Vencer é preciso. Este
é o título de uma música evangélica que afirma o que tantas outras falam sem
cessar: vencer é preciso! Não existe espaço para derrota na vida do crente. Mas
que vitória é esta tão pregada e tão cantada nas igrejas? É aquela em que o
crente precisa alcançar a sua promessa, tomar posse da sua bênção e conquistar
a sua vitória. É quase que uma obrigação, ao ponto de alguns pregadores
afirmarem que o crente que não tem uma vida vitoriosa não tem fé. Muitos que
não conseguem alcançar o padrão de vitória ensinado por esses falsos mestres se
decepcionam com Deus ao ponto de abandonar a fé. Mas se a sua fé em Deus se
baseava em apenas conquistar as suas bênçãos, na verdade não abandonaram fé
alguma, pois nunca creram em Deus verdadeiramente. Essa teologia da vitória comporta
pelo menos três características terríveis que precisamos conhecer. Primeira: é
egoísta e egocêntrica. Retira Deus do centro da adoração e coloca o pecador e
seus problemas. O culto não é uma adoração genuína a Deus, mas um momento de
barganha por bênçãos, uma busca pelo sucesso pessoal, e isso jamais em termos
espirituais, sempre materiais. O quadro é ainda pior quando vemos que a vitória
sempre diz respeito ao "meu", jamais ao "nosso". Cada um
chega diante de Deus em busca de resolver a sua situação, nunca a da comunidade.
Segunda: essa teologia contradiz a Bíblia. A fé que a Palavra de Deus ensina é
uma fé que vence o mundo, não que nos prende a Ele (1 Jo 5:3-5). Quem é nascido
de Deus vence o mundo, não é vencido por ele. A fé vitoriosa em Cristo nos
transporta para um reino celestial, não um poder terreno. As suas promessas são
de vida eterna, não de prosperidade financeira. Esta vitória da fé envolve
sofrimentos e privações, não nos isenta da dor nem afasta de nós a angústia. O
Senhor nos garantiu que no mundo ainda passaremos aflições (Jo 16:33). Aquele
que venceu o mundo por nós suportou aflições; não foi aplaudido, mas
crucificado. O bom soldado de Cristo participada também do sofrimento (2 Tm
2:3). O apóstolo Pedro escreveu: “Porque para isso
fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo,
para que sigais as suas pisadas” (1 Pe 2:21).
Uma
vitória que envolve o amor e o apego às coisas deste mundo e despreza o
sofrimento vem do diabo, não de Deus. Não devemos amar o mundo nem as coisas do
mundo, como afirmou o apóstolo João (1 Jo 2:15), “Porque
tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e
a soberba da vida, não vem do Pai, mas sim do mundo” (v. 16). A vitória pregada
hoje faz o caminho inverso: procura atender a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Terceira característica: esta
vitória egocêntrica e mundana nos afasta daquilo que realmente importa: a
mensagem da cruz, onde vemos o Filho unigênito de Deus dando a si mesmo em
sacrifício para que aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo
3:16). Esta é a verdadeira vitória: a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte
para nos reconciliar com Deus e nos dar uma herança gloriosa nos céus (1 Co
15:55-57). Não somos vitoriosos por Deus nos livrar das tribulações, mas porque
mesmo a própria morte não poderá nos separar do seu imenso amor (Rm 8:37-39).
Vencer não é preciso se o centro da nossa vitória não é o Senhor Jesus. Adorar
a Deus, obedecê-lo, ser-lhe grato, servi-lo, amá-lo, proclamá-lo é preciso.
Deus tem prazer em nos abençoar, mas se esta é a razão pela qual o buscamos, já
somos derrotados. A nossa vitória está nele pelo que Ele é, não por qualquer bênção
que ele possa nos proporcionar. Como diz a letra da canção: “Não o adoro pelo
que Ele faz, eu o adoro pelo que Ele é. Haja o que houver, sempre será Deus”. Em
Cristo já somos mais que vencedores. Se o céu não é uma vitória suficiente para
nós, Deus também não é. Sintamo-nos sempre abençoados, porque somos salvos pela
graça de Deus, porque os nossos pecados são perdoados, porque nos tornamos seus
filhos, porque fomos salvos da sua ira, porque Ele cuida de nós. O apóstolo
Paulo escreveu aos efésios: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos
lugares celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Qualquer bênção material que possamos
receber não é nada para comparar com as bênçãos espirituais e eternas que já
temos em Cristo.
MIZAEL XAVIER
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