Ela sentou-se no chão e chorou. Assim que
as suas lágrimas começaram a cair borrando toda a sua maquiagem, as pessoas finalmente
começaram a rir. Primeiro um borburinho aqui e outro ali. De repente, alguém
deu uma grande risada e disse: “Olhem só, ela está chorando!”. E aos poucos
toda a plateia estava unida num sinfonia inquietante de gargalhadas, enquanto
apontavam para ela ali, estática. Ela colocou as duas mãos tapando o rosto por
alguns instantes. Queria estar em outro lugar que não ali, talvez em um buraco
profundo e escuro.
Ao
passo em que as risadas aumentavam, ela foi se erguendo lentamente, até ficar
totalmente de pé no meio do picadeiro. Apenas a sua cabeça permanecia abaixada
num misto de vergonha e frustração. Mas quando erguia os olhos e olhava ao seu
redor, podia ver o resto das pessoas rindo como jamais haviam rido em toda a
sua vida. Até que sentiu uma pancada nas costas e viu uma fruta podre qualquer
caindo ao chão. Lentamente inclinou-se para a plateia e agradeceu, como fazem
os grandes artistas após um belo espetáculo, enquanto são ovacionados e recebem
flores. Depois saiu lentamente ao som das risadas estridentes, que logo se
transformaram em vaias, urros e palavras tão desprezíveis que ela jamais
esqueceria, ainda que vivesse cem anos.
Na
coxia, a caminho do seu camarim, os seus amigos e colegas que tanto lhe deram
força, tentaram consolá-la, mas não havia no mundo bálsamo capaz de curar a
imensa dor que transpassava o seu coração ferido. A sua alma estava desfigurada
pela amargura e pelo desprezo daqueles que ela desejara simplesmente divertir,
levar motivos para fazer a alegria brotar como uma flor reluzente num asfalto
duro e frio. Ela, que tentou levar um pouco da alegria que sempre fez parte da
sua vida, mesmo dos momentos mais tristes, sentia-se frustrada. Já no camarim,
sentada diante de um imenso espelho, ela pôde contemplar o seu rosto outrora
radiante e risonho, e agora manchado pelo triste pranto. O panquêque branco da
face misturava-se ao vermelho de redor da sua boca, como sangue escorrendo e
manchando as folhas de um caderno. Pegou um lenço umedecido e começou a se
limpar. Haveria de se livrar daquela pintura, que não passava de um símbolo
amargo da ousadia de sonhar, da ilusão de achar que poderia fazer aquilo que
todos afirmaram que ela jamais conseguiria. Ela pensou: “Eles têm razão, eu sou
um fracasso, uma grande e gorda piada”.
Mas
o que teria saído errado? Durante a sua vida até ali ela tinha sido alvo de
piadas. As pessoas se divertiam tanto com a sua figura, que ela começou a fazer
graça, a ser a palhaça da turma. Passou a vinda inteira se escondendo por trás
de uma máscara cômica para sofrer menos, para fingir que os apelidos que
colocavam nela eram parte de um grande circo em que ela era a grande personagem
principal. Preferia rir de si mesma ao ter que enfrentar a realidade de que era
apenas um objeto de escárnio, era desprezada, abominada. Alguns diziam: “Lá vem
a palhaça gorda!”. E foi o que ela tentou fazer: ser a palhaça gorda. Então, o
que tinha saído errado? Por que quando ela se vestiu como uma palhaça, se
pintou como uma palhaça e se apresentou no circo como uma palhaça as pessoas não
riram? Por que elas riram apenas da sua dor, da sua vergonha, das suas
lágrimas, da sua desgraça? Por que a maior diversão do público naquela noite de
grande espetáculo tinha sido rir vendo a palhaça gorda chorando?
Ela
voltou para o seu lar, o vigésimo andar de um apartamento no subúrbio. Ao menos
a sua família, os seus pais, se importavam com ela. Jamais deixaram de amá-la,
de lhe dar ânimo para vencer tantos obstáculos impostos pela vida, pelas
pessoas que a vida lhe trazia. Beijou a sua mãe, abraçou o seu pai, pediu-lhes
a bênção. A sua mãe lhe perguntou: “O que houve, minha filha? Você parece
triste?”. Ela respondeu: “Não é nada mãe. Só estou um pouco cansada”. Poucos minutos
depois ela estava na varanda do apartamento. Colocou um banquinho próximo à
grade que a protegia de cair lá em baixo. As risadas e os xingamentos ainda
ecoavam em sua mente e atordoavam o seu coração. Mesmo ali, sozinha, ela podia
ver cada rosto, cada expressão de desprezo, cada dedo apontado na sua direção.
Enquanto mais
lágrimas caíam dos seus olhos e se lançavam ao solo, ela subiu lentamente no
banco, passou as pernas para o outro lado da grade e se sentou sobre ela,
apoiando-se com as duas mãos. Os carros e as pessoas transitando metros a baixo
dos seus pés, pareciam minúsculas formigas indo e vindo. Ela então abriu os
braços no desejo de abraçar a morte, fechou os olhos e respirou fundo. Com certeza
as gargalhadas iriam cessar e ninguém nunca mais ia rir à custa da palhaça
gorda. Seria aquele o seu último ato, a cena crucial e derradeira da sua vida e
da sua carreira. Ele se inclinou para frente para permitir que o seu corpo se
entregasse nas mãos implacáveis da lei da gravidade e pudesse encontrar no seu
fim o começo para uma nova vida. A última lágrima caiu...
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OBS: Foto meramente ilustrativa copiada da Internet. Esta história não diz respeito à vida da pessoa na foto.
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