O autor do livro de
Hebreus apresenta de forma brilhante a superioridade da Nova Aliança em Cristo
sobre a Antiga Aliança baseada na Lei. Cristo é exaltado como a revelação
suprema e final de Deus, sendo Ele o próprio Deus cuja Majestade está nas
alturas e cujo nome é superior a todo nome (1:1-4). Ele é superior aos anjos
(1:4-14) e o seu sacerdócio é superior ao antigo (4:14 – 10:18). E é esta
superioridade que traz um caráter definitivo à sua obra salvítica, porque tudo
aquilo que pela Lei fora impossível ao homem conquistar, Jesus, como sacerdote
e vítima, conquistou para ele no Calvário.
Deus não está limitado às condições
previsíveis da Criação, mas Ele é o mesmo sempre, não muda, jamais tem fim
(1:10-12). Por esta razão, afirma o autor, o cristão deve se apegar à Palavra
de Deus para não se desviar nem negligenciar a sua salvação (2:1-3). Crendo na
Palavra de Deus, apegando-nos a ela, podemos estar certos do cumprimento de
todos os seus decretos. O sofrimento de Cristo e a sua morte na cruz poderiam
ter desanimado muito dos seus discípulos. É provável que muitos daqueles que o
seguiam perderam a sua fé ao vê-lo humilhado na cruz. Mas para aqueles que
criam nele, a cruz foi apenas um caminho para o que estava por vir, pois Cristo
“foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a
morte por todo homem” (v. 9). Ele não morreu por alguns, mas “por todo homem”.
Por meio do seu sacrifício perfeito,
Cristo tornou-se o autor da nossa salvação (v. 10; cf. 12:2). E como perfeito
salvador, Ele também é capaz de conduzir os seus filhos à glória. A obra de
Cristo destruiu completamente o poder da morte sobre nós e fez a propiciação
pelos nossos pecados. Isto significa que ele “cobriu”, “apagou” os nossos pecados,
de modo que estamos absolvidos da condenação e podemos ter comunhão com Deus. E
de tal modo Ele sofreu que é poderoso para socorrer os que são tentados (vs.
11-18). Se Cristo foi tentado e resistiu, certamente nós poderemos resistir no
dia da tentação, pois o que habita em nós é o Espírito de Cristo, cuja obra
santificadora está em consonância com a obra salvítica de Jesus Cristo. Aquele
que nos salva totalmente também nos preserva totalmente nesta salvação.
Os que estão em Cristo não estão
mais sob a marca do pecado, mas possuem uma nova e celestial vocação (3:1).
Como Apóstolo por excelência, Cristo é o representante supremo de Deus, o Sumo
Sacerdote que tem o ofício eterno de nos salvar. Mas esta salvação também
requer uma demonstração da nossa parte, não como condição à salvação, mas como
seu fruto imediato, que é a fidelidade: “Cristo, porém, como Filho, em sua
casa; a qual casa somos nós, se guardamos firme, até o fim, a ousadia da
exultação da esperança” (v. 6). Não guardamos a esperança até o fim para sermos salvos; nós a guardamos porque somos salvos, pois somente quem
põe em Cristo a sua confiança pode ser livre da morte e estar seguro da sua
vocação celestial. Abrir mão da esperança em Cristo é apostatar da fé, e negar
a eficácia e a superioridade do seu sacrifício. Se perdemos a esperança, é
porque, na verdade, nunca a tivemos enraizada em nós.
O autor de Hebreus faz uma
comparação entre o povo de Israel e o cristão para asseverar a necessidade da
constância na fé, não para a salvação, mas como confirmação desta salvação. O
povo de Israel era um povo duro de coração (3:8), tentava a Deus (v. 9), tinha
o coração perverso (v. 12), era rebelde (v. 16), era desobediente (v. 18) e
incrédulo (v. 19). O que o autor afirma é que o cristão não pode portar-se
desta maneira, sob o risco de não entrar no descanso de Deus, assim como
aqueles não entraram. A incredulidade pode fazer com que não entremos no
descanso de Deus. Isto não significa que aquele que se tornar como o povo de
Israel perderá a salvação, mas sim que jamais foi salvo. A incredulidade de
Israel impediu que muitos daquela nação entrassem no descanso de Deus. Eles não
estavam no descanso de Deus e foram tirados de lá; eles simplesmente não
entraram por causa de todos os motivos listados acima. A incredulidade nos
impede de acreditar em Deus para a salvação e nos afasta dele (v. 12), além de
endurecer o nosso coração pelo pecado (v. 13).
Todavia, como cristãos, já estamos
no descanso de Deus, já fazemos parte do seu Reino, da sua ressurreição,
aguardando apenas o momento de adentrarmos no céu para estarmos com Ele
eternamente. Esta salvação pela fé exclui a possibilidade de estarmos salvos se
vivemos na incredulidade. Estar em Cristo e tornar-se incrédulo é negar a fé,
isto é, apostatar. O verdadeiro cristão não apostata da sua fé; quem o faz, é
porque jamais foi salvo. Mas se temos esta esperança superior em Cristo, se
mesmo sem ver as ruas de ouro e o lugar que Cristo foi preparar para nós
continuamos crendo, podemos ter certeza de que entraremos no seu descanso. Se
muitos do povo de Israel não puderam entrar por causa da sua incredulidade,
nós, pela nossa fé, entraremos.
Esta maravilhosa promessa de entrar
no descanso de Deus nos foi dada no Evangelho, nas boas-novas da salvação, mas
exige a aceitação pela fé (4:1,2). Reiterando o que dissera no capítulo três, o
autor de Hebreus declara que a exclusão de Israel do descanso do Senhor se deve
à sua incredulidade, porque “a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto
não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram”. Se não entramos no
descanso de Deus é porque falhamos em não crer que ele existe, que é real e
palpável. Dos vs. 1 ao 3 há uma clara distinção entre dois grupos: 1) aquele
formado por indivíduos que falham em não crer e por isso não podem ser salvas.
Não se trata de pessoas que perderam a salvação, mas de pessoas que jamais
puderam ser salvas por causa da sua incredulidade. 2) e aquele grupo que inclui
o próprio autor da epístola: “Nós,porém, que cremos, entramos no descanso” (v.
3). Ele não diz que entraremos, mas que já estamos no descanso de Deus. Isto
nos dá segurança de que estamos salvos, isto é, que já somos participantes de
todos os benefícios prometidos por Deus através de Jesus Cristo.
O descanso de Deus está aberto
àqueles que ainda irão entrar nele, enquanto alguns se mantêm desobedientes,
mesmo tendo ouvido as boas-novas (v. 6). E pela quarta vez o autor declara a
Palavra de Deus: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração”
(v. 7). Desta forma, a eterna salvação é algo pessoal e deve ser recebido pela
fé quando o Evangelho é pregado. O fato de o povo de Israel ter endurecido o
coração à voz do Senhor mostra que existe uma atitude da parte do homem com
relação a Deus, a de crer. É o Espírito Santo quem convence o homem do pecado,
da justiça e do juízo, mas isto só poderá ser apreendido pela fé. Os judeus
receberam as boas-novas, mas ainda assim se mantiveram rebeldes. Da mesma forma
muitas pessoas hoje não poderão entrar no descanso de Deus, porque ouvem o
Evangelho e não crêem.
A
exortação do autor é que devemos nos esforçar “por entrar naquele descanso, a
fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (v. 11).
Aqueles que caem, todavia, não são os que creram, mas os desobedientes, que não
entraram no descanso de Deus por causa da sua incredulidade. Este descanso
prometido por Deus é celestial e pode ser usufruído agora (v. 9), mas será mais
plenamente usufruído na glória. Logo, o fato de já gozarmos hoje da glória
vindoura significa que podemos ter certeza da nossa salvação. O hoje e o amanhã
eterno já fazem parte da nossa realidade de salvação. Entender esta realidade
que o Livro de Hebreus mostra acerca da superioridade de Cristo pode responder
a muitas questões e tirar inúmeras dúvidas de quem ainda acredita que a
salvação pode ser perdida.
A
mensagem de Hebreus é uma mensagem de esperança. Quando o povo estava no
deserto após a sua saída do Egito, Deus proveu todos os meios de lhes dar
esperança: a travessia do mar vermelho, o maná, a coluna de fogo, a água que
brotou da rocha, as sandálias que jamais se desgastaram, as codornizes, as suas
leis. Deus estava presente em todos os momentos lembrando-se da aliança que
fizera com eles de que lhes daria uma terra que emanava leite e mel.
Entretanto, a sua rebeldia em aceitar os decretos divinos, a sua dureza de
coração diante dos milagres que os acompanhavam, a sua murmuração e a sua
idolatria, os afastou do ideal de Deus e lhes tirou a parte que lhes cabia na
promessa. Mas Deus não teria os seus planos frustrados, porque outra geração
tomou posse da terra e nós, de maneira mais perfeita, também tomamos posse da
herança que nos é dada em Cristo: a vida eterna.
Esta
nossa confissão, porém, deve ser preservada. Mais adiante aprenderemos um pouco
sobre a perseverança dos santos. Mas de imediato o autor de Hebreus nos diz que
só nos é possível perseverar em manter firme a nossa confissão porque temos “a
Jesus, o Filho de Deus, como sumo sacerdote que penetrou os céus” (v. 14). Ele
nos dá a segurança e a confiança de nos aproximarmos do trono da graça (v. 16),
onde recebemos misericórdia e achamos graça para socorro em ocasião oportuna.
Esta segurança é uma constante no Livro de Hebreus, que não cessa de apontar
para a nossa esperança em Cristo como sumo sacerdote. De fato, o seu intuito
principal parece ser de mostrar que tão grande obra de salvação deve tirar de
nós qualquer resquício de dúvida, fazendo-nos esperar com alegria a glória que
está para ser revelada na parousia.
A
superioridade do sacerdócio de Cristo demonstra-se na sua obediência pelas
coisas que sofreu (5:8), e “tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da
salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (v. 9). O caráter eterno do
sacerdócio de Cristo mostra que a sua obra redentora foi perfeita, de modo que
não resta obra nenhuma a ser feita. E se foi perfeita, também é eficaz. Esta
salvação eterna é concedida aos que lhe obedecem e esta obediência é produzida
pela fé (cf. Rm 10:9; Tg 2:14-26). Deste modo, a partir do momento em que pela
fé aceitamos a Jesus como o nosso Senhor e Salvador, a salvação prometida por
Deus aos que crêem já opera em nós. Esta salvação, como temos visto neste
estudo, não é fruto da nossa perseverança ou pode ser perdida pela nossa
pecaminosidade, mas existe para sempre, pois é eterna. Não há como fazer
perecer aquilo que é imperecível.
Os
vs. 4 a 6 do sexto capítulo de Hebreus já foram debatidos na terceira parte
deste estudo. E prosseguindo, o autor nos mostra que a atitude do cristão deve
ser a mesma daqueles que, no Antigo Testamento, tiveram fé em Deus, herdando as
promessas que confiadamente esperaram (vs. 9-12). Ser indolente seria seguir o
exemplo daqueles que não creram, que foram infiéis e por isso não herdaram as
promessas. Mais adiante (cap. 11), o autor vai mostrar o caráter e a fé de
algumas personagens da história bíblica que obtiveram a vitória por crer nas
promessas de Deus. Mais uma vez percebemos que é a falta de fé que impede o
homem de obter aquilo que Deus lhe tem prometido. Aqueles que não crêem na
segurança da salvação não podem ser diligentes para a plena certeza da
esperança (v. 11), pois em seus corações não crêem que já possuem a promessa do
Senhor reservada desde os tempos eternos aos que crêem. Eles não vêem que se
assemelham ao povo que não entrou na terra prometida, no descanso de Deus:
ouvem as boas-novas, experimentam os milagres, recebem a promessa, mas
continuam incrédulos em seus corações. Deus lhes diz: A terra é de vocês! E
eles permanecem sem acreditar.
Mas
não há como desacreditar das promessas de Deus. Não há como duvidar do seu
descanso eterno reservado para os que crêem. Quando Deus fez a promessa a
Abraão de lhe dar uma terra e fazer dele uma grande nação, jurou não por aquilo
que perece, mas por aquilo que é eterno: por Si mesmo (vs. 13-20). Esta
promessa é, então, imutável, pois Deus não pode mentir, não pode voltar atrás
naquilo que firmou em pacto conosco. A salvação do cristão é certa e segura,
pois Deus é imutável. Podemos descansar na certeza de que “já corremos para o
refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta” (v. 18). Esta esperança nós
já possuímos e é a âncora da nossa alma, “segura e firme e que penetra além do
véu” (v. 19). A nossa entrada no céu já está garantida, porque o nosso precursor
entrou por nós (v. 20).
A
esperança do cristão é uma esperança superior a da Antiga Aliança, pois se
baseia naquilo que é perfeito e o conduz até Deus (7:19). O sacerdócio de
Cristo torna a nossa situação diante de Deus igualmente imutável (v. 24). A
salvação em Cristo não pode ser revogada, pois não pertence à Lei que muda se
mudar o sacerdócio, mas à graça que pertence ao sacerdócio eterno de Cristo.
Tendo tal sacerdócio imutável e eterno, Jesus “pode salvar totalmente os que
por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (v. 25).
Jesus não tem fim de dias, mas vive eternamente para interceder por nós (v.
27). A Nova Aliança de Cristo é instituída sobre superiores promessas firmadas
com Deus (8:10), que em Cristo perdoa e esquece os nossos pecados (v. 12). Este
perdão é total e não pode ser revogado, pois a promessa é superior e a Aliança,
eterna.
O capítulo nove do livro de Hebreus
mostra ainda mais claramente a superioridade da Nova Aliança de Cristo sobre a
Antiga Aliança da Lei. É através desta superioridade que podemos perceber a
enormidade da obra de Cristo e as suas conseqüências na nossa vida. O autor de
Hebreus mostra que a Antiga Aliança era somente sombra daquilo que estava por
vir, com todos os seus preceitos de serviço sagrado e o seu santuário terrestre
(v. 1). Todos os sacrifícios que no Tabernáculo eram praticados, eram
ineficazes para o aperfeiçoamento daquele que o oferecia (v. 9), pois não
passavam de ordenanças “impostas até ao tempo oportuno de reforma” (v. 10).
Todos os sacrifícios prescritos e as demais observâncias da Lei tinham como
objetivo principal apontar para aquilo que era maior e definitivo: o sacrifício
de Cristo na cruz.
Em Cristo aquilo que é antigo
torna-se obsoleto e Ele mesmo torna-se autor de Aliança muito superior, uma vez
que pelo seu próprio sangue fez propiciação pelos nossos pecados, “entrando no
Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (v. 11).
Propiciação significa que Cristo morreu no nosso lugar, assumindo toda a nossa
culpa sobre Ele para expiá-la. Em Cristo não há mais necessidade de sacrifício,
pois Ele fez a paz entre nós e Deus. O autor de Hebreus afirma: “muito mais o
sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula
a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus
vivo! Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova aliança, a fim de que,
intervindo a morte para a remissão das transgressões que havia sob a primeira
aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados”
(vs. 14,15).
O sacrifício eterno de Cristo na
cruz nos garante: 1) eterna redenção; 2) remissão dos pecados; 3) recebimento
da promessa da eterna herança. Através do seu sangue que foi derramado sobre a
cruz, temos certeza de que fomos remidos dos nossos pecados (v. 22). Não há
mais necessidade de sacrifícios, pois o sacrifício de Cristo foi o suficiente.
E se o seu sacrifício é poderoso para nos salvar, como haveríamos de perecer
uma vez tendo crido nele? Em Hebreus entendemos plenamente a eficácia do
sacrifício de Jesus, que “se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo
sacrifício de si mesmo, o pecado” (v. 26). Este sacrifício é a certeza de que aquele
que nele crê está definitivamente salvo, aguardando apenas o momento em que
Cristo voltará para levar os seus: “E, assim como aos homens está ordenado
morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo,
tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos,
aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (vs.
27,28).
A salvação do cristão não está
alicerçada sobre aquilo que é passageiro, mas sobre aquilo que é eterno. O
caráter eterno do sacrifício de Cristo demonstra o caráter imutável da nossa
salvação. Ele nos salvou para sempre, definitivamente, não podendo nos perder
ou não necessitando de novo sacrifício. Se fosse possível perder a salvação pro
conta dos nossos pecados, o sacrifício de Cristo teria sido imperfeito e
insuficiente. Mas o autor de Hebreus nos garante que em Cristo o pecado foi
aniquilado. Aquilo que é aniquilado não pode voltar à vida, a menos que algo
superior o traga de volta. Mas se Deus trouxesse o pecado de volta às nossas
vidas, estaria indo totalmente contra a sua Palavra o seu eterno propósito para
nós. Além disso, se o pecado pudesse ser mais uma vez imposto sobre nós, a
Bíblia não estaria correta em afirmar que ele foi aniquilado.
No capítulo dez o autor dá
prosseguimento ao seu pensamento afirmando que o caráter do ministério de
Cristo é “uma vez por todas” (v. 10), não necessitando de apresentar
sacrifícios diários que jamais podem remover os pecados. O sacrifício de Cristo
é único e suficiente para aperfeiçoar para sempre todos os que estão sendo
santificados (vs. 12-14), não restando mais necessidade de qualquer oferta pelo
pecado (vs. 15-18). Entender esta verdade é crucial para compreendermos que a
vontade de Deus se cumpre em Cristo (Rm 5:19) e, uma vez firmados nele, podemos
estar seguros quanto à certeza e a segurança da nossa salvação. Se Cristo se
ofereceu uma vez por todas para nos reconciliar com Deus, a salvação que Ele
nos oferece pela sua graça também é uma vez por todas. Não pode haver
sacrifício perfeito se houver salvação imperfeita.
O autor de Hebreus, então, nos anima
a entrarmos com intrepidez no Santo dos Santos pelo novo e vivo caminho, que é
Jesus (vs. 19,20). O homem regenerado tem acesso irrestrito e definitivo à
presença de Deus, com “sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração
purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (v. 22). Todavia,
como nos aproximar de Deus sem fé? Como entrar através do véu sem a certeza de
que realmente estamos salvos? Negar a certeza da salvação é excluir-nos da
presença do Senhor, pois é somente através da certeza de que o sacrifício de
Cristo é suficiente para nos salvar para sempre que podemos nos apresentar na
presença de Deus. Sem esta fé não há como vencer a barreira do pecado, pois é
esta fé que nos mostra que o pecado foi definitivamente aniquilado e por isso
podemos nos aproximar de Deus sem sermos consumidos.
Por
isso somos exortados de modo que “Guardemos firme a confissão da esperança, sem
vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” (v. 23). Que esperança é esta? Como
já vimos no comentário de Romanos 8:24 e veremos ainda nos comentários de Tito
3:4-7 e 1 Pe 3:15, a nossa esperança é Jesus Cristo ressuscitado. E que
promessa o Deus fiel tem para nós? É a promessa de entrar nos seu descanso (cf.
Hb cap. 4). Se cremos em Deus, podemos ter certeza que Ele é fiel às suas
promessas e poderoso para nos levar a salvo até o seu descanso eterno nos céus.
Aquele que confessa a Cristo como Senhor e Salvador – a nossa esperança – pode
estar certo que no fim será recompensado, porque Deus não pode mentir.
Existe,
porém, a possibilidade de o cristão retroceder na sua esperança, que é o que
tem acontecido com muitos que negam que o sacrifício de Cristo tenha sido
ineficaz, pois não se sentem salvos totalmente. Quem não tem certeza de que
está salvo e não possui a segurança de que assim permanecerá para sempre, pode
por ventura entrar com intrepidez na presença do Senhor? O que nos permite
entrar no santo dos santos é o sangue de Cristo. Ele é o novo e vivo caminho
que nos conduz diretamente a Deus pelos seus méritos. No v. 35 o autor de
Hebreus diz: “Não abandoneis, portanto, a vossa confiança; ela tem grande
galardão”. Desta forma, ele nos exorta a guardar a nossa esperança da vida
eterna que o Senhor nos deu. Retroceder não significa pecar para perder a salvação,
mas abandonar a esperança nas promessas de. Deste modo, não é perseverança na
fé, mas perseverança na esperança e na confiança para alcançar a promessa; sem
esta perseverança, não existe a fé. Dizer que o cristão pode retroceder para a
perdição (cf. v. 38) é contradizer a Palavra de Deus. Nós não somos dos que
retrocedem para a perdição, isto é, os apóstatas, aqueles que não querem
esperar pelo cumprimento da promessa do Senhor. Somos os que vivem pela fé (v.
38), aguardando firmemente o grande Dia, conservando a nossa alma (v. 39).
A
fé que nos salva é a mesma que nos faz confiar em Deus e nas suas promessas
(11:1-3). Se Deus nos prometeu a vida eterna por meio de Cristo, a sua promessa
não pode falhar. Nós esperamos pela fé a vinda do Senhor para nos levar, e
embora os nossos olhos ainda não possam enxergar o que Deus tem preparado para
nós, pela fé já podemos contemplar as nossas mansões celestiais. Sem esta fé é
impossível agradar a Deus (v. 6). Não basta crer em Deus, é preciso confiar
nele. Muitas pessoas afirmam a sua crença em Deus, mas estão tão desesperadas e
descrentes que relutam em afirmarem-se eternamente salvas. Não crêem que o
sacerdócio de Cristo seja eterno e a sua salvação seja total. Na verdade, o
ofício de Cristo está limitado à capacidade que essas pessoas tem de pecar,
porque a qualquer momento de suas vidas elas podem cair e invalidar a promessa
de Deus por causa da sua queda. Em outras palavras: aquilo que Deus operou
poderosamente em Cristo e nos deu pela sua maravilhosa graça pode se perder
todas as vezes que pecamos.
Os
heróis da fé, entretanto, faziam parte de um grupo de pessoas que acreditavam
em Deus e esperavam nele. A sua fé era baseada numa confiança inabalável de que
Deus era poderoso para cumprir com a sua palavra, independente das
circunstâncias. Muitos morreram crendo, mas sem ter obtido as promessas,
vendo-as apenas de longe como peregrinos sobre a terra, até herdarem pátria
superior, isto é, celestial (v. 13). Todos estes suportaram toda sorte de
intempéries e obtiveram bom testemunho pela sua fé, acreditando nas promessas
de Deus e esperando pela sua concretização. A terra prometida – Canaã – era
apenas figura da terra verdadeira – Jesus Cristo – que a si mesmo se deu para
que em nós as promessas de Deus se concretizassem.
O
capítulo doze se inicia com uma forte injeção de ânimo para que não percamos de
vista aquilo que Deus já nos deu, tendo em Cristo o nosso exemplo de
perseverança: “Portanto, também vós, visto que temos a rodear-nos tão grande
número de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está
proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da nossa fé, Jesus, o
qual, em trocas da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não
fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa
alma” (vs. 1-3). O que ele está nos dizendo é que devemos manter bem os nossos
olhos constantemente fixos no Senhor. Não em nós mesmos, nas nossas limitações,
mas em Cristo, o Autor e Consumador perfeito da nossa fé e da nossa eterna
salvação. Somente mantendo os nossos olhos fixos em Jesus Cristo é que
poderemos permanecer firmes e inabaláveis. Somente olhando para aquele que pode
nos salvar totalmente é que poderemos nos sentir totalmente salvos.
A
seguir, o autor nos coloca na posição de filhos de Deus, tendo como prova desta
filiação a disciplina que vem de Deus (vs. 4-13). Era obrigação de o judeu
prover a educação dos seus filhos nos caminhos do Senhor, aplicando medidas
disciplinares quando necessário. Esta disciplina era muitas vezes infligida com
chicote, quando havia necessidade de disciplinar. Então, se o cristão está
debaixo da correção de Deus (do seu chicote), isto lhe deve ser como motivo de
grande alegria, pois é uma prova da sua filiação divina. Mas se rejeitamos esta
correção, se não aceitamos passar pela disciplina de Deus, corremos o risco de
entrarmos em rebeldia contra Ele. E por outro lado, se não temos a disciplina
que vem de Deus e que tem como objetivo produzir em nós santidade (vs. 10,11),
não fazemos parte da sua família, logo, não somos dele nem Ele é nosso.
Como
vemos, é importante que tenhamos certeza de que lado estamos. Muitas pessoas se
afastam da igreja e do Evangelho, não para a perda da sua salvação, mas porque
jamais possuíram uma filiação divina. Como dissemos no início, nem todos estão
na igreja pelos motivos corretos (fé e arrependimento), mas porque desejam
soluções imediatas e miraculosas para os seus problemas, de modo que não sofram
mais e isto sem muito esforço da sua parte. Esta fé não produz salvação, não
torna o pecador justificado diante de Deus nem o introduz como membro da sua
família celestial. Por isso o autor de Hebreus exorta: “Segui a paz com todos e
a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente,
por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus” (v. 14,15). Assim
como Esaú (vs. 16,17), existem muitas pessoas na igreja sem compromisso real
com Deus, que estão inseridas dentro de um contexto eclesiástico sem jamais
terem sido salvas. E por que elas continuam assim, por que não mudam a sua
atitude? Simplesmente porque não há lugar de arrependimento em seus corações.
Aqueles
que estão em Cristo, porém, estão seguros: “Mas tendes chegado ao monte Sião e
à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anhos,
e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus [não
arrolados como membros de uma denominação], e a Deus, o Juiz de todos, e aos
espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, e ao
sangue da aspersão que fala de coisas superiores ao que fala o próprio Abel”
(vs. 22-24). Esta realidade já é algo palpável na vida do cristão, algo do que
ele já começa a participar aqui na terra. Aqui somos apenas peregrinos, como
bem afirmou o apostolo Pedro (1 Pe 2:11), porque a nossa verdadeira pátria está
nos céus (cf. Fp 3:20). E se já possuímos uma pátria celestial e se já fazemos
parte das bênçãos futuras, podemos estar certos de que em breve estaremos na
nossa eterna morada. Hebreus nos dá absoluta certeza disso, não nos deixando
espaço para duvidar, para acharmos que poderemos perder a nossa filiação divina
e a nossa herança com Cristo na glória. Se fosse possível perder estas coisas,
o sacerdócio de Cristo não seria eterno e a sua expiação não seria perfeita.
Mais
uma vez, porém, o autor nos exorta quanto a nossa responsabilidade diante de
Deus. Quando Moisés subiu ao monte para receber a lei de Deus, o povo em sua
incredulidade preparou para si um bezerro de outro para adorá-lo no lugar de
Deus (Ex 32:4). Ora, se o povo de Israel deveria temer aquele cuja voz vinha da
terra – Moisés – muito mais nós devemos temer a voz que vem dos céus. Todas
aquelas coisas que tinham sido abaladas e que eram passageiras foram substituídas
por aquilo que é eterno (vs. 26,27). O reino que temos agora é superior ao da
Antiga Aliança, pois é um reino eterno, do qual nós fazemos parte pela graça de
Deus (v. 28). Esta certeza e esta esperança estão firmadas sobre uma realidade:
“Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (13:8). E é esta
verdade, baseada na doutrina verdadeira, que confirma o nosso coração na graça
(v. 9), porque aqui não temos cidade permanente, mas esperamos a que há de vir
(v. 14).
Mizael Xavier
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