Somos peregrinos a caminho do céu
(Mizael Xavier)
Uma das grandes descobertas que fazemos quando entregamos nossa vida a Jesus, é que estamos neste mundo apenas de passagem, porque a nossa verdadeira morada não é aqui, mas no céu (cf. Filipenses 3:20). Para o crente verdadeiramente convertido, que tem a sua alegria no Senhor, saber disso é sinônimo de esperança, uma vez que seu coração anseia por estar com o Senhor na Israel celestial. Entretanto, para tantos outros, saber que a sua esperança e segurança não devem estar neste mundo e que nosso verdadeiro tesouro é o Reino de Deus e não as riquezas e bençãos desta vida, pode ser frustrante viver na perspectiva de um futuro de bençãos celestiais, não de bençãos aqui e agora. Mas meditemos um pouco sobre esta verdade tão maravilhosa e cheia de esperança e alegria: somos apenas peregrinos em um mundo que está prestes a acabar, enquanto aguardamos a vinda bendita do Salvador para nos levar de volta ao lar, de volta à presença gloriosa do Pai.
Em todo o décimo primeiro capítulo de sua carta, o autor de Hebreus, inspirado pelo Espírito Santo, revela-nos verdades maravilhosas sobre a nossa peregrinação. Ele inicia o capítulo com uma descrição do que é a fé: "Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (v. 1). Ao se aterem apenas a este versículo, sem uma correta exegese do texto, que leva em conta todo o contexto do livro e deste capítulo especificamente, muitos pregam erradamente sobre tomar posse antecipada de bençãos e vitórias que Deus tem para nós e que não vemos, mas enxergamos com os olhos da fé. Entretanto, não é sobre isso que o texto fala. Nos versículos posteriores, começando por Abel e Caim, o autor de Hebreus mostra o que quis dizer sobre a fé como a certeza de algo que não se vê, mas se espera. Todos os homens e mulheres que tiveram suas histórias de sofrimento e martírio relatadas por ele tinham um ponto em comum: eles não esperavam por riquezas e honrarias neste mundo, mas por uma pátria celestial, onde não haveria mais sofrimento e, acima de tudo, onde estariam com o Senhor para sempre. O v. 16 resume bem isso:
"Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade."
O galardão que eles esperavam (v. 26) era a salvação em Cristo Jesus, numa época em que ainda só existiam as promessas e as profecias, que agora são concretas para nós, que vivemos em um mundo para o qual o Messias já veio cumprir sua missão e nos deu completa redenção. O autor de Hebreus conclui (vs. 39,40):
"Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados."
Como aqueles que hoje chamamos de "heróis da fé", nós também somos peregrinos neste mundo de aflições. Todavia, mesmo diante das mais duras provas, mesmo em meio às mais intensas provações, na cova dos leões ou na fornalha a arder, temos suas promessas preciosas do Senhor. A primeira é que Ele sempre estará conosco como aquele que venceu o mundo e nos garante a nossa vitória, que é a sua vitória. Ele nos diz, em João 16:33:
"Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo."
A Bíblia está repleta de promessas que nos garantem que Deus não nos desampara, mas nos abençoa, socorre, fortalece e orienta. Ele está ativo na história do mundo e na nossa própria história. Nossas orações e nossas lágrimas são conhecidas antes mesmo de existirem. Antes possamos elevar a Ele nosso clamor, Deus já tem a resposta para nos dar. O seu poder não falha e a sua boa, agradável e perfeita vontade jamais deixa de se cumprir. O Senhor está conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mateus 28:20). O nosso Deus é aquele do Salmo 46, onde lemos (vs. 1-3):
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem-presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem e na sua fúria os montes se estremeçam."
Mas se esperamos em Deus apenas em relação às coisas desta vida, somos tão miseráveis quanto aqueles quem nem acreditam em Deus. Então, falemos da segunda promessa do Senhor, a mais preciosa e aguardada por todos aqueles que entenderam a mensagem do Evangelho, sabem que são peregrinos e possuem a mesma fé e a mesma esperança que os heróis de Hebreus 11: a promessa da vinda do Senhor e a nossa estadia eterna no seu Paraíso, onde todas as dores, crises e dilemas não mais existirão. Leiamos Apocalipse 21:1-7:
"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho."
Que grandiosas promessas fez o Senhor para aqueles que o amam! Nada mais de lágrimas nem morte. O luto desaprenderá, as doenças, a desigualdade social, nossos pecados e todas as artimanhas do inimigo da nossa alma: tudo terá fim. No paraíso celestial, somente a gloriosa presença do Senhor para todo o sempre. Mas precisamos atentar para uma verdade: essas promessas não irão alcançar aqueles cujo interesse está nelas, mas aqueles cujo interesse está em Deus. Quem busca a Deus por causa das suas bençãos, não terá a verdadeira benção: que é o próprio Deus. Enquanto muitos cantam que "o melhor de Deus ainda está por vir", como referência às bençãos de Deus a serem desfrutadas ainda nesta vida, o melhor de Deus (o Senhor Jesus) já veio e já nos preparou bençãos verdadeiras no porvir: a salvação eterna.
Irmãos, enquanto peregrinamos neste mundo mal, jamais esqueçamos que a nossa pátria não é aqui e que este deserto é apenas uma passagem. Diante das provas, mantenhamos firme a nossa fé e a nossa esperança, clamando pelo cuidado gracioso e pelas bençãos de Deus, mas sem negligenciar o Reino dos céus. Paulo escreveu aos coríntios, em 2 Coríntios 4:16-18:
"Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas."
Ele também escreveu aos romanos (8:18):
"Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós."
Por fim, atentemos às palavras do apóstolo Pedro, que teve seu lugar na lista dos mártires, sendo crucificado de cabeça para baixo para a glória do Senhor. Leiamos 1 Pedro 1:3-9:
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo; a quem, não havendo visto, amais; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultais com alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma.
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