheu a Deus, mas foi Deus quem o escolheu. Essa
escolha diz respeito à promessa feita a Abraão, homem escolhido por Deus para
ser o pai da nação de Israel, como também à própria escolha de Davi como rei.
Eis uma verdade: não são as ovelhas que escolhem o pastor, mas é o pastor quem
escolhe as ovelhas. Somente aqueles enviados a Jesus por Deus são suas ovelhas,
como o próprio Senhor declarou: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim;
e o que vem a mim, de modo algum o lançarei fora... Ninguém pode vir a mim se o
Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia... E prosseguiu;
Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai,
não lhe for concedido” (Jo 6:37,44,65).
A vocação das ovelhas – os eleitos de Deus
para a salvação em Cristo – faz parte da vocação interna ou eficaz, conforme
explicada por Berkhof (1992, p. 225 a 230). Existe, na verdade, duas vocações:
a externa e a interna. Ambas são o chamado geral e gracioso de Deus aos
pecadores para aceitarem a salvação oferecida por Cristo. Todos os pecadores
não buscam a Deus, mas são procurados por Ele, por meio de uma obra redentora
que envolve o Pai (1 Co 1:9; 1 Ts 2:12; 1 Pe 5:10), o Filho (Mt 11:28; Lc 5:32;
Jo 7:37) e o Espírito Santo (Mt 10:20; Jo 15:26; At 5:31,32). Esta vocação está
direcionada a todas as pessoas que em todos os lugares escutam de algum modo a
Palavra de Deus, o chamado evangélico ao arrependimento e à conversão. A
diferença está em como o chamado de Deus afetará a cada um: os eleitos e os
réprobos, isto é, aqueles que jamais responderão positivamente ao convite de
Deus à conversão.
A vocação externa é estendida a todos os
homens sem distinção. Quando falamos de Jesus nas praças ou pregamos o seu
Evangelho nas redes sociais, um número imenso de pessoas ouve a verdade sendo
ministrada. Esta vocação geral e externa está presente na grande comissão (Mt
28:19; Mc 16:15). A rejeição ao Evangelho por parte dos ouvintes que não são
ovelhas do Senhor fica patente também (Mt 10:15; 11:21-24; 22:12-14; Lc
14:15-24; Jo 3:36; 5:40; 16:8,9; At 13:46; 2 Ts 1:8; 1 Jo 5:10). Embora a realidade
do pecado, da salvação pela fé, da necessidade do arrependimento e da
condenação eterna seja claramente exposta a essas pessoas, elas mantêm o
coração endurecido. Embora a salvação seja oferecida graciosamente por Deus a
todos os pecadores (Jl 2:32; Sl 86:5; Is 55:1; Mt 11:28; Ap 22:17) e não
somente aos eleitos (Pv 1:24-26; Ez 3:19; Mt 22:2-8,14; Lc 14:16-24), é fato
que muitos morrerão na incredulidade, porque jamais foram escolhidos por Deus
para crerem.
Já a vocação interna é eficaz e produz salvação
na vida do pecador, porque é efetuada pelo Espírito Santo. Podemos exemplificar
esta situação através da própria natureza do rebanho de ovelhas. Se um pastor
juntar as suas ovelhas às ovelhas de outro pastor, de modo que seja impossível
diferenciar visualmente as ovelhas umas das outras, não saberemos quais são as
ovelhas do pastor e quais não são. Então o pastor chamará as suas próprias
ovelhas do meio de todo aquele rebanho. Todas ouvirão o chamado do pastor, mas
somente as suas próprias ovelhas atenderão a este chamado e irão até ele. As
outras ovelhas, embora tenham ouvido o mesmo chamado, permanecerão onde estão,
porque não fazem parte do seu rebanho. O pastor é o mesmo (Jesus), o chamado é
o mesmo (ao arrependimento), as palavras utilizadas são as mesmas (o
Evangelho), mas quem não é de Deus, não irá até Jesus.
A Palavra de Deus é pregada e o Espírito
Santo atua de maneira eficaz na vida dos escolhidos, convencendo-os do seu
pecado e convertendo-os (1 Co 1:23,24; At 13:48). Essa conversão não pode ser
revogada (Rm 11:29). Uma vez que o pecador se converte, está totalmente livre
de condenação (Rm 8:1,2). É importante dar atenção ao fato de que o Espírito
Santo opera a salvação por meio da escuta da Palavra (Rm 10:17), do Evangelho
de Cristo, persuadindo a sua consciência e abrindo o seu entendimento para a
verdade que liberta do pecado e da morte, de modo que o pecador se volta para
Deus. Muitos recorrem a Deus porque foram convencidos por pregações
triunfalistas que prometiam a solução para seus problemas pessoais diversos.
Estes não foram convencidos do pecado pelo Espírito, mas abraçaram a fé para
ter uma vida tranquila e próspera. Pode-se comparar a bodes que, observando o
cuidado do pastor por suas ovelhas, se juntaram ao rebanho para gozar deste cuidado,
mas que jamais farão parte dele. As igrejas estão lotadas de pessoas assim, que
nunca receberam o chamado eficaz e que, por isso, não são convertidas. Estão no
meio do povo de Deus para se alimentar dos pastos verdejantes, mas não estarão
na Casa do Senhor para todo o sempre.
Podemos apreender uma verdade dessas palavras
de Jesus: Deus conhece aqueles que são seus, as suas ovelhas. Falando a
respeito de homens que se desviaram da verdade, o apóstolo Paulo escreveu:
“Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor
conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que
professa o nome do Senhor” (2 Tm 2:19; cf. Nm 16:5). Logo, nem todos os que se
aproximam dele e até mesmo o seguem são ovelhas do seu pasto. Muitos que se
dizem cristãos e lotam inúmeras igrejas espalhadas pelo mundo inteiro jamais
experimentaram a verdadeira conversão, jamais foram escolhidos por Deus para
fazerem parte do seu rebanho. Ao contrário, buscam a Deus e seguem a Jesus por
motivos egoístas e interesseiros, para conquistar bênçãos e vitórias.
Não somos nós que escolhemos Deus para ser o
nosso Pastor, mas é Ele quem nos escolhe para sermos as suas ovelhas. Senão,
vejamos:
·
É
Deus quem soberanamente nos escolhe/elege segundo a predestinação (Ef 1:3-14;
cf. tb. Dt 10:15; Sl 33:12; 65:4; 135:4; Mt 11:27; 22:14;
24:22,31; Lc 18:7; Jo 15:16; 17:24; At 13:48; Rm 8:28-33; cap. 9; 10:20;
11:5,6; Cl 3:12; 1 Ts 5:9; 2 Ts 2:13; 2 Tm 1:9,10; 2:10; Tt 1:1,2; Tg 2:5; 1 Pe
1:1,2; 2:8,9; Ap 17:8,14; 1 Co 1:27-29; Fp 2:13). Nenhum pecador deseja
ir a Deus para ter vida (Jo 5:40), é preciso que Deus o busque e lhe dê a fé
necessária à salvação e a vida que ele tanto precisa (Ef 2:1,8,9).
·
É
Deus quem chama (Rm 8:28-33; cap. 9; 2 Tm 1:9; 1 Pe 2:9; 5:10; Jo 6:37,44,65; 2
Ts 2:13,14). Somos ovelhas escolhidas e chamadas por Deus para segui-lo. Todo o
processo de salvação se inicia, desenvolve-se e termina com Deus, nosso Pastor.
Ser escolhido por Deus para fazer parte do
seu rebanho de salvos traz consequências positivas à vida das ovelhas, o que se
demonstra por meio de um caráter santo, transformado pelo Espírito Santo e
comprometido com o Reino de Deus. Deus não é somente aquele que cuida e
protege, mas é, antes de tudo, aquele que governa. Podemos ver essa submissão
ao governo de Deus e à sua soberana vontade na vida do próprio Davi. No
capítulo sete do segundo livro de Samuel, o profeta começa nos informando um
dos motivos por que Davi era um homem segundo o coração de Deus. Davi tinha
cuidado e zelo pela arca de Deus (v. 2), isto é, pela presença do Senhor no
meio do seu povo. Ele cria que Deus merecia morar num lugar melhor, já que ele
mesmo viva numa casa de cedro, enquanto a arca de Deus habitava numa tenda. O
profeta Natã disse-lhe: “Vai, faze tudo quanto está no teu coração, porque o
Senhor é contigo” (v. 3). A vontade do coração de Davi não seria dele mesmo,
mas de Deus, pois Ele estava guiando a sua vida. Davi declara no Salmo 37:
“Agrada-te do Senhor, e ele satisfará os desejos do teu coração” (v. 4). E qual
era o desejo do seu coração? O Salmo 40:8 nos responde: “agrada-me fazer a tua
vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração está a tua lei.”
A partir do momento em que temos a lei de
Deus no nosso coração, não estaremos mais em busca de satisfazer a nossa
vontade, a não ser que esta seja fazer a vontade de Deus. Seguir a Deus e ser
fiel a Ele traz bons frutos para a nossa vida, como aconteceu com Davi.
Afastar-se dos caminhos de Deus e não guardar a sua Palavra pode trazer péssimos
resultados, como ocorreu com Saul (v. 15). O rei Davi colheu o fruto da sua
comunhão com Deus, mesmo que errando em muitos momentos. Ele era homem de
coração sincero e contrito (Sl 51:17). O capítulo 7 de 2 Samuel também possui
uma visão profética da pessoa de Cristo e do seu reinado eterno (11-14). As
ações de graça de Davi que se seguem são um conforto pelas grandes obras do
Senhor, que estabeleceria para sempre o seu descendente: Jesus. Assim como
Davi, podemos enxergar as obras e as promessas de Deus e nos alegrar no seu
cumprimento, sabendo que Ele é fiel para cumprir tudo o que nos prometeu na
Bíblia. Viver o hoje na expectativa da iminente volta de Cristo para levar a
sua igreja, traz nova perspectiva e significado à nossa existência, além de nos
colocar em conexão com esse Reino vindouro que já existe em nós, despertando
compromisso e amor pela Palavra de Deus.
As falsas ovelhas entre nós[1]
Deus profere, por meio de Ezequiel, uma
profecia contra os falsos profetas. Isso nos mostra que a preocupação de Jesus
com os mentirosos infiltrados no meio do povo de Deus refletia uma preocupação
divina de muitos séculos (Ez 13:1-16). Como aconteceu na época dos profetas, de
Jesus e dos apóstolos, muitos falsos profetas e falsos mestres têm surgido no
meio do povo de Deus, fingindo-se de ovelhas, intitulando-se pastores,
missionários, bispos e até mesmo apóstolos. Eles operam supostos sinais e
maravilhas e realizam toda sorte de milagres em nome de Deus, mas pela atuação
de Satanás. Fazem isso utilizando uma fé supersticiosa e sincretista, misturando
ao Evangelho elementos da Umbanda. Eles são indivíduos
listados na Bíblia, como: falsos mestres (Mt 7:15-20; Rm 16:17,18; 1 Tm 6:3-5),
falsos profetas (Mt 24:11; 1 Jo 4:1; 2 Pe 2:1-3; Ap 19:20), falsos cristos (Mt
24:23-26; Mc 13:22,23), falsos irmãos (Gl 2:4,5), falsos apóstolos (2 Co
11:13-15) e homens ímpios (Jd 5-16). Estudando o caráter dessas falsas ovelhas
e os seus ensinamentos (Gl 1:6-8; 2 Co 11:3,4; 2 Ts 2:3,4,8-10), percebemos os
riscos que eles representam à Igreja e os problemas que podem causar com suas
ações e pregações. A Igreja precisa estar alerta, identificando esses
indivíduos e excluindo-os do meio do povo de Deus. Muitos desses falsos irmãos
são anticristos que acabam por sair do nosso meio, o que deixa bastante claro
que não eram dos nossos (1 Pe 2:18,19). Aquele que é de Cristo não se deixa
enredar por esses falsos cristãos porque, ao contrário deles, possuem a unção
que vem do Santo (v. 20).
Afora esses casos declaradamente heréticos,
nem sempre é fácil identificar as falsas ovelhas. Primeiro
porque ninguém admitirá ser um falso crente; segundo porque não tem como saber
ao certo quem eles são, pois quem julga é Deus. Mas o Senhor nos dá uma pista:
“Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto” (Lc 6:44). As
verdadeiras ovelhas do Senhor andam no Espírito e produzem o seu fruto (Gl
5:22-25). Paulo afirma: “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus
são filhos de Deus” (Rm 8:14). Algumas pessoas estão dentro da Igreja e se
declaram crentes porque frequentam uma denominação e exercem algumas práticas
religiosas. Mas é possível estarem enganadas quando observamos seus atos (Pv
16:25; 2 Jo 1:9; Tt 1:16; Cl 2:8). Além dos falsos mestres, aí também estão os
convertidos pelos motivos errados, como bênçãos, milagres e prosperidade. A
atitude da Igreja, nestes casos, deve ser identificar esses indivíduos e
continuar a evangelizá-los. Em alguns casos – como os falsos profetas – deve-se
praticar a exclusão da comunhão com os irmãos para evitar que contaminem os
demais (1 Co 5:1,2,11,13). Aqui está a importância da pregação pura do
Evangelho. A própria exposição da verdade já deixa patente quem anda na
mentira, confronta as falsas ovelhas e as desafia nas suas crenças e práticas.
Quem anda na verdade é amigo da verdade; quem resiste a ela, torna-se seu
inimigo.
Ainda existe outro grupo de falsas ovelhas: os
amigos do Evangelho, aquelas pessoas capazes de frequentar durante anos a
Igreja, participar de todas as suas atividades, contribuir com ofertas e apoiar
os seus projetos, mas sem jamais terem feito uma decisão pessoal por Jesus.
Algumas delas jamais receberam nem receberão o chamado eficaz para se
converterem. Esses amigos procuram ser crentes, todavia sem assumir um real
compromisso de vida e de fé com o Senhor, deixando sempre uma porta aberta para
o mundo, onde estão os pecados que eles no fundo não querem abandonar. É
preciso deixar bastante claro que eles não são filhos de Deus (1 Jo 3:10; Jo
1:12; 3:6; 8:47; Gl 3:26), mesmo frequentando a Igreja, porque não “são”
Igreja; e que se morrerem sem Cristo, perecerão. Somente crendo em Jesus
poderão ser salvos (At 16:31; 2 Pe 2:4-9; 2 Ts 1:7-9; Jo 10:9). Quando Jesus
Cristo vier levar a sua Igreja, fará a separação entre o joio e o trigo, as
ovelhas e os bodes, e os “amigos do Evangelho” não subirão com Ele (Mt
13:24-30; 25:31-46). Quem não teve as vestes lavadas no sangue do Cordeiro não
é a sua noiva (Ap 22:14; At 20:28; Ef 5:25-27). Somente as ovelhas genuínas têm
seus nomes escritos no Livro da Vida (Ap 3:5; 20:12; Jo 3:16; 1 Jo 5:3; Hb
11:4). Estar na Igreja sem ter sido convencido do pecado pelo Espírito Santo
não levará ninguém para o céu, mesmo que se esteja envolvido em ministérios,
seja filho de pastor e dê dízimos e ofertas.
AUTOR:
Mizael de Souza Xavier
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