Um dos símbolos máximos marianos é a visão de Maria
como “mãe de Deus”. Tal simbologia também está diretamente ligada ao seu “sim”:
tornando-se mãe de Jesus, Maria tornou-se mãe de Deus, e, por conseguinte, mãe
da Igreja e da humanidade inteira. A função materna de Maria não se limita à
concepção do menino Jesus, ela estende-se por toda a vida do Salvador e pode
ser observada por meio das suas dores, momentos em que ela sofreu como mártir
em prol da salvação da humanidade, como corredentora. Segundo Ligório (1987, p.
356 e 357), “Jesus é chamado Rei das dores e Rei dos mártires, porque em sua
vida mortal padeceu mais que todos os outros mártires. Assim também é Maria
chamada com razão Rainha dos Mártires, visto ter suportado o maior martírio que
se possa padecer depois das dores de seu filho”. As “dores de Nossa Senhora”
são conhecidas e reverenciadas. Elas são sete: 1) as profecias de Simeão; 2) a
fugida de Jesus para o Egito; 3) a perda de Jesus no templo; 4) o encontro com
Jesus no caminho para a morte; 5) a morte de Jesus na cruz; 6) a lançada e a
descida da cruz; e 7) a sepultura de Jesus. Maria não é uma simples mãe, mas
uma mãe que possui intensa participação na obra do seu Filho, cooperando com
Ele para a redenção do gênero humano.
De
acordo com Bernard (op. cit., p. 1223), “O tema da Theotókos realmente é tão fundamental na espiritualidade do
oriente, que passar por ele em silêncio significa suprimir a parte talvez mais
bela e mais expressiva de toda a iconografia mariana”. As imagens de Maria
segurando o menino Jesus nos braços demonstram essa relação materna entre os
dois que se pretende perpetuar no imaginário católico romano. A maternidade
divina de Maria sustenta-se na natureza divina do seu filho. No ano 428 d.C., o
nestorianismo levantou a afirmativa de que em Cristo havia duas naturezas
completas, a humana e a divina; não uma pessoa só, mas duas. De acordo com esse
pensamento, quem morreu na cruz teria sido apenas o Jesus homem, não o divino.
Um discípulo de Nestório, chamado Atanásio, chegou a afirmar que Maria não
deveria ser chamada “mãe de Deus”, mas “mãe de Jesus”, visto ela ser mãe apenas
da porção humana de Jesus. Ele indagava sobre como uma simples criatura poderia
gerar Deus.
Com a
convocação do Concílio de Éfeso, em 341 d.C., a Igreja pretendia dar uma
resposta a Nestório. Em parte a teologia nestoriana está completamente
equivocada, pois nega a divindade de Cristo, totalmente homem e totalmente
Deus, como o creem católicos e protestantes. O Concílio de Éfeso, por meio da
carta de São Cirilo de Alexandria, vem defender o Concílio de Nicéia e mantém a
crença no Jesus homem e Deus, afirmando: “A diversidade das naturezas não foi
eliminada pela união, mas, sim, as naturezas unidas totalizaram, para nós, um só
Senhor e Filho e Cristo, mediante a inexprimível e misteriosa conjunção da
divindade e da humanidade numa unidade”. Esta certeza de fé viria a sustentar
outra: a maternidade divina de Maria. A carta de São Cirilo procura deixar
claro que Cristo não recebeu a sua natureza divina de Maria, nem tenha
necessitado de uma segunda geração depois de ter sido gerado pelo Pai, mas “foi
por nós e para a nossa salvação que ele se uniu hipostaticamente à humanidade
duma mulher, sendo por isso que se diz ter ele nascido segundo a carne” (SKRZYPCZAK,
2000, p. 42 e 43). Em 451 d.C., o Concílio de Calcedônia repetirá a mesma
declaração de fé.
Embora
a defesa da fé na divindade de Cristo tenha sido um ponto positivo nos dos
concílios, começa-se a observar a pessoa de Jesus não a partir de uma visão
cristológica, mas mariológica: entende-se Maria para se entender Jesus. Por
outro lado, Atanásio estava absolutamente certo – embora baseado numa crença
equivocada sobre a natureza de Cristo – em afirmar que Maria era mãe apenas da
porção humana de Jesus. Os próprios concílios que citamos demonstram que a
divindade de Jesus não foi gerada a partir do ventre de Maria, mas já existia
desde a eternidade. Não é possível afirmar que Maria é a mãe de Cristo-Deus ou de
Cristo-Homem, ou de Cristo-Deus-Homem, uma vez que a existência de Jesus não se
deu a partir do seu nascimento carnal. Na verdade, Ele não “nasceu”, mas se encarnou
num momento histórico. Tal encarnação não contou com qualquer participação de Maria,
a não ser a de carregar dentro de si Aquele que já existia desde o princípio (João
1:1-5) e que para tal nascimento fora profetizado. A Palavra de Deus nos dá diversos
exemplos da existência eterna do Senhor e da sua atuação no Antigo Testamento. Por
exemplo: Gênesis 6:22; 16:7-14; 18:1; 28:13; 32:24-32; Miqueias 5:2; Isaías 9:6.
Além de João 8:58 e Colossenses 1:16. Nenhuma porção de Cristo foi gerada ou teve
a participação de Maria para vir a existir neste mundo, visto já existir desde a
eternidade.
Embora estivessem
presentes desde o embrião as duas naturezas de Cristo, não se pode afirmar que
Maria é a mãe de Deus. Em diversos textos da Bíblia temos a confirmação da
maternidade de Maria (cf. Marcos 6:3; Mateus 1:18; Lucas 1:26-38,43; João 2:1;
19:25). A visão mariológica da qual falamos que se impõe a visão cristológica
que deveríamos manter sobre Jesus força não somente a natureza de Maria (sem
pecado) como o caráter do seu ministério (corredentora). Crer na maternidade
divina de Maria é um dos pilares para a crença na sua imaculada conceição,
visto que, segundo os teólogos católicos, um ventre maculado pelo pecado
original não poderia jamais conter a Semente divina. É também um passo para a
sua virgindade perpétua, visto que a totalmente imaculada Maria, mãe de Deus,
não poderia jamais ter contato carnal com homem algum. Por fim, a crença na
maternidade de Maria sustenta a crença na sua assunção, visto que a predileta
de Deus não poderia jamais conhecer a corrupção, de modo que convinha que ela
fosse assunta ao céu em corpo e alma.
Como
dissemos no início, a maternidade divina de Maria liga-a diretamente à economia
da salvação, por meio das suas dores, da sua participação ativa na obra da
redenção efetuada por Jesus, a começar pelo seu humilde consentimento ao
nascimento do Salvador. A forma como o
Vaticano II se expressa a respeito da maternidade divina de Maria demonstra o
que estamos afirmando. Na Constituição Dogmática Lumen Gentium (n. 55), no
capítulo que fala sobre “A missão da bem-aventurada virgem na economia da
salvação”, afirma que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento apresentam o
múnus da mãe do Salvador na economia da salvação. Ao referir-se ao Antigo
Testamento como fonte da preparação para o advento do Salvador, o Concílio
afirma: “Estes documentos primitivos, tais como são lidos na Igreja e
entendidos à luz da revelação posterior e plena, manifestam com sempre maior
nitidez a figura da mulher, Mãe do Redentor”. Além dos textos que de fato fazem
alusão ao nascimento virginal do Messias (p. ex. Isaías 7:14; Miqueias 5:2,3),
o Concílio acrescenta a vitória sobre a serpente, em Gênesis 3:15. O objetivo
da maternidade divina de Maria é verdadeiramente embasar o seu ministério
salvítico. Bem escreveu Serra (1995, p. 780): “Como lugar de encontro entre o
divino e o humano, Maria não é o centro, porém é central no cristianismo”.
Como
a mariologia é de todo incoerente, podemos citar uma dessas incoerências ao
referir-nos ao primeiro texto utilizado por Serra (idem, p. 776) na sua defesa
do nascimento virginal de Cristo em Maria: Gálatas 4:4-6. O texto diz: “Quando,
porém, chegou a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a Lei, para resgatar os que estavam sob a Lei, a fim de que
recebêssemos a adoção filial. E porque sois filhos, enviou Deus aos nossos
corações o Espírito do seu Filho, que clama Abba,
Pai”. A chegada do Messias cumpre a promessa da reparação da raça humana por
meio do Cristo de Deus (cf. Marcos 1:15; Atos 1:7 ss.; Romanos 13:11 ss.; 1
Coríntios 10:11; 2 Coríntios 6:2 ss.; Efésios 1:10; Hebreus 1:2; 9:26; 1 Pedro
1:20). O termo “mulher” está ligado ao termo “lei” no mesmo versículo. O
nascimento de Jesus é histórico e a sua vida submete-se a Lei judaica para
resgatar-nos do seu poder (SHEDD). Ora, o que era a Lei senão a declaração
verdadeira da pecaminosidade humana e da sua incapacidade de obedecer
plenamente a Deus? No contexto bíblico Lei-Cristo, o primeiro refere-se à
situação de condenação do gênero humano, pois a lei encerra tudo sob pecado
(Romanos 3:9,20; 4:15; 5:21; 6:23; 1 Coríntios 15:56; Gálatas 3:13,22; Hebreus
7:19), enquanto segundo refere-se a
reparação desse erro por seu sacrifício vicário na cruz (Romanos 6:12,14,23;
7:14; 8:2,3; 10:4; 1 Coríntios 15;3; 2 Coríntios 5:21; Gálatas 3:13,24; Hebreus
9:7,26; 10:1; 1 Pedro 2:22).
O
homem nascido de mulher conota alguém nascido debaixo da lei, sujeito ao
pecado. Não é este o caso de Jesus, que viveu sem pecado (cf. 1 Pedro 2:22),
mas é o caso de Maria. O texto de Gálatas 4:4-6 deixa bastante clara a situação
em que a humanidade se encontrava quando da encarnação de Jesus: submetida ao
pecado. Nesse contexto está a mulher do qual Ele haveria de nascer, Maria,
também nascida sob a Lei e sob o pecado. A ênfase do texto não está na
maternidade de Maria, mas na situação histórica em que Jesus veio ao mundo. De
acordo com Serra (op. cit., p. 777), o apóstolo Paulo faz uso da expressão
“nascido de mulher” para enfatizar o abaixamento da humilhação a que se
sujeitou o filho de Deus fazendo-se homem, o que condiz com Filipenses 2:8. O
que escapa aos teólogos católicos ao referir-se à baixeza do ser humano caído
com base nesse trecho de Gálatas, é que a mulher – Maria – está inserida neste
contexto. Paulo não alude à necessidade de Cristo em nascer de um seio
imaculado, mas o coloca como nascido de uma mulher que está debaixo da Lei. Tanto
aqui quanto em todos os trechos que aludem ao nascimento de Jesus, tanto do
Novo quanto do Antigo Testamento, não há nenhuma ênfase na maternidade de Maria
ou na necessidade da sua imaculada conceição.
Outros
argumentos bíblicos utilizados por Serra para referir-se ao nascimento de Jesus
e enfatizar a maternidade divina de Maria, são:
·
Textos que falam do envido do Filho de Deus ao mundo,
como: Mateus 1:18-25; Romanos 8;3,4; João 3:16; 1 João 4:9
·
O Espírito Santo que ressuscitou Jesus dos mortos e
nos é dado por meio dele para nos tornarmos filhos de Deus (Romanos 1:1-14; 2
Tessalonicenses 2:8; 2 Coríntios 3:17; Gálatas 4:6; Romanos 8:9; Filipenses
1:19).
·
Os textos sobre a encarnação do Verbo em Maria e
diversos outros onde há referência à sua maternidade (Lucas 24:25; Marcos 6:3;
Mateus 13:55; João 6:42; 9:11).
·
As obras de Cristo que demonstram claramente seu
messianismo e sua divindade (Mateus 28:19; Atos 15:14; Hebreus 4:9; 10:30; 1
Pedro 2:10; Tito 2:14).
·
O povo pertence a Jesus (Mateus 1:21; 2:6; 16:18;
28:10,20).
·
A ênfase também recai sobre o poder de Jesus para
perdoar e salvar os pecadores (Marcos 2:7; João 10:33; Mateus 1:21; Tito
2:13,14).
·
Jesus é o Deus conosco (Mateus 1:23; 12:6,41,42;
28:20).
·
O autor vê a figura da mãe de Deus na tenda descrita
em Êxodo 40:34,35, e na arca da Aliança, em 2 Samuel 6:2-16. Sobre esse
simbolismo estudaremos adiante.
·
A saudação de Isabel em Lucas 1:43 – “mãe do meu
Senhor” – traz uma conotação mariológica, apontando não apenas para o senhorio
de Cristo, o reconhecimento de Isabel da divina semente que Maria carregava. O
entendimento da maioria dos escritores marianos cria uma paralelo que se traduz
em: Jesus-Senhor – Maria-Senhora; Jesus-Rei – Maria-Rainha.
Embora Maria não seja
o centro, como disse Serra, ela é verdadeiramente central no cristianismo
católico romano. De certa forma ela está, sim, no centro, uma vez que não se
pode separar o Filho da sua mãe; não se pode adorar a Cristo e desprezar Maria.
E, de acordo com a teoria de Montfort da escravidão a Maria, somente por meio
dela se pode conhecer e servir a Cristo. A maternidade divina de Maria serve
ainda a outro propósito: como protótipo da maternidade da Igreja, como escrevem
Müller e Sattler (2000, p. 163):
Em forma de
pensamento tipológico, a maternidade de Maria pode ser considerada como
protótipo da maternidade da Igreja. Também aqui fica preservado o traço
cristológico: como uma mãe dá a seu filho a vida preparada por Deus, do mesmo
modo a Igreja prepara para os crentes, que no Batismo morrem com Cristo e nele
ressuscitam para uma vida incorruptível, o espaço, no qual se deve tornar
vivenciável e experimentável uma existência redimida.
A
Igreja do Senhor Jesus tem em Maria o seu protótipo, porque através da sua mãe,
Jesus vê nascer os seus filhos. O teólogo buscará na vida de Maria descrita no
Novo Testamento os elementos para esse modelo: sua obediência, sua vida de
oração, sua meditação na Palavra de Deus, sua humildade, sua abnegação e seu
sacrifício. De acordo com o Catecismo da
Igreja Católica (n. 967), “Por sua adesão total à vontade do Pai, à obra
redentora de seu Filho, a cada moção do Espírito Santo, a Virgem Maria é para a
Igreja o modelo da fé e da caridade. Com isso, ela é ‘membro supereminente e
absolutamente único da Igreja’, sendo até a ‘realização exemplar (typus)’ da Igreja” (cf. Lumen Gentium n.
53 e 63). O papel materno de Maria, porém, estende-se para além do antítipo da
Igreja. Tendo ela cooperado de forma singular para a redenção por meio da sua
predestinação para mãe do Verbo divino e de seu consentimento prestado na
Anunciação, Maria tornou-se para a Igreja “mãe na ordem da graça” (LG, n. 61 e
62). Assunta ao céu, continua seu múnus salvítico, granjeando-nos os dons da
salvação eterna por sua múltipla intercessão, sendo advogada, auxiliadora,
adjutriz e medianeira.
A
tipologia de Maria como modelo da Igreja deveria encontrar seu fundamento na
Bíblia, porém, não é o que ocorre. Em primeiro lugar, não existe nenhum texto
bíblico que ligue direta ou indiretamente Maria à Igreja no sentido pretendido
pela teologia católica. Não existem dados históricos intrabíblicos que
assegurem tal teologia. Os dados históricos apresentados para o desenvolvimento
desta crença são extra-bíblicos, partindo da Tradição, incluindo os santos Padres,
e do Magistério da Igreja. Uma análise léxico-sintática do termo ekklésia no Novo Testamento não
demonstrará qualquer ligação com o papel de Maria como tipo da Igreja. É
difícil proceder a uma análise contextual, uma vez que a afirmação de que Maria
é modelo e mãe da Igreja é totalmente estranha à Bíblia. O texto possível de
ser estudado é João 19:25-27. De acordo com a maioria dos estudiosos e autores
católicos, esse trecho simboliza a entrega de Maria à Igreja como sua mãe, o
que podemos confirmar no comentário da Bíblia de Jerusalém a respeito desses
versículos: “O contexto escriturístico (vv. 24.28.36.37) e o caráter singular
do apelativo ‘Mulher’ parecem significar que o evangelista vê aqui um ato que
transcende a simples piedade filial: a proclamação da maternidade espiritual de
Maria, a nova Eva, sobre os fiéis, representados pelo discípulo amado (cf.
15:10-15)”.
Todos
os versículos citados entre parênteses no comentário acima não contêm nada que os
ligue à afirmativa de que ali Jesus estaria dando Maria como mãe espiritual da
Igreja. Se Maria é a mãe da Igreja, desde o Antigo Testamento e no Novo
Testamento deveríamos poder averiguar isto, confrontando textos paralelos e o
ensino geral das Escrituras. A partir dali, principalmente, não vemos qualquer
alusão de que a Igreja, seja no livro de Atos, nas epístolas ou no livro do
Apocalipse, tenha considerado Maria a sua mãe espiritual, modelo a ser seguido
ou tipo da Igreja que dá a luz aos santos. Pessoalmente vejo em Maria um modelo
para a espiritualidade cristã, acima de tudo a sua obediência a Deus, mas este
é outro assunto.
Se
nos é impossível encontrar fundamento bíblico para a maternidade divina de
Maria, sua tipologia como modelo da Igreja e a sua maternidade espiritual dos
homens, que exegese será necessária para compreendê-la como “mãe espiritual dos
anjos”? segundo Roschini (1960, p. 62), é uma verdade admitida por todos os
teólogos que, “de algum modo”, Maria é mãe dos anjos, no mesmo sentido em que é
mãe dos homens, de modo que sua criação, sua vida de graça e sua glória
dependem totalmente de Cristo e de Maria. Roschini apela para a voz da
Tradição, citando inúmeros santos, embora todos se refiram a Cristo. Maria, por
tabela, tendo em vista a teologia que une indissoluvelmente a mãe do Filho,
torna-se, com Cristo, a mãe espiritual de todas as criaturas. A “voz da razão” (p. 68) de Roschini apela
para: 1) a harmonia do plano divino,
baseada na Escritura e na Tradição, admitindo que Cristo e Maria mereceram tudo
para todos (anjos e homens); 2) a unidade
da ordem sobrenatural, admitindo que a graça do primeiro homem inocente e
dos anjos deveria ter sido derivada de Cristo e de Maria; 3) as três condições
da mediação: estando entre Deus e os anjos; como os anjos é criatura pura, e
com Deus, como sua mãe; ela deu a Cristo livremente nossa natureza humana; e
foi delegada por Deus para unir, com Cristo, os extremos, Deus e os anjos. Como
apoio escriturístico, Roschini limita-se a citar Colossenses 1:13-20, afirmando
um primado absoluto e universal de Cristo e “por consequência” de Maria sobre
os anjos.
Sobre
a questão da maternidade de Maria referente aos anjos, não devemos nos ater,
pois a simples ideia exposta por Roschini por si só já nos serve como
refutação. Devemos apenas observar a forma como se desenvolveu a teologia
católica romana a respeito da maternidade de Maria e todas as doutrinas e
dogmas que nela estão entrelaçados (imaculada conceição, virgindade perpétua,
corredenção, etc.). Não há nenhum contexto bíblico que dê suporte a tais assertivas,
muito pelo contrário. Qualquer tentativa de tipificar Maria como mãe da Igreja,
dos homens e dos anjos só pode firmar-se no argumento da Tradição e do
Magistério, além das interpretações fantasiosas, como as de Roschini, em parte
rejeitadas pela própria Igreja católica, por extrapolarem o bom senso, mas que
permanecem ocultas em diversos concílios, documentos e livros e, ainda de forma
mais arraigada, na mariologia popular.
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