quarta-feira, 21 de agosto de 2019

COMO SABER QUEM É A PESSOA DE DEUS PARA MIM?




CONHECENDO A VONTADE DE DEUS

            Este último capítulo, além de corroborar com todas as qualidades já citadas para compor o perfil da pessoa ideal (adequada), pretende fornecer uma resposta definitiva a duas questões importantes: (1) Se não existem almas gêmeas, como saber quem é a pessoa certa? Como saber se esta ou aquela pessoa é adequada para um relacionamento amoroso duradouro? (2) Deus tem uma pessoa especial para cada um de nós, alguém que ele já determinou e que só precisamos encontrar um ao outro? Se sim, como saber ao certo quem ela é? Se Ele não nos reservou ninguém especial, como fazemos para encontrar o amor verdadeiro? Estas questões envolvem aqueles que não possuem fé em Cristo, mas acima de tudo aqueles que creem nele e desejam estar no centro da vontade de Deus em todas as áreas da sua vida, incluindo a amorosa. Além disso, é confortável saber que tal pessoa foi enviada por Deus pra nós, pois isso traz segurança à relação e a certeza de que Deus está aprovando e ao mesmo tempo no controle de todas as coisas, mesmo quando tudo parece um caos na relação.

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A pergunta que não quer calar

            Eis a pergunta que não quer calar. Como eu disse, não existe nada melhor que saber que aquela pessoa por quem nos interessamos é a escolhida de Deus para fazer parte da nossa vida. No catolicismo romano, existe a crença em “Santo Antônio casamenteiro”. Os fiéis católicos fazem rezas, novenas, promessas e simpatias em nome de Santo Antônio para conquistar um bom matrimônio. Mas se você é evangélico, provavelmente foi ensinado que é necessário orar para que Deus lhe envie um marido ou esposa, confirmando essa pessoa através de sinais interiores (o sentir do coração) ou exteriores. Existem diversas situações em que essa metodologia é empregada. Por exemplo: um rapaz e uma moça se conhecem e se aproximam. Então eles, se forem crentes fervorosos, começam a orar um pelo outro, pedindo que Deus confirme (ou não) o seu namoro e seu possível casamento. Já conheci casais que se uniram somente após essa confirmação. Em um dos casos, a irmã não estava interessada no irmão que a cortejava. Então ela orou para que Deus mudasse o seu coração e fizesse com que ela se apaixonasse por ele. Um casamento de poucos anos parecia confirmar a direção divina, acima de tudo com o nascimento de um filho. Mas não tardou para que ela abandonasse o irmão e se casasse com outro.
            Aquela irmã rebelou-se contra Deus ao abandonar o seu casamento e trocar o seu “escolhido” por outro? A grande questão permanece: Como saber se tal pessoa é da vontade de Deus para mim? Como Maria saberá que João é o escolhido de Deus para ser o seu amado esposo? Como João saberá que Maria é a esposa certa para não cometer o erro de se casar com a mulher errada e vir a se arrepender mais tarde? A saída apresentada desde sempre, como já afirmei, é a oração e a confirmação. No tempo certo, a pessoa certa de Deus virá. A nós cabe apenas orar e esperar. Ouvi um relato sobre uma irmã que recebera uma “profecia” em que o suposto profeta lhe dissera que Deus havia preparado um homem para ela, que ele viria de longe e que ela deveria esperá-lo chegar. Os anos se passaram, e a irmã, sozinha e frustrada, continua a esperar o prometido de Deus. Assim como ela existem muitas outras pessoas, que além da frustração, revoltam-se contra Deus, abandonam a fé e acabam se entregando a qualquer um, porque cansaram de esperar. Outras simplesmente morrem solteiras e esperando.

            A problemática-chave nesta questão é uma só: não existe em lugar algum da Bíblia qualquer direcionamento – direto ou indireto – nem qualquer tipo de ensino – objetivo ou subjetivo – que sustentem a crença de que devemos orar para que Deus indique, revele e confirme a pessoa com quem iremos nos casar. A única mulher criada especialmente para um homem e um homem dado especialmente a uma mulher foram Eva e seu marido, Adão. A partir daí, homens e mulheres se casavam e se davam em casamento (isto está sugerido em Mateus 22:30). A Bíblia nos traz diversas orientações sobre o que é o casamento (Gn 1:26-28; 2:24,25; Mt 19:6; 2 Co 6:14) e como marido e esposa devem se comportar nele (Hb 13:4; Ml 2:15,16; Ef 5:22-33), mas não informa que Deus unirá duas pessoas específicas. Embora saibamos que a vontade soberana de Deus e sua presciência possam unir um casal, não somos orientados de forma alguma a empreender essa busca. Existem sete bilhões de pessoas no planeta Terra. Deus nos dá liberdade para escolher, entre uma delas, aquela que iremos amar.
Salomão nos ensina: “O que acha uma esposa acha o bem, e alcançou a benevolência do Senhor” (Pv 18:22). Só acha quem está procurando. E não é “a esposa”, mas “uma esposa”, alguém especial dentre todas as mulheres, para quem o nosso coração devotará uma atenção especial. Ter uma esposa – ou um marido – é uma bênção de Deus! O que podemos aprender através da Palavra de Deus sobre como escolher alguém que seja da sua vontade, são os princípios bíblicos que devem nortear as nossas escolhas em qualquer situação. Se desejo empreender uma viagem, fazer tal curso universitário, escolher uma profissão ou aceitar uma promoção na empresa, orar colocando cada situação dessas sob o cuidado e o controle de Deus é a primeira coisa a ser feita.
Mas como posso saber o que Deus pensa a respeito da minha viagem? Como ter certeza de que Ele está apoiando a profissão que escolhi? Como saber ao certo se aceitar a promoção é a sua vontade para a minha vida? Essas são questões muito parecidas com: “Como saberei se João é o homem da minha vida?”; ou: “Será que devo mesmo namorar Maria?”. O que fazer? Orar e esperar por tempo indeterminado a resposta divina? Esperar que algum “profeta” sinalize positivamente para nós? De repente, visões, revelações e sinais vindos de terceiros apontam na direção errada e podem nos colocar numa fria conjugal. Eis o grande problema: Deus não nos ensina isso! Sobre fazer uma viagem, por exemplo, a Bíblia não nos orienta a perguntar a Deus se devemos ir ou não, partindo somente após receber algum tipo de confirmação. O que Tiago nos orienta, inspirado pelo Espírito Santo, é que não devemos ter qualquer certeza que exclua a pessoa de Deus, como se fôssemos capazes de controlar o nosso hoje e o nosso amanhã (Tg 4:13-17). Em todos os nossos projetos de vida, devemos dizer: “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo” (v. 15). Assim: “Se Deus quiser eu me casarei com Aline e seremos muito felizes”. E então: namorar, noivar e casar, com a graça de Deus!


As três formas erradas de confirmação

            Antes de partirmos para os princípios bíblicos que devem nortear todas as nossas escolhas e decisões, incluindo um marido ou esposa, desejo fazer três observações. Em primeiro lugar, podemos estar certos de que aquilo que não for da vontade de Deus para nós, de uma forma ou de outra Ele afastará da nossa vida ou não permitirá que cheguemos a possuir. Deus cuida de nós. O problema está na nossa rebeldia, quanto insistimos em viver no erro, em fazer aquilo que já está bastante claro que não é da vontade de Deus. Neste caso, haverá um preço a ser pago, que nada mais é que uma consequência por permanecermos deliberadamente no erro. Com relação a um relacionamento amoroso, embora não tenhamos uma certeza bíblica que tal pessoa é para nós, temos os princípios que iremos estudar. Se, apesar de todos eles, insistirmos em buscar o oposto, também teremos que conviver com as consequências da nossa escolha. O sofrimento, neste caso, será pedagógico, virá para nos corrigir e nos levar a acertar na próxima oportunidade.
            Em segundo lugar está o nosso coração. Alguns cristãos insistem que a confirmação de Deus vem de dentro do nosso coração, quando sentimos paz com relação a algo ou sentimos lá no fundo que há uma direção de Deus. Todavia, não existe apoio bíblico para esse tipo de coisa. Deus não nos manda usar o coração como uma bússola pra decidirmos o que fazer e para onde ir. Muito pelo contrário: a Bíblia nos ensina que o nosso coração é mais enganoso do que todas as coisas (Jr 17:9; Ec 9:3). Todos os nossos pensamentos maus e os piores desígnios procedem dele (Mt 7:21,22). Mesmo um coração regenerado por Deus ainda guarda a semente do pecado e pode nos tentar a fazer o que Deus desaprova (Tg 1:14,15). Desse modo, o coração humano não pode servir de árbitro da vontade de Deus. Se desejamos muito algo – ou alguém –, é claro que sentiremos paz se tudo estiver de acordo com o que esperamos, se saírem conforme planejamos. Quando estou apaixonado por alguém, claro que sentirei paz dentro de mim, claro que encontrarei motivos para dizer que é da vontade de Deus. Caso algo não esteja indo bem, a maior desculpa é que são barreiras levantadas pelo inimigo para me fazer desistir.
            Em terceiro lugar, alguns chegam a afirmar que “as bênçãos do Senhor não acrescentam dores”, uma citação de Provérbios 10:22. O objetivo é o contrário do primeiro: se existem barreiras, se os pretendentes a casais estão enfrentando lutas para ficarem juntos, se não sentem paz, significa que Deus não está abençoando. Ou seja: é um claro sinal de que devem desistir, de que sofrerão se continuarem a investir na relação. Mais uma vez colocamos em nossas próprias mãos o poder de decidir o que é de Deus ou não, quais situações estão sob o seu direcionamento e quais não estão. Esse também é um modo totalmente incorreto de interpretar a vontade de Deus e de aplicação do texto bíblico. Em que momento o Senhor nos prometeu que neste mundo não passaríamos aflições, que existiriam situações em que não haveria dor e sofrimento? Qual apóstolo abençoado por Deus não sofreu dores? Tal pensamento está mais ligado ao movimento de batalha espiritual e à Teologia da Prosperidade, que negam o sofrimento ou ensinam que ele não parte de Deus, mas do diabo. Que relacionamento jamais teve dores? Logo, sentir paz ou a ausência dela não é uma bússola segura para decidirmos se isto ou aquilo é ou não da vontade de Deus para a nossa vida.


Princípios bíblicos para saber a vontade de Deus

            Os catorze princípios que apresento a seguir irão lhe ajudar a sair do terreno pantanoso do seu coração e do seu achismo para buscar respostas concretas no terreno sólido da Palavra de Deus – a Bíblia. Se você pretende encontrar alguém para amar ou se já tem alguém em vista e está sinceramente preocupado com a vontade de Deus para a sua vida e o seu possível relacionamento, esses princípios servirão como um mapa seguro ou um pequeno manual de instruções. Mesmo que você não comungue da fé cristã nem aceite a Bíblia como revelação da vontade de Deus para todos nós, esses princípios o ajudarão a escolher alguém que possua no mínimo um caráter valoroso e temente a Deus, alguém que trará para o relacionamento os princípios e valores eternos de Cristo. O que você irá avaliar através destes princípios?

1.    As suas motivações e intenções com relação à pessoa com quem pretende se relacionar ou com quem já estiver se relacionando. Essas podem ser presentes ou futuras.
2.    As motivações e intenções da pessoa que está querendo se relacionar com você ou já esteja se relacionando. Estas também podem ser presentes ou futuras.
3.    A qualidade do seu relacionamento: o que fazem, o que falam, seus sonhos e planos, a sua intimidade. Se ainda não se casaram e já existe uma intimidade sexual, por exemplo, já é um indício de afastamento do ideal de Deus.
4.    O caráter da pessoa alvo do seu amor, demonstrado através do seu comportamento, acima de tudo com relação a Deus.
5.    A maneira como você é tratado.
6.    Os objetivos em comum.


O princípio da glória de Deus

Tudo o que pensarmos, planejarmos e executarmos precisa ter em vista a glorificação do Nome de Deus. A nossa própria salvação não é para o nosso deleite, mas para o louvor da glória do Senhor (Ef 1:4-6). Então devemos nos perguntar: Deus será glorificado através deste relacionamento? (1 Co 10:31-33). Precisamos admitir que a maioria das nossas ações diárias visam tão somente os nossos interesses e a nossa felicidade. Queremos nos casar para sermos felizes, para constituir uma família, para nos dedicarmos a alguém e para alcançar outros motivos não tão corretos. Então não nos importamos tanto com o que Deus pensa ou se a pessoa que escolhemos para nos relacionar é do seu agrado. Também não nos importamos como deveríamos se o tipo de relacionamento que mantemos hoje e os nossos planos para o futuro irão de algum modo ofender a Deus. Se o nosso sincero objetivo numa relação é satisfazer o nosso ego, se ela de alguma forma ofende a santidade de Deus, já não precisamos mais orar nem buscar por sinais, pois está bastante claro que não é o tipo de relação que Ele aprova. Um relacionamento que glorifica a Deus observa os pontos que veremos a seguir.


O princípio do cristocentrismo

A nossa vontade não deve ser aquilo que satisfará ao nosso ego. Não podemos exigir de Deus algo ou impor a nossa vontade. Em tudo o que fazemos o centro deve ser o Senhor Jesus. Se não levarmos em conta o seu senhorio e os seus mandamentos para nós, jamais estaremos no centro da vontade de Deus (Ef 1:9-10). Logo, qualquer pessoa ou relação que nos tire dessa direção, não vem de Deus. Eu acredito firmemente que o crente em Cristo Jesus deve encontrar para namorar e casar alguém que comungue da sua fé, que possua o Espírito Santo e sirva a Deus. Portanto, orar a Deus perguntando se aquela pessoa sem compromisso algum com o Evangelho é da vontade de Deus para o crente, é desnecessário, pois a resposta já está clara. São visões diferente de mundo que não podem se adequar uma a outra. Quando tentamos fazer essa adequação, acabamos nos distanciando do caráter de Cristo. Em um relacionamento cristocêntrico existe o amor a Deus acima de todas as coisas e a prática deste amor, o que envolve obediência aos seus mandamentos (Jo 14:15,21; 1 Jo 2:3; 5:3; 2 Jo 1:6). Se o relacionamento levará ao risco de ferir esses mandamentos, não é cristocêntrico e não procede de Deus.


O princípio da santidade

Nossas escolhas e decisões devem levar em conta a santidade de Deus e da sua Palavra. A nossa mente e o nosso coração precisam estar impregnados dos seus valores éticos e morais eternos e imutáveis (Fp 4:8). A vontade de Deus está explicitamente revelada em 1 Tessalonicenses 4:3: a nossa santificação. Assim, todas as nossas escolhas devem preservar a santidade que o Senhor nos deu. Muitas relações são ilícitas e levam à prática da imoralidade, desvendando, assim, se são da vontade de Deus ou não. Podemos avaliar se um relacionamento amoroso é da vontade de Deus observando se ele exala santidade e conduz a ela. Atualmente, mesmo os crentes mais sinceros tem aberto mão de certas prerrogativas morais da Palavra de Deus. Isso tem levado, por exemplo, à fornicação, ao sexo antes do casamento, talvez para se adequarem às regras do mundo. Se existe esse tipo de relação antes do casamento, ele não é santo como Deus espera que seja. Caso uma mulher comece a namorar um irmão em Cristo que insinua práticas libidinosas, é um importante indício que esse irmão não preza pela santidade. Se não houver arrependimento, mas reiteradas insistências, é um sinal de que essa relação não está nos padrões da vontade de Deus. Portanto, alguém de Deus para a nossa vida é alguém que deseja andar como Cristo andou.


O princípio da edificação

É preciso conhecimento bíblico e discernimento para compreender que nem tudo que parece bom vai nos edificar. Nem tudo o que reluz é ouro. Devemos priorizar aquilo que servirá para o nosso crescimento espiritual e para nos manter no centro da vontade de Deus, não nos afastar dela (1 Co 6:12-19). O que buscamos quando buscamos alguém para fazer parte da nossa vida, acima de tudo de uma forma tão profunda como uma relação amorosa, é alguém que venha somar, que acrescente algo de bom à nossa vida. Ninguém em sua sã consciência procura alguém que lhe faça perder algo, desaprender, sofrer, passar privações ou ser conduzido a uma vida de pecados. O amor deve nos edificar. O amor edifica (1 Co 8:1). Se não edifica, antes, pelo contrário, destrói a nossa vida, não vem de Deus, não é da sua vontade para nós. Salmo primeiro fala de alguém que se senta na roda dos escarnecedores e se detém no caminho dos pecadores (v. 1). Esta pessoa jamais será feliz e em breve perecerá (vs. 4-6). Mas aquela que tem o seu prazer na lei do Senhor, será alimentada por ela e dará frutos (vs. 2,3). Que tipo de pessoa Deus aprovará para ser marido ou esposa de alguém que é temente a ele: aquela que não possui compromisso algum com a sua Palavra, mas que escarnece da sua Lei ou aquela que ama os seus mandamentos e edificará a nossa vida como um todo?


O princípio da soberania

As nossas escolhas devem levar em conta a soberania de Deus e o fato de que é Ele quem comanda a nossa vida, não nós (Fp 2:13). A Bíblia nos ensina que não podemos saber nada sobre o amanhã e que todas as coisas estão sujeitas ao mover de Deus. Logo, estamos livres para fazer escolhas e tomar decisões baseados em tudo o que temos visto aqui. Todavia, não podemos jamais expressar uma certeza quanto a tudo que pretendemos fazer, mas dizer que “se Deus quiser” faremos isso ou aquilo (Tg 4:14-16). Podemos estar certos de que Deus não permitirá que levemos adiante uma relação que não é da sua vontade, como também podemos estar certos de que sofreremos se insistirmos em permanecer nela, mesmo já estando claro que não é da vontade de Deus. Como entender essa vontade é o que estamos estudando aqui. Por mais que estejamos apaixonados, por mais que, de um ponto de vista meramente humano, alguém pareça o parceiro ideal, não adiante impor coisa alguma a Deus nas nossas orações, determinar que tal pessoa será nossa, exigir que Deus aprove a nossa escolhe e nos dê a sua bênção. A vontade soberana do Senhor sempre será a melhor e a única correta. Esta vontade envolve princípios e valores eternos, santos e justos que a sua Palavra nos ensina. Ir contra isso é plantar vento para colher tempestades mais adiante. E é isso que muitos fazem: não se importam com a natureza e a qualidade da pessoa com quem estão-se relacionando. Topam qualquer coisa. Com o tempo essa coisa se transforma em um grande problema. Aí pode ser tarde demais.


O princípio da submissão

Tomando por base a soberania de Deus, o fato de não sabermos o que é melhor para nós, além de buscarmos aquilo que glorifique o seu Santo Nome, devemos submeter todas as nossas escolhas, plenos e sonhos à sua soberana vontade. A começar pela nossa própria vida que precisa estar sempre submissa a Deus, as nossas orações e as nossas decisões não podem excluir a declaração “seja feita a tua vontade”, como o Senhor nos ensinou, em Mateus 6:10 e como Ele mesmo orou ao Pai em Lucas 22:42. Deus nos ouve quando pedimos algo conforme a sua vontade (1 Jo 5:14,15). Esta submissão envolve, acima de tudo, conformidade com a sua Palavra, ou seja: obediência aos seus mandamentos. Querer encontrar um grande amor sem se submeter ao que a Bíblia entende como pessoa ideal de Deus para nós, significa impor a nossa vontade sobre a vontade de Deus. Quando nos submetermos àquilo que Deus pensa e quer, podemos estar certos de que fazemos o que é certo. Isso também envolve a nossa atitude durante a relação. Dependendo do nosso comportamento, podemos nos revelar a pessoa errada para a pessoa certa. Lembremos: não somos apenas nós que buscamos a pessoa ideal no outro, mas o outro também busca a pessoa ideal em nós. Se queremos alguém para nos relacionar que seja da vontade de Deus, precisamos, também, agir como alguém de é da vontade de Deus par a outra pessoa. E isso se consegue por meio da fé em Cristo e da total submissão a Deus e à sua Palavra.


O princípio do bem

As nossas escolhas e decisões devem produzir o bem, jamais o mal. Nada do que pretendemos fazer pode prejudicar alguém de alguma forma (1 Pe 2:15; Tg 4:17). Precisamos avaliar as nossas motivações naquilo que colocamos diante de Deus, perceber se existe algum sentimento egoísta, mesquinho, ganancioso ou vingativo que possa prejudicar alguém. Nem sempre aquilo que é bom para nós será também para os outros. Pode ser que aquilo que tanto imploramos a Deus não trará benefício algum ao nosso casamento, muito pelo contrário. Esta é, então, uma indicação de que não é da vontade de Deus. Não podemos buscar para nós aquilo que representa maldição para outros (Hc 2:9,10). E é justamente o contrário que acontece na vida de muitas pessoas, inclusive crentes: procuram para se relacionar pessoas que fogem totalmente ao padrão de Deus, pessoas envolvidas com alcoolismo, drogas ou atividades ilícitas. Assim, além de buscarem o que não é o bem, mas o que é mal, transformam o seu relacionamento num mal para si próprias e para a sua família. Este é o momento de ouvir a voz dos pais e da razão, de se distanciar daquele indivíduo problemático, que só atrai o perigo e situações destrutivas. Mais uma vez repito: não se trata de desprezar alguém porque possui defeitos, mas de evitar situações que vão muito além dos defeitos. Um homem que começa sua relação com uma mulher agredindo-a com palavras, em breve a agredirá com socos e pontapés. Uma mulher que começa um relacionamento com um homem deixando claro que não abandonará a vida noturna por causa do casamento, certamente continuará assim, produzindo grande mal à relação. Não podemos buscar o que é mal nem podemos ser o que é mal.


O princípio da solidariedade

Os pedidos que fazemos geralmente são voltados apenas para aquilo que nos trará benefício. Mesmo quando incluímos algumas pessoas – a família, por exemplo – o nosso objetivo sempre se demonstra egoísta. Se pensarmos em termos das pregações e orações triunfalista de profetizar bênçãos e exigi-las de Deus, essa verdade tende a piorar. Se queremos saber se as nossas orações e os nossos projetos estão de acordo com a vontade de Deus, precisamos submetê-los ao escrutínio da solidariedade. Nada deve beneficiar somente a nós, mas o maior número de pessoas possível (Tg 4:2-4; 1 Co 10:24,33; Rm 15:2; Fp 2:21). Pedir mal, com interesses mesquinhos, é um indicativo de estarmos agindo contra a vontade de Deus e, por isso, não sermos atendidos. Da mesma forma, relacionar-se com alguém por quem estamos apaixonados e desejamos casar, pode não dar certo se não pensamos neste princípio. Por exemplo: a menina começa a namorar um rapaz que a família – por motivos diversos e muitas vezes óbvios – não aprova. Ela, porém, insiste na relação, mesmo percebendo o mal que causará a toda a sua família, acima de tudo os seus pais. Ela não está preocupada com o bem-estar de quem está à sua volta, mas apenas com o seu. O resultado pode ser visto nas crônicas policiais, quando o namorado ou marido agride os familiares da companheira, chegando mesmo a assassiná-los. Embora sejamos nós que iremos nos casar com alguém, em algumas situações devemos ouvir a voz da razão, dos nossos pais e amigos; parar para pensar se a nossa relação representará algo bom para quem nos ama ou se atrapalhará a nossa relação com as outras pessoas. Por isso é importante que cada um desses princípios seja levado em conta no momento de escolher alguém para amar.


O princípio do aprendizado

A vontade de Deus não é algo apenas que se procura saber, mas, acima de tudo, que devemos viver. A vontade de Deus já está revelada na sua Palavra, bastando apenas que tenhamos o trabalho de, iluminados pelo Espírito Santo, descobri-la. Essa vontade pode e deve ser aprendida. O rei Davi orava a Deus; “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guia-me o teu bom Espírito por terreno plano” (Sl 143:10). Lendo e estudando a Bíblia, aprenderemos o que Deus espera que sejamos e façamos em todas as áreas e situações da nossa vida. E é isso que estou lhe oferecendo aqui! Além de aprender para fazer, devemos aprender fazendo. Se uma relação não produz qualquer tipo de aprendizado positivo, não nos serve. Em alguns casos, parece que a pessoa desaprende tudo de bom que aprendeu dos seus pais e da Palavra de Deus, tornando-se alguém diferente quando entra numa relação. O princípio do aprendizado também está ligado ao aprendizado do outro e à liberdade para adquirir conhecimento. Se numa relação nos somos conduzidos ao mundo do outro para entendê-lo, se existe um fechamento proposital, com certeza algo não está correto. E se essa relação nos impede de continuar aprendendo, seja da Palavra de Deus ou o conhecimento acadêmico, não existe para nos edificar, mas para nos destruir, para arrancar algo de nós. Não é essa a vontade de Deus, que deseja que o conheçamos e prossigamos em conhecê-lo (Os 6:3-11). Relação saudável sempre será aquela que acrescenta algo positivo, não o contrário.


O princípio da ação de graças

Independente do que temos planejado e da resposta que de Deus recebemos, conhecer e fazer a vontade de Deus envolve uma vida de constante agradecimento. Nem sempre Ele nos atenderá conforme esperamos, nem sempre a sua Palavra dará as respostas com o conteúdo que desejamos. O que está em vista não é o que queremos e que nos agrada, mas aquilo que Ele quer e que lhe rende glória. Independente das circunstâncias, do que obteremos ou não daquilo que ansiamos, em tudo devemos dar graças (1 Ts 5:18; Ef 5:20), entendo que, em Cristo, já temos a maior direção e a mais importante bênção de todas: a nossa salvação. Na nossa busca por um relacionamento amoroso, precisamos ser agradecidos, mesmo quando o tão sonhado amor demora a chegar. Isto não significa que não devemos orar e buscar a todo tempo, mas fazer isso em paz, esperando com paciência no Senhor, sendo agradecidos por tudo o que Ele nos dá. Quando não temos um coração agradecido, a tendência é criarmos uma insatisfação que possa se transformar em rebeldia. E essa rebeldia nos levará a buscar qualquer pessoa, a qualquer custo, porque não suportamos esperar. E então começaremos com os nossos esquemas para nos convencer que aquela pessoa é da vontade de Deus, mesmo contra todas as evidências contrárias. Digo esperar não no sentido de receber um sinal, mas de avaliar, segundo estes princípios, se a pessoa que nos corteja ou que estamos paquerando é alguém em quem valha à pena investir.


O princípio da prudência

Conhecer a vontade de Deus está muito além da necessidade de sabermos o que Ele deseja para as nossas preocupações cotidianas, mas envolve conhecê-la para nos submetermos a ela e praticá-la. O mundo jaz no maligno e as obras das trevas estão ao nosso redor, aliciando-nos. Aquele que desconhece a vontade de Deus para a sua vida está fadado a deixar-se levar pelas trevas e afastar-se da luz. E ética do mundo é baseada no princípio da escuridão: uma moral que não suporta a luz da verdade. O cristão é chamado a ser prudente, a não ser cúmplice nas obras das trevas, aproveitando cada oportunidade nesses dias maus (Ef 5:3-17). Por esta razão, o apóstolo Paulo nos convoca a não nos tornarmos insensatos, mas buscarmos compreender qual a vontade do Senhor (v. 17). Em todas as nossas decisões e projetos, a ética da Palavra de Deus deve estar presente, levando-nos a agir de maneira contrária a do mundo. Isso se chama prudência. Por que precisamos ser prudentes no trânsito? Para evitar acidentes. Por que não seríamos prudentes na vida? Essa prudência envolve conhecer as leis de Deus e praticá-las. Ao entrar numa relação com alguém que destoa totalmente do padrão divino, não estamos sendo prudentes, e não demorarão a acontecerem os acidentes. Pensando em entrar numa relação ou já vivendo nela, a prudência nos leva a praticar aquilo que é certo para que as coisas deem certo. O nosso problema está em fazer o que é errado e esperar que tudo saia da melhor maneira possível. Não vai sair.


O princípio da paz

Fazer a vontade de Deus traz paz ao nosso coração. Ainda assim, precisamos avaliar se a paz que sentimos é porque estamos verdadeiramente em conformidade com a vontade de Deus expressa na sua Palavra ou se é fruto do nosso autoconvencimento de que estamos fazendo a coisa certa, porque é o que queremos e criamos a ilusão de que é o que Deus também quer. Nem tudo que parece perfeito é perfeito de verdade. É preciso avaliar todos os aspectos possíveis com base nas Escrituras. Se estamos de acordo com o que elas revelam, estamos no caminho certo. A nossa paz precisa vir da certeza de estarmos agindo de acordo com a Palavra de Deus. Outra forma de avaliar essa paz é através do princípio da solidariedade, que já estudamos. Os nossos pais, irmãos e filhos sentem paz na nossa relação? Ela tem servido para unir ainda mais a nossa família ou desestabilizá-la? Quando nós e nossa família pensamos no futuro ao lado da pessoa que escolhemos, isso nos traz paz ou apreensão e preocupação? Se estamos em paz com os demais princípios aqui expostos, estaremos em paz com Deus. Estando em paz com Deus, teremos certeza de estar agindo de conformidade com a sua vontade e as pessoas se alegrarão com a nossa relação e a nossa felicidade.


O princípio da alegria

Uma relação segundo a vontade de Deus traz alegria ao nosso coração e às pessoas que nos amam e desejam o nosso bem. Todavia, essa alegria não deve se limitar a termos as nossas necessidades supridas ou os nossos sonhos realizados, mas, acima de tudo, deve advir da satisfação de estar obedecendo a Deus e cumprindo a sua Palavra (Sl 40:8; 119:11; Fp 4:4). Não deve ser uma alegria egoísta, não pode causar tristeza para outros, mas deve ser uma alegria plena, que não prejudique ninguém. Isso não quer dizer que só devemos nos sentir alegres se todos ao nosso redor também o estiverem. Muitas pessoas não querem ver a nossa alegria, não estão preocupadas com a nossa felicidade e bem-estar, muito pelo contrário. Nossos inimigos, em especial o diabo, não se alegram com as nossas vitórias, muito menos em nos ver fazendo a vontade de Deus. Esse já pode ser um bom indicativo de que estamos fazendo a coisa certa. Quando erramos o tempo todo, quando não buscamos agradar a Deus, o mundo e o diabo se alegram. Se Deus é o motivo da nossa alegria, o mundo se entristecerá, e o diabo também. Já ouvi relatos de pessoas em relacionamentos tristes e vazios, que não lhes traziam satisfação alguma. Escolher errado e insistir no erro pode nos levar a uma relação infeliz, na qual nos vemos presos sem conseguir sair. Se o relacionamento não traz alegria, é um bom indicativo de que não é da vontade de Deus.


O princípio da provisão

Quando Deus tem algo para realizar na nossa vida, Ele nos dá as provisões necessárias para isso. Nem sempre as circunstâncias estarão a favor, mas Deus nos dá a sua graça que nos aperfeiçoa, as armas espirituais para quem enfrentemos as batalhas, a sua Palavra que nos serve como manual e guia, o seu Espírito que nos enche e dá frutos, os seus dons e os irmãos. Ele também nos dá provas para sermos aprovados (Is 41:13; 2 Co 9:8-10; Tg 1:2-4,12; 1 Pe 1:6,7). Fazer a vontade de Deus não significa não ter sofrimentos, mas estar seguro mesmo diante da dor. Se estamos no centro da vontade de Deus, podemos estar certos de que Ele está conosco e não nos deixará abalar, protegerá a nossa vida, cumprirá em nós todo o seu propósito. Nada pode nos afastar do seu amor nem nos derrubar. Ele está conosco e nos guarda e livra. Isto nos mostra que Deus está no controle da nossa vinda integralmente, o que inclui os nossos relacionamentos o a busca por um companheiro ou companheira. Deus nos provê da sua Palavra como regra e padrão para as nossas relações. Ele nos dá entendimento espiritual para discernirmos os fatos e as circunstâncias, além de santidade nas nossas escolhas e decisões e a vontade de obedecê-lo. Deus nos provê todas as ferramentas disponíveis para sermos pessoas felizes e bem-sucedidas nas nossas relações. A única coisa que precisamos fazer é usar todo essa arsenal divino para estarmos no centro da vontade de Deus e ao mesmo tempo evitar problemas para nós.


Algumas questões importantes

            Existem algumas questões que precisam ser observadas nessa busca por alguém que seja da vontade de Deus. Em primeiro lugar, não é apenas um único fator que precisa ser levado em conta, mas um conjunto de características que nos ajudarão a discernir o caráter de alguém, sem necessariamente julgá-lo. Todos os capítulos anteriores nos ajudaram nessa tarefa: (1) Não existem almas gêmeas; (2) Aprenda a escolher; (3) Crie expectativas realistas; (4) Quem é a pessoa certa? (5) Como não entrar numa fria ainda maior? (6) Quem você não deve esperar encontrar? (7) Que tipo de pessoa buscar ou atrair para a sua vida? Como fazer isso? Observando todas as pessoas? Bancando o psicólogo? Creio que o correto é esperar com paciência em Deus alguém por quem nos encantaremos ou que se aproximará de nós, para somente então avaliá-lo. Quem deseja amar e ser feliz não fica atirando para todos os lados ou fazendo testes até ver quem dará certo. Principalmente quem tem compromisso com Deus, não investe em vários relacionamentos em busca daquele que será perfeito, mas espera com paciência no Senhor, orando o tempo todo, santificando-se todos os dias, preparando para ser o melhor amante que alguém poderá merecer. O tempo que essa busca e essa espera irão demorar, não há como prover. A única certeza é que valerá a pena.
            Em segundo lugar, como vimos nas sete questões já abordadas, não existe ninguém perfeito e não podemos esperar encontrar alguém que se enquadre nos nossos esquemas mentais e/ou emocionais. Mesmo quando buscamos alguém que seja da vontade de Deus para nós, buscamos um ser tão imperfeito quanto nós mesmos. Então não se trata de avaliar alguém até encontrar o ser perfeito, mas alguém que, a despeito das suas imperfeições, se adéque à vontade de Deus, seja da mesma fé que nós, esteja no caminho da perfeição, procure viver de acordo com os valores morais e espirituais da Bíblia, entenda que deva satisfação a Deus dos seus atos. O apóstolo Paulo ensina aos maridos que eles devem amar as suas mulheres “como Cristo amou a Igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5:25). Como, porém, a mulher espera que o seu marido aja dessa forma se ele não tem qualquer compromisso com Cristo ou com a sua Igreja? Como o homem espera encontrar uma esposa submissa – de acordo com o padrão bíblico, não humano e machista – se ela não for fiel a Deus primeiramente? Portanto, não são dois seres perfeitos que se encontram para formar um casal, mas dois seres imperfeitos que se unem para viver em união e buscar todos os dias o seu crescimento espiritual no exercício da fé cristã.
            Em terceiro lugar, a vontade de Deus nem sempre nos agrada. Precisamos levar isso em conta nas nossas escolhas. O coração humano não é preparado para se agradar das coisas de Deus, a não ser quando é alcançado pela sua maravilhosa graça, quando a Cristo se converte e passa a buscar fazer o que Deus lhe pede. Embora a vontade de Deus seja boa, perfeita e agradável (Rm 12:2), nem sempre é ela que buscamos. A natureza humana e caída que ainda vive dentro de nós insiste em nos levar na direção oposta àquela que o Senhor determinou. Desse modo, mesmo a melhor pessoa que encontramos pode não nos agradar. Dependendo dos padrões mentais e valores daquele que busca alguém para amar, além de questões morais e espirituais, além da qualidade do caráter, pode existir questões financeiras e de status envolvidas. Como já vimos, é interessante encontrar alguém que seja compatível conosco, inclusive na área financeira. O que não podemos, porém, é colocar este ponto como um padrão de escolha. De fato, algumas pessoas preferem se relacionar com alguém não muito interessante espiritualmente, mas que possua estabilidade financeira, que possa lhes garantir algum tipo de conforto e facilidade. E isso, infelizmente, está presente nas igrejas cristãs. Algumas irmãs buscam um homem de Deus, mas um homem de Deus que tenha carro, casa e um bom emprego; ou que possua uma posição de proeminência na congregação.
            Em quarto lugar está uma questão bastante complicada: a solidariedade. Já afirmei neste estudo que quem se relacionará com alguém em um namoro ou casamento somos nós, então temos o direito de escolher com quem iremos nos relacionar, sem intromissões externas. Todavia, como também já foi dito, a nossa relação não será apenas entre nós e a pessoa amada, mas entre ela e a nossa família e entre nós e a família dela. Se de algum dos lados existir a ideia de abandonar ambas as famílias de lado para que não haja problemas, já é um forte indicativo de que essa relação não é da vontade de Deus e não dará certo. Desse modo, devemos nos importar com o que a nossa família imediata (pais, irmãos e filhos) pensa a respeito da nossa relação e como esta irá afetá-los. Pessoalmente, eu jamais entraria numa relação com alguém que me levasse a ter o meu relacionamento com meus filhos prejudicado ou que representasse algum mal para minha mãe e meus irmãos. Além disso, a palavra do nosso líder espiritual também precisa ser levada em conta. Alguns relacionamentos representam perdas, inclusive, para a comunidade da fé, a Igreja. Não somos uma ilha: o que nos afeta, afeta as pessoas ao nosso redor, positiva ou negativamente. Se não estamos preocupados com isso, podemos nos considerar egoístas e mesquinhos. Então não estamos em busca da vontade de Deus, mas da nossa.
            Por fim, se todos os princípios foram observados e estamos certos de estar no caminho certo, é hora de questionar as pessoas que estão contra a nossa relação. Qual a sua motivação? Elas se baseiam em quais premissas? Quais são os seus valores? Quais as suas justificativas? Nossos pais, irmãos e filhos não são pessoas perfeitas, mas também estão sujeitos a errar, a se voltar contra nós por motivos egoístas. Recentemente, um pai assassinou o rapaz que foi até a sua casa pedir a mão da sua filha em namoro, juntamente com os pais dele. Os três foram brutalmente assassinados. Os jornais noticiaram que esse pai, além de um homem violento, possuía um ciúme doentio da filha. Então como ela poderia levar em conta a opinião dele para se relacionar com alguém? Algumas mães rejeitam logo de imediato suas noras, porque igualmente são ciumentas e possessivas, não querem que os seus filhos saiam de casa. Elas representam um grande problema à relação. São sogras terríveis, mesmo quando as noras são pessoas maravilhosas. Assim, devemos fazer tudo da melhor maneira possível, avaliando constantemente o nosso comportamento, o comportamento da pessoa amada e as impressões externas. Agindo de acordo com a vontade de Deus, com certeza obteremos êxito em amar e ser amados. Com certeza seremos felizes.

MIZAEL XAVIER

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terça-feira, 20 de agosto de 2019

NO MEIO DAS PEDRAS TINHA UM CAMINHO





Currais novos é uma cidade situada no interior do Rio Grande do Norte, numa região semi-árida chamada de Seridó. Por isso ela é conhecida como “a princesinha do Seridó”. Fica depois de Santa Cruz, Campo Redondo, Maxixe, Ubaeira. É uma típica cidade do interior, muito conhecida por suas minerações e pela festa de Santana, que atrai muita gente todos os anos. E antes mesmo de chegar à cidade propriamente dita, existem vários povoados. Um deles é o povoado São Luis, com o famoso “barracão” logo na entrada.
            Em São Luis existem muitas fazendas. E é numa delas que acontece esta história. É a Fazenda Santa Rita. Esta é uma fazenda muito conhecida na região, de família tradicional, dividida entre Gomes, Cortez, Pegado, Dantas e Xavier. Seu Mizael e dona Alice, patriarcas da minha família, meus avós paternos, já faleceram, mas seus filhos, netos e bisnetos estão sempre lá, cuidando de tudo, aproveitando aquele cantinho do paraíso. De tempos em tempos uma grande festa é organizada para reunir todos os parentes, com muita comida típica, alegria e confraternização. É um momento para que todos podem se rever, brincar, conversar e fazer aumentar a comunhão entre todos.
            No mês de julho de 2006, entrei de férias do trabalho. Já no primeiro dia parti com minha filha, Milena, para a fazenda. Durante as festividades haveria uma peça de teatro com os primos e eu seria o diretor. Precisava ir o mais rápido. Foi maravilhoso rever pessoas queridas, primos, tios e moradores das redondezas que eu não via há tempo. E o que eu nunca gostei foi de ficar parado dentro de casa quando vou para lá, deitado uma rede sem fazer nada. O bom é caminhar pelo roçado, ir à barragem, que com as chuvas estava cheia. A quantidade de pássaros que há por lá é incrível! É maravilhoso observar a flora do sertão, a diversidade de plantas e de flores. Encontrei camaleões, tetéus, galinhas-d’água, garças, nambus, uma jararaca no banheiro de fora, calangos... Há muito que ver e apreciar no sertão.
            Desde que cheguei à fazenda para passar um pedaço das minhas férias, a minha vontade era subir num serrote que existe ao longe, já beirando a pista. Ele é alto e formado por grandes rochas. A última vez que me aventurei a subir lá tinha somente 14 anos de idade! Da casa da fazenda dá para vê-lo. E todas as vezes que o via, desejava subir por aquelas pedras até o alto. Mas sempre havia outras programações, passeios, tarefas, como moer o milho para preparar a canjica e a pamonha.
            Numa certa manhã, planejei ir com minha prima Miriam até a cidade passear um pouco, tomar sorvete, conhecer pessoas novas e resolver alguns problemas. Além de nós, iriam outras primas e uma tia. Mas no momento em que eu ia subir na Kombi os meus planos foram frustrados. Disseram que somente as mulheres iriam. Fiquei bastante contrariado, porque criei muitas expectativas em torno desse passeio. Não disse nada, apenas fui para a sala e liguei a televisão. Mas eu não queria ver televisão! Por fim, peguei meu caderno de anotações para colocar em prática algo que havia também programado para essas férias. Desejava repensar toda a minha vida e anotar todos os meus erros e acertos, para meditar e ver em que precisava mudar ou o que poderia ser aprimorado. Peguei o caderno, uma caneta, meus óculos escuros – que havia encontrado perdido durante a viagem – e parti rumo a um local tranquilo onde pudesse fazer as minhas meditações.
            Escolhi um lugar lindo escondido no meio da fazenda, onde existe um barreiro repleto de vitórias-régias, aves e sossego. Ao caminhar, olhei adiante e acima e avistei o serrote, alto, misterioso. Foi aí que pensei: Já que estou indo na mesma direção do serrote, não me custa nada finalmente realizar meu plano de subir até lá. Mas eu sabia que não seria nada fácil alcançar o topo do meu sonho. Ao me aproximar do início da subida, notei que as dificuldades eram as mesmas de quando eu ainda tinha 14 anos. A mata é bastante cerrada, repleta de uma vegetação espinhenta, como xique-xique, jurema e coroa de frade, e não existe uma trilha aberta para seguir. Eu teria de abrir caminho, tomando bastante cuidado para não esbarrar nas urtigas que também se espalham por todo canto. Mas além dessa vegetação difícil, eu teria de enfrentar o meu pior pesadelo na fazenda: os marimbondos e sua terrível e dolorosa picada! Além, é claro, das cobras venenosas e das abelhas que fazem suas colméias por lá. Mas eu estava decidido a prosseguir até alcançar o topo.
            Como não havia uma trilha, teria que me embrenhar na mata. De início já topei com uma cerca de arame farpado que atravessava um rio seco, apenas com uma poça de água suja parada. Atravessei a cerca e caminhei entre as juremas, fugindo das urtigas, desviando dos xiquexiques, morrendo de medo das casas de marimbondos que já se mostravam. Alcancei o primeiro lance de pedras. Como um alpinista de mãos nuas, fui subindo aos poucos, segurando nas pedras até alcançar o topo. Ao chegar, senti-me realizado. Contemplei a linda paisagem ao meu redor (360º) e agitei os braços em direção à casa da fazenda, onde podia, mesmo daquela distância, avistar meus primos jogando bola. Gritei como se alguém pudesse realmente me ouvir. Estava feliz com a minha conquista.
            Quando achava que tinha chegado onde queria, olhei mais adiante e percebi que onde eu estava era o ponto mais baixo do serrote. Ainda havia outro ainda maior para escalar. Eu já havia encontrado muitas dificuldades para chegar até ali e fiquei pensado se deveria enfrentar mais este desafio. Mas já que eu estava ali e havia vencido as primeiras barreiras, não custava nada tentar. Pus-me, então, a caminho. Desci pelas pedras me segurando no paredão. Minha falta de atenção me fez queimar o joelho num pé de urtiga, o que me causou uma dor muito chata. Com a raiva que fiquei, acabei me desconcentrando mais ainda e machuquei a perna numa pedra. Fiquei contrariado comigo mesmo. Eu deveria prestar mais atenção por onde andava! Mas não desisti e continuei, subindo o outro lance de pedras.
            Cheguei logo ao topo. Os machucados da subida anterior me fizeram tomar mais cuidado, ser mais cauteloso. Aos poucos estava diante de mais uma conquista: mais um topo do serrote. Repeti, então, os gestos anteriores: abri os braços e gritei feliz com a minha conquista. Mas quando eu pensava que já havia terminado a minha jornada, que aquele ali era o meu ponto final, mais adiante havia o último lance de pedras, o mais alto e o mais difícil de escalar. Olhei para trás, vi tudo que já havia conquistado e percebi que não tinha nada a perder. Logo vi que não seria nada fácil mesmo, pois no único lugar onde o acesso até o topo era razoavelmente fácil de subir, havia uma enorme casa de marimbondos de fogo. O perigo estava ali bem na minha frente e era tão real quanto à vontade que eu tinha de continuar. Eu teria de tomar uma decisão: escolher parar por ali, contentar-me com o que já havia conquistado, ou seguir em frente, enfrentando aquele medonho obstáculo. Decidi enfrentar aqueles “monstros” e seguir com meu sonho. Com a habilidade que eu já havia conquistado ao escalar os outros dois lances de pedras, consegui driblar os marimbondos e me lançar rumo a uma última e bem mais complicada escalada.
Aos poucos fui subindo, tomando muito cuidado para não cair das pedras. Sempre que ia dar mais um passo, firmar as mãos ou os pés em algum lugar, eu me certificava primeiro de que era suficientemente firme para suportar o meu peso.  Qualquer passo em falso poderia me lançar serrote abaixo e me machucar muito ou matar. E em poucos minutos lá estava eu, no topo, feliz, abrindo os braços para tentar abraçar o mundo inteiro. O vento soprava sobre mim. Sentia o ar puro, admirava a paisagem. Logo que cheguei, dois gaviões saíram voando, talvez fugindo da minha presença estranha. Tanta beleza e tanta paz eram as recompensas pelo meu esforço. Eu mereci estar ali.
Como desde pequenino tive esse espírito aventureiro, explorador, comecei a explorar o local, as entranças das pedras, a vegetação. Não demorou para que eu tivesse uma grande surpresa. Entre as pedras havia uma colméia nova, ainda com os favos brancos, com quase nenhum mel. Pelo meu pouco conhecimento, identifiquei com sendo de abelhas Europa, muito comuns naquela região. Seu mel é delicioso, o que mais aprecio. Mas ao notar a minha presença invasora, as abelhas começaram a se alvoroçar. Imaginei o que seria de mim se fosse atacado por aquele enxame, como poderia escapar de lá de cima. Com certeza seria uma preza fácil e acabaria me desequilibrando e caindo. Mas eu sabia dos riscos antes de subir até lá a precisava pensar rápido no que fazer diante daquela dificuldade inesperada.
A minha única escapatória daquela armadilha da natureza era descer o mais calmo que eu pudesse, sem fazer barulho, sem alarde. O caminho que escolhi foi aquele que eu havia seguido até lá. Eu já o conhecia bem, já sabia como fazer para descer com segurança. Mas eu não estava pronto para o inesperado. A natureza havia me reservado um elemento surpresa! De repente me vi cercado por um número incontável (pois não parei para contar!) de marimbondos! De alguma forma eu havia esbarrado na casa deles. Estava com tanta pressa para fugir das abelhas que me esqueci de prestar atenção por onde estava indo. Todos vieram para cima de mim. Entrei em pânico. Eu estava carregando uma pedra que havia pegado para levar de lembrança e a lancei fora durante a minha fuga desesperada. Fui picado na cabeça, na perna e no pé. Desci das pedras com uma velocidade impressionante, de qualquer jeito, sem me preocupar com altura, urtiga ou qualquer outra coisa. Meus óculos escuros caíram e acabei cortando a mão esquerda nas pedras.
Não consegui descer. Apenas me distanciei o máximo que pude. Estava todo dolorido pelas picadas e com a mão sangrando, com um corte profundo. Mas eu não podia deixar meus despojos para trás; precisava recuperar os meus óculos. Todavia, para recuperá-los teria de me aproximar do local onde havia sido atacado. O que fazer? Seguir em frente enfrentando o risco de um novo ataque? Recuar e buscar segurança? Mais uma escolha a fazer. Escolhi criar coragem e recuperar meus óculos. Com muita cautela e as pernas tremendo de pouca coragem, vasculhei o mato e as pedras até encontrá-los. Decidi, então, porque já era hora de voltar para casa.
            Em cima das rochas olhei para o caminho pelo qual eu havia chegado até ali. Lembrei das agruras que passei, dos marimbondos, e decidi trilhar um novo caminho, voltar pelo outro lado, onde alcançaria a BR, evitando o que deixai para trás. Desci e segui em frente. Aos poucos fui percebendo que o caminho escolhido não era tão fácil quanto parecia. A mata continuava serrada, repleta de obstáculos e espinhos das juremas e xiquexiques que me feriam constantemente. Eu ouvia ao longe o barulho dos carros passando velozes, mas quanto mais eu caminhava na sua direção, mas a pista parecia se distanciar. Mas eu sabia que caminho seguir, a direção a ser tomada e não desistiria tão fácil.
            Quando achei que já estava próximo da rodovia, que faltavam poucos metros para alcançar a minha liberdade daquela selva sertaneja, deparei-me com uma cerca feita de arame farpado e xiquexique. Eles eram dispostos de tal forma a impedir a passagem de qualquer pessoa ou animal. Não havia como pular nem passar por debaixo. Impossível! Eu estava completamente encurralado. O que fazer diante de tão intransponível obstáculo? Voltar e tentar seguir o outro caminho? Decidi caminhar na extensão da cerca a procura de uma passagem, uma falha, uma porteira, mas não havia. As dificuldades aumentavam, as juremas me atacavam, os espinhos perfuravam minha carne. E agora?
            Como não sou um exemplo de paciência, comecei a ficar nervoso, desesperado, ansioso. Já não prestava muita atenção nos obstáculos nem tomava cuidado com meus inimigos em potencial. Foi este o meu maior erro. Não tardou para que outro marimbondo investisse contra mim, picando-me na minha mão direita. A dor foi ainda maior que a anterior, pois eu já estava debilitado. Veio a vontade de chorar, de desejar nunca mais voltar ali. Senti um grande arrependimento por ter me metido naquela aventura insólita, insana. E quanto mais eu caminhava, agora em estado de desespero, menos possibilidades eu via de transpor aquela cerca. O que fazer? Como passar por um obstáculo impossível de ser vencido?
            Eu estava exausto. As picadas de marimbondo pelo corpo todo doíam lancinantes. O sangue escorria da ferida na minha mão. Sem conseguir dar mais um passo, parei e olhei para aquela cerca. É bem provável que a porteira estivesse muito distante, próxima a umas casas que eu avistava ao longe. Seria um caminho muito longo para ir e voltar. Olhei para a cerca e decidi enfrentá-la. O que é uma cerca instransponível comparada com a minha vontade de seguir em frente? Reuni as últimas forças que me restavam, peguei um pedaço de pau e comecei a arrancar alguns xiquexiques da cerca para tentar abrir uma passagem, por menor que ela fosse. Depois e muito trabalho e dificuldade, finalmente consegui. Ainda tive de limpar do chão alguns espinhos pontiagudos que ficaram espalhados. Rastejei por debaixo do arame farpado me sujando, arranhando mãos, joelhos, cotovelos, mas consegui escapar.
            Já do outro lado, feliz por ter vencido aquele obstáculo e ansioso por voltar para casa, caminhei na direção da rodovia. Conforme caminhava, ia tirando os espinhos que ficaram grudados no meu chinelo, espetando os meus pés. A cada passo dado, meu alívio aumentava. Já na BR, em direção à fazenda, eu só pensava em chegar, tomar um banho e descansar. Passei no barracão, comprei um refrigerante e prossegui até a fazenda de carona com um primo. As lembranças da minha aventura ainda estavam em minhas mãos e no meu corpo inteiro. Imaginei-me como que saído de uma guerra.
            Cheguei à fazenda e fui logo para o banho. Depois...

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