sábado, 13 de abril de 2013

Como enganar o cidadão e fazê-lo votar em você para presidente




(Crônica publicada no Jornal de Natal[1], 03, 10 e 24 de novembro de 1997)


Uma coisa ninguém pode negar: apesar de já haver passado por tantas fases difíceis na política social e econômica do País, vendo ao vivo e a cores tanta safadeza, tanta corrupção, tanta mentira e tanta maracutáia, envolvendo empresários e políticos, que variam desde o vereador até o presidente da República, o cidadão brasileiro ainda é muito fácil de ser enganado, parece ter a memória muito curta.
Para se obter uma prova desta afirmação, basta voltar os olhos para as campanhas eleitorais, onde os políticos se aproveitam da humildade, da “ingenuidade” e da pobreza do povo para comprar a sua dignidade, promovendo verdadeiras carnificinas morais: um chaveirinho e um boné aqui; uma cesta básica e um milheiro de tijolos lá; isto sem contar os cargos públicos adquiridos através de promessas de campanha! Tudo isto e muito mais em troca de apenas uma coisa: o voto!
Quanto vale hoje a dignidade e a moral humana? Onde estão a ética e o caráter do cidadão? Bom, isso não interessa nem um pouco. O que na verdade tem importância é que o ano de 1998 se aproxima e precisamente neste ano haverá eleições para a presidência da República. Você não pode ficar fora dessa jogada. É necessário investir e tirar proveito do cidadão que a cada dia que passa está cada vez mais “enganável”. Afinal, é o cidadão quem vai votar e se ele não votar em você, provavelmente você não será eleito e perderá a grande chance de enriquecer rápido e conhecer o mundo inteiro totalmente de graça. Se você ainda não está pronto para esta empreitada, continue lendo mesmo assim, pois nada melhor que uma eleição após a outra.
Neste meu “manual de destruição para a vida”, você encontrará dicas preciosíssimas, de valor incalculável (depois que você se eleger a gente acerta!) que o ajudarão a penetrar no submundo das campanhas eleitorais colocando em prática o “Como enganar o cidadão e fazê-lo votar em você para presidente”, para tirar o máximo de proveito da “inocência” do pobre cidadão brasileiro. Isto será uma base pra você decolar nas pesquisas eleitorais e, com muito pouco esforço, ganhar as eleições para a Presidência da República.

Observação : A leitura deste manual é expressamente proibida àqueles raros políticos que ainda possuem caráter, moral e  dignidade.


LIÇÃO Nº 01

Para se tornar um bom político, você precisa ter berço. Desde pequeno, o futuro candidato já deveria demonstrar traços políticos no seu caráter. Por isso, logo ao nascer ele deveria ter o seguinte pensamento: “Um dia eu vou ser presidente do Brasil!”. Toda a sua vida deveria prepará-lo para alcançar este objetivo, custe o que custar. Existem quatro fatores importantíssimos que podem ser observados no decorrer desse tempo:

  • Fator social: para ser um futuro presidente da República, é indispensável nascer em berço de ouro e numa família já de tradição política. Sendo pobre e de família desconhecida, ninguém dará valor a você e o máximo que você irá conseguir é tornar-se líder sindical ou um vereador de terceira para sempre[2];
  • Fator educacional: uma boa educação é indispensável. Estudar em colégios e faculdades de renome, no Brasil e no exterior faz a diferença. Se você ainda não pensou nisso, comece a pensar agora para as eleições futuras. Forme-se em Sociologia, Filosofia, Direito, Comunicações, Letras e outros babados que lhe garantam a posição de “homem culto” dentro da sociedade;
  • Fator psicológico: seja um homem equilibrado emocionalmente; não perca a cabeça por pequenos problemas. Seja amável, afetuoso e tranqüilo;
  • Fator moral: seja moralista, intransigente, perfeccionista, religioso. Apoie veementemente a instituição familiar, os bons costumes e tudo aquilo que a sociedade considere como sendo politicamente correto. Ame sua Pátria!

Importante: No desenrolar de sua vida, você precisará levar tudo isso muito a sério, para que no futuro as pessoas lhe dêem total credibilidade e lhe chamem de santo. Assim será mais fácil enganá-las e ganhá-las para o seu lado. Se você não nasceu em berço de ouro, terá a vida inteira para “conquistar” um.


LIÇÃO Nº 02

Como todo futuro candidato à presidência da República, você deve cultivar desde cedo um forte sentimento político. Admire todos os políticos que foram bem sucedidos na história; tome-os como heróis e mire-se no exemplo deles. Ame o sistema capitalista e tenha como livro de cabeceira “O Capital” de Karl Marx. Na escola, em casa, no lazer ou no trabalho seja sempre um político. Já é um treinamento.

Importante: Na verdade, para ser um bom político não é necessário saber absolutamente nada sobre política. É por isso que foi inventada a “politicagem”.  A você basta um sorriso simpático e um belo discurso que impressione a massa. E se você for muito bonito, a eleição está no papo.


LIÇÃO Nº 03

Comece bem cedo a sua vida pública, participando de associações de moradores, sindicatos e outros mais. Seja revolucionário e radical, mas sempre assumindo uma certa postura intelectual. Procure mostrar para o cidadão o quanto você é bonzinho e se preocupa com os problemas sociais da nação.

Importante: Conquiste ao máximo as pessoas para o seu modo de pensar, fazendo-as achar que só você está certo. Lembre-se de que estes que convivem hoje com você podem ser os seus futuros eleitores.




LIÇÃO Nº 04

Praticamente tudo aquilo que foi semeado até hoje você começará a colher na sua primeira candidatura. Normalmente começa-se por baixo, isto é, vereador. As pessoas que conviveram com você durante todos estes anos, que viram você crescer na sua vida pública, que acompanharam a sua luta pelo bem da comunidade e, principalmente, que absorveram grande parte do seu modo de pensar (reveja lição anterior), são as mesmas pessoas que lhe colocarão no poder. Mas tome muito cuidado! Assim como você, existem pessoas que só agem por puro interesse. Você precisa identificar quem são os lobos e quem são as ovelhas.

Importante: O que importa mesmo é que, tanto um quanto o outro, vote em você. Aquele que se recusar a passar para o seu lado, você compra (veja lição 11 ).


LIÇÃO Nº 05

Durante o seu mandato de vereador procure impressionar. Defenda na câmara municipal projetos que beneficiem a sociedade. Use de psicologia! Depois disso você deverá assumir os seguintes cargos que servirão de trampolim para a sua vitória final: Prefeito, Governador, Deputado Estadual, Deputado Federal, Senador e Ministro da Fazenda. Com uma carga política dessas, você se tornará apto a governar com unhas de ferro um País chamado Brasil.

Importante: Como ministro da Fazenda você precisa inovar a política econômica do País. Sendo que o Brasil já passou por tantos planos econômicos, por que não inventar um novo? Estude a situação; mude o nome e a cara da moeda. Caso o seu plano dê certo e, aparentemente, a situação econômica do País melhore, as pessoas verão em você um jovem promissor e dirão: “Se ele fez tudo isso só como ministro, imagina se ele for eleito presidente!”. Provavelmente, então, começarão a requerer a sua candidatura.


LIÇÃO Nº 06

Todas as lições dadas até o presente momento serviram apenas como base para o futuro. E o futuro já chegou!  Você já passou por um longo período de experiência: de vereador a ministro da fazenda. O plano econômico foi um sucesso e a sua cotação está em alta. A mídia te assedia e você virou verdadeiramente um ídolo nacional. Hora de lançar a sua candidatura.

Importante: Certamente você tem acompanhado as últimas eleições e tem visto que partido de esquerda não faz presidente[3], porque não compram votos, não se aliam a partidos da bancada do governo, não negociam sua ética, seu caráter, sua dignidade e sua moral[4]. Portanto, se você quiser sair vencedor, filie-se a um partido de extrema-direita, que esteja em ligação direta com o atual governo, do qual você já é ministro.



LIÇÃO Nº 07

Todo candidato precisa de um perfil para si mesmo e para o seu governo. Em seu livro “Marketing Político e Governamental”, editado pela editora Summus, o autor Francisco Gaudêncio Torquato do Rego cita 15 “valores para a construção de um conceito de governo” (página 53). Estes valores devem permear a visão política do candidato para um bom desempenho de sua função. Mas, creio eu, a teoria é muito diferente da prática. Por isso, gostaria de sugerir aqui uma “teoria prática”, isto é, a realidade descascada, nua e crua, como a vemos na atual politicagem do País. Basta apenas você inverter os valores e terá o perfil completo de um político verdadeiramente brasileiro:

  • Indignidade, falta total de caráter, de moral e de ética;
  • Valorização da classe política que apóia as suas idéias, os seus projetos e a sua politicagem. Desprezo aos demais;
  • Desonestidade em todos os propósitos; mascaramento total, hipocrisia;
  • Desonra, desonestidade, isto é, improbidade total;
  • Governo de portas abertas para si mesmo e portas totalmente lacradas para o povo;
  • A procura da melhor solução para a sua situação financeira;
  • Compromisso consigo mesmo;
  • Descompromisso com a democracia, volta a ditadura – a sua;
  • Favoritismos políticos, sociais, étnicos, religiosos, etc.
  • Desumanidade nas decisões, intransigência, racionalidade, legalismo;
  • Dependência total nas negociações externas. O Brasil em 2º lugar. Venda-o aos poucos;
  • Mudanças sem nenhuma participação do povo; o povo deve ser o último a saber;
  • Soberba, orgulho, autoritarismo, prepotência;
  • Incompetência, falta de profissionalismo, displicência, indiferença;
  • Mordomias para você e sua família; viagens e lua-de-mel no exterior com dinheiro dos cofres públicos. Excesso administrativo.


LIÇÃO Nº 08

Começa a guerra! Durante algum tempo você terá de aparecer no horário político gratuito apenas puxando o próprio saco, mostrando suas obras em governos anteriores e dizendo-se ser a solução definitiva para os problemas mais conflitantes do País. Logo depois virá a campanha eleitoral propriamente dita, onde todos os candidatos serão conhecidos e você terá o prazer de dizer: “Votem em mim para a Presidência!”. Para convencer o povo de que você é o melhor, você precisará de um bom discurso e um bom plano de governo. Portanto:

  • Faça uma pesquisa a nível nacional para saber qual é a opinião do eleitor sobre a atual situação do País, e quais são as principais áreas em que o governo deverá atuar;
  • Certifique-se que seu plano econômico lhe rendeu um bom IBOPE e explore isso ao máximo em todas as suas declarações;
  • Não venha com papo furado: Fale aquilo que você sabe que o povo espera ouvir de você;
  • Evite o máximo tocar em questões polêmicas que envolvam uma grande discussão ética e moral; por exemplo: aborto, homossexualismo, pena de morte, entre outros. Isto sempre causa divisão e quem sairá perdendo (votos) é você. Caso seja questionado sobre estes assuntos, procure se manter neutro;  neste caso não seja partidarista, seja sábio (pra não dizer esperto),  defenda a moral sem condenar o amoral!


LIÇÃO Nº 09

Na sua campanha para Presidente, além de um bom plano de governo, você precisará seguramente de um ótimo marketing político. Bom, o produto que você quer vender é “você mesmo”, por isso você deve investir o máximo na sua própria imagem, realizando competentemente um excelente marketing pessoal, procurando levar o eleitor a pensar que você é a melhor pessoa do mundo. A embalagem do presente deve causar boa impressão, principalmente se o presente não for muito bom. Portanto:

  • Informe ao eleitor sobre a sua formação acadêmica; prove o quanto você é intelectual e faça-o perceber o que o País poderia lucrar com um presidente tão culto. Se você não for tão culto assim, precisará de um excelente assessor de marketing;
  • Projete em toda a mídia a sua imagem de bom pai de família, excelente marido, ótimo amigo, maravilhoso vizinho, um homem esplendoroso, muito bem intencionado, carismático, amável, companheiro fiel, lutador, religioso;
  • Resgate do passado toda a sua vida pública (reveja lição anterior). Mostre os seus maravilhosos feitos, seus trabalhos hercúleos desde um simples líder comunitário até um bem sucedido ministro da fazenda. Mostre na TV suas obras públicas nas áreas de saúde, educação, transporte, moradia, etc.
  • Se você for casado, não desgrude da sua esposa; demonstre-se bastante afetivo em público. Se tiver filhos, use a imagem deles na campanha, sorridentes, abraçando-o.

Importante: Provavelmente algum candidato rival, de esquerda, conseguirá  provar o contrário e até daquela maconha que você fumou na adolescência, daqueles milhões que sumiram dos cofres públicos quando você ainda era governador, daquela obra superfaturada para uma empresa da sua família ele via falar. Mas fique frio; procure manter a pose, o nível. Eleição é assim mesmo. Diga que é tudo mentira, que é intriga da oposição. Se a imprensa insistir no assunto, exclame: “Isso é uma pantomima! Isso é uma patuscada!”


LIÇÃO Nº 10

Existem ainda outras áreas importantíssimas que deverão ser trabalhadas durante a sua campanha eleitoral. Você precisa saber como agir, pois o cidadão é uma criança e quer pirulito. Veja como atuar nas seguintes áreas:

  • Cabos eleitorais: Procure jovens desocupados e cheios de vigor. Normalmente eles não têm ideologia, mas por uns trocados darão a vida pelo seu ideal. Dê preferência àqueles com jeitão de guerrilheiros ou terroristas. Confira a eles o poder de comprar todos os votos possíveis e negociar os impossíveis;
  • Comícios: É nos comícios onde se encontra o maior número de pessoas dispostas a ouvir você falar. Na verdade todos estão lá para ouvir as bandas que irão tocar[5]. Espalhe no meio do povo seus cabos eleitorais para agitar a galera e fazer a oposição pensar que todos estão do seu lado. Isso causa um grande efeito psicológico e dá IBOPE. Quando falar, diga aquilo que o povo espera ouvir (Reveja lição nº 8,c);
  • Corpo-a-corpo: Ande a vontade no meio do povão; distribua sorrisos, beije as crianças; visite orfanatos, asilos, penitenciárias, favelas, hospitais e qualquer outro lugar onde houver um eleitor em potencial. Acene com a mão; faça “paz e amor”. Vá às igrejas evangélicas, freqüente missas, conquiste os votos de todas as representações religiosas do país;
  • Debates na televisão: Exponha todo o seu plano de governo de forma simples e direta. Cuidado com o que você for falar, pois tudo aquilo que disser poderá ser usado contra você no horário eleitoral; seja esperto. Não entre em conflito com os outros candidatos e muito menos ataque-os verbalmente, isso pode denegrir em muito a sua imagem; preocupe-se apenas em fazer com que o eleitor compreenda que você é simplesmente “o melhor”.
  • Interior: Ao chegar numa cidade do interior, certifique-se dos problemas mais graves que estejam atingindo a comunidade e teça o seu discurso em cima disto.

Importante: Existem ainda outras áreas que você descobrirá com o tempo. Saiba também de quem ganhar votos. Exemplos: Evangélicos, aposentados, índios, comerciários, industriários, professores, funcionários públicos, etc.


 LIÇÃO Nº 11

Nem só de marketing pessoal e propaganda eleitoral vive um candidato a presidente. É necessário muito mais do que isso, para se enganar um cidadão e fazê-lo votar em você para presidente. Se mesmo com tanta campanha você vir que seu IPOPE está caindo, faça como a maioria dos políticos está acostumados a fazer:  COMPRE  O VOTO DO ELEITOR ! Lembre-se do que foi falado na introdução deste manual. É assim que se vence uma eleição no Brasil. Quem não tem condições de comprar votos ou simplesmente não quer abrir mão do seu caráter e da sua ética para fazer isso, dificilmente se elegerá a algum cargo público, principalmente o de presidente da República[6]. Este é “um País chamado Brasil!” Eis que lhe dou, então, preciosíssimas dicas de como comprar um voto sem suar a camisa:

  • É um fenômeno praticamente inexplicável à luz da razão, mas o cidadão eleitor se amarra em certos tipos de bugigangas, tais como: chaveirinho, boné, camiseta, etc. Por isso, faça como os colonizadores fizeram com os índios para conquistá-los: ofereça esse tipo de porcaria que, apesar de não ter valor algum, conquista a simpatia do povo. E, principalmente, o voto;
  • Em época de eleições é indispensável ter conhecimento das necessidades primárias de cada cidadão para tirar proveito disso e conquistar (pra não dizer comprar) de vez o voto alheio. Então, outros produtos indispensáveis na sua dispensa eleitoral são: tijolo, telha, cimento, dentadura e óculos. Está provado que a maioria dos eleitores que se aproximam espontaneamente de você para vender os seus votos, estão interessados em pelo menos uma dessas cinco coisas;
  • Existem, porém, outros cidadãos que, além de não apreciarem nem um pouco as suas bugigangas, não necessitam destes outros produtos.  Prometem votar em você e até trabalham de graça na sua campanha, mas uma coisa eles querem em troca: um bom cargo no serviço público. Ofereça, então, a mercadoria que eles procuram. É infalível!
  • Entretanto, também existem uns cidadãos que não ligam para bugigangas, não querem construir uma casa, não estão banguelas ou míopes e nem tampouco precisam de emprego. O que eles querem é dinheiro vivo. Dê! Dê muito e exija mais ainda em troca: o voto deles, dos parentes, dos amigos, etc.
  • Outro modo de comprar o voto do cidadão eleitor é transferindo o título dele para a cidade onde ele deverá votar. Mas como a eleição é para presidente e ele poderá votar em você de qualquer lugar do País, tire o título caso ele ainda não o tenha ou transfira mesmo, só para agradar;
  • No dia da eleição, contrate ônibus, kombis e bestas para pegar o eleitor na porta de casa e levá-lo até a sua zona eleitoral. Distribua as bugigangas através dos seus cabos eleitorais. Desse modo você conquistará o eleitor indeciso que sempre é um votante seu em potencial;
  • Apresente ao cidadão uma imagem falsa de si. Não apenas uma ideia de você como pessoa, mas de coisas que você realizou sem ter sido necessariamente você. Por exemplo: em conluio com um prefeito ou um governador de alguma cidade ou estado, aproveite aquelas obras públicas que sempre são realizadas apenas em época de campanha eleitoral, e espalhe para o povo que é você quem está realizando tal obra. Através de boatos bem firmados por seus cabos eleitorais, o povo passará a acreditar piamente nisso e a uma só voz dirá: “Esse candidato é o melhor! Se antes de ser eleito, ele já está fazendo tudo isso, imagina quando se eleger .”
  • Mas você, como um bom politiqueiro, deve saber que não é somente o voto do eleitor que precisa ser comprado numa eleição para presidente, mas o apoio dos outros candidatos rivais. Procure aquele que mais agride a você e a sua família, tradicional no poder. Faça-lhe a seguinte proposta: “Eu lhe dou dez mil, você desiste da sua candidatura e passa a me apoiar”. Se ele perguntar: “E a minha dignidade?” Você responde: “Eu cubro!” Ele vai dizer: “Quinze mil e não se fala mais nisso”. E você diz: “Negócio fechado!”.
                                                                                                   
Importante: Anote o número da identidade e do título de cada cidadão que prometer votar em você. Não tenho muita certeza do motivo disso, mas parece causar um sentimento de compromisso. E provavelmente você não deve ter dinheiro no Banco disponível para isso tudo. Use, portanto, o dinheiro dos cofres públicos. Conquiste o voto dos empresários oferecendo-lhes inúmeras compensações pós-eleições. Sugue algum dinheiro deles.


LIÇÃO Nº 12


Hoje é o grande dia das eleições. O horário eleitoral gratuito já foi cancelado, assim como os comícios e qualquer outro tipo de propaganda eleitoral. Resta apenas sentar e esperar os resultados para ver se todo esse trabalho renderá o seu devido fruto. Que nada! Existem milhões de eleitores indecisos perambulando pelas ruas. Você tem da casa do eleitor até a sessão onde ele vai votar para convencê-lo de que você é realmente o bom, o melhor. Portanto:

  • Faça boca de urna descaradamente. Espalhe seus jagunços, quero dizer, seus cabos eleitorais para emboscar os eleitores na beira do caminho e capturar o voto deles;
  • Use a tática da lição nº 11,F;
  • Fraudulente as urnas; atrapalhe a contagem de votos;
  • Compre os mesários para colocarem votos a mais nas urnas;
  • Em urnas eletrônicas, espalhe um tipo de vírus que permita ao programa depositar o voto somente em você;
  • Use a imaginação, que é o que os politiqueiros mais possuem.


LIÇÃO Nº 13

Depois de uma vida inteira de sucessos, totalmente dedicada à política. Depois de uma cansativa campanha eleitoral para a presidência da república. Depois de um dia inteiro de boca de urna e, finalmente, depois de poucos dias de contagem de votos (ou poucas horas caso seja urna eletrônica), você está prestes a colher o fruto do seu árduo trabalho. Você está à frente nas pesquisas e os números estão ao seu favor. A última urna é contada; o resultado será conhecido em poucos instantes. E o novo presidente da República Federativa do Brasil é... VOCÊ! Meus parabéns! Você armou e se deu bem. Nadou e não morreu na praia. Mas stop! Não deixe a adrenalina subir demais à sua cabeça. Relaxe e siga as seguintes instruções:

  • Após um súbito ataque de amnésia aguda causada pelo stress da emoção de ter sido eleito presidente da República, esqueça todas as suas promessas de campanha: Saúde, trabalho, educação, reforma agrária, salário mínimo... Hã?! O quê?! Comece inventando desculpas. A mais conhecida é: É impossível mudar em pouquíssimos anos o que já está ruim a mais de 500!;
  • As únicas promessas que poderão ser cumpridas, com restrições, são as de cargos públicos aos seus eleitores (os peixes!);
  • Empregue parentes em cargos de confiança. Aumente o capital de toda a sua família e garanta um futuro melhor para seus filhos e netos;
  • Viaje bastante alegando assuntos exteriores. Vá passar a lua-de-mel no exterior com o dinheiro do povo;
  • Manipule a imprensa, faça loby, invente um mensalão, compre os votos dos deputados e senadores para apoiar os seus projetos, invista em obras superfaturadas. As opções são ilimitadas. Você pode tudo, pois o povo lhe deu o poder!
  • Transforme a vida do cidadão num verdadeiro inferno!


LIÇÃO Nº 14

Caso, infelizmente, o cidadão eleitor tenha aprendido a votar direito e a não jogar mais o voto na privada, e, por causa disso, você venha a perder as eleições, você só tem uma coisa a fazer: aliar-se imediatamente ao candidato eleito, mesmo que este seja adversário seu no governo e você tenha esculachado ele durante a campanha eleitoral. São águas passadas. Você não pode sair perdendo! Comece a partir daí novamente a sua odisseia. Daqui a alguns anos terá novas eleições. Siga este mesmo roteiro; o importante é não desistir jamais! Você é brasileiro e não desiste nunca.

Observação: Esta é uma obra fictícia. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais terá sido mera coincidência – a não ser que liguemos a TV para assistir ao noticiário. Aí vira verdade.

Só para finalizar: Espero que o leitor tenha compreendido o caráter irônico desse manual. Na verdade, isto não é algo a ser seguido, mas pretende ser um retrato crítico do que tem sido feito. Pelo pouco que observamos, todos fazendo sempre a mesma coisa e do mesmo jeito, parece que existe realmente uma manual para enganar o eleitor. Glória a Deus pelos bons políticos que não se enquadram neste manual.




[1] Algumas modificações necessárias foram feitas no texto original com o fim de corrigir alguns erros gramaticais e atualizá-lo, sem deformá-lo.
[2] Em 2002 o presidente Luis Inácio Lula da Silva quebrou esta regra.
[3] Lula quebrou mais esta regra.
[4] Esta regra também foi mudada com o mensalão... O mundo está mesmo em constante transformação.
[5] Atualmente a justiça eleitoral proíbe a contratação de bandas para os comícios. O público diminuiu bastante e fez aumentar a necessidade de criatividade dos candidatos e as suas estratégias.
[6] É claro que existem muitos políticos honestos que vencem uma eleição mantendo a sua dignidade. Mas não é destes que estamos falando. O importante é não generalizar.

QUANDO E ONDE LER A BÍBLIA?




Bíblia: a Palavra de Deus
Só não lê quem não quer!

“Habite ricamente em vós a Palavra...” (Colossenses 3:16)

“Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação.”     (1 Pedro 2:2)


A nossa vida cotidiana sempre nos dá muitas desculpas para a nossa falta de tempo em ler a Palavra de Deus. Entretanto, se tivermos em mãos ao menos um Novo Testamento que possa caber no nosso bolso ou em qualquer outro lugar pequeno, poderemos nos aplicar mais à leitura e estudo da Palavra para sermos alimentados constantemente. Vejamos alguns exemplos de momentos e locais para aproveitarmos:

·         Ao acordar, antes de iniciar nosso dia de trabalho ou de estudos.
·         Enquanto a nossa refeição é preparada.
·         Dentro do ônibus, a caminho ou voltando do trabalho ou da escola.
·         Durante nosso intervalo na empresa ou na escola.
·         Durante os intervalos para lanche, almoço ou jantar.
·         Enquanto esperamos para marcar uma consulta médica ou para sermos atendidos pelo médico.
·         Nas filas: do banco, do supermercado, para pagar contas, do cinema, etc.
·         Durante os comerciais dos nossos programas preferidos de TV.
·         Melhor ainda: desligando a TV para ler e estudar a Palavra de Deus.
·         Na igreja, antes de iniciar o culto.
·         Enquanto esperamos os irmãos para uma reunião ou ensaio.
·         Antes de deitar para dormir.
·         Acordando durante a madrugada para ler a Palavra, meditar e orar.
·         Enquanto tomamos sol na praia ou na piscina.
·         Durante o evangelismo ou aconselhando alguém.
·         Na pizzaria, enquanto o garçom não traz a pizza.


Descubra você, também, outros momentos do seu dia para se aplicar à leitura e ao estudo da Palavra de Deus.

Crente vazio não para em pé!

domingo, 7 de abril de 2013

lançamento do meu primeiro livro


http://www.youtube.com/watch?v=QaBQbrogF6M

A MALDIÇÃO DOS INOCENTES - conto juvenil


TRECHO DO LIVRO "A MALDIÇÃO DOS INOCENTES", DE MINHA AUTORIA, AINDA A PUBLICAR.


          Ao chegarem numa clareira no interior da floresta, retiraram Aline da carroça e amarraram-na a uma árvore. Pretendiam deixá-la ali. Mas poderiam esquecê-la? Como recostariam suas cabeças no travesseiro para dormir à noite sabendo que sua filhinha havia sido abandonada ali, sozinha? Estes pensamentos misturavam-se aos gritos das pessoas do povoado, que ecoavam em suas mentes exigindo que fossem embora. Eles não encontravam outra saída. Queriam resolver o problema, mas queriam, também, proteger sua filha da fúria daquelas pessoas que pretendiam fazer-lhe mal. Era melhor ela morrer ali do que nas mãos daquelas pessoas perversas de coração.
            Foi a decisão mais penosa que haviam tomado na vida. Suas muitas lágrimas misturavam-se ao sereno. Após beijarem várias vezes o rosto e a testa de Aline, seguiram seu caminho de volta, deixando-a ainda adormecida, entregue ao seu destino, um destino que deveria ser construído a partir dali, caso ela sobrevivesse. Os gritos, as maldades, os problemas e a revolta dos moradores seriam sanados, mas o preço tinha sido alto, muito alto.
            No meio da madrugada, Aline acordou. Totalmente desorientada, ela viu que estava amarrada a uma árvore. Olhou para os lados e apenas contemplou a mais profunda treva. Aos seus ouvidos chegavam pios de corujas, cricrilar de grilos e coaxar de sapos. Morcegos voavam incessantemente sobre sua cabeça. Então ela caiu em si e se deu conta do que havia acontecido, e talvez pela primeira vez na sua vida, seus olhos se encheram de lágrimas.
- Mamãe! Papai! Onde estão vocês? Por que me deixaram aqui? Venham me buscar!
            Aline chamava enquanto derramava lágrimas sobre seu frágil corpo preso a árvore, mas nenhuma resposta vinha da escuridão. Suas lágrimas de tristeza foram dando lugar a um ódio que foi tomando conta de seu coração e ela começou a esforçar-se para soltar as cordas que a prendiam. Pensava nos pais, sabia que estavam sendo pressionados pelos moradores do povoado, pois sempre presenciou as discussões entre eles e seus pais, onde era tratada como um monstro. Na sua tenra idade, ela já compreendia seu abandono a não parava de pensar em quem eram os culpados.
            Enquanto Aline lutava para se libertar ela ouviu algo que se mexeu na mata ao seu redor.
- Quem está aí? – perguntou ela amedrontada, mas ninguém respondeu; forçou mais uma vez as cordas com ainda mais força.
De repente, um vulto passou apressadamente bem atrás dela, fazendo os seus cabelos balançarem. O coração de Aline acelerou e o seu corpo todo gelou. Ela se esforçou ainda mais para se desprender das cordas, forçando a cabeça para o peito na tentativa de roe-las. Foi quando sentiu que algo ou alguém parara bem na sua frente. Quando conseguiu erguer a cabeça, se deparou com uma figura estranha e sinistra que surgira da escuridão. Era uma velha encurvada carregando um lampião. Durante toda a sua vida ouvira falar da terrível bruxa que habitava aquela floresta e das perversidades que estavam reservadas para aqueles que ousassem pisar ali. Assim que a velha se aproximou mais de Aline, segurou o lampião bem próximo ao seu rosto, iluminando seu olhar de espanto.
- Ora, ora, o que temos aqui no meio da noite? – disse a velha segurando com uma de suas mãos enrugadas o queixo de Aline – Uma menina! O que uma menina tão linda faz amarrada a uma árvore bem no meio da minha floresta?
- Quem é você? Por favor, não me faça mal – sussurrou Aline com as forças que ainda lhe restavam.
- Calma, minha criança. Como você se chama?
- Eu me chamo Aline. Agora me solte para eu voltar para casa!
- Aline? Já ouvi muito falar de você nas vezes em que fui disfarçada até o povoado. Desconfio porque te abandonaram aqui.
- Aqueles malditos moradores obrigaram meus pais a deixar o povoado. Eles não tinham para onde ir e por isso me deixaram aqui. Mas me solte e eu voltarei!
- Voltar? Se você voltar àquele lugar você verá que ficar amarrada a uma árvore não é nada comparado ao que farão com você, menina.
- Eles não podem fazer isso comigo!
- Podem sim, você é um monstro.
- Eu não sou um monstro, sua...
- Sua o que? Por acaso você faz ideia de quem sou?
- Não me interessa. Eu só quero sair daqui e voltar para casa.
- Meu nome é Andregiana, minha menina.
- Andregiana?!
            Ao ouvir esse nome, o coração de Aline disparou e sua pele gelou como a de um cadáver. Então era ela mesma, a terrível Andregiana e estava ali, bem na sua frente, conversando com ela! O que lhe aconteceria? Em que animal seria transformada? Ficaria viva? Toda a sua vida passou diante dos seus olhos. Lembrou-se imediatamente das histórias que ouvia sobre a terrível bruxa comedora de crianças.
- O que pretende fazer comigo? – murmurou Aline quase sem poder falar.
- Vou lhe dar três escolhas: ficar aqui amarrada e ser comida pelas raposas e pelas onças, voltar ao povoado e enfrentar a multidão enfurecida ou vir comigo para a minha caverna.

CARTA AOS CRISTÃOS DO MUNDO INTEIRO


            


DESEJO QUE ESTA CARTA SEJA LIDA PELOS CRISTÃOS DO MUNDO INTEIRO. AJUDE-ME NESTA EVANGELIZAÇÃO E REPASSE ESTA MENSAGEM A TODOS OS NOSSOS IRMÃOS EM CRISTO.


          Amados irmãos e irmãs do mundo inteiro que comungam da mesma fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que a graça de nosso Deus e Pai estejam com vocês, agora e para sempre.
            É com imenso prazer que lhes escrevo esta carta, na intenção de compartilhar com vocês algumas de minhas inquietações no que diz respeito aos rumos que a igreja evangélica vem tomando. Não é de hoje que o Espírito Santo tem me incomodado diante da necessidade cada vez mais crescente de um avivamento espiritual genuíno e bíblico na vida da cristandade espalhada pelo mundo. Tal incômodo não é algo que acomete apenas ao meu espírito, mas todo aquele que crê em Jesus e tem o mínimo de sensibilidade das coisas do Espírito há de concordar que nós, que professamos diante da sociedade crer em Deus e na Bíblia como sua Palavra inspirada, necessitamos com urgência de uma volta imediata às formas elementares da vida cristã, às doutrinas mais básicas da Bíblia acerca da nossa comum salvação.
            Quem somos nós? Igreja do Senhor Jesus? O que é ser Igreja? Somos seus discípulos? Que atitudes temos manifestado que atestem isso? Somos filhos de Deus? Qual o nosso nível de obediência ao Pai celestial? Somos templos do Espírito Santo? Que tipo de coisas, de pensamentos e sentimentos têm ocupado este templo? Somos nação santa? Quem é de fato o soberano desta nação? Qual tem sido o nosso conceito de santidade? Será que as pessoas têm visto santidade em nosso procedimento? Somos raça eleita? Por acaso sabemos para quê fomos eleitos, qual a finalidade do nosso chamamento? Somos novas criaturas? O que realmente de novo há em nós: nova mentalidade, nova prática de vida, vontade comandada pelo Pai? Somos sacerdócio real? Que sacrifícios espirituais temos oferecido diante do trono de Deus, no altar do nosso coração? Somos servos? A quem temos servido: ao nosso ventre, a Mamon? Quem somos nós irmãos? Ou mais além: o que estamos nos tornando?
            Caríssimos irmãos, convém lembrar que os servos de Jesus foram escolhidos e salvos com o propósito de ser sal e luz em um mundo afundado em trevas e imerso em uma vida sem sabor. O servo de Jesus deve iluminar o mundo com os padrões morais de Cristo, com a verdade libertadora do Evangelho. Isto é: somos do mundo, mas não para nos parecer com o mundo, para nos tornarmos trevas e amargor como ele, mas para que ele seja impactado pela nossa presença santa, como escolhidos do Senhor. O que fazer com o sal que se torna insípido? Como pode uma candeia que deveria brilhar e iluminar toda a casa ficar escondida onde ninguém possa vê-la? Irmãos, as pessoas perdidas do mundo precisam de uma luz que as guie e nós temos essa luz, nós podemos lhes mostrar o caminho da salvação, que é Jesus. É olhando para nós, para o nosso santo procedimento, nossas boas obras, que os perdidos glorificam ao nosso Pai que está nos céus (Mateus 5:16).
            Qual tem sido o procedimento da cristandade? Que padrões o mundo tem enxergado nos filhos de Deus dignos de serem imitados, dignos de glorificarem ao Pai celestial? O Senhor Jesus disse que o mundo nos conheceria como verdadeiramente seus discípulos se tivéssemos amor uns pelos outros, como lemos no Evangelho de João: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (13:34,35). Vê-se como o amor é uma forma segura de evangelização, de levar as pessoas a acreditarem no Deus de amor que tanto pregamos. Então, se queremos amar ao Senhor, devemos guardar os seus mandamentos (João 14:15), e o seu mandamento é o amor. Jesus estabelece um padrão, um parâmetro para que aquele que deseja ser o seu discípulo possa medir o seu nível de compromisso com Ele. Qual o nosso nível de compromisso com Deus? De que maneira temos demonstrado o amor que Ele nos deu, não somente pelos nossos irmãos, mas pelo próximo, pelos nossos inimigos? Infelizmente, meus irmãos, há muito decaímos do padrão de Deus para nós.
            Amados, o padrão de compromisso que os irmãos da Igreja primitiva tinham com Deus, padrão que os levava até o Coliseu, em Roma, para serem estraçalhados e devorados pelas feras, não é o mesmo que temos hoje. Como se reconhece um cristão ultimamente? O que o diferencia das pessoas sem Cristo que faz com que elas olhem para ele e vejam uma luz sendo emitida do seu caráter? Na teologia neoliberal hodierna, onde os servos de Deus acabam por mesclarem-se aos servos de Baal-Zebul, está cada vez mais difícil distinguir um padrão de mente e de comportamento. Nas igrejas neopentecostais, cuja doutrina liberal tem enterrado muitas das doutrinas santas do Evangelho, o que comprova a ação de Deus sobre a vida do crente não é mais uma mudança radical de vida, um padrão moral elevado, mas uma posição social prestigiada, com a ostentação de bênçãos de prosperidade e milagres de todos os tipos e a todos os preços e custos. O crente é reconhecido como abençoado por Deus e seu filho amado na medida em que prospera, em que ganha dinheiro, em que obtém sucesso empresarial. Estar rodeado de bênçãos materiais é sinal seguro, para tais igrejas, que o crente tem fé e é fiel, acima de tudo nos dízimos.
            Será que perdemos o nosso referencial? Será que a cruz de Cristo já não nos diz nada? Será que Deus se transformou em uma ideia cafona de um passado distante? Irmãos, muito pior que o ateu que brada pelos quatro ventos que não há Deus, é o crente que prega sobre Deus em todas as esquinas, mas vive como se Ele não existisse. O que estamos tristemente presenciando hoje na Igreja do Senhor, é o inverso do que o Senhor nos falou: é o mundo que tem influenciado na igreja. A penumbra do mundo tem invadido a Igreja de Jesus: trevas escurecendo a luz; o amargo tornando insosso o único tempero que poderia tirar as pessoas da sua vida vã. Que valores são esses que têm sido trazidos até nós? Os crentes têm absolvido a cultura mundana, seu jeito de pensar, sua forma de agir, sua filosofia, seu estilo de vida pecaminoso e afrontoso. Onde iremos parar?
            Os irmãos já devem ter percebido que os crentes estão na mídia. Eles são reverenciados em shows organizados por entidades governadas por pessoas que sequer acreditam na Bíblia, muito menos em Jesus Cristo. Eles se apresentam em programas de TV seculares e gravam CDs em gravadoras que produzem trabalhos satânicos como verdadeiras fábricas de ilusões do diabo. Quando fecham seus olhos para os abusos praticados pela Teologia da Prosperidade, muitas pessoas tornam-se “amigas do Evangelho”, escutando música gospel e até frequentando cultos. Onde muitas pessoas podem enxergar uma abertura do mundo para o Evangelho, eu enxergo a acomodação da Igreja em fazer amizade com o mundo e se esquecer da sua missão de sal e luz, de pregadora do Evangelho de Cristo, um Evangelho de arrependimento e conversão para a salvação.
Irmãos, eu vos conclamo a pensar sobre isto: se o mundo está em paz conosco, se ele parece nos amar, talvez seja porque deixamos de fazer diferença e passamos a ser iguais a ele. Nosso discurso não incomoda mais, nossa presença tornou-se indiferente. Benção? Não, maldição! Não existe comunhão entre trevas e luz. Se não incomodamos mais o mundo com a luz e o sal de Cristo, pode ser que nosso discurso tenha mudado e tenhamos passado a adequar a nossa mensagem aos padrões do mundo, fingindo que nada está acontecendo, que as pessoas não estão indo para o inferno, para que possamos viver tranquilamente no mundo, em paz, livre de conflitos, respeitando a religião dos outros e seu direito de não crer em Deus. Demos as mãos ao mundo. Não é o mundo que está ficando amigo dos crentes, mas sim os crentes que estão se tornando amigos do mundo, mas sem a intenção de ganhá-lo para Jesus. Luz que não ilumina, sal que não salga, porque não tem mais sabor em si mesmo.
Que boas obras temos mostrado? Que testemunho temos dado? Pastores compram redes de TV ou alugam programas nestas redes não para pregar o Evangelho de Cristo, mas para falar de fortunas em dinheiro e de curas milagrosas para todas as moléstias. A imagem da cruz perdeu o seu espaço para closes nos rostos emocionados e chorosos de bispos e apóstolos, movimentando-se em câmera lenta, enfatizando seu sofrimento pelos aflitos. No lugar de Cristo são apresentados carros importados, iates, apartamentos caríssimos, empresas milionárias, jatos particulares. Os crentes não são mais chamados para servir, mas para enriquecer. Irmãos, a Bíblia diz que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja do Senhor. Mas cuidado: isso não é igreja! E aqueles que se servem desses artifícios não são pastores, são mensageiros de Satanás e possuem muitos seguidores. Entretanto, muitas igrejas têm se deixado levar por esse modismo diabólico, têm se deixado moldar pela Teologia da Prosperidade a se aproveitado da situação para engordar seus dízimos e ofertas.
O juízo de Deus está sobre a sua Igreja. O nome de Deus tem sido blasfemado por nossa causa. Aos poucos os cristãos estão-se convencendo que o seu Deus é apenas mais um dentre tantos outros que dizem existir. A sua verdade não é mais absoluta, mas é apenas mais uma dentre tantas outras. Agora tudo parece relativo: o certo e o errado, o bem e o mal. O mundo tem reduzido a fé dos cristãos a apenas mais uma filosofia, a mais uma forma de explicar a existência de Deus. Os ateus fazem a festa. A grande maioria dos ateus, quando querem provar que Deus não existe ou que a simples ideia da sua existência é abominável, apelam para os atos escusos de muitos cristãos, atos de assassínios, hipocrisia, roubo, fraudes, inquisições, perseguições, intolerância, prepotência, ganância. O mais terrível não são as acusações, mas saber que elas são verdade.
Irmãos, não é somente na Igreja que a Palavra de Deus não tem sido pregada. O Evangelho também não está mais nas ruas, porque o crente de hoje não sai mais para evangelizar. Parece ser algo cansativo, enfadonho, inútil. Somente os incansáveis Testemunhas de Jeová, que rejeitam a soberania e a divindade de Cristo é que se dispõem a ir de casa em casa levando a sua crença. Os que se professam crentes, estão recolhidos no conforto de suas suntuosas catedrais, com poltronas estofadas, ar-condicionado, água fresca, festividades, gente cheirosa e bem vestida, e o principal: promessas de bênçãos sem medida que só encontra limites na sua fé. Em suas confortáveis igrejas, os crentes evangélicos ouvem aquilo que massageia o seu ego, que vai ao encontro das suas necessidades espirituais, físicas, emocionais e, acima de tudo, financeiras. Que pastor cometerá a loucura de falar de arrependimento de pecados, confissão, perdão, mudança de mentalidade, transformação do coração, busca por santidade, serviço a Deus e ao próximo? Como falar de recompensa após a morte para um público que anseia recebê-las agora, já, imediatamente? Tais pastores não confrontam seus fiéis em pecado, porque tem medo de perder sua contribuição financeira. Mas ele sabe de cor os versículos que falam de prosperidade, de vitória, de unção, de poder, de autoridade, de fé que faz brotar rios de dinheiro.
Amados irmãos, gostaria de estar exagerando, surtando, mas infelizmente a verdade é esta: muitas pessoas estão na Igreja sem estar em Cristo; ou estão em Cristo apenas por interesses próprios e não os do Reino de Deus. Muitos irão descobrir que estiveram cegos apenas quando o Senhor Jesus voltar e eles ficarem para trás, com seus iates, suas contas bancárias gordas, suas empresas multimilionárias. Tais pretensos crentes descobrirão tardiamente que seu deus era seu ventre, que seu senhor era sua própria consciência, que seu salvador era apenas um escravo de seus caprichos. Sem compromisso com Deus, com a sua Palavra, com o seu Reino, com as pessoas, tais falsos crentes perecerão eternamente e nada do que juntaram durante toda a sua vida poderá mudar isso. Não vai adiantar rosa ungida, vela acesa, copo de água, dízimo, sessão de descarrego, culto dos milagres, cruzadas... Tudo estará findado para eles. Você quer estar entre esses? Quer ficar para trás quando Jesus levar os seus?
A igreja de nossos tempos está desfigurada. É a igreja dos coitadinhos que estão sofrendo e precisam do colinho de Deus. Como se Deus fosse compactuar com seus pecados! Como se Ele não fosse justiça e juízo! Onde está a pregação do Evangelho? Onde está a justificação pela fé, o amor à Palavra de Deus, o evangelismo, a responsabilidade social, o discipulado? Gostaria que você se lembrasse do dia em que fez sua decisão para Jesus e respondesse algumas dessas perguntas: O que o motivou? Que mensagem foi pregada a você que o fez decidir-se por seguir a Jesus? O que o leva a continuar frequentando a Igreja? Vou lhe dizer algo que pode lhe chocar: pode ser que você jamais tenha aceitado a Jesus de fato. Se você foi à Igreja atraído por promessas de prosperidade, se você disse “sim” para as bênçãos que o pastor prometeu que Deus lhe daria se você se convertesse, pode ser que Jesus para você não seja nada além de um grande cofre cheio de dinheiro e esse tipo de crença não lhe garante lugar no céu.
Cristo não se sacrificou na cruz para que tenhamos uma vida de prosperidade financeira, mas para que nossa vida seja abundante da graça e da misericórdia de Deus, uma vida remida pelo seu sangue, selada com o Espírito Santo e santificada. O trono de Deus não é um caixa eletrônico e o nome de Jesus não é uma senha que lhe trará fortuna, fama e poder. Caríssimos irmãos, a Igreja do Senhor precisa se reencontrar com Cristo, precisa abrir a porta para deixá-lo entrar. Ela precisa de profundo arrependimento, de uma busca desesperada pela face de Deus, pelo seu perdão e misericórdia. Quantos crentes são capazes hoje de defender biblicamente a sua fé? Quantos são capazes de explicar a doutrina da salvação? Quantos entendem o que é justificação? Findamos como a igreja SSS: Sentados, Salvos e Satisfeitos. Sentados estamos e satisfeitos também, mas será que de fato somos salvos?
Qual é a missão as Igreja? Jesus disse: Ide por todo mundo e prosperai? As mensagens transmitidas pelos pastores já não transformam mais o caráter dos crentes, já não causa mais comoção em ninguém pelos seus pecados nem gera incômodo algum. São mensagens psicológicas e de autoajuda, que ensinam os crentes a enfrentarem as agruras do mundo, mas não os ensina a enfrentar o monstro chamado pecado que existe dentro de cada um deles. Os ministros, por sua vez, já não estudam mais a Bíblia, pregam em cima de mensagens que tiraram da Internet. Nossa visão está distorcida, nossos valores estão invertidos, nossa causa deixou de ser a causa do Reino de Deus. Não buscamos mais conhecimento de Deus, mas apenas experiências místicas, com ares de poder, como falar em línguas, curar, profetizar. Se no catolicismo romano as pessoas acabam idolatrando aquele que opera milagres, no protestantismo nós acabamos idolatrando os próprios milagres. Queremos ouvir vozes, ver vultos, flutuar como os anjos. Queremos ser aquilo que Deus não nos chamou para ser.
Termino esta carta, meus amados irmãos, com bastante temor, pois sei o quanto tenho errado. De fato eu poderia afirmar como o apóstolo Paulo: sou o maior dentre os pecadores. Mas eu creio num Deus de misericórdia, que nos libertou do império das trevas e nos deu vida eterna em Cristo, para que vivamos de maneira diferente, de maneira santa e irrepreensível. Creio num Deus de amor, que se sacrificou por nós, que nos comprou com seu precioso sangue e nos chama de filhos. É preciso voltar ao primeiro amor, ler a Bíblia e vivê-la real e verdadeiramente. É preciso deixar de olhar para nosso umbigo e enxergar o próximo que padece de fome e de pecado ao nosso lado. É preciso acabar com esse discurso cheio de ódio e de rancor pelos pecadores, para falar do amor de Deus com a mesma misericórdia com que Ele nos amou. Porque somos salvos nos achamos superiores aos que não são. É mentira! O que somos e o que temos, só são possíveis pela graça de Deus. Se fosse possível retirar a graça de Deus da nossa vida, estaríamos perdidos.
Portanto, irmãos, ajoelhemo-nos e nos prostremos diante da poderosa mão de Deus, humilhados e aflitos, esperando que Ele opere maravilhas em nós. Que o mundo possa olhar para nosso santo procedimento e glorificar a Deus, desejando ser como nós, estar na Igreja, não pelas bênçãos financeiras, mas pela transformação que o Senhor opera na vida daqueles que o amam. Que sejamos nós – os que lemos esta carta – a ser os primeiros a aceitar passar pelas mãos do Lapidador da nossa alma. Que Deus opere na nossa mente e no nosso coração a sua boa, agradável e perfeita vontade, para que o adoremos em espírito e em verdade, porque Ele é digno.
Que o amor de Deus e as consolações do Espírito Santo esteja sobre a sua vida, agora e para sempre, em nome de Jesus.

Mizael  Xavier.
Natal, RN, 07 de abril de 2013.

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