Uma das grandes estratégias de
Satanás na sua luta contra a verdade e a fé cristã, é contar com a tolerância
que acabamos desenvolvendo às heresias que se infiltram na Igreja e certos
movimentos que se dizem espirituais, mas que são uma vergonha e uma afronta ao
Evangelho de Cristo. Para não sermos chatos ou taxados de arrogantes e donos da
verdade, acabamos permitindo que essas coisas façam parte da comunidade,
influenciando nossa teologia e nossa prática. Em nome da “liberdade do
Espírito”, aceitamos que indivíduos preguem blasfêmias contra Deus e a sua
Palavra, que utilizem o púlpito para profetizar o que o Senhor não mandou
profetizar, determinar bênçãos que Ele não prometeu e revelar coisas que Ele
não revelou. Felizmente, as igrejas que praticam um cristianismo sério e
comprometido com a verdade não abrem as suas portas nem entregam o microfone
para esse tipo de pessoas. Entretanto, ainda que de forma dissimulada, elas
insistem em penetrar entre os fiéis, apregoando mentiras, causando divisões e
discórdias. Às vezes, numa simples discussão pela cor da farda do coral das
senhoras já se pode perceber a atuação do inimigo com o intuito de
desestruturar o grupo e dissipá-lo. Uma fofoca na esquina sobre um problema
pessoa do irmão, pode desencadear um problema de grandes proporções.
Além disso, existe o cuidado para
não machucar, magoar ou afastar a ovelha da comunhão com os irmãos. Então,
esconde-se a sujeira debaixo do tapete, esperando que ela permaneça lá sem
causar nenhum problema. Essa tolerância é destruidora, acima de tudo quando
falamos numa batalha em que o inimigo ataca sem piedade. O diabo não cultiva
nenhum tipo de emoção positiva pelas pessoas, mas tão somente deseja
destruí-las. Ele não se importa em espalhar a discórdia, separar casais, destruir
famílias, levar pastores ao suicídio, esvaziar templos. Satanás não possui
nenhuma tolerância pelo bem; ele só deseja o mal. Por isso a Bíblia,
especialmente o Novo Testamento, trata de maneira radical esta situação,
exigindo a exclusão de tais indivíduos da comunhão da comunidade cristã. Havia
uma razão para Deus não permitir que o povo de Israel se contaminasse com as
outras nações. O resultado da desobediência a esta regra, trouxe toda sorte de
pecados para o meio do povo, incluindo a idolatria tão abominável. O livro de
Juízes retrata muito bem isso, como, por exemplo, em 3:7: “Os filhos de Israel
fizeram o que era mau perante o Senhor e se esqueceram do Senhor, seu Deus; e
renderam culto aos baalins e ao poste-ídolo”.
A contaminação da Igreja não é
combatida apenas no seu envolvimento com as coisas do mundo (1 Jo 2:15,16; Rm
12:2; Tg 1:27; Ef 2:1-3; 1 Co 6:18-20). Ela também é um cuidado constante com
as impurezas que se apresentam em sua própria estrutura. O apóstolo Paulo não
apresenta a mesma tolerância da Igreja moderna. Ele entendia as consequências
de se permitir que pessoas com intenções malignas permanecessem no meio dos
santos. Um exemplo está na sua primeira carta aos crentes de Corinto, onde ele
reprova diversas atitudes carnais daqueles irmãos que, apesar dos seus dons
espirituais, viviam na imoralidade, ao ponto de haver quem se atrevesse a
possuir a mulher do seu próprio pai (5:1). A orientação dada pelo apóstolo é
que fosse retirado do meio da comunhão da igreja aquele que estava praticando tal
pecado (vs. 2-5). Ele escreve: “Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um
pouco de fermento leveda toda a massa?” (v. 6). O velho fermento precisa ser
lançado fora! Ele escreve, ainda: “Já em carta vos escrevi que não vos
associeis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros
deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois neste caso,
teríeis de sair do mundo. Mas agora vos escrevo que não vos associeis com
alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou
maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem sequer comais” (vs.
11,12).
As sete Igrejas e os
falsos ensinos
Está claro que a associação de que
Paulo fala é para praticar as mesmas coisas. Todavia, ao invés de disciplinar
essas pessoas e excluí-las da Igreja, tendemos a tolerá-las, deixando-nos levar
por seus pecados e permitindo que as suas práticas infames influenciem o
ambiente da comunidade. Outra coisa que fica bastante clara nesse texto, é que
tais pessoas não são irmãos verdadeiros, mas “se dizem irmãos”. Os seus frutos
demonstram totalmente o contrário. Escrevendo a Tito, Paulo também o exorta a
respeito de pessoas desse tipo que estavam infiltradas na Igreja (Tt 1:10-16).
O contexto desta exortação parte das qualificações dos ministros que, entre
outras coisas, deveria se apegar à palavra fiel, “que é segundo a doutrina, de
modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os
que o contradizem” (v. 9). Ao denunciar o caráter desses falsos mestres (vs.
10,16), suas ações e sua hipocrisia (v. 16), o seu péssimo testemunho no mundo
(vs. 12,13), Paulo deixa claro que o objetivo deles é enganar as pessoas por
meio de ensinos errados, movidos por sua ganância. Esses indivíduos
demonstravam uma imensa incoerência entre a fé que professavam e a sua prática
de vida, o que os tornava abomináveis, desobedientes e reprovados para toda boa
obra (v. 16).
A solução de Deus para essas pessoas
não é a tolerância. Paulo afirma: “É preciso fazê-los calar” (v. 11). As suas
doutrinas não devem ser ouvidas, seus ensinamentos não devem ser permitidos,
mas é necessário repreendê-los severamente, para que sejam sadios na fé (v.
13). Ele exorta mais adiante: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo
primeira e segunda vez” (3:10). Por trás dessas práticas carnais e dos falsos
ensinos, como já aprendemos, está a influência de Satanás. Quando não infiltra
seus soldados no meio da Igreja, utiliza seus próprios membros para espalhar a
destruição. Esses membros são os crentes carnais, que não se firmam na fé e
também não procuram aprender a verdade para obedecê-la. Atualmente, muitos
ensinos e práticas contrários à Palavra de Deus têm sido aprendidos na Internet
e reproduzidos no meio da Igreja. A liderança não pode ser permissiva, mas deve
tratar com seriedade esta situação, porque um pouco de fermento pode levedar
realmente toda a massa.
A forma correta de agir é por meio
do discipulado, do ensino e da aplicação correta da disciplina, com o intuito
de preservar a unidade e a santidade dos membros da Igreja. Esses três
elementos juntos – discipulado, ensino e disciplina – fornecem aos membros do
corpo a edificação necessária para crescerem saudáveis, conduzindo-os à
obediência a Cristo. Para aqueles que andam de forma desordenada, tanto em
questões de comportamento como de doutrina, a disciplina é importante para
corrigir suas ações e trazê-los de volta à verdade evangélica. O Novo
Testamento deixa bastante clara a aplicação da disciplina na Igreja (Mt 16:19;
18:18; Jo 20:23; 1 Co 5:2,7,13; 2 Co 2:5-7). A ideia primária da disciplina é
fazer com que o insubordinado se arrependa e seja liberto (2 Ts 3:14,15; Tt
3:10). Embora a cura seja o ideal, haverá casos em que ela não surtirá nenhum
efeito, principalmente quando estivermos lindando com um falso crente. Após um
processo de exortações e admoestações, caso o indivíduo insistir em suas
práticas, a sua exclusão da comunhão com a Igreja deve ser aplicada (Mt 18:17;
1 Co 5:13; Tt 1:10,11; 3:10; 1 Tm 1:20). O objetivo da excomunhão nos casos
descritos na Bíblia, é para que o pecado irresoluto ou os falsos ensinos não
contaminem o restante do corpo. Se essa excomunhão não for devidamente
aplicada, corre-se o risco de uma infecção generalizada, que poderá fazer
desviar os membros que estavam sadios. Este é o objetivo de Satanás.
Uma Igreja doente não prega o
Evangelho, não ora, não ensina a Palavra de Deus, não influencia o mundo com a
luz e o sal de Cristo, não pratica as boas obras, não busca o Reino dos céus,
não anseia pela volta de Jesus. Tal Igreja assemelha-se à igreja de Sardes,
para a qual o Senhor escreveu: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que
vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer,
porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus” (Ap
3:1,2). A solução para o problema daquela igreja era lembrar-se do que recebera
e ouvira, guardá-lo e arrepender-se. Isto é: relembrando e praticando a
doutrina correta, aquela igreja voltaria ao seu estado original de santidade. As
outras igrejas descritas no Apocalipse enfrentavam seus próprios problemas, e
muitos envolviam questões de desvio moral e desvio doutrinário. A igreja de
Éfeso estava numa luta constante contra os falsos apóstolos, homens mentirosos
que se infiltraram na comunidade, embora eles mesmos tivessem abandonado seu
primeiro amor (2:1-7). A igreja de Esmirna enfrentava a influência de alguns
que se declaravam judeus, mas que eram, na verdade, da sinagoga de Satanás, o
que mostra a ação do inimigo na igreja por meio de pessoas (2:8-11).
A igreja de Pérgamo, apesar de não
ter negado a fé mesmo diante da idolatria daquela cidade (2:13), tolerava
alguns indivíduos que sustentavam duas doutrinas heréticas; a de Balaão e a dos
nicolaítas (vs. 14,15). Vemos na igreja de Tiatira uma tolerância declarada
pelo próprio Senhor (2:18-29). Aquela igreja possuía muitos pontos positivos:
obras, amor, fé, serviço, perseverança e um progresso visível, porque as suas
últimas obras eram mais numerosas que as primeiras (v. 19). Todavia, o Senhor
afirma: “Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si
mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos
a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos” (v.
20). Este fato apenas confirma aquilo que dissemos no decorrer deste estudo: o
ataque do inimigo é contra a verdade; ele introduz ensinos mentirosos nas
igrejas para desviar os crentes da sã doutrina e levá-los a pecar. Quantos
profetas e profetisas hoje estão espalhados pelas igrejas, pregando e ensinando
mentiras, trazendo novas revelações e doutrinas de demônios, sendo tolerados e
reverenciados por quem não suporta a verdade. No v. 24 fica bastante claro que
o ensino e as ações daquela Jezabel estavam diretamente ligados a Satanás.
A igreja da Filadélfia parece ter
sido a única que de fato guardou a Palavra do Senhor (3:7-13). Percebe-se como
estar certo ou errado, em santidade ou em pecado, no caminho certo ou no
caminho errado, firme na fé ou desviado, do lado de Deus ou do lado de Satanás
está sempre ligado a pregar e viver a verdade. Apesar de a igreja em Filadélfia
ter pouca força, ela guardava a Palavra do Senhor e não negava o seu Nome (vs.
8,10). Ali também havia a influência de indivíduos da sinagoga de Satanás, que
se declaravam judeus, mas mentiam; entretanto, aqueles irmãos permaneciam
firmes na verdade que lhes fora revelada. A igreja de Laodicéia (3:14-22) é
contada como uma igreja morna, capaz de fazer o Senhor vomitar (vs. 15,16).
Aquela era uma das cidades mais ricas da Ásia Menor. A riqueza daquela igreja
levou-a à soberba, a crer que já possuía tudo, quando não possuía nada (v. 17).
O Senhor convida aqueles irmãos a valorizarem o que de fato importava: as
riquezas espirituais e celestiais capazes de lhes devolver a visão (v. 18). Nos
dias de hoje, vemos muitas igrejas, acima de tudo as neopentecostais, pregarem
a conquista de bens e riquezas materiais, esquecendo-se das celestiais. Elas
transformam a fé num instrumento de barganha com Deus, reduzindo a
espiritualidade cristã a uma busca constante por felicidade e prosperidade
neste mundo. Jesus está batendo à porta dessas igrejas, querendo transformar
vidas que ali estão enganadas por Satanás e pelo seu próprio desejo ganancioso.
Ele deseja transformar o culto a si mesmo num culto verdadeiro a Deus.
O joio e trigo: não
devemos julgar?
O desenvolvimento dessa tolerância
cega e destruidora pode estar ligado à falta de compreensão de dois textos
bíblicos. O primeiro é a parábola do joio e do trigo, em Mateus 13:24-30. O
segundo é o ensino de Jesus a respeito do julgamento: “Não julgueis, para que
não sejais julgados” (Mt 7:1). Com base nestes dois textos, têm-se o seguinte
pensamento: “Os falsos crentes sempre existirão a Igreja, e não cabe a nós
julgarmos quem são os falsos e os verdadeiros, mas a Deus. Somente no dia do
Grande Julgamento é que poderemos saber quem é o joio e quem é o trigo”. Essa
afirmação, entretanto, parte de uma visão limitada e distorcida da Bíblia, que
não leva em conta o ensino geral das Escrituras, onde muitos textos, como já
vimos, nos ensinarão a identificar os falsos irmãos, a discipliná-los e, se for
o caso, excluí-los da comunhão da Igreja. Como se diz no jargão teológico:
texto fora do contexto é um pretexto para a heresia. E é este o desejo de
Satanás: destruir a fé cristã por meio das heresias e da tolerância irracional
aos falsos ensinos.
É necessário afirmar que os falsos crentes
não são apenas pessoas que na igreja são uma benção e fora dela vivem uma vida
de pecado. Alguns são ainda mais perigosos, porque influenciam o restante dos
irmãos com o seu pecado e com suas falsas doutrinas. Logo, não se trata
simplesmente de não julgar o coração dos irmãos, algo que de fato pertence
somente a Deus, mas de observar as suas obras e perceber o que eles são de
fato. A árvore dá-se a conhecer pelos seus frutos (Lc 6:43-45). A pergunta que
deve ser feita é: ao identificarmos um falso irmão pelas suas atitudes e
ensinamentos, devemos deixar que ele permaneça livremente no meio da igreja até
que o Senhor venha e separe o joio do trigo ou devemos exercer a disciplina e
praticar a excomunhão? Já aprendemos até aqui que a disciplina bíblica deve ser
aplicada e, nos devidos casos, efetuada a exclusão do membro. Então, resta-nos
entender a verdade por trás dos textos referentes ao joio e ao trigo e ao
julgamento.
Em primeiro lugar, a parábola de Jesus não
está se referindo à exclusão de membros da Igreja, mas ao entendimento que
somente Deus pode ter a respeito daqueles que de fato lhe pertencem. Muitos
passarão a vida inteira na Igreja, exercerão ministérios, farão grandes obras,
mas no final das contas não irão para o céu, porque não faziam parte do rebanho
do Senhor e não eram convertidos verdadeiramente. Essas pessoas podem ser
exemplos de integridade de caráter entre os santos, mas ainda assim não eram
crentes nem santos no sentido bíblico do termo. O Senhor conhece os que lhe
pertencem (2 Tm 2:20). Muitos, naquele dia, comparecerão diante dele declarando
as suas obras (Mt 7:22), mas o Senhor lhes dirá: “Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniquidade” (v. 23), pois “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está
nos céus” (v. 21). Muitos estão na igreja e não foram até Jesus, porque Deus
não os enviou. Muitos são chamados, mas poucos os escolhidos (Mt 22:14).
Somente aqueles que Deus leva até Jesus são verdadeiramente convertidos e serão
ressuscitados no último dia (Jo 8:44; 6:65). Como saber quem são estes? Como
julgar quem foi convertido e quem apenas se convenceu de que faz parte do Reino
sem jamais ter sido? Este entendimento pertence somente a Deus. Somente Ele
sabe quem são os seus escolhidos.
Entretanto, se não podemos identificar o joio
no meio do trigo, o joio pode ser bastante sincero consigo mesmo e se
autodescobrir como tal. Embora isso não seja toda a questão, mas é parte dela:
o que nos motivou a aceitar a Jesus e frequentar uma igreja? A conversão
genuína ocorre quando o pecador é regenerado pelo Espírito Santo, que lhe dá a
fé necessária para aceitar a verdade do Evangelho, reconhecendo-se pecador e
carente de salvação. Através da mediação da Palavra de Deus, o Espírito
convence o perdido do seu pecado e o conduz, por meio da graça, a uma nova vida
pela fé em Jesus Cristo. Em suma, a conversão é uma resposta positiva do
pecador, estimulado pelo Espírito Santo, ao chamado de Deus. Sendo convertido,
ele passa a fazer parte do corpo de Cristo, que é a Igreja, transformando-se em
cidadão do céu. Como têm sido os apelos à conversão nas igrejas atuais? Eles
são, na verdade, um chamado para a resolução de problemas pessoais por meio da
fé, prometendo ao pecador-sofredor que, ao aceitar a Jesus, terá todos os seus
problemas resolvidos e gozará de uma vida próspera e feliz. Estando já na
igreja, toda a sua vida girará em torno disso: conquistar as bênçãos divinas.
Isto não é conversão. Isto é ser joio.
Então chegamos à conclusão de que
devemos, sim, julgar todas as coisas. As coisas não existem por si só, mas há
uma motivação por trás da sua existência, uma intenção que fez com que elas
viessem a existir. Para reter o que é bom, precisamos avaliar e julgar o que
não é. O texto “julgai todas as coisas, retende o que é bom” (1 Ts 5:21), está
ligado a outros dois versículos: “Não desprezeis as profecias” (v. 20) e
“abstende-vos de toda forma de mal” (v. 22). Isto significa que nem tudo que
ouvimos na Igreja é necessariamente bom, por isso tudo deve ser julgado para
que possamos nos abster do mal. Se não julgássemos os profetas e as suas
profecias, incorreríamos em grave erro e correríamos o risco de tolerar
heresias sem discerni-las (1 Co 14:29-40). Se alguém traz deliberadamente um
falso ensino, o seu caráter já está manifesto. As suas próprias obras o denunciam.
Escrevendo a Tito, Paulo diz que o homem faccioso deve ser “evitado” (Tt 3:10).
Como evitá-lo sem julgá-lo faccioso? E como julgá-lo? Observando as suas
atitudes que causam a facção, que está ligada aos ensinos mentirosos, às
heresias que dividem a Igreja. Somente por meio da observação é possível
conhecermos a verdadeira natureza das pessoas (Lc 19:22; Jo 8:9-11).
É preciso avaliar tudo que chega aos nossos
olhos e aos nossos ouvidos, as motivações por trás das ações, o que inclui
comportamentos e palavras, de acordo com a Palavra de Deus. A obediência aos
nossos guias recomendada em Hebreus 13:17, por exemplo, não é cega. Mas a
própria Palavra coloca parâmetros para o caráter desses guias: eles velam pela
nossa alma. Se devemos avaliá-los antes de dar-lhes a liderança da Igreja, como
prescreveu o apóstolo Paulo para a escolha dos diáconos e dos bispos (At 6:1-7;
1 Tm 3:1-13), porque não o continuaremos fazendo quando já estiverem nela? Como
identificaremos os obreiros fraudulentos sem submetê-los a um julgamento?
Somente observando as ações de certas pessoas nas igrejas, o apóstolo Paulo
poderia emitir o seguinte julgamento: “Porque os tais são falsos apóstolos,
obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo” (2 Co 11:13).
Estaria Paulo “julgando mal” os seus irmãos? O apóstolo Pedro, em sua segunda
epístola, capítulo segundo, descreve os pormenores do caráter dos falsos
mestres, como também denuncia as suas obras e profere contra eles um juízo. Ao
pensar em escrever a respeito da nossa comum salvação, Judas se viu obrigado a
exortar os irmãos a batalharem pela fé evangélica, visto que muitos falsos
mestres haviam se infiltrado na Igreja para destruí-la. Ele cita algumas das
suas características: “Os tais são murmuradores, são descontentes, andando
segundo as suas paixões. A sua boca vive propalando grandes arrogâncias; são
aduladores dos outros, por motivos interesseiros” (v. 16). Imaginemos um desses
falsos irmãos perguntando a Judas: “Quem é você para me julgar?”.
Como pudemos ver, Judas, além de denunciar as
obras daqueles falsos irmãos, indicou a sua motivação interior: “motivos
interesseiros”. Como ele chegou a esta conclusão? Com certeza porque aquelas
pessoas murmuravam, viviam descontentes, andavam segundo as suas paixões, eram arrogantes
e adulavam os outros para suprir seus próprios interesses. Não podemos julgar
os motivos do coração, algo que pertence somente a Deus, mas as práticas, estas
sim podemos julgar. E esses motivos do coração se deixam transparecer na
prática de vida, porque se a boca fala do que o coração está cheio (Mt 12:34),
as atitudes também. Jesus conhecia o coração dos fariseus, mas denunciou o seu
pecado pela observação das suas obras (Mt 23:1-12). O apóstolo Paulo,
escrevendo aos crentes de Roma, falou a respeito dos judeus que se gloriavam na
Lei, mas que possuíam práticas totalmente contrárias àquelas que eles mesmos
ensinavam (Rm 2:17-24). E que motivo pode haver em um coração de conhecer a
verdade e praticar o contrário? Esse tipo de julgamento além de não ser
incorreto, é necessário para manter a Igreja sadia e livre de influências carnais
e malignas.
Então quando não devemos julgar? O que a
Palavra de Deus condena é o julgamento temerário, que é aquele em que criamos
critérios para os outros e nós mesmos não obedecemos. Foi o que Jesus quis
dizer ao ensinar: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o
critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes
medido, vos medirão também” (Mt 7:1,2). Como já vimos, os judeus são por
diversas vezes advertidos no Novo Testamento por sua religiosidade hipócrita:
ensinavam e cobravam o que eles mesmos não praticavam, usando dois pesos e duas
medidas. Não podemos julgar as atitudes de alguém quando nós mesmos praticamos
o que reprovamos. Para nos tornarmos aptos a “tirar o argueiro” do olho do
irmão, é preciso que primeiro tiremos o do nosso, isto é, que estejamos seguros
de estar acertando onde acusamos o irmão de estar errando. Por exemplo: se
mentimos, como vamos julgar quem mente? Se murmuramos, como julgaremos quem
murmura? Além disso, o que está em vista é entendermos que podemos não pecar na
área em que o irmão peca, mas pecamos em outra. Logo, ao julgar alguém, devemos
estar cientes de que também erramos, por isso não podemos usar o pecado dos
outros para nos sentir bem com nós mesmos ou minimizar nossos próprios pecados.
Se não formos capazes de julgar da maneira correta, não poderemos cumprir o que
Jesus nos ensinou após falar sobre o julgamento: “Não deis aos cães o que é santo,
nem lancei ante os porcos as vossas pérolas, para que não a pisem com os pés e,
voltando-se, vos dilacerem” (Mt 7:6). Sem julgar, como identificaremos os cães
e os porcos? E quando os identificarmos, não estaremos pecando os considerando
como tais.
Em suma, é preciso haver um constante
julgamento entre os irmãos, não segundo a ideia que cada um tem do que é certo
ou errado, mas segundo a reta justiça (Jo 7:24). O que deve fundamentar nossos
critérios de avaliação é a Palavra de Deus. Neste processo, é importante o
desenvolvimento de algumas virtudes que nos ajudarão a santificar as nossas
relações e a fortalecer a nossa fé, protegendo-a contra as influências malignas
do diabo e dos seus servos infiltrados no nosso meio. Escrevendo aos
colossenses, Paulo recomenda que eles se revistam de ternos afetos de
misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de longanimidade,
suportando e perdoando uns aos outros, estando alicerçados sobre o amor (Cl
3:12-14). O que deveria reger as ações daqueles irmãos era a paz de Cristo (v.
15). Por meio dessa paz, estamos prontos para praticar o que é certo e julgar
retamente aqueles que agem de forma contrária a essas virtudes. Em todas essas
coisas, a justiça presente na Palavra de Deus deve ser a base das nossas ações:
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instrui-vos e aconselhai-vos
mutuamente em toda sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão em vosso coração” (v. 16). E todas estas coisas devem
visar tão somente a glória de Deus, dando a Ele graças por tudo (v. 17; cf. 1
Co 10:31-33)
mizael xavier
OBSERVAÇÃO:
Este
estudo é parte integrante do livro de minha autoria, vendido pela Amazon:
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