“Porque
de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós” (1 Co
3:9).
A
Bíblia utiliza diversas expressões e figuras para se referir à Igreja do Senhor
Jesus, como, por exemplo: assembleia, corpo de Cristo, noiva do Cordeiro, entre
outros. O crente é chamado de filho de Deus, filho da luz, templo do Espírito
Santo, membro do corpo de Cristo, servo, obreiro, apenas para citar alguns. Em
lugar algum das Escrituras a Igreja é comparada a um hospital ou o crente a um
doente em tratamento terapêutico. A Igreja não pode ser um hospital nem o
crente um paciente por um motivo óbvio: quem faz parte da Igreja já está
curado, não precisa de terapia intensiva, porque Jesus já levou sobre si todas
as suas dores, isto é, pecados, como vemos em Isaías 53. Se temos problemas,
doenças e outros tipos de perturbações, não estamos na Igreja para sermos
curados dessas coisas, pois isso significaria que, após a cura, poderíamos ter
alta e sair da Igreja. Na verdade é o que muitos fazem: eles buscam a Deus
adoecidos dos seus problemas e sonhos; quando recebem a cura, isto é, a
vitória, voltam para suas vidas sem Deus até o próximo acidente ou doença. O
Senhor Jesus disse que somente os doentes precisam de médico (Mt 9:12). Ele é a
cura! Hospital não é lugar de gente curada, mas de gente doente. Se buscamos na
Igreja um hospital, estamos no lugar errado. Se existe alguém fraco ou doente
na Igreja, como havia na igreja de Corinto (cf. 1 Co 11:30), o caminho é o
arrependimento.
Existem
duas imagens que demonstram o que a Igreja é e que hoje não se assemelham ao
tipo de reunião que temos visto por aí. Em primeiro lugar, a Igreja é uma
família onde todos são irmãos, possuem um só Senhor, uma só fé, um só batismo e
um só Deus (Ef 4:5,6). Eles comungam das mesmas bênçãos, compartilham do mesmo
amor e devem cuidar uns dos outros. Paulo escreveu aos Efésios que somos da
família de Deus (2:19). Se a Igreja é um hospital e Deus é o médico, Ele trata
de cada um individualmente. Mas se a Igreja é uma família, Deus cuida de todos
comunitariamente. Um irmão é usado para ajudar os outros, sendo ele mesmo
ajudado por eles. A Igreja não cura um membro, ela cura a si mesma, porque um
membro não é contado como um doente que vai embora e que não tem comunhão com o
hospital, mas como parte integrante da família. Se ele sofre, todos os outros
membros sofrem com ele. Paulo escreveu aos Coríntios que a Igreja é um corpo
coordenado por Deus “para que não haja divisão no corpo; pelo contrário,
cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira
que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, e um deles é honrado, com ele
todos se regozijam” (1 Co 12:24-26). Devemos, então levar as cargas uns dos
outros (Gl 6:2), alegrar-nos com os que se alegram e chorar com os que choram (Rm
12:15), ofertar com amor e liberalidade, pedir e ofertar perdão; corrigir,
ensinar e disciplinar; servir uns aos outros (Gl 5:13), confessar os nossos
pecados uns aos outros e orar uns pelos outros (Tg 5:16), amar
incondicionalmente uns aos outros (Jo 15:12), evitar contendas e divisões (1 Co
12:25), ser hospitaleiros (1 Pe 4:9), ministrar os dons e serviços, praticar a
misericórdia e a humildade, entre tantas outras ações que nos identificam como
verdadeiros discípulos de Jesus. Isto é ser Igreja, isto é ser família, isto é
ser cristão. Na família do Senhor, um membro não deixa o corpo quando recebe a
cura, mas permanece nele, porque fora do corpo, morre. No hospital, os
profissionais saudáveis e conhecedores das artes médicas tratam de pessoas sem
saúde. Na Igreja somos todos iguais: somos médicos e pacientes ao mesmo tempo.
Cuidamos e somos cuidados. Somos pecadores curados que ainda manifestam alguns
sintomas da Queda de Adão, mas que não estão mais adoecidos pelo pecado.
A
visão de hospital surge e se afirma quando olhamos para uma igreja em que os
seus membros estão doentes, sofrendo toda sorte de perturbações emocionais e
espirituais. O que comumente se chama de “cura”, podemos, na verdade, chamar de
“restauração” ou “santificação” diária. O que são as enfermidades espirituais
que trazemos a este ambiente que chamamos de hospital? Se fôssemos compreender
a partir da Palavra de Deus, a Bíblia, veríamos que as nossas enfermidades
espirituais se resumem em uma coisa: pecado. Lemos no livro das Lamentações de
Jeremias: "De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos
seus pecados. Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para
o Senhor. Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus nos céus,
dizendo: Nós transgredimos, e fomos rebeldes; por isso tu não perdoaste"
(Lm 3:39-42). A vida do rei Davi, seu pecado, suas dores físicas e emocionais
tinham um único motivo: o seu próprio pecado (por exemplo, o Sl 51). Durante a nossa
vida, sofremos traumas, carregamos complexos e enfermidades que poderiam ser
resolvidas por meio do arrependimento e da confissão de pecados. De repente,
não é um pecado que nós cometemos, mas que cometeram contra nós, como o abuso
sexual, por exemplo. Daí entra o perdão, esquecer o passado, caminhar no
presente rumo ao futuro. As enfermidades físicas nós resolvemos no médico ou
Deus pode operar de maneira sobrenatural a cura. Mas para as doenças
espirituais, de onde provêm muitas doenças emocionais, a grande maioria, o
remédio não é milagre, não é unção, não é culto, não é missa, não é oração, não
é campanha disso ou daquilo. O remédio é: arrependimento, confissão e abandono
do pecado.
Meditemos
e respondamos a esta questão: A Igreja evangélica como a vemos hoje, com
indivíduos que buscam a Deus apenas por causa das suas bênçãos, com tantas
brigas, divisões e escândalos, assemelha-se a uma família? Pode ser que alguém
diga: Ora, mas em todas as famílias há problemas. Então respondamos a outra
questão: É isso que Deus quer? Não devemos nos espelhar no modelo de família do
mundo para definir o que é ser Igreja, mas naquilo que a Bíblia diz sobre o que
é e como é ser Igreja. O que impera na Igreja é a interdependência, a
solidariedade, a comunhão, o “uns aos outros”, a partilha, a empatia entre os
seus membros. Qualquer modelo de ajuntamento que não se assemelhe a uma família
cheia de amor, não é uma Igreja. Na família de Deus, os membros têm tudo em
comum. Eles são apenas um em Cristo.
Outra
imagem que a Bíblia utiliza a respeito da Igreja e que escapa ao conhecimento
da grande maioria dos cristãos, é que ela é um exército, Deus é o general e nós
somos os seus soldados. Isto destrói ainda mais a visão de um hospital. Num
hospital, vamos para receber; num batalhão, entramos para dar! A grande maioria
das pessoas que se intitulam “crentes”, vive uma fé totalmente passiva. Elas estão
na Igreja sentadas, salvas e satisfeitas, quando deveriam ser salvas, santas e
servas. Algumas nem acreditam que são salvas! Quando vão ao culto, afirmam que
estão indo “receber algo da parte do Senhor”. Talvez não se recordem das
palavras do Senhor Jesus que o apóstolo Paulo jamais esquecia: “Mais
bem-aventurado é dar que receber” (At 20:35). Se pararmos para prestar atenção,
todos os mandamentos da Bíblia expressam uma ação, algo que devemos fazer e que
nos coloca em movimento. Não fomos chamados para ficarmos como aquelas aves que
acabaram de nascer e esperam de boca aberta que sua mãe às alimente. Toda a fé
cristã se baseia em coisas que devemos fazer porque já recebemos bênçãos
espirituais da parte de Deus. Somos conduzidos aos verbos amar, orar, perdoar,
pregar, ensinar, resistir, evangelizar, batalhar, suportar, ofertar, levar,
deixar, abandonar, falar, ouvir, entre tantos outros verbos que indicam que
estamos em movimento, que fomos salvos para as boas obras (Ef 2:8-10), para dar
frutos (Jo 15:8), para salgar e iluminar (Mt 5:13-16), para lutar como soldados
numa guerra. Quem acha que ser crente é frequentar uma denominação evangélica,
cumprir alguns preceitos religiosos, praticar certos rituais, orar para receber
algo de Deus, cantar alguns louvores e depois ir para casa, ainda não entendeu quem
é Jesus, muito menos o que significa pertencer a Ele.
Voltando
para a imagem da Igreja como um exército e do crente como um soldado, fomos
salvos para produzir algo para o Reino de Deus, para guerrearmos numa batalha
que já foi vencida pelo Senhor na cruz, mas que faz parte do nosso cotidiano
como seus soldados. O nosso campo de guerra se divide em três frentes de
batalha: a carne, o mundo e o diabo. Ao estimular Timóteo no combate pela fé,
Paulo diz: “Participa dos meus sofrimentos como bom soldado de Cristo” (2 Tm
2:3). A nossa luta é contra o pecado que faz guerra dentro de nós, mortificando
diariamente a carne para submetê-la ao Espírito. Nesta guerra, na verdade, não
é a carne que luta contra si própria, mas o Espírito que luta contra ela para
mortificá-la (Gl 5:17; Rm 8:13). Paulo esmurrava o seu próprio corpo para não ser
desqualificado (1 Co 9:27). Também lutamos contra o mundo e os seus valores
geradores de morte, contra a sedução dos seus prazeres e riquezas, contra este
inimigo de Deus que tenta nos tragar (Tg 4:4). Ainda travamos uma batalha
contra os principados e potestades, contra o nosso grande inimigo e adversário,
que é Satanás (Ef 6:12). Lutamos vitoriosos em Cristo para resistir às suas
investidas diabólicas que existem para roubar, matar e destruir (Jo 10:10).
Lutamos, também, pela verdade do Evangelho contra as mentiras do diabo, contra
as heresias dos falsos mestres e dos falsos profetas. Lutamos para defender a
verdade evangélica que nos foi entregue pelo Senhor Jesus. Judas escreveu em
sua epístola: “Amados, quando empregava toda diligência em escrever-vos acerca
da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco,
exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi
entregue aos santos” (Jd 3). Quantas músicas nós temos escutado nas mídias com
esse tema? Quantos sermões têm sido pregados sobre a defesa da fé?
Meditemos
e respondamos a estas perguntas: Nós nos reconhecemos como soldados de Cristo
no campo de batalha ou negamos a existência desta guerra e nos acomodamos a uma
fé sem sal e sem luz? Uma das grandes gírias evangélicas é chamar o irmão ou a
irmã de “vaso”. Quando se fala assim, está-se querendo afirmar que o irmão ou a
irmã são “vasos de honra usados por Deus ou que Deus deseja usar”. Mas usar
para quê? Qual a finalidade?
Não
quero terminar este breve estudo com certezas prontas, mas lançando muitas
dúvidas na sua mente. São as dúvidas que nos levam a estudar ainda mais para
alcançarmos as certezas. Então, leia e estude a Bíblia. Pergunte-se a respeito
de si mesmo se você é um eterno paciente deitado num leito de hospital,
recebendo medicamentos e cuidados, com uma fé praticamente em coma, que não o
deixa sair para viver a sua vida cristã lá fora, onde estão as obras que você
deve praticar. Pergunte-se se você se sente membro de uma família, com irmãos e
irmãs que você deve amar, cuidar e respeitar, ou como membro de um clube onde
vai passar algumas horas, receber alguns bônus e depois vai para casa, sem
compromisso algum com este clube, a não ser o pagamento de uma mensalidade: o
dízimo. Pergunte-se quem Deus é para você, se Ele é aquele paizão que está no
céu disposto a lhe encher de bênçãos e vitórias ou um Deus soberano a quem você
deve temor e obediência. Você se vê como soldado de Jesus? Está lutando contra a
carne, o mundo e o diabo? Você tem batalhado pela fé cristã ou tem praticado a
filosofia diabólica e mundana do “politicamente correto”, achando que cada um
crê naquilo que deseja e ninguém tem nada a ver com isso? Você é capaz de
responder sobre a razão da sua esperança, da sua fé, utilizando uma base
bíblica sólida ou apenas repete a velha frase “eu acho que”? Leia 1 Pedro 3:15;
2 Timóteo 2:15 e 4:1-5.
Eu
sou membro da Igreja de Cristo. Eu não estou num hospital, mas faço parte de
uma família. Eu não sou a terra que fica imóvel recebendo a chuva, mas quero
ser a nuvem que faz a chuva cair para molhar a terra. Não quero ser um paciente
doente em um leito, mas um soldado no campo de batalha. E você, quem é?
MIZAEL - Agradeço sua postagem sobre provas. Usei-a no estudo do Sahbado semanal. Pastor John. O Fundo Bíblico
ResponderExcluirA paz do Senhor. Li agora a sua mensagem. Que bom que o estudo serviu para a edificação da sua igreja. Deus lhe abençoe.
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